Uma proposta urbana específica para uma região de Piratininga, que deve tratar de algumas expectativas de transformações eminentes para a região, cujo sinal incontornável é a construção do túnel para Charitas.
Quando reconhecemos o estado bucólico desta região, esta perspectiva toma a conotação de um aviso, a saber: um grande choque está por vir.
Toda esta região deve responder a esta expectativa através de um planejamento regional e, principalmente, através desta Praça.
Apenas pensando desta maneira pudemos perceber a grande responsabilidade que esta Praça terá para o futuro deste bairro, e quanto sua tarefa é complexa.
Estruturamos nossa proposta em cinco pontos:
Primeiro ponto
Não há separação entre evento e escolha. Todos acontecimentos também são, a cada momento, uma decisão.
Um projeto começa com uma decisão, um gesto, a escolha de um princípio. Toda escolha é mais ou menos arbitrária. Entre tantas possibilidades como decidir o que é mais importante?
Segundo ponto
A cidade nunca está pronta.
Acidade se constitui, sempre se reinventando, sobre os caminhos de antes, decidindo seus próximos passos...
A cidade não pode ser sistematicamente controlada. A cidade está viva.
Terceiro ponto
Uma praça não deve ser apenas uma localidade, um hiato, um espaço vazio entre prédios.
Uma praça deve ser um lugar, e lugares nunca são espaços vazios.
Queremos que, a partir deste princípio, possamos criar um lugar.
Quarto ponto
Como tornar este lugar acessível? Como é esse ser acessível?
Entendemos que tornar este lugar acessível significa democratizar as formas de apropriação deste lugar. Democratizar não é homogeneizar. Por isso, este lugar deve oferecer uma diversidade de experiências, pois pertencerá a diversas pessoas, com seus próprios lugares dentro do lugar.
Quinto ponto
A rótula do Cafubá deverá se tornar um elemento estruturador de Bairro.
O bairro se estrutura em torno dos cidadãos e suas atividades.
A rótula do Cafubá deverá não só abrigar os cidadãos deste Bairro e as suas atividades, deverá ainda fundar uma história.
Para namorar no portão! Para conversar no meio-fio! Para se esquivar do poste! Para correr pequenos riscos! Para zelar pelos seus!
Para lidar com todas essas exigências procuramos por um princípio que fosse extremamente complexo, que desse impulso ao processo de transformação da região antes que esta região fosse absorvida por esse processo. Esta condição nos levou a eleger um desenho que refletisse essas características, que pudesse ser tomado como base para uma investigação formal e que tivesse sido gerado a partir de um pensamento familiar ao nosso. Encontramos no trabalho de Jackson Pollock esse parentesco que procurávamos. Esta relação pode ser identificada em seu testemunho.
Eu gosto de trabalhar em telas grandes. Eu me sinto mais em casa, mais tranqüilo, em uma grande área.
Com a tela no chão eu me sinto mais próximo, mais como parte da pintura. Desta forma eu posso rodeá-la, trabalhar todos os seus quatro cantos e estar na pintura, como os índios do Oeste que pintam com areia.
Às vezes eu uso um pincel, mas normalmente eu prefiro bastões. Às vezes eu faço a pintura jorrar direto da lata. Eu gosto de usar respingos de tinta. Eu também uso areia, cacos de vidro, pedriscos, cordas, unhas e outros materiais incomuns.
Um método de pintura é o crescimento natural de um desejo. Eu prefiro expressar meus sentimentos em vez de apenas ilustrá-los.
Técnica é apenas um meio para chegar a um resultado. Quando eu pinto, eu tenho apenas uma noção do que estou prestes a realizar. O que eu controlo é o fluir da pintura.
Não há acaso, assim como não há começo nem fim. Às vezes eu perco uma pintura, mas eu não tenho medo de mudanças...de destruir uma imagem. Porque a pintura tem vida própria, e eu tento deixá-la viver.
Para liberarmos a rótula de sua função de equipamento viário e transformá-la em uma praça integrada com a vizinhança, fizemos a transposição de seu fluxo para as ruas periféricas.
Os dois principais eixos de ligação não se cruzarão mais na praça. Eles foram desviados para as ruas adjacentes a fim de evitarmos a intensificação do fluxo automobilístico. Outras medidas como o nivelamento da rua com a calçada, a diferenciação mantida apenas no material de pavimentação e seu traçado irregular, ratificam a predominância do pedestre no local. Para prolongar as atividades nas ruas, tornando-as mais seguras, estimulamos a estruturação de um eixo local através da disponibilização de algumas vagas, criação de calçadas mais largas, travessias bem marcadas e intensa arborização.
Na praça, se alternam espaços para transição e permanência. Para as crianças foi criado um pátio especial com: balanço, trepa-trepa, ponte e gangorra. Para os jovens: quadra de esportes com arquibancada e um bicicletário no fim da ligação entre a praça e a ciclovia. Para os idosos um bosque contemplativo com espelhos d’água, bancos e mesas de jogos. Para atividades gregárias da vizinhança, foram criadas duas edificações. A primeira com parte administrativa, reservatório d’água, sanitários, bebedouro, depósito e um bar circundados por uma área para reunião de pessoas. A segunda, uma área fechada para exposições e pátio para atividades ao ar livre.