João Carlos Henriques e Eduardo Pierrotti Rossetti: Qual a sua expectativa em relação à reunião da UNESCO aqui em Brasília, entre 25 de julho e 3 de agosto? Brasília corre algum tipo de risco de perder a inscrição de Patrimônio Cultural da Humanidade?
Alfredo Gastal: Pelo contato que a gente tem permanentemente com o Presidente do IPHAN que por sua vez participa do com o Comitê da UNESCO que é também acompanhado pela nossa Embaixada junto a essa instituição em Paris, sabemos que ele é composto por pessoas extremamente profissionais, cultas e realistas. Eles conhecem as características do tombamento de Brasília. Nosso diálogo com a representação desta entidade no Brasil também é contínuo. Pessoalmente eu não vejo nenhum ameaça, porque apesar de todos os pesares, Brasília ainda permanece fiel às premissas básicas do Plano Piloto original. Mesmo a mudança dos puxadinhos, nada alterou gravemente a concepção da cidade. Simplesmente ajusta o que se tem que ajustar. Se é realista na medida em que se deve que ser. É um comitê internacional, do qual participa exclusivamente a Presidência do IPHAN. Nós fornecemos os subsídios. Possivelmente não vamos nem participar da reunião. Cabe à Presidência do IPHAN participar desse Comitê há vários anos e certamente é ela a instância mais apta para conduzir essa reunião. Na última visita que a cidade recebeu da UNESCO, há mais de seis anos, eu não estava aqui ainda, o relatório foi extremamente realista e ponderado a respeito da preservação de um bem moderno. A partir desse relatório muitas decisões foram tomadas. Posturas conservadoras radicais ou levianamente políticas são a maneira mais fácil de alterar a cidade; se esta não mantém uma relação de equilíbrio com seus habitantes e seu entorno imediato, perde sua função de uterina a qual é fundamental. O conservadorismo radical leva ao desastre. Por outro lado Brasília ainda exige medidas mais concretas para sua proteção, por parte do IPHAN, e paralelamente é fundamental que os próximos governos que venham a assumir a cidade não a tomem como um curral político. Ela é, insisto mais uma vez, a Capital da República Federativa do Brasil. Não pode ser Versalhes, nem a casa da Mãe Joana.