Todo o espaço pode servir à educação: se o aprendizado é potencialmente infinito, assim o é a progressão da escola – a obra permanece aberta.
O pré-fabricado como unidade de espaço
O crescimento da demanda por espaços educacionais acompanha os desdobramentos do conhecimento humano, isto é, não são tão somente requeridos como outrora instituições de ensino clássico, mas também escolas altamente especializadas, resultado das novas tecnologias. Ainda sim, a administração pública mantêm o déficit educacional ao não disponibilizar novas vagas na mesma velocidade em que são demandadas.
Há, sobretudo, um desejo de mudança do cenário social através do desenvolvimento educacional.
Como prerrogativa, faz-se necessário conceber espaços voltados ao ensino capazes de aliarem processos construtivos econômicos e ágeis a uma consistência pedagógica.Um sistema pré-fabricado com uma volumetria própria às suas finalidades, flexíveis à diferentes implantações e topografias.
A estrutura dos módulos é resolvida por grandes vigas paralelas em balanço, que funcionam como “trilhos” para o apoio das peças perpendiculares (vigas e lajes). Com essa solução, chegou-se a uma síntese de peças pré-fabricadas: um único tipo de pilar, três vigas, dois tipos de laje e um tipo de vedação. Com apenas esses elementos, torna-se possível construir os módulos com diferentes configurações e adequá-los a diferentes situações de terreno.
Outras medidas, como o uso de painéis elevados para piso e cobertura, solucionam as questões das instalações elétricas e hidráulicas sem deixá-las aparentes, mas ainda sim com fácil manutenção.
A Proposta pedagógica se fundamenta na gradação dos ritmos espaciais e de convivência, moduladas em salas de aula, pátios e salas de múltiplo uso, esta última entendida como extensão das atividades dos alunos, de maneira análoga às escolas de Herman Hertzerberger. Assim, duas salas alternam-se com um pátio e uma sala de múltiplo uso, servidos tanto pelo corredor central coberto como pelos periféricos pergolados, assim conformados em dois níveis. Há, portanto, uma intermediação gradual entre exterior e interior das salas de ensino, de modo que a circulação também seja um ponto de encontro e convivência, estimulados tanto pelos bancos/sheds como pelo desnível das vigas.
Modulação da luz
Os dois caracteres da luz no projeto podem ser sintetizados nos dois corredores internos, não de modos antagônicos, mas complementares. O superior, como uma varanda que se projeta para o exterior, é modulado pela sombra dos caixilhos, que demarcam o ritmo da luz – claridade e transparência definem seu caráter. O inferior, com pontos concentrados de luz através dos sheds e dos elementos vazados, permite uma ambiência com maior contraste entre luz e sombra, associados a jardins internos e texturas de pedra.
Intervenção urbana
Uma escola onde o espaço construído pudesse fluir livremente pelas áreas verdes: a arquitetura como paisagem e a paisagem operada com os meios da arquitetura.
Nova proposta para o Instituto Ana Rosa devido à chegada da Linha 4 do Metrô. Primeiramente, como readequação do complexo educacional aos recortes ocasionados pelas desapropriações do Metrô e pela nova escala do projeto, agora metropolitana, que deve abranger não só equipamentos estritamente educacionais mas também esportivos e culturais, como suporte de uma nova centralidade urbana nas imediações da Estação Vila Sônia.
Situação
O instituto Ana Rosa encontra-se em meio a duas avenidas paralelas, Av. Francisco Morato e Av. Eliseu de Almeida, esta construída sobre o a canalização do córrego Pirajussara em um fundo de vale, com desnível de 10m em relação à primeira. A Linha 4 do Metrô apropria-se da direção das avenidas e as estações Morumbi e Vila Sônia flanqueiam o instituto, ocasionando uma série de desapropriações, entre as quais uma parcela do terreno do instituto. Outros equipamentos de interesse conformam a região, como o posto de saúde e o centro de cultura do Butantã, de escala regional.
Partido
Visa restabelecer a unidade perdida, ampliar a escala de utilização, promover sobretudo um modo de apropriação capaz de proporcionar um sentido ao território. Sua idéia central é configurar um caminho de interesse entre as duas avenidas, sem priorizar nenhuma fachada, e assim definir com clareza um eixo de serviços públicos vinculados ao posto de saúde e o centro de cultura do Butantã.
Duas praças voltadas à estas avenidas configuram as novas entradas do complexo, agora generosas e condizentes com a escala da intervenção. As diversas escolas são compostas pelos módulos propostos e conformadas em platôs, cujos desníveis propiciam vistas à encosta ainda arborizada, e o grande corredor central, extensão pública das atividades da escola, emoldura esta visão. As colinas e depressões, arquitetonicamente criadas, não só evocam as escolas-parque idealizadas por Anísio Teixeira como também são extensões da sala de aula, palco para uma interação mais estreita entre aluno e natureza.
Definição Estrutural
O uso de estruturas pré-moldadas de concreto se justifica, em primeiro lugar, pela sua rápida construção e limpeza do canteiro de obras, neste caso ainda mais premente por se tratar de uma reconstrução de uma estrutura em uso –os alunos não devem perder seu ano letivo. Em segundo lugar, pela possibilidade de crescimento da estrutura conforme a necessidade: algumas salas de aula poderiam ser acrescidas horizontalmente ou verticalmente, em uma posterior expansão da escola conforme o aumento da demanda.
Para cumprir as necessidades impostas de uso, a estrutura dos módulos de serviço gerais foi concebida com o mesmo tema das vigas em balanço, mas agora protendidas, de maneira a propiciar peças mais esbeltas devido aos grandes vãos a serem vencidos.
Articulação Funcional
O programa se fundamenta tanto nas atuais instalações do instituto – salas de cursos profissionalizantes – como também incorpora a experiência dos CEUS, centros de educação unificada de São Paulo.
Um grande eixo de circulação estrutura todo o projeto, resolvendo em rampas o desnível entre as duas avenidas e distribuindo os usos: por um lado o pedagógico, mais reservado, e os serviços públicos, do outro, servem tanto à escola quanto à cidade. Tal configuração, entretanto, não estabelece uma rígida divisão no programa, pois as salas de aula se interligam com as estruturas públicas (biblioteca, quadra, auditório) por meio de pontes-palcos sobre as rampas-auditórios da circulação principal.
