Abilio Guerra: Como se deu sua formação como arquiteto e como entrou na vida sindical?
Daniel Amor: Cheguei ao Brasil em 1976, formado em publicidade. Mas, no Uruguai acompanhei o trabalho do meu pai, que era mestre de obras, e sempre me atraiu esta área. Depois de alguns anos, já em São Paulo, decidi cursar arquitetura. Estudei na Faculdade Belas Artes, antiga Febasp. O momento era de muita movimentação nesse curso que tinha uma proposta nova, diferenciada. Fiz amizade com muitos dos professores e através deles cheguei ao Sindicato. O ingresso orgânico na vida sindical se deu quando entrei na faculdade.
AG: Em um sentido geral, qual tem sido a atuação do Sindicato de Arquitetos? Qual sua real representatividade?
DA: O sindicato é uma das entidades que representam os arquitetos e urbanistas, representatividade prevista pela lei. Mas há uma diferença entre as entidades, que ajuda a entender os últimos anos da vida da nossa profissão. Sempre repito que o sindicato defende o arquiteto e que o IAB defende a arquitetura. Dessa maneira fica bem fácil entender que a Abap trata dos assuntos do paisagismo, a Abea da questão do ensino da arquitetura e a Asbea dos problemas enfrentados pelos escritórios. Parece óbvio, mas sem essa redução dos papéis aparecem as confusões. Todas juntas trabalham pela profissão, como ultimamente na luta pela aprovação da Lei 12.378/10 que criou o CAU.
Pelas circunstâncias do país, o sindicato viveu muitos anos se organizando e hoje tem representação institucional em todo o território nacional. Esta representação se dá pela atuação de nossos diretores nas suas regiões, participando ativamente do debate profissional e conquistando espaços nas esferas de participação democrática que ajudamos a construir. Hoje, temos conselheiros do Sasp em diversos Conselhos Municipais, seja de Habitação, de Meio Ambiente, de Patrimônio, de Planejamento Urbano, apostando na presença de arquitetos e urbanistas nesses espaços como forma de qualificar a discussão.
O sindicato de São Paulo foi quem primeiro cedeu uma diretora para ocupar a vaga de Conselheira das Cidades no recém-criado Conselho Nacional das Cidades no segmento "Trabalhadores", em 2003. E o trabalho foi tão bem realizado que na edição seguinte a Federação Nacional de Arquitetos – FNA (entidade sindical de grau superior que congrega os sindicatos estaduais) conquistou a sua segunda vaga que mantém até hoje, além de um conselheiro no FNHIS. Hoje, o sindicato ocupa vagas de conselheiros em Conselhos de Patrimônio Histórico, Habitação, Planejamento Urbano, entre outros, em municípios como São Paulo, Campinas, Santo André, Santos, Ribeirão Preto, Guarulhos, São Vicente. O Sasp hoje é referência para a mídia e para os governos municipais e estadual quando se trata de debater questões urbanas.
AG: O Alfredo Paesani, primeiro presidente do Sasp, é uma forte referência entre os arquitetos que atuaram e atuam no sindicato. Como foi sua relação com o Paesani e quais são os principais legados que ele deixou?
DA: Conheci o Paesani no fim dos anos 1980, no sindicato, como todos os que o conheceram passei a admirá-lo. Naquela época ele foi homenageado como Arquiteto do Ano, e eu – que acompanhava os trabalhos do sindicato vendo uma caricatura do Paesani – procurei um amigo escultor e ele a transformou num alto relevo que foi feito troféu. Esse mesmo escultor, Mário Palermo foi quem criou o troféu Arquiteto do Ano da FNA em 2009.
Paesani sempre foi nosso mestre e com ele nos aconselhamos muitas vezes ao longo dos últimos anos. Mantivemos várias conversas com ele, e elas sempre nos renovaram os ânimos para continuar lutando para construir um sindicato forte e participativo.
Nos aproximamos muito quando o Sasp realizou a campanha para que ele fosse homenageado com a Medalha Anchieta. Na verdade, fomos atrás e batalhamos para que ele recebesse o titulo de cidadão paulistano, mas como ele é paulistano, a homenagem foi prestada por meio da medalha Anchieta. Nesse trabalho, realizamos ampla pesquisa, filmamos muitas horas de depoimentos, fui buscar depoimentos de amigos dele até em Brasília. O material selecionado deu origem a um documentário que foi exibido durante a homenagem na Câmara Municipal de São Paulo.
Estive com ele horas antes de seu falecimento, e recebi a notícia da sua morte quando estava no Congresso Nacional numa das audiências do projeto de lei que criava o CAU. De volta a São Paulo, ajudei a família e conversei com a presidenta do IAB SP, Rosana Ferrari, para realizar o velório naquele prédio onde ele assumiu o Sasp como seu primeiro presidente.
AG: Como tem funcionado a Lei de Assistência Técnica?
DA: A lei 11.888/08, que passou a vigorar em plenitude a partir da metade do ano de 2009, não está funcionando com a força que esperávamos. Vários são os motivos. Uma delas é a falta de empenho do Ministério das Cidades. Temos lá, pessoas que são contra, que não entendem que esta lei trata do trabalho do arquiteto e do engenheiro. Não conseguem entender que os outros profissionais envolvidos na habitação popular já estavam contemplados para sua atuação remunerada. E também não conseguem entender que a lei trata de atendimento por arquitetos e engenheiros às famílias com renda de até três salários mínimos que vão construir ou ampliar suas moradias, atendimento de profissional como se eles contratassem um profissional no mercado e o estado remunerará o profissional.
Mas o trabalho do sindicato continua no sentido de debater esta necessidade, e construindo nesse debate leis municipais que, além de garantir o direito a esse serviço garanta também recursos de outras fontes, sejam municipais ou estaduais. No estado de São Paulo trabalhamos junto com o deputado Marcos Martins que apresentou o PL 354/09. Nos vários municípios paulistas, trabalhamos junto dos vereadores ou dos governos municipais para criar leis ou serviços municipais de Assistência Técnica. Exemplos desse trabalho são Ribeirão Preto, Suzano, Osasco, Santos e São Vicente.
AG: O sindicato está instalado na Vila dos Ingleses há muitos anos. Qual a relação da entidade com o local?
DA: Já são mais de 22 anos que estamos na Vila. A relação de identidade é total, quem pensa no Sasp, pensa na Vila dos Ingleses. Quando o sindicato veio para cá, o Nabil Bonduki era o presidente e foi feito um trabalho de restauração na casa 14 que ocupamos até hoje. A vinda do Sasp para a Vila foi numa época muito especial que era a ocupação do centro, defendida até hoje pelos arquitetos.
Este ano de 2011, inauguramos nossa nova sede, aqui mesmo na Vila, a casa 29. Também foi feito um trabalho de restauro apurado onde, por exemplo, o piso não foi trocado e sim foi recuperado, mantendo as peças originais de peroba rosa. Ao ocupar mais uma casa da Vila dos ingleses, o sindicato estreita ainda mais os laços com o centro de São Paulo e com sua história de lutas.