O Brasil, depois de um longo período de baixo crescimento econômico, vive um momento de excelente desempenho financeiro. Isso em virtude de um favorável cenário doméstico e externo que vem se firmando desde o ano de 2004. Contudo, não se vê uma significativa melhoria no desenvolvimento de obras de infra-estrutura, a não ser a preocupação com a recuperação das rodovias. Logo, há uma necessidade de projetos de maior amplitude, que enxerguem o Brasil em escala regional e mundial, e que tirem proveito desse contexto econômico e geopolítico em que o país vive.
O mais importante projeto da política externa Brasileira é o Mercosul. Este é, sem dúvida, uma das iniciativas diplomáticas mais bem sucedidas da história da América Latina. Decorridos aproximadamente dez anos desde a assinatura do Tratado de Assunção e do Protocolo de Ouro Preto, o Mercosul representa hoje um agrupamento regional economicamente pujante e politicamente estável, que tem sabido aproveitar os ensinamentos e as oportunidades da globalização e tem, assim, atraído, cada vez mais, o interesse de todo o mundo. Contudo, o crescimento sem precedentes do comércio intra-regional revelou como nunca antes a importância da infra-estrutura física como base para o desenvolvimento desse ambicioso projeto que é o Mercosul, fator que ainda é pouco desenvolvido nesta integração. Dentro deste contexto é que foi desenvolvido um projeto para a sede do Mercosul, infra-estrutura necessária para que exista um ponto físico de referência na organização do trabalho deste conglomerado econômico, assim como um objeto marcante dentro da América Latina e do mundo, que demonstre firmeza em sua existência, perante os diversos grupos econômicos do mundo, principalmente a União Européia e o Nafta.
A arquitetura concebida ao edifício, que se propõe como uma futura sede do Mercosul, desenvolve-se emblematicamente dentro do conceito de filtro, que procura a síntese dos objetivos e de todos os valores que esse órgão geopolítico pode agregar. A análise do edifício não se limita apenas aos elementos físicos perceptíveis. Também se consideram seu significado social e sua função como monumento representativo do bloco econômico. Para tanto, o edifício em sua arquitetura, procura evidenciar seus valores à comunidade global. Dessa forma, para completar o conceito de filtro, adotamos três objetivos do Mercosul como fundamentais para a compreensão do espaço nesta obra, sendo estes: a discussão, o trabalho e o desenvolvimento de diretrizes. Contudo, o prédio se desenvolve em apenas dois volumes: um que abriga os anfiteatros, em que ocorrerão as discussões de maior amplitude e outro volume que contém as áreas de trabalho e as de reunião. A função de desenvolver diretrizes é resultado das duas outras funções e é fundamental por ser o objeto sintetizado por este filtro.
Para organizar os espaços, criou-se um eixo que atravessa o edifício de trabalho, o qual contém também a entrada e um enorme vazio se que abre à bela visualidade das Cataratas do Iguaçu – um dos principais símbolos da exuberância natural deste continente – e desta forma faz com que o edifício evidencie a maior riqueza dos países integrantes do bloco: a água (além da América Latina ser o continente com a maior rede hídrica do mundo, há também o Aqüífero Guarani, que é a maior reserva subterrânea de água doce do planeta e está contido nos países integrantes do Mercosul).
O local de implantação do complexo levou em consideração a maior proximidade possível com os quatro países integrantes do mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a disponibilidade de infra-estrutura urbana próxima para acolher os possíveis usuários do edifício. Isso levou à conclusão de que um local próximo à cidade de Foz do Iguaçu e da tríplice fronteira tinha grande vocação para acolher a obra.
É necessário considerar também o espaço natural em que o edifício está sendo implantado, ou seja, sua relação com o entorno, neste caso, torna-se muito mais sensível, pelo fato de o projeto estar implantado próximo às Cataratas do Iguaçu, no local onde atualmente existe um hotel – isso para que não houvesse interferência destrutiva na mata protegida pelo parque nacional do Iguaçu. A inclinação do edifício contrasta com a verticalidade das árvores, assim como os elementos artificiais inevitavelmente contrastam com a paisagem natural. Contudo, o domínio espacial das Cataratas é imperativo como elemento marcante. Por isso, procuramos evitar qualquer volumetria verticalizada que pudesse competir visualmente com as quedas de água; ao contrário disso, a plástica do edifício engloba essa imperação através da visualidade que o atravessa e evidencia a paisagem das águas.
A opção de trabalhar com planos não ortogonais gera uma distorção e controle da perspectiva: Para um observador que entra no grande átrio com pé direito de mais de 10 metros de altura, tendo do lado oposto à vista das cataratas, a perspectiva é aproximada, trazendo a paisagem para perto. Outra conseqüência da inclinação é a trama de triângulos de concreto pré-fabricado, que constitui também as divisórias do edifício. Isso contribui também para a geração de espaços mais interessantes nos ambientes de trabalho. Embora as formas distorcidas dificultem o mobiliário dos espaços, a própria estrutura dos triângulos resolve este problema, uma vez que já foi concebido para que pudessem se desenvolver armários, prateleiras, e outros mobiliários no interior dos mesmos. Dessa maneira, todo o projeto foi resolvido dentro do conceito de pré-fabricação, usando as peças de concreto para resolver toda a arquitetura do edifício, desde a estrutura principal até o interior do edifício. Assim operam todos os elementos em conjunto; naturais e artificiais, que ora se opõem, pela textura e forma, e ora concordam, uma vez que a paisagem natural contém o edifício e este contém a paisagem dentro de sua arquitetura.
Sistema construtivo
O sistema estrutural proposto para o projeto está baseado no módulo triangular. Este módulo determinou toda a concepção das peças que compõem o edifício. O módulo triangular, apesar de não existir isolado no conjunto, aparece “associado” com outros triângulos, formando peças que tem o funcionamento de pilar e viga, simultaneamente. Esta peculiaridade apresenta diversas vantagens, como a possibilidade de resolver a estrutura de um projeto com uma volumetria ousada de um modo relativamente simples.
Os elementos pré-fabricados empregados dividem-se em três grupos principais: aqueles resultantes dos módulos triangulares; as lajes alveolares; e as peças de vedação as quais também contraventam a estrutura e servem como uma proteção solar, devido à sua configuração em forma de grelha.
Os elementos resultantes dos módulos triangulares, dispostos uns sobre os outros, possibilitam a construção do edifício e o vencimento dos vãos entre os dois blocos de trabalho. Estes elementos estão presentes também no estacionamento, organizando a percepção do usuário no sentido de uma familiarização com as formas do prédio já a partir do subsolo.
As lajes alveolares protendidas organizam-se a partir de peças-base que sofrem pequenas adaptações para a associação com os outros elementos. Daí surgem peças diferentes que não necessitam de uma forma metálica completamente diferente: apenas com algumas mudanças como: chanfros para a inserção das lajes entre o vão dos triângulos; adição de um consolo para aumento da altura das lajes dos corredores, possibilitando assim a execução do piso elevado nos escritórios (o que flexibiliza os espaços de trabalho, facilita a manutenção dos sistemas de informações e energia e permite a adaptação a novas tecnologias) ; adição do balanço para a execução da “casca” que envolve os edifícios.
Assim como as lajes, as peças de vedação também partem de uma peça-base com as seguintes diferenciações: peça vazada para a passagem da tubulação do ar-condicionado, tanto no sentido horizontal como na descida para a central de condicionamento; adição de balanço para a “casca” envolvente.