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interview ISSN 2175-6708

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Nesta entrevista concedida à Alessandro Rosaneli, a arquiteta e paisagista Anne Vernez Moudon apresenta importantes considerações para aqueles interessados no estudo da forma urbana e nos possíveis desdobramentos metodológicos

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ROSANELI, Alessandro Filla; SHACH-PINSLY, Dalit. Anne Vernez Moudon. Entrevista, São Paulo, ano 10, n. 040.01, Vitruvius, out. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/10.040/3397/pt_BR>.


Mapa mundial com indicação da obesidade
[fonte: http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/7584191.stm, consultado em 25/01/2010]

Alessandro Filla Rosaneli e Dalit Shach-Pinsly: Voltemos agora para a relação da forma urbana e a saúde coletiva, mais perto do seu atual trabalho. Inicialmente, uma pergunta geral: A senhora poderia comentar sobre a complexa relação existente entre a forma urbana e o comportamento humano? Quais as limitações e as potencialidades dessa abordagem para a disciplina do desenho urbano?

Anne Vernez Moudon: O que nós conversamos até agora foi mais teórico e metodológico, relacionado com processos psicológicos, sociais e políticos para a forma urbana. Agora nós passamos para questões comportamentais e ambientais. As pessoas têm sido cautelosas sobre este particular campo do conhecimento, chamando-o de determinismo físico, onde se acredita que certas formas podem influenciar o comportamento humano de algum modo. Nós sabemos, até o momento, que existem definitivos processos de co-adpatação entre a forma urbana e o comportamento humano. Num nível simplificado, algumas pessoas poderiam colocar uma cama king size em um quarto pequeno, mas a maioria não o faria. Eles procurariam um quarto maior para este tipo de cama. Menos pessoas andariam se não tivéssemos calçadas. A maioria, mas nem todas as pessoas, andam nas calçadas. A relação entre o comportamento e o ambiente não pode ser pensado individualmente e não é inteiramente previsível. Trabalhos em forma urbana, a forma arquitetônica, e o comportamento humano seriam mais úteis para projetistas, dentro do objetivo de “conceber bons lugares”. A pesquisa neste campo pode trazer grande ajuda ao relacionar espaços e sua affordance conhecida e, portanto, faria o trabalho dos projetistas mais preciso ao se conceber possíveis usos para o espaço. Nós precisamos de mais trabalhos em forma urbana e comportamento humano. Para concluir: quanto mais nós sabemos sobre esta relação, melhores seríamos como projetistas do espaço.

AFR / DSP: Basicamente, quais os possíveis efeitos da forma urbana sobre a saúde das pessoas? Até que ponto os fatores sócio-culturais são importantes?

AVM: Esta é uma questão interessante porque, voltando no tempo, a razão pela qual eu tenho feito este trabalho, primeiramente com transportes e agora com saúde pública é porque estes campos oferecem os únicos mecanismos disponíveis nos quais alguém pode estudar aspectos do comportamento humano e da forma urbana. Por exemplo, eu tenho um estudante interessado no relacionamento entre o crime e a forma urbana. Há uma grande dificuldade em achar suporte para este tipo de pesquisa, a não ser pelas implicações que ela fornece para o problema na área da saúde. Meu foco em transportes e saúde levou-me a tomar uma visão prática acerca do comportamento. Eu descobri que as pessoas estão interessadas nos efeitos do ambiente ou da forma urbana em certos comportamentos – como andar, usar transporte público, acessar certos tipos de alimentos, etc. Os comportamentos estudados são aqueles que afetam as políticas de transportes ou de saúde pública e os resultados das pesquisas levam para novas formas de pensar sobre e regular a forma urbana.

AFR / DSP: Ou seja, você escolheu estes dois tópicos porque os norte-americanos são muito preocupados com questões de transporte e saúde...

AVM: Certo, mas eu penso que a relação entre a saúde e o ambiente é agora debatida por todo o mundo. Mas as questões na área de saúde que se relacionam com a questão urbana mudaram. Mais de 100 anos atrás, estas questões focavam sobre as condições de vida adensadas dos centros urbanos e suas implicações para a dispersão de doenças contagiosas. As pessoas pensavam que as infecções eram carregadas pelo ar, o que levava a preocupações com a superpopulação. Estas preocupações eventualmente justificaram o desenvolvimento dos subúrbios de baixa densidade e a saída de alguns da cidade nos EUA e no mundo ocidental. Hoje, ironicamente, a super dependência do automóvel, que foi criada pelas formas suburbanas de baixa densidade, leva-nos a outra questão na área de saúde, a inatividade das pessoas! Nós nos preocupamos menos sobre os efeitos de altas densidades, e superpopulação parece ser somente uma questão para os campos de refugiados e não na cidade formal da China, do Sudeste da Ásia, Coréia, etc., onde as pessoas vivem em ambientes mais densos que aqueles das cidades norte-americanas e européias do século XIX.

Agora, a preocupação central é com as doenças crônicas associadas com a inatividade física e o sobrepeso ou obesidade. O consumo exagerado de açúcar e gordura e o estilo de vida sedentário estão correlacionados com doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e várias formas de câncer. A grande dependência dos meios de transporte motorizado individuais e a falta de acesso a comida mais saudáveis são dois aspectos do comportamento que parecem ser influenciados pelas formas urbanas. Acredita-se que outras desordens, como autismo, são exacerbadas por agentes poluidores. A exposição a tais agentes é tão alta em algumas cidades! Assim, não somente o ambiente construído, mas o ar e a água das cidades afetam nossa saúde.

O transporte na cidade parece ser uma barreira significante para condições de vida saudáveis: ele incentiva o sedentarismo e gera a maior porção da poluição ambiental. E nós sabemos que os sistemas de transporte são muito ligados à forma urbana, então pesquisas são importantes para descobrir como se pode moldar nossas cidades para diminuir o uso corrente dos sistemas de transporte e promover comportamentos mais saudáveis.

Pesquisa na área da saúde usa técnicas de epidemiologia que objetivam compreender como o comportamento individual leva para problemas de saúde em grande escala. As pesquisas incluem considerações sobre os ambientes sociais e econômicos que determinam o comportamento, adicionando a eles os possíveis efeitos do ambiente físico. O ambiente físico tem algum efeito em quanto ativas as pessoas são, explicando em torno de 10% dos comportamentos.

AFR / DSP: Nós gostaríamos que a senhora explicasse a importância do caminhar na cidade e perguntamos, de novo, uma boa cidade seria um lugar no qual o caminhar seria mais privilegiado para que as pessoas alcançassem suas necessidades básicas?

AVM: De novo, uma boa cidade é onde as pessoas vivem com qualidade de vida. Mas isso é vago não? Mas existem modos de se averiguar como é uma boa cidade. Uma boa cidade é onde as pessoas caminham, mas haveria mais que isso numa boa cidade, concorda?

Eu me interessei sobre este tópico muito antes que fosse um tópico da moda na área de transportes e saúde. Nos anos 1980 no mundo do urban design – e talvez Lynch tenha dito isso – nós percebemos que uma das medidas para um bom lugar era a possibilidade das pessoas caminharem livremente. Na verdade, William Whyte não falava muito sobre as pessoas caminharem, mas as pessoas permanecerem nestes locais. Ninguém por perto significa que este não seria um bom lugar. Mas eu comento sobre os aspectos sociais do caminhar primeiro. E tais aspectos têm tomado uma importância secundária no contexto das pesquisas nas áreas de saúde e transporte, mas eles não deveriam ser esquecidos!

Por outro lado, é agradavelmente interessante perceber que várias cidades ao redor do mundo estão trabalhando para tornar a bicicleta como o principal meio de transporte. Isto é muito esperançoso porque as distâncias são tão curtas e é tão fácil se deslocar de bicicleta, e se os motoristas fossem domesticados seria seguro andar de bicicleta nas rodovias.

AFR / DSP: E atualmente as cidades estão desenvolvendo rotas para as bicicletas, mas que são muito difíceis de serem construídas na cidade existente...

AVM: Mas nunca falta espaço para os carros! Eu não concordo com este argumento. Eu acredito que seja uma questão de prioridades. Com o aquecimento global e as questões de saúde, andar de bicicleta tem se tornado um meio de transporte interessante para cobrir pequenas distâncias. Você se desloca muito mais rápido por bicicleta que caminhando. E é ótimo pelo ponto de vista da poluição do ar e da água e da atividade física. Talvez seja pior para encontros sociais, porque se presume que ciclistas parem e conversem menos que os pedestres.

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