José Barbedo: Para mim é uma constatação, que os arquitetos estão ao serviço do capital.
Paulo Mendes da Rocha: Não, eu não estou falando de simples constatação. Que posição você vai tomar.
JB: Exatamente. Esse posicionamento é muito importante. Até pelas tecnologias que promovemos através da nossa arquitetura.
PMR: O agente é você. Você se põe muito de fora, como quem quer saber.
JB: Não, o que eu estou a questionar é como enfrentar determinados problemas.
PMR: Então você tem que escrever. Me parece, pela riqueza das suas indagações, que está na hora de você experimentar responder. Agora você tem que ser o que sabe, é você que tem que saber.
JB: Saber e ser. Nós somos, antes de qualquer outra coisa, somos.
PMR: Então seja. Na maioria das considerações – para não chamar de respostas determinadas, mas de considerações interessantes a partir das suas indagações – é você mesmo que tem que elaborar. Consciente que outros já fizeram isso, toda a biblioteca está aí. As ideias estão aí há muito tempo. Se o homem não tivesse consciência disso não inventava as línguas. Não falava. Não procurava se transmitir e transmitir suas ideias para o outro como conseguiu. Em tantas línguas, só isso! O planeta é muito pequeno para hoje em dia, com a comunicação que temos, possuir várias línguas, haveríamos de ter uma língua só. As informações serão gigantescas. Essa ideia de moderno, modernismo é muito ultrapassada (14). Nós somos os vivos ao mesmo tempo – curto – que não nascemos para morrer, mas para continuar. Essa é a questão. Não é uma questão que está resolvida e nunca estará resolvida. É a nossa existência posta sempre em questão. Não é para concluir, é para agir. Experimentando. Nunca vai ter certeza de nada. A descoberta do campo magnético, da existência do campo magnético para a eletricidade como ela é hoje, o caminho foi longo. O homem experimenta. Agora estamos comemorando os dez dias que abalaram o mundo, é preciso considerar. Não se sabe exatamente como é, mas se sabe como não é. Isso não dá certo. Isso não foi feito para.
JB: Sabemos o que não dá certo, não sabemos ainda o que poderá dar certo...
PMR: Aí entra o campo da experimentação.
notas
14
Podemos aqui constatar os diferentes sentidos aos quais PMR se refere à modernidade: se a dissolução dos pressupostos instituídos na modernidade industrial refletem premissas ultrapassadas, isso não significa que os ideais que estão na origem do projeto moderno se tenham tornado obsoletos. E se a modernidade jamais aconteceu como sustenta Bruno Latour, a pós-modernidade é um conceito problemático, no qual o prefixo “pós” obscurece mais do que esclarece, no sentido em que pretendia assinalar um desaparecimento sem precisar no que nos tornamos (LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo, Editora 34, 1994. Ver também: LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sébastien. Os tempos hipermodernos. Lisboa, Edições 70, 2014). O reconhecimento de diferentes sentidos históricos da modernidade pode ser melhor compreendido através do discernimento entre princípios e instituições da sociedade moderna – segundo Ulrich Beck, vivemos hoje uma segunda modernidade, a que ele chama de modernidade reflexiva – desta perspectiva a modernidade impulsionada pela industrialização, da qual o modernismo emergiu, foi ultrapassada pela sua autocrítica (BECK, Ulrich. World at Risk. Cambridge, Polity Press, 2009). O que acontece na modernidade reflexiva é uma reformulação permanente das questões que estão na sua origem, onde os desafios que estas colocam se ampliam no reconhecimento de problemas éticos e ecológicos decorrentes de novos riscos globais.