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interview ISSN 2175-6708

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Leia a entrevista concedida ao jornalista João Carlos Henriques e ao arquiteto Eduardo Pierrotti Rossetti por Alfredo Gastal, arquiteto que assumiu a superintendência do IPHAN no DF em julho de 2004

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MARQUES HENRIQUES, João Carlos; ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Alfredo Gastal. Entrevista, São Paulo, ano 11, n. 042.01, Vitruvius, maio 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/11.042/3421>.


JK em solenidade não identificada (provavelmente inauguração de Brasília)
Foto M. M. Fontenelle [fonte: Acervo DPHA-DF]

João Carlos Henriques e Eduardo Pierrotti Rossetti: A perda da capitalidade de Brasília pode ser resgatada a partir das comemorações dos 50 anos?

Alfredo Gastal: Deveria ser. Era o que se pensava. Mas com todos os problemas políticos ocorridos agora é muito difícil pensar nos 50 anos. A comemoração dessa data de alguma forma está postergada. Lamentavelmente. Acho que seria fundamental um movimento da população de todo o país, capitaneado pelas grandes lideranças da República para recuperar a capital que é de todos os brasileiros e não um quintal onde se despeja as sujeiras não só locais como de outros Estados. A meu juízo esse aniversário só seria salvo se a cidade fosse efetivamente reassumida como capital da República, como uma continuidade do sonho democrático de Juscelino Kubitschek, interrompido em 64 e que somente fulgurou rapidamente nas mãos de Ulysses Guimarães e, em seguida, mergulhou na tragédia de Tancredo Neves. Desde então afundamos num universo paralelo; temos aqui uma Biblioteca Nacional construída, não sei se no todo ou em parte, com recursos federais. Tal edificação foi nomeada Biblioteca Nacional Leonel Brizola, de acordo com decreto do Governo do DF. O Museu, também intitulado Nacional, chama-se Honestino Guimarães. Ambos, localizam-se no Complexo Cultural da República (Federativa do Brasil?) João Herculino.

Entendo que as capitais existem para definir onde fica a sede do governo e são oficialmente a residência dos presidentes. As capitais, em geral possuem funções de estado – administrativas, cerimoniais, culturais... – não é necessário que as possuam em sua totalidade, mas é fundamental que sejam representativas do país. Aliás, é bom lembrar que as capitais, em todo o mundo são uma vitrine das ideologias e da(s) cultura(s) do país; Berlim é um bom exemplo disso foi, num curto espaço de tempo (histórico): Capital do Império Alemão desde 1871 (anteriormente capital do Reino da Prússia) foi re-projetada (1934 – 1942) durante o III Reich Nazista por Albert Speer (apenas parcialmente construída) e, após a reunificação em 1990, novamente teve seu centro reconstruído transformando Berlim no maior canteiro de obras da Europa e na vitrine da arquitetura moderna cosmopolita do século XXI.

Nesse sentido o Brasil de 1957 começou muito bem: o projeto de Lucio Costa provém da vertente conceitual da cidade jardim; é também modernista e sua palheta embora internacional, rescende a brasilidade. A familiaridade entre Lúcio e Oscar Niemeyer vem desde a Escola de Belas Artes onde o primeiro foi professor e o segundo seu aluno. Ambos trabalharam na equipe que projetou o marco da modernidade no Brasil: o Ministério da Educação no Rio de Janeiro, hoje Palácio Gustavo Capanema. Ali, o grande objetivo da integração das artes – arquitetura, pintura, escultura e nisto incluída a azulejaria de Portinari - foi alcançado de forma até hoje inigualável.

Perdão, divaguei. Voltando ao objetivo, o projeto de Lúcio foi feito para a capital de um país que se sentia saindo do subdesenvolvimento e crescendo na democracia. Por sua vez, Oscar deu o melhor de si. Sua carreira já era um sucesso, mas o Alvorada, o Planalto, o Supremo e o Congresso, são obras primas que com a Catedral – complementada pelos vitrais de Marianne Peretti – fizeram de Brasília um conjunto de brasilidade, efetivamente digno para a capital de todos os brasileiros. Esta cidade foi feita para representar o que queríamos para o nosso futuro, não apenas para a sede do poder central; não apenas para Juscelino.

A utopia nacional da qual ela foi o primeiro sinal explícito, ainda está longe do que almejamos, mas o país mudou, cresceu econômica e socialmente nos últimos oito anos com grande velocidade e conseguiu aumentar expressivamente a renda dos mais pobres (1).

A utopia da capital, entretanto, há anos mergulha em águas turbulentas. Seu traçado urbano continua o mesmo, sua arquitetura monumental também, porém sua moralidade, duvidosa (2)... È fundamental racionalizar a gestão da cidade e da grande área metropolitana que se criou em torno dela, da qual a capital não pode ser a sede metropolitana. Esse tem sido um erro básico de avaliação. É fundamental integrá-la à região metropolitana que se formou no seu entorno sem retirar-lhe, entretanto, o caráter de capital nacional. E tão fundamental como blindá-la moralmente: este não é um problema só dos cidadãos que aqui vivem; é de toda a brasilidade: da sua consciência, do seu voto e de sua repulsão àquilo que aqui acontece e que não pertence só à cidade. Os escândalos nacionais devem ter efeito boomerang e retornar às suas origens; não permanecerem aqui boiando como se nossos fossem... (isso mesmo que você pensou). A Capital é Federal, e a criminalidade deve ter o RG do voto que a gerou.

notas

1
Cerca de 32 milhões de pessoas subiram nesse período para as camadas A, B e C enquanto as camadas D e E encolheram significativamente durante esse mesmo espaço de tempo.

2
Isso me lembra parte de um diálogo do texto de Marguerite Duras escrito para o filme Hiroshima, meu amor, de Alain Resnais, de 1959, ou seja, durante a presidência de Juscelino quando tudo era exercitado, sobretudo, todas as formas de inteligência.

Construção do Congresso Nacional.
Foto Agnor Gomes de Farias [fonte: Acervo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do DF]

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042.01
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042

042.02

Entrevista Ana Luiza Nobre e Guilherme Wisnik

Francesco Perrotta-Bosch, Gabriel K. Maia, Mariana Meneguetti, Valmir Azevedo and Carolina Maiolino

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