Geise Brizotti Pasquotto: Em 2009, você e Peter Kageyma organizaram um livro disponível online intitulado Creative City Perspectives, que foi editado em português em 2011. Nele participaram 18 autores de 13 países, onde destaca-se a presença do “pai” das cidades criativas Charles Landry. Como as teorias internacionais estão relacionadas com as ações e teorias brasileiras?
Ana Carla Fonseca Reis: A discussão da temática de "cidade criativa" (e consequentemente seu aprofundamento para nosso contexto) ainda é incipiente no Brasil. O intuito de organizarmos essa obra foi justamente o de lançar as bases de uma primeira sistematização mundial sobre esse conceito, do modo mais acessível que podíamos: digital e gratuito, dado o caráter de voluntariado de todos os envolvidos em sua realização. Desde então vêm surgindo trabalhos sérios – tanto acadêmicos como no delineamento de políticas públicas –, mas em ritmo menor do que seria esperado. Ainda há muito caminho pela frente, caso desejemos promover o real entendimento e a prática da abordagem de cidades criativas. De modo geral, o que me preocupa é uma tendência, no Brasil, de confundirmos as propostas de cidade criativa e city marketing. São conceitos profundamente distintos, dado que o segundo pode partir de uma construção de cima para baixo, ao passo que o primeiro, da forma como o professo, necessariamente passa por um mapeamento das singularidades da cidade e pelo envolvimento da sociedade civil nesse processo.
GBP: Em seu mais recente livro digital, “Cidades Criativas, Soluções Inventivas” lançado em 2010, são abordadas diversas considerações sobre os eventos internacionais. No Brasil, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, quais seriam na sua opinião as consequências para as cidades brasileiras?
ACFR: O grau de impacto de Projetos culturais ou esportivos de envergadura internacional, como os abordados nesse livro, varia conforme estes sejam entendidos como processos catalisadores de mudança (e não como produtos que se esgotam em si); como estímulos à formação de novos modelos de parceria entre público, privado e sociedade civil (e não como algo imposto pelo governo e com a participação de um punhado de empresas eleitas para as grandes obras); como alavancas de engajamento do cidadão com seu espaço, motivado pela criação de diálogos e mecanismos de transparência, em especial no que diz respeito à concepção e ao desenvolvimento de programas ligados a esses projetos; para que sejam geradas novas oportunidades de desenvolvimento de áreas fragilizadas da cidade e sua reinserção firme no tecido urbano (e não simplesmente de sua valorização para fins especulatórios). Infelizmente, nada disso se fez presente no processo da Copa do Mundo, por exemplo. O cidadão será o último a saber que conta terá de pagar por algo que nunca pediu, que não entende como prioritário (a exemplo do que as manifestações de junho claramente demonstraram) e na qual não teve nenhum poder de participação, sequer nos mínimos detalhes – a exemplo dos lamentáveis episódios de escolha do nome do mascote ou da vuvuzela à brasileira.