Geise Brizotti Pasquotto: Em 2012 foi ao ar pelo Canal Futura a série “Criaticidades”, desenvolvido pela Garimpo de Soluções, na qual você é sócia-diretora e pela Umana Comunicação Inteligente. Os programas foram pautados em diversos temas, porém com a mesma base cultural, enfocando no último episódio estudos de caso brasileiros, como Paraty (RJ) e Paulínia (SP). Você acha que o Brasil está mudando a postura em relação à inserção da cultura como foco de sua economia? Como os clusters culturais brasileiros estão se desenvolvendo?
Ana Carla Fonseca Reis: O Brasil é bastante diverso também no que diz respeito ao grau de maturidade com o qual essas questões se desenvolvem. A meu ver, o terceiro setor e algumas instituições, empresariais ou não (do SESC à Fecomercio, da FIRJAN à Fundação Getulio Vargas) vêm despontando no entendimento e na promoção dessa postura. Há dois poréns que entravam seu desenvolvimento. Primeiro, um cluster criativo é um espaço de moradia, trabalho, lazer e estudo e tem necessariamente de trazer em si uma governança compartilhada. Ainda não são muito corriqueiros os casos nos quais o governo, o empresariado e a sociedade civil tem papéis e responsabilidades complementares e necessários em nosso país. Segundo e ligado ao ponto acima, impulsionar clusters baseados em dinâmicas, serviços, bens ou propostas culturais depende visceralmente do envolvimento do governo, para a formulação de políticas públicas, marcos regulatórios, estudos e impulso ao empreendedorismo. Nesse quesito ainda somos bastante carentes, salvo raras e gloriosas exceções.
Temos uma experiência interessante em curso, com o portal colaborativo www.sampacriativa.org.br Por meio das participações e propostas formuladas pelos cidadãos, vimos travando contato com dinâmicas e cadeias criativas menos conhecidas que poderiam servir de fermento para a conformação de vários clusters criativos São Paulo. É o caso do polo de confecção de jeans, em São Miguel ou dos empreendimentos de criação e fabricação de azulejos em estilo português, no Jardim São Luís. Um protomapeamento do que organicamente já existe na cidade, mas passa despercebido por olhares menos sensíveis de política pública.