Haniel Israel: Em se tratando do crucial diálogo entre o equipamento educacional e a cidade - enquanto espaço construído, a partir das vivências sociais que atravessam a arquitetura de escolas, percebemos diferentes maneiras de relações de programas escolares no espaço urbano. Na sua visão, como poderíamos perceber a presença da cidade dentro do edifício escolar, que também protagoniza um espaço público nas cidades?
Anne Lacaton: Eu acho que de qualquer maneira os edifícios escolares são sempre implantados dentro de uma zona de proximidade. Isso quer dizer que, normalmente, pressupõe-se que nós podemos ir a pé para a escola. Então, geograficamente, os edifícios escolares sempre têm um grau de envolvimento que abrange o mesmo território geográfico. De qualquer maneira, em se tratando das áreas urbanas, a escola sempre tem uma presença e uma relação intrínseca com o bairro, e isso é muito normal.
Volto a falar aqui o que disse antes que, particularmente na França, os espaços pertencentes ao edifício escolar não são compreendidos como um território público, de tal maneira como ocorre com a imagem de uma praça pelo fato de ser um espaço público. É um espaço fechado, onde as crianças são protegidas. Isso faz com que talvez seja bem diferente de um espaço público urbano, tal como são os parques, as praças, ou algo do tipo. Enfim, também não quero dizer que os edifícios escolares, em geral, sejam configuradores de fortalezas, ou algum tipo de prisão, porque, mesmo assim, no interior da escola, a cidade é perceptível. Por outro lado, nós não podemos dizer que aqui, as escolas sejam total e claramente definidas como um espaço público da cidade, suponho.
HI: O espaço educacional também pode ser compreendido como um produto de projetos político-pedagógicos, os quais repercutem na arquitetura do edifício e da cidade. Consideraremos, por ora, a hipótese de que se o projeto político-pedagógico pode definir o programa de arquitetura, o mesmo também teria potencial para definir os modos de relação do edifício escolar com a cidade. Com base nas suas experiências, isso ocorre no cenário francês?
AL: Primeiro, é claro que a educação é um assunto extremamente político. A depender de cada país, creio que podemos ver seus ideais de democracia manifestados por meio de um modelo de escola pública idealizado, então representado pela arquitetura do edifício escolar. Isso, por si só, permitiria afirmar que o assunto da educação é relevante e altamente político. Em segundo lugar, a concepção da escola, se a escola é gratuita, se a escola é aberta, se a escola não faz distinção entre as classes sociais, é necessário que a escola esteja profundamente ligada ao projeto político-pedagógico de uma sociedade e para formar uma sociedade.
Com relação à configuração dos espaços educacionais, a arquitetura de uma escola, pelo menos hoje interpretada de maneira também contemporânea, está ligada às suas diretrizes de conforto e da qualidade que um espaço deve proporcionar às atividades básicas de ensino-aprendizagem. Vamos dizer que, talvez, mais ou menos na França, dentro da ideia de que a escola deve representar um Estado, estaríamos próximos de uma integrar o edifício escolar às experiências cotidianas da população, no sentido de que esse seja um componente familiarizável no cotidiano das vivências sociais e na construção da paisagem urbana, assim como do próprio lugar.
Não concordaria com a ideia de que as escolas maternais ou elementares devam ter intencionalidades à orientação de expressar monumentalidade em suas formas arquitetônicas, ao menos para atrelar um significado particular. Em todo caso, mesmo no século 19, tinha-se modelos que eram muito mais reconhecíveis. Que a gente reconhece muito mais que hoje. Creio que hoje não há uma relação direta de demonstração de arquitetura, mesmo que a disciplina da educação seja muito política. Acredito que as escolas são hoje muito mais pensadas para garantir qualidade funcional, conforto, possibilidades de educação, mas não para representar algumas coisas.