Ata de julgamento
Os trabalhos de julgamento do Concurso Público Nacional de Arquitetura dos Lanceiros Negros para o Monumento, em Porto Alegre, e para o Memorial, em Porongos, no Município de Pinheiro Machado, foram realizados durante os dias 28, 29 e 30 de abril de 2006, no Auditório da Sede do IAB/RS, no Solar Conde de Porto Alegre.
A Comissão Julgadora do Concurso Público Nacional de Arquitetura dos Lanceiros Negros, sob a coordenação dos arquitetos George Augusto M. de Moraes e Tiago Holzmann da Silva, tendo como secretária executiva a arquiteta Clarissa Schostack, foi composta pelos membros titulares arquitetos Zulu Araújo (BA/DF), Carlos Fernando de Moura Delphim (RJ), Nelson Saraiva da Silva (RS/SC), e César Dorfman (RS). Devido à impossibilidade de participação da arquiteta Célia Ferraz de Souza, justificada e comunicada com antecedência à Coordenação, a arquiteta Luana Paré de Oliveira (RS) assumiu a titularidade em seu lugar, passando a integrar a Comissão. O arquiteto Daniel Pitta Fischmann (RS), como suplente, participou integralmente dos trabalhos de julgamento, porém sem direito a voto.
A primeira sessão de julgamento foi realizada no dia 28 de abril, sexta-feira, entre as 18h30 e as 21h30 e desenvolveu as seguintes atividades:
- Apresentação pelos arquitetos Tiago Holzmann da Silva e George Augusto M. de Moraes sobre as Bases do Concurso, com ênfase no Regulamento e Termo de Referência.
- Entrega do Relatório da Entrega dos Trabalhos elaborado pela Coordenação do Concurso para informar a Comissão Julgadora a respeito das condições gerais e particulares de entrega, abertura e montagem das propostas para o desenvolvimento dos trabalhos de julgamento. As recomendações da Coordenação do Concurso, contidas neste documento, foram acatadas com exceção da recomendação de desclassificação dos trabalhos de nº CLN 002, CLN 005, CLN 017, CLN 029, CLN 031 e CLN 036 que entregaram as 4 pranchas da proposta em desacordo com o item 2.9.1. do Regulamento.
- Após a apresentação, a Comissão Julgadora reuniu-se para definir a sistemática a ser utilizada para o julgamento. Elegeu como presidente da Comissão Julgadora, o arquiteto César Dorfman, e como relator, o arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphim.
- A Comissão Julgadora visitou a exposição dos 40 trabalhos aptos a julgamento.
A segunda sessão de julgamento foi realizada no dia 29 de abril, sábado, a partir das 9h00 e desenvolveu as seguintes atividades:
- Os membros da Comissão procederam a uma triagem de todos os projetos, selecionando e relacionando os melhores. Neste primeiro exame foram escolhidos 27 (vinte e sete) propostas, a saber, as de número CLN 001, CLN 003, CLN 005, CLN 008, CLN 009, CLN 010, CLN 013, CLN 014, CLN 015, CLN 016, CLN 018, CLN 019, CLN 020, CLN 023, CLN 024, CLN 028, CLN 029, CLN 030, CLN 031, CLN 032, CLN 033, CLN 034, CLN 036, CLN 037, CLN 038, CLN 039 e CLN 040.
- Em seguida, após análise mais pormenorizada efetuada por cada membro da Comissão, foram indicados as propostas que comporiam a relação da pré-seleção, em um total de 13 (treze) trabalhos ou seja, os de numeração: CLN 003, CLN 008, CLN 016, CLN 019, CLN 020, CLN 024, CLN 028, CLN 030, CLN 032, CLN 033, CLN 037, CLN 039 e CLN 040.
- À tarde do mesmo dia, entre as 14h e 18h a Comissão, de forma conjunta, examinou, cada um dos trabalhos escolhidos, eliminando os que menos se aproximavam das condições das bases. O número de trabalhos reduziu-se a seis. Cada componente da Comissão examinou detidamente as propostas finalistas, de número CLN 008, CLN 020, CLN 024, CLN 037, CLN 039 e CLN 040. Essas propostas foram novamente colocadas em discussão pelo grupo que consensualmente definiu o resultado do concurso.
A terceira sessão de julgamento foi realizada no dia 30 de abril, domingo, entre 10h00 e 13h00 e desenvolveu as seguintes atividades:
- Definição dos classificados.
- Redação da Ata Final de Julgamento.
Foram escolhidos os trabalhos:
- Menções honrosas
- CLN 008
- CLN 024
- CLN 039
- 3.º lugar - CLN 040
A proposta apresenta plano diretor bem concebido e unidade dos elementos arquitetônicos.
- 2.º lugar - CLN 020
Os elementos mais importantes da proposta são a criação do parque, a ênfase na questão ambiental e na vegetação; a reconstituição histórica por meio de um percurso por todo o sítio; a determinação de um percurso interessante entre a praça cívica, o túnel e o anfiteatro; a boa organização das funções; destaque na gênese do monumento do Parque Farroupilha com a simbologia da tuna e da lança.
- 1.º lugar - CLN 037
Análise do território regional feita com competência; a interferência do monumento foi ao mesmo tempo, enfática e de extremo respeito às premissas do Edital que exigiu pouca interferência na paisagem; baseou-se na resolução de uma forma óbvia porém rica, bem feita e criativa; demonstra domínio de todas as escalas envolvidas; revela conhecimento de temas ligado à cultura e ao meio-ambiente. A lança negra suspensa entre a terra e o solo, sem estar cravada, cria uma relação entre o sagrado e o profano, o divino e o humano, remetendo à relação entre a terra e o céu como um retorno simbólico. É elogiável a nítida separação entre o sagrado representado pelo marco simbólico e o profano representado pelos edifícios de apoio ao turismo.
Recomendações gerais à proposta vencedora:
Maior atenção ao conjunto arquitetônico que trata das atividades destinadas ao turismo (resolução simétrica com acesso lateral), sem prejuízo à linguagem enunciada pelo sistema construtivo vernacular. Prever estacionamento próximo ao Memorial; Reforçar a visibilidade dos acessos ao Memorial pelos túneis.
Observações Finais
Findos os trabalhos da Comissão da Comissão Julgadora do Concurso Público Nacional de Arquitetura Lanceiros Negros, os membros decidiram:
- Registrar uma referência elogiosa à Coordenação do Concurso;
- Dirigir ao Instituto de Patrimônio Histórico Nacional - Iphan, solicitação para que os trabalhos de instrução do processo de tombamento daquele sítio sejam acelerados e que o mesmo possa ser encaminhado ao Conselho Consultivo do Iphan com a brevidade que a opinião pública vem exigindo;
- Recomendar que, após o tombamento, o sítio seja apresentado à Unesco sugerindo sua inclusão na Lista de Patrimônio Cultural da Humanidade.
A Comissão Julgadora verificou que, segundo grande parte das propostas, o Concurso serviu como oportunidade para uma nova leitura da história, um modo de interpretação por meio da inserção da arquitetura e do respeito à paisagem.
De uma forma geral, o nível das propostas foi altamente satisfatório. Grande parte das equipes demonstrou ter avançado em relação às condições do Concurso.
Para a cultura negra a questão da circularidade espacial apresentada pela proposta vencedora, com o espaço contínuo conduzindo à agregação do ser humano no mundo, é referência à cosmovisão afro-brasileira.
A implantação de um Memorial aos Lanceiros Negros irá contribuir para o desenvolvimento do município e da região de Pinheiro Machado. Porongos assume uma importância matricial para a cultura gaúcha. Testemunha o litígio entre diferentes mundos e culturas: a cisão, a ligação e a integração entre o lusitano, o espanhol, o missioneiro, o índio, o negro. Mesmo que os reais eventos ainda permaneçam obscuros, sob um ponto de vista universal, Porongos transcende o valor de sítio histórico. Os pontos onde a verdade objetiva permanece obscura são iluminados por valores imateriais, significados mitológicos, mágicos, simbólicos. Em Porongos ocorra uma irrupção do sagrado. Este é o verdadeiro valor do sítio, um valor sagrado para a humanidade que não é alcançado pelo logos mas pelo mythos. Em um mundo carente da construção de símbolos, a proposta vencedora constrói símbolos fortes devolvendo com imenso vigor a questão do símbolo e transitando com desenvoltura entre os signos do passado e a linguagem e a tecnologia do moderno.
Porto Alegre, 30 de abril de 2006.
(assinam)
Arq. Carlos Fernando de Moura Delphim - Relator da Comissão Julgadora
Arq. César Dorfman - Presidente da Comissão Julgadora
Arq. Luana Paré de Oliveira
Arq. Nelson Saraiva da Silva
Arq. Zulu Araújo