Tudo começou a partir do desejo de regresso ao ponto de partida. Neste caso a São Paulo, onde tive as minhas primeiras conversas com Paulo Mendes da Rocha durante o meu estágio profissional. Agora, não eram já as suas obras de arquitetura que me interessava abordar, mas a descoberta das motivações que suscitaram o meu interesse por essas mesmas obras: Qual foi afinal, a “mola” que me levou até ali? Esta reflexão sobre o sentido mais profundo das nossas escolhas, conduziu-me muitas vezes a revisitar o aprendizado inicial que recolhi desse convívio tão marcante.
Do prazer que sempre tive nos nossos reencontros ocasionais ao longo destes 25 anos, em reler suas palavras ou revisitar suas obras através das publicações que, entretanto, se multiplicaram, foram surgindo na minha cabeça novos questionamentos, evidenciando uma tensão entre a sua coerência discursiva e as mudanças agudas que marcam o nosso tempo. Foi a partir destas contradições, no conflito latente entre o seu posicionamento intelectual e um Brasil e um mundo distópicos, que me fazia perguntar a mim mesmo de onde jorrava a força da sua mensagem, muito para além dos aspetos mais superficiais da sua arquitetura, cuja progressiva mediatização advinda do seu reconhecimento internacional, parece conduzir paradoxalmente, a um certo esgotamento e esvaziamento de sentido.
E é precisamente desse sentido do conjunto da obra enquanto discurso criativo que não nos podemos afastar, se queremos apreciar o seu alcance e relevância. Se a arquitetura comporta uma discussão e uma instabilidade do que se entende pelo seu conteúdo político, Paulo Mendes da Rocha parece ter construído toda a sua obra como um ato de confronto – uma oposição entre um estado de pensamento e uma certa realidade, entre a sua ação e o contexto que o ultrapassa. A arquitetura emerge na sua obra como um desafio e uma luta, e o seu sentido parece brotar de uma recusa contínua e uma insatisfação consciente perante as condições em que opera.
Este texto é uma tentativa de iluminar esses pontos de apoio fundamentais que norteiam o seu pensamento, procurando sublinhar aquilo que o distingue e nos incita a buscar o “essencial” na arquitetura e no discurso que gira à sua volta. E o que é então o “essencial”?