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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nesta entrevista sobre as estratégias projetuais do arquiteto Joaquim Guedes, Adilson Macedo relata sua trajetória profissional e acadêmica, em especial sua convivência com Guedes, como colaborador no escritório do arquiteto e colega de ensino.

english
In this interview about Joaquim Guedes architecture design strategies, Macedo recounts his professional and academic journey, particularly his experience working alongside Guedes as a collaborator in the architect's studio and as a professor colleague.

español
En esta entrevista sobre las estrategias de diseño del arquitecto Joaquim Guedes, Adilson Macedo relata su trayectoria profesional y académica, especialmente su convivencia con Guedes como colaborador en el taller del arquitecto y colega de enseñanza.

how to quote

SCHIMIDT, Rafael. Arquitetura, estratégia e projeto. Entrevista com Adilson Macedo. Entrevista, São Paulo, ano 24, n. 095.02, Vitruvius, ago. 2023 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/24.095/8860>.


Jogo de xadrez com peças desenhadas por Adilson Macedo e Abrahão Sanovics, 1962 [Acervo Adilson Macedo]

Rafael Schimidt: Podemos começar falando sobre sua graduação e produções antes de trabalhar com Joaquim Guedes.

Adilson Macedo: Eu trabalhei por um tempo para o Abrahão Sanovicz. Na faculdade, passei pelo processo de mudança pedagógica do ensino, foi quando a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP se instalou na Cidade Universitária. Então, havia a linha de desenho industrial, comunicação visual etc. Com o Abrahão a gente fez um jogo de xadrez. Mostrei esse jogo de xadrez numa exposição na Universidade São Judas Tadeu, por ocasião de uma sessão de depoimentos.

Cartaz criado por Adilson Macedo, 1967 [Acervo Adilson Macedo]

Fundamentalmente, tudo isso foi consequência da mudança do processo de ensino na FAU USP. Do Joaquim Guedes, fui aluno na disciplina Materiais de Construção. Lembro que um dos exercícios era fazer o projeto de uma cobertura numa área de 15,00 m por 25,00 m. Os materiais e estrutura, o aluno poderia escolher; e na escola, isso me interessou muito. Naquela época, também, eu ganhei um concurso de cartazes para uma exposição de arte moderna em Santos.

Concurso Nacional para o Mercado Público de Porto Alegre, projeto premiado, perspectiva, 1967, arquitetos Adilson Macedo, José Magalhães Jr. e Massimo Fiocchi [Acervo Adilson Macedo]

Em 1964 terminei a FAU, fui muito influenciado pelos projetos do professor Artigas nos primeiros anos de trabalho depois da escola. Até fiz um depoimento na São Judas, na ocasião dos cem anos do Artigas; o tópico solicitado era o de “um relato de quem foi seu aluno”. Eu não trabalhei no escritório dele, mas logo que me formei, ganhei dois concursos de arquitetura pelo “efeito Artigas”, que influenciava muita gente naquela época. Eu era um cara de esquerda, mas apesar disso não era da “panela” do grupo mais ligado politicamente ao professor. Outros colegas meus participaram de atividades com o Artigas, e alguns estudantes até trabalharam no seu escritório. Eu nunca consegui entrar nesses grupos de “artiguetes”, ou coisa assim; não dava, tinha que trabalhar e estudar. Mas, eu peguei muito a maneira do professor para fazer projeto. Por isso a gente ganhou o concurso do mercado público de Porto Alegre, trabalhando com o José Magalhães Jr., que era colega do Mackenzie, e o Massimo Fiocchi, que era meu companheiro na FAU USP.

Concurso Nacional para o Mercado Público de Porto Alegre, projeto premiado, perspectiva, 1967, arquitetos Adilson Macedo, José Magalhães Jr. e Massimo Fiocchi [Acervo Adilson Macedo]

Um ano depois, ganhei um outro concurso, para o Centro Cultural Edgard Santos, Universidade Federal da Bahia, junto com o Eurico J. Salviati, outro colega de sala na FAU USP. O projeto tinha uma estrutura muito definida com todo o jeitão “da moda”. O tipo de espaço, aquela coisa de auditório semienterrado e muito espaço interno livre.

Concurso Nacional para Centro Cultural Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, 1. lugar, perspectiva, Salvador, 1971, arquitetos Adilson Macedo e Eurico J. Salviati [Acervo Adilson Macedo]

Estas histórias de concursos aconteceram por volta de 1967 e foi nesse período que fui trabalhar com o Guedes. Eu e o Massimo Fiocchi entramos no escritório na mesma época, através de um concurso, o que nos deixou orgulhosos. Isso é importante porque mostra o tipo de preocupação e identifica um quadro de como era o Guedes. Soube que ele estava precisando de gente para trabalhar, e eu fui lá dizendo que tinha sido seu aluno em Materiais de Construção e que estava formado. Ele disse: “Tudo bem, pode vir aqui e nós vamos fazer um teste”. Havia umas seis ou oito pessoas para fazer o teste, alguns até colegas meus. Ele passou o programa para o projeto de uma residência que estavam fazendo no escritório, mas parece que depois nem foi construída. Deu o terreno e o programa do cliente para uma casa não muito grande e colocou a gente para fazer o projeto. Fiz um desenho a lápis e alguns croquis a mão, e era para entregar tudo o que se conseguisse produzir em um dia. Às duas horas da tarde eu almocei um sanduíche e lá pelas quatro horas já estava de volta para minha casa. Naquela época, o escritório ficava na alameda Rocha de Azevedo e eu morava perto, na rua Bela Cintra, próximo à avenida Paulista. Uns dias depois, a secretária do Guedes (esqueci o nome dela, mas, era uma japonesinha muito legal, sobrinha do Takaoka, a Marina) me telefonou dizendo: “O Guedes quer falar com você”. Ele disse que tinha gostado do meu trabalho e do trabalho do Massimo Fiocchi: “Já entrevistei o Massimo antes, agora estou falando com você porque quero que vocês dois trabalhem aqui”. Então nós fomos trabalhar lá com um pífio salário de estudante, mesmo já sendo arquitetos. E, na verdade, o escritório foi uma escola que me influenciou, não logo no início, mas depois é que eu fui perceber.

RS: Você participou do concurso para a Biblioteca para Salvador em 1968?

AM: Acho que, quando eu cheguei, esse projeto já estava em processo de desenvolvimento. Conheço bem o projeto, mas não participei muito, apenas no fim para ajudar a desenhar. Tinha um croqui muito bonito que o Guedes fez, o qual até coloquei num artigo meu sobre o processo de projeto, publicado na revista Sinopses (1).

Concurso para Biblioteca pública, 2. lugar, croqui, Salvador, 1968, arquiteto Joaquim Guedes [Acervo Joaquim Guedes]

Como eu não estava voltado para o concurso, o Guedes me colocou para trabalhar no detalhamento das escolas, em particular a Escola Salesiana de Campinas. Eu participei de toda a fase de projeto e depois cheguei a acompanhar um pouco a obra junto com o Guedes. Eu ouvia a reclamação dos padres de que a gente não terminava o projeto executivo e o Guedes reclamava que eles não pagavam. Ficava um rolo com o calculista, engenheiro elétrico, hidráulico, e o projeto não acabava nunca.

Concurso para Biblioteca pública, 2. lugar, perspectiva, Salvador, 1968, arquiteto Joaquim Guedes
Acervo Joaquim Guedes [Acrópole, n. 354, set. 1968, p. 18]

Naquele tempo eu estava tentando montar um escritório sozinho, quer dizer, eu, o José Magalhães e o Massimo Fiocchi, que fizemos aquele concurso. Alugamos uma casa, gastamos todo o dinheiro do concurso em viagens para o Sul. Mas o Mercado Público de Porto Alegre foi um projeto que não deu certo para ser construído. Tem um detalhe muito engraçado e interessante que eu lembro até hoje. O projeto era um pórtico bonito, do tipo Artigas e meio Reidy também. Tinha um balanço grande sobre uma praça que ficava em frente. Eram pórticos de 12,00m em 12,00m, com vigas pré-moldadas. O calculista foi o engenheiro Roberto Zuccolo, que era muito legal e atendeu a gente – tão jovem – muito bem. Mas, entre os pórticos ficavam umas pontas na parte externa do prédio, e a gente propôs colocar placas entre elas para não ficar uma porção de pontas aparecendo. Eu sabia que aquilo não tinha função estrutural nenhuma, mas colocamos as placas que ligaram todos os pórticos e ficou bonito. Davam uma sombra entre o pórtico e a parede do prédio. Então, quando a gente mostrou o projeto para o Guedes, a primeira coisa que ele disse foi: “Interessante, mas para que servem essas placas?” Ele pegou logo no pé daquele negócio que não servia para nada, o que reflete muito o pensamento dele, não é? Então, eu fiz mais um concurso enquanto estava no Guedes. O segundo, do Centro Cultural na Bahia – Casa Edgard Santos... Nem mostrei para ele, pois achava que ia ser outra bronca por causa do “concretão”.

Residência Mairea, Noormarkku, 1939, arquiteto Alvar Aalto [Foto Rafael Schimidt]

O período com o Guedes foi importante porque eu o conheci melhor e estudei o Alvar Aalto, entre outros arquitetos que não eram tão badalados no curso da FAU. Comecei a reestudar o próprio Frank Lloyd Wright, por exemplo. Comecei a ver detalhes do Richard Neutra, do Hans Scharoun, que fez a Sala de Concertos da Filarmônica de Berlim. Comecei a me voltar para esse tipo de arquitetura. O Guedes falava bastante sobre o Aalto, e a gente sentia a forte influência que ele tinha sobre o Guedes. Eu lembro que o Sergio Teperman apareceu uma vez lá no escritório e conversamos um pouco. Naquela época, o Teperman trabalhou uns tempos com o Alvar Aalto e, se não me engano, escreveu um artigo sobre isso na revista Projeto.

Casa Waldo Perseu Pereira, São Paulo, 1969, arquiteto Joaquim Guedes [Acervo Joaquim Guedes]

Neste tempo, final dos anos 1960, eu estava namorando a Ana Maria, que hoje é minha esposa. O Guedes às vezes convidava a gente para ir à casa dele e, como a Ana Maria tocava piano muito bem, a gente ia lá, tocava piano e, às vezes, jantava com ele, a Liliana e algum filho. A nossa relação foi melhorando e ficando mais intensa em função de que eu ficava por lá e trabalhava. Eu fazia detalhes que o Guedes gostava e passei a contribuir um pouquinho com detalhes. Tinha uma casa da qual acompanhei o projeto, e também ia à obra, cujo empreiteiro era um português genial que sabia fazer todos os detalhes de encaixe de vidro no concreto.

Casa Waldo Perseu Pereira, São Paulo, 1969, arquiteto Joaquim Guedes [Acervo Joaquim Guedes]

Naquela época, o Guedes não gostava de esquadrias e, por isso, fazia umas coisas assim como, por exemplo, na reforma da casa do Modesto Carvalhosa (advogado conhecido e muito amigo de Guedes), que era um anexo, um pequeno pavilhão nos fundos do terreno (onde conheci o português). O Carvalhosa morava numa casa antiga que não era projeto do Guedes, mas ele pediu para fazer uma extensão. Era um projeto relativamente pequeno, mas foi onde eu aprendi muito a fazer detalhes, justamente porque eu tinha um convívio com o mestre de obras. Depois, esse negócio de vidro no concreto acabou não dando certo e parece até que estouraram uns vidros na casa de Waldo Perseu Pereira. Então começamos a fazer uma pequena esquadria em volta para segurar os vidros.

Edifício Valéria, Santos, 1968, arquiteto Adilson Macedo [Acervo Adilson Macedo]

Eu fiquei um ano e meio trabalhando no escritório do Guedes, até uma época em que diminuíram os trabalhos. E eu precisava trabalhar para sobreviver, quer dizer, o meu pai não tinha condição de me manter aqui em São Paulo. Então, eu sempre fazia pequenos projetos por fora. Em Santos fiz o projeto de um prédio de três andares com pilotis embaixo, que era até interessante. Eram três apartamentos grandes de 300,00 m2cada um, para apenas três famílias. Depois fiz também uma casa que hoje está toda modificada. Assim, fiquei um tempo trabalhando sozinho, mas eram projetos avulsos. Eu não conseguia ter uma vida social intensa que permitisse uma quantidade boa de projetos.

Edifício Valéria, Santos, 1968, arquiteto Adilson Macedo [Acervo Adilson Macedo]

nota

1
MACEDO, Adilson Costa. Desenrolando o projeto. Sinopses, v. 37, São Paulo, USP, abr. 2002, p. 91-97.

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