Considerações iniciais
A avaliação adequada da geografia e da paisagem bem como do desenho e imagem urbana da região em que a Praça Dom José Gonçalves da Costa está inserida permite ao planejador a possibilidade de pensar seu projeto sob uma perspectiva mais completa.
Procura-se através dessa avaliação extrair dados para o projeto que possibilitem a adoção de medidas mitigadoras, desde o nascedouro, de questões envolvidas com o impacto ambiental e social.
A ponderação destes conhecimentos pode levar a escolhas mais acertadas em termos de custo benefício e de melhoria real da qualidade de vida.
Transporte de massa
A abertura do Túnel Charitas/Piratininga permite que a cidade de Niterói implemente novos conceitos de transporte de massa atendendo à crescente demanda da expansão urbana.
A recente implantação da estação de barcas de Charitas, ligando a Região Praias da Baía ao Rio de Janeiro em apenas quinze minutos, conjugada com o túnel possibilitam o planejamento de vias expressas de transporte de massa conectando à Região Praias Oceânicas podendo se estender até a direção de Engenho do Mato e Rodovia Amaral Peixoto conforme a evolução da necessidade da população.
Esse conceito de transporte de massa expresso incentiva a não-utilização de veículos particulares reduzindo o volume e aumentando a velocidade do tráfego.
A via expressa teria pontos estratégicos de paradas aonde se localizariam postos que centralizariam serviços de bilheteria, sanitários, vestiários, lanchonetes e bicicletário. Esses pontos fariam a conexão com outros meios de transporte.
Transportes alternativos
Na área de intervenção surge uma nova área de lazer às margens da laguna de Piratininga que concentra um posto de serviços de suporte ao transporte público. Essa praça concentra os pedestres locais juntamente com usuários de transportes alternativos e não poluentes. Por transportes alternativos entende-se bicicletas, que podem ter seu uso incentivado com a urbanização das margens da laguna de Piratininga e a construção de uma nova ciclovia ao seu redor, e uma possível implantação de balsa para travessia da laguna de Piratininga em direção à Praia de Piratininga, coletando pedestres e ciclistas localizados por lá.
Hierarquia Viária
Obtemos uma hierarquia viária de imediato e claro entendimento induzindo à circulação periférica dos maiores fluxos de trafego através do desenho urbano em forma de rótulas nos acessos ao centro de bairro, que obrigam a redução da velocidade do trânsito e através da mudança do tratamento de piso ao redor da Praça Dom José Gonçalves da Costa, que também inibe a alta velocidade
Traffic Calming
A aplicação de técnicas de Traffic Calming é recomendada na busca da requalificação urbanística da Praça Dom José Gonçalves da Costa e de seu entorno imediato. As medidas adotadas priorizam o conceito de acessibilidade universal assim como a segurança e o conforto dos pedestres em seus percursos e travessias, eliminando as barreiras arquitetônicas e ambientais, e favorecendo a integração social.
Mesmo com os esforços em contrário a tendência é de intensificação do uso de veículos. Isso torna fundamental que os espaços urbanos sejam planejados de forma a amenizar seu impacto na qualidade de vida local.
Esses dispositivos combinados tornam as ruas mais seguras e calmas, seu uso é socializado entre os moradores e visitantes do local e evita-se o predomínio do fluxo de veículos e das correntes de tráfego.
Espaços urbanos e paisagismo
A praça se estende até a via de pedestres projetada na Av. Cons. Paulo de Melo Kalle e às duas quadras vizinhas a via, ampliando sua área de passeio. Ela recebe o fluxo de pessoas do grande calçadão de circulação em direção à nova área de lazer às margens da lagoa de Piratininga.
A chegada da via de pedestres ocorre em uma grande área livre multifuncional permitindo reuniões e eventos diversos de caráter público. Essa área tem o uso livre para diversas atividades: lazer contemplativo; pequenos eventos, shows e demais atividades culturais, com a área concentrando os espectadores e o caimento de piso induzindo a direção do palco; eventuais feiras culturais com a distribuição de barracas pela área; patinação, bicicletas e skate aproveitando a borda arredondada do disnível com o palco; etc. A arena tem piso em cimentado liso e é livre de arborização em seu interior, formando uma praça seca.
Ao lado dessa área livre e na extremidade oposta ao palco um morrote compõe uma pequena elevação com acessos e bancos assumindo a função de arquibancada, quando ocorrerem eventos, e de lazer contemplativo, nas demais ocasiões. Ele é coberto com vegetação arbustiva composta plantas de restinga com grande valor paisagístico e com forração em grama.
As atividades esportivas se localizam na extremidade oposta da praça: quadra poliesportiva com alambrado de proteção para não importunar os demais usuários da praça, implantada no sentido norte-sul para que a insolação não incomode os jogadores com pavimentação em cimentado liso; e área para equipamentos de ginástica com piso em saibro.
A área infantil fica fechada por cerca viva e desnivelada do restante da praça, devidamente protegida e implantada de forma isolada para que as crianças possam brincar livres, mas com segurança, e para que não sejam importunadas pelos ruídos das outras atividades e do tráfego de veículos. Nela são dispostos bancos e brinquedos lúdicos de garantida durabilidade e fraldários de suporte recebendo piso em saibro.
Em outro setor se localiza a construção de suporte às atividades da praça abrigando sanitários públicos, bebedouros, depósito para equipamentos de conservação da praça, sala de administração e reservatório de água. Junto a ela um espaço para eventuais exposições.
Uma pérgula em concreto e ferro com piso intertravado atravessa a praça formando um grande passeio que separa os setores de lazer esportivo dos outros setores de forma que os espaços não se conflitem. A pérgula em uma extremidade se une à edificação de suporte à praça com seus espaços se integrando e facilitando sua utilização para atividades conjuntas (exposições, feiras culturais, etc).
Um passeio para pedestres percorre ao redor da praça juntamente com pista de ciclovia ambos com piso de concreto intertravado com diferentes cores. Ao longo do percurso são dispostas mesas de jogos em concreto. Não são previstas vagas de estacionamento de veículos no entorno da praça ficando localizadas nas vias periféricas.
Essa setorização promove a ocupação do espaço urbano, somando-se variadas atividades de forma ordenada, criando área de interesse e curiosidade aos moradores e visitantes locais, respeitando o caráter simbólico da área e o seu papel como elemento estruturador do bairro, valorizando as atividades comunitárias e a integração social.
Via Especial para Pedestres
A Av. Cons. Paulo de Melo Kalle, no trecho entre a Praça Dom José Gonçalves da Costa e a nova praça próxima à laguna de Piratininga, terá seu tráfego restrito a comerciantes para carga e descarga e moradores locais.
Pretende-se que as edificações ao longo desse calçadão tenham o uso comercial, especialmente de bares e restaurantes, potencializado garantindo e promovendo a utilização do espaço público no período diurno e noturno
Nova Praça às Margens da Laguna de Piratininga
Essa nova área de lazer tem fundamental importância na nova estrutura urbana e na formação da imagem do bairro. Ela permite a visualização da laguna de Piratininga ampliando o horizonte do observador, marcando uma referência importante da cidade. Sua presença avisa aos visitantes a chegada a um novo bairro e convida sua permanência para a contemplação da paisagem.
O novo sistema de tráfego viário tem ali um ponto estratégico de conexão entre o transporte de massa expresso e a população local, com a previsão de uma nova pista de ciclovia, delimitada e segura, coletando moradores vizinhos e com a previsão de uma balsa, a ser estudada a viabilidade técnica e econômica, fazendo a travessia da laguna de Piratininga em direção à vizinhança próxima à praia. Para dar suporte ao movimento de passageiros usuários dessa alternativa rápida de locomoção e aos freqüentadores da área de lazer é prevista ali uma construção de suporte contendo: bicicletário, sanitários públicos, vestiários e lanchonete com área coberta para clientes.
Essa praça compõe a urbanização que cerca a lagoa formando um parque linear em seu entorno para preservação do espelho d'água da Laguna de Piratininga e para o aproveitamento dele pelos moradores locais e visitantes aproveitando seu grande valor ambiental e turístico. Esse parque em volta da laguna abriga passeios, pista de ciclovia e áreas de deck para descanso e contemplação com árvores, palmeiras e canteiros com vegetação arbustiva e bromélias.
A acessibilidade universal é novamente adotada com as travessias de pedestres com rampas de inclinação de até 6%, tratamento de piso diferenciado nas rampas, acessos de garagem e próximo à telefones públicos e ao mobiliário urbano. A pavimentação dos passeios formam desenhos em pedra portuguesa dando unidade visual ao conjunto.
Lighting design
A iluminação da praça e da rua de pedestres será destacada do entorno em sódio pela tonalidade branca em todo seu contorno, formando um anel, e na circulação de pedestres que traçam retas marcadas por esta luz. Ao centro a luminosidade será mais intensa e utilizará tons mais frios na quadra polivalente e no palco da arena. O local se transforma numa cena harmônica e hierárquica, onde existem espaços mais e menos luminosos, agregando e transmitindo segurança às pessoas.
Além de atender aos requisitos básicos acima, o controle de ofuscamento, economia de energia, facilidade de manutenção, e viabilidade de custos devem ser agregados ao escopo do projeto. Mas o maior objetivo é a transformação da praça e de seu entorno em locais de prazerosa convivência, inclusive à noite.
Considerações finais
O espaço urbano da Praça Dom José Gonçalves da Costa é o foco principal da intervenção, elemento fundamental na estruturação urbana, na formação da nova imagem do bairro e ponto principal de concentração das atividades comerciais e de lazer locais.Sua integração com a Laguna de Piratininga através de uma via preferencial de pedestres dinamiza os espaços urbanos incentivando e qualificando a ocupação do espaço público, promovendo sua utilização diurna e noturna e o uso comercial do seu entorno.
Para facilitar a implantação do centro de bairro recomenda-se que incentivos fiscais sejam promovidos e que legislações específicas sejam implementadas para o estabelecimento no local de âncoras que formem um núcleo comercial catalizador.
Através desta intervenção urbanística o poder público reforça o caráter de centro de bairro da área de intervenção ordenando o seu desenvolvimento, respeita o contexto urbano e ambiental onde a área está inserida, responde às necessidades dos moradores locais e inicia um novo momento para a região.
ficha técnica
Projeto
Arquitetos Ricardo Kawamoto, Marcio Leite e Santos e Elaine Condor Balaj – Arquiteta-Urbanista
Paisagismo
Paisagista Fernanda Santos Souza
Consultorias
Engenheira Christina Marins – Consultora em Engenharia de Tráfego
Geólogo Fábio Amaral – Consultor em Geologia e Arqueologia
Arquiteta Ana Moraes – Consultora em Lighting Desig
