Eu conhecia pouco da trajetória do arquiteto, artista visual, museólogo, designer e fotógrafo, Júlio Abe Wakahara, quando o entrevistei em seu estúdio na Rua Antônia de Queiroz, no dia 02 de maio de 2011. Estava no segundo ano do meu doutoramento (1) e, naquela altura, já havia finalizado uma série de sete entrevistas com fotógrafos e arquitetos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan (2). Entrevistar Wakahara era etapa fundamental para entender as dinâmicas ligadas ao fotográfico deste instituto e mais especificamente as da sua superintendência em São Paulo.
Esta entrevista versa, portanto, sobre a temática da fotografia e seu lugar no Iphan, reconhecendo práticas, procedimentos e formulações, que são constitutivas do entendimento que temos de patrimônio cultural no Brasil. Não se trata, apenas de uma leitura histórica dos usos da fotografia, mas de identificar que tal recurso foi e é parte constitutiva do que se formulou como patrimônio brasileiro. E esta compreensão fica evidente nas reflexões de Wakahara, que pondera sobre o valor da fotografia como instrumento de informação e significação. Como Wakahara mesmo diz ao longo da entrevista, ele era um “grande especialista em significados, tanto de palavra, como de objeto”.
Vale alertar também que a entrevista apresenta um período pouco conhecido como também diminuto de sua trajetória. Mas não menos importante. Aqui, debate-se sua passagem pela superintendência do Iphan em São Paulo, entre os anos de 1967 e 1973, quando ainda era professor no cursinho preparatório para a FAU USP, pegando seus primeiros anos como professor desta faculdade, mas ainda muito distante de formular o projeto Museu de Rua, que marcaria a sua vida profissional. De todo modo, este período inicial foi formador e constitutivo de suas práticas e formulações. De papel e lápis em punho, Júlio Abe Wakahara concedeu esta entrevista desenhando. A cada reflexão e explicação elaborava um croqui, demonstrando que a visualidade ocupava um lugar central na sua prática profissional.
Relendo a entrevista, quase dez anos depois, percebo meus vícios de entrevistador, como também os interesses de pesquisa que me mobilizavam naquele momento. Mas percebo, em especial, que ainda temos muito a aprender sobre e com a trajetória profissional de Júlio Abe Wakahara. Uma trajetória que é parte do nosso patrimônio cultural. É esta a evidência maior que se enlaça às entrelinhas desta entrevista.
Ainda que diminuta e centrada na “fase de fotógrafo” fica aqui a minha contribuição para a memória de Júlio Abe Wakahara, falecido em 21 de novembro de 2020, aos 79 anos de idade.
notas
1
Doutoramento que resultou na publicação do livro: COSTA, Eduardo. Arquivo, poder, memória: Herman Hugo Graeser e o Iphan. São Paulo, Alameda, 2018.
2
Resultado do XI Prêmio Funarte Marc Ferrez, que recebi no ano de 2010. A entrevista com Júlio Abe Wakahara foi a sétima de um total de 27.