Geise Brizotti Pasquotto: Na sequência, em seu livro existe um capítulo onde é abordado o caso do Guggenheim de Bilbao. Você considera as propostas do Rio de Janeiro, como o MAR e o Museu do Amanhã, ações que foram influenciadas pela experiência bem-sucedida espanhola?
Ana Carla Fonseca Reis: É difícil mensurar, de fora, o grau de influência da experiência do Museu Guggenheim de Bilbao na decisão pela construção dos museus, no Rio de Janeiro. Parece-me porém que a lógica é distinta. No caso de Bilbao, a região precisava de algo que lhe permitisse se reposicionar no mundo, transmitindo uma imagem distinta da que possuía então, muito associada às ações terroristas do ETA, à degringolada pós-industrial e às devastações causadas pelas inundações que a haviam acometido, em 1983. A cidade desenvolveu uma estratégia muito clara, com dezenas de objetivos e outras tantas ações – do investimento em infraestrutura à criação de parques tecnológicos ou à formação da parceria público-privada Bilbao Ría 2000 (que aplicava a mais-valia obtida com a venda de terrenos públicos em áreas de interesse comercial em regiões depauperadas da cidade, sem apelo ao mercado).
A construção do Museu Guggenheim foi entendida como face visível desse processo, como pérola que viria a coroar uma estratégia de transformação e chamar a atenção do mundo ao que a cidade havia feito, a como se havia reinventado.
No caso do Rio de Janeiro o contexto é distinto e não me parece que o MAR ou o Museu do Amanhã tenham a pretensão de desempenhar o papel que se atribuiu ao Guggenheim em Bilbao.
GBP: No final do século XX a utilização de museus para a requalificação de espaços conheceu uma escala sem precedentes. Impulsionado pelo turismo cultural, os museus hoje constituem elementos importantes no planejamento estratégico/city marketing. Assim, seus edifícios acabam sendo elementos ícones da cidade, tornando sua inserção muitas vezes mais importantes que o seu conteúdo, como é o caso de museus que foram inaugurados vazios (ex: MACBA em Barcelona) ou que possuem um acervo pequeno pela sua divulgação estética (ex: MAC em Niterói).
Na entrevista você ressaltou que cidade criativa é diferente de city marketing, portanto, como equilibrar estes dois interesses que muitas vezes são divergentes?
ACFR: São dois conceitos diferentes e complementares, não necessariamente divergentes. No meu entender, uma cidade criativa só se faz com o envolvimento da comunidade, ao passo que o city marketing não necessariamente; o city marketing sozinho não se sustenta, pode ser uma excelente forma de comunicar uma cidade criativa. Quão conhecido e inspirador teria sido o processo de transformação de Barcelona, sem uma estratégia de city marketing? O city marketing pode ser muito bem-vindo, desde que para coroar um processo consistente de desenvolvimento urbano.