De Barra Funda a Bairro Novo
Mobilidade e projeto urbano
A rede viária proposta em seus variados níveis de acessibilidade hierarquiza o espaço urbano do Bairro Novo como suporte para a disposição das edificações, do paisagismo, das infra-estruturas.
São denominados eixos longitudinais a seqüência das ruas Clélia e Guaicurus pela Avenida Francisco Matarazzo, a estrada de ferro, a Avenida Marquês de São Vicente, a Marginal Tietê. Eixos transversais cortam os grandes eixos longitudinais estabelecendo um ritmo para estas extensas linhas.
O eixo transversal da seqüência Avenida Pompéia, Viaduto Pompéia, Avenida Nicolas Boer e Ponte Júlio de Mesquita organiza a seqüência dos espaços públicos propostos em direção ao Rio Tietê dando continuidade aos bairros represados pela estrada de ferro.
A estrutura viária local se define pelos quatro segmentos separados pelos eixos das avenidas Marquês de São Vicente e Nicolas Boer. Estas vias locais propostas propiciam a redução da escala das grandes glebas existentes e se conectam com a malha urbana do entorno completando-a e permitindo assim um sistema de circulação eficiente entre essas quatro áreas. Praças em cada uma destas quatro áreas distribuem os fluxos para as outras vias locais que apresentam sentido único de tráfego que, mesmo tendo seqüência de desenho de um lado para o outro da Avenida Marquês de São Vicente, não a cruzam, preservando assim sua fluidez.
As áreas da estrada de ferro comporão um grande vazio estruturante equipado com áreas verdes e bacias de acumulação de água das chuvas. Este novo cenário revaloriza o patrimônio histórico industrial da estrada de ferro e compõe uma nova frente urbana para os bairros lindeiros, como a Lapa, Perdizes e Barra Funda que terão continuidade de suas ruas em direção a essa nova frente urbana e também acesso às novas vias de escoamento do tráfego viário ao longo dos trilhos.
Com uma nova ambientação para o trem, o limite dos trilhos que hoje separa regiões vizinhas terá o papel de uni-los.
A proposta, portanto, parte da renovação do cenário da estrada de ferro e construção de uma nova estação CPTM – a Estação Pompéia – eqüidistante das estações Barra Funda e Lapa, e que proporciona uma acessibilidade diferenciada à área a urbanizar e o fortalecimento e desenvolvimento dos investimentos públicos e privados já realizados.
Espaços públicos
A partir do Viaduto Pompéia se abre a larga perspectiva ao longo da Avenida Nicolas Boer dando qualidade à ocupação lindeira. Esta grande avenida, espinha dorsal da proposta, é guarnecida de cada lado por áreas verdes de 40 m de largura cada. Este espaço publico tratado como parque urbano envolve linearmente o viaduto e todo o eixo transversal, modificando seu caráter atual que e exclusivamente viário. Este espaço amplo e distendido imprime a qualidade necessária à habitação e a ocupação lindeira. Será equipado com ciclovia, quiosques e áreas sombreadas para a recreação e o descanso, devera também possuir iluminação publica de qualidade que permita o convívio e uso noturnos.
Este eixo termina num espaço existente na outra margem do Rio Tietê a ser reordenado e qualificado como área verde guarnecida de equipamentos esportivos, funcionando também para a distribuição das correntes de tráfego e incremento do comércio em seu entorno.
Seguindo a lógica de hierarquização de escalas propomos no centro da área residencial e próximas às glebas institucionais praças de menor porte e com caráter de uso local.
Tipologias propostas
A volumetria de ocupação das quadras reforça a orientação dominante do sistema viário e constrói uma tridimensionalidade variada, porem, predominantemente horizontal. Torres de maior altura pontuam a paisagem ao longo do grande eixo transversal da avenida Nicolas Bauer e da linha do trem. Estacionamentos em um ou dois níveis são propostos sobre o terreno, configurando construções horizontais com frentes comerciais para as ruas e constituindo um teto jardim para os pilotis dos edifícios residenciais propiciando uma integração mais direta da garagem ao edifício, simplificação técnica da obra e redução de custos.
Para a Avenida Marquês de São Vicente está proposto um segmento de áreas comerciais superposto por pequenos edifícios de serviços.
Área Motor: o ponto de partida
A série de quatro torres racionalistas (Arquitetos Aflalo e Gasperini) é referencial para o Bairro Novo. Marcam a paisagem e a presença italiana em São Paulo aonde se localizava o maior complexo industrial da América Latina, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. O que restou da grande estrutura produtiva, uma pequena edificação, a Casa das Caldeiras e três monumentais chaminés foi tombado como patrimônio histórico. O espaço balizado pelas edificações industriais tombadas e as quatro torres permanece como uma praça.
Considerando a necessidade de construir junto à nova estação CPTM áreas comerciais e de lazer, assim como os desníveis existentes e consolidados pela implantação dos edifícios tombados, a proposta para esse setor assume a forma de uma construção envoltória que agrega na forma de uma clássica praça para pedestres, estação de trem, comércio, bares e restaurantes, cinemas, torres residenciais e também os edifícios tombados e as quatro torres de escritório.
A proposta agrega ao já significativo investimento privado e ao interessante patrimônio histórico, novos programas, uma melhor integração aos bairros vizinhos e uma diferenciada acessibilidade metropolitana pela nova Estação Pompéia da CPTM, ponto de partida da presente proposta, na construção desse espaço portal para o Bairro Novo.
Longas galerias cobertas se abrem tanto para o interior deste espaço, como para as ruas, no nível superior da praça e nos níveis mais baixos das ruas envoltórias. No subsolo estão os estacionamentos e salas de cinema com acesso por um volume de vidro no nível da praça superior.
A passarela de acesso à Estação Pompéia, também de transposição da estrada de ferro, se alonga como perola dividindo e definindo os espaços dessas duas praças geminadas. A Praça Comendador Francisco Matarazzo integra-se nesse conjunto de espaços abertos.
ficha técnica
Autores
Arquitetos Jaime M. Cupertino, José Paulo De Bem, Juan Villà, Luis Guilherme R. Castro, Silvia Chile e Maria Augusta Bueno
Colaboradores
Arquitetos Paulo Massao M. Shibuya, Stephan Norai Chahinian, Bruno Barbato, Mario Rodrigues Echigo e Marisa Lousada Rodrigues
Estudantes
André Barbato, Fabio De Bem, Mario De Bem, Maíra Paes de Barros e Diego Magalhães
Consultores
Engenheiros Eduardo Giansanti e Renato Mendonça; Arquiteto Maurício Viegas