A proposta estrutura-se em 4 níveis de intervenção: regional, local, memorial e monumento.
Regional
Região
A proposta para intervenção no nível regional está baseada em ações de desenvolvimento visando oferecer uma alternativa econômica viável ao mesmo tempo em que preserva e valoriza a cultura e a paisagem da pampa onde habita a alma do gaúcho.
O principal setor a ser fomentado é o turismo cultural. Serão formatadas cavalgadas que partindo dos vértices do quadrilátero considerado – Jaguarão, Rio Grande, Caçapava do Sul e Bagé tenham seu final no Sítio Histórico de Porongos. O cavalo é o meio de transporte sugerido, pois permite a vivência típica do gaúcho, a convivência entre os participantes e os habitantes locais e o tempo necessário para a apreciação dos costumes e da paisagem local. Os temas a serem trabalhados deverão estar relacionados com a cultura negra (culinária, canções, costumes, etc.) e a revolução farroupilha.
Ao longo destas, assim denominadas, equovias, após serem selecionados os atrativos, fazendas serão escolhidas para oferecer hospedagem e alimentação. Deverão estar localizadas nas proximidades da intersecção da equovia com raios concêntricos de 25 km que correspondem a 3 horas ou um turno de cavalgada turística.
Propõe-se 4 equovias:
Equovia da Liberdade – Jaguarão-Porongos: Partindo da primeira cidade a reconhecer a República Riograndense, passa pela localidade de Quilombos, Herval, Cerro da Guarda, Pedras Altas, Pinheiro Machado e Porongos.
Equovia do Charque – Rio Grande-Porongos: Saída do túmulo de Bento Gonçalves, Povo Novo (terra natal do Gal. Netto), Pelotas e suas charqueadas, Capão do Leão, Piratini (Capital farroupilha) e Porongos.
Equovia das Encantadas – Caçapava do Sul-Porongos: Inicia em Caçapava e ruma para a Serra das Encantadas, que além de ser região de grande beleza natural serviu de refúgio de escravos fugidos e finda em Porongos.
Equovia da República Riograndense – Bagé-Porongos: De Bagé a Porongos, passa pelos campos de Seival (local onde foi proclamada a república riograndense).
Estas cavalgadas poderão estar integradas com o roteiro existente denominado Caminho Farroupilha.
Os percursos serão convenientemente sinalizados com material específico.
Nesta região, em locais selecionados por sua importância histórica e paisagística será aplicado à mesma normatização da Bacia Visual do Cerro de Porongos.
Cidade de Pinheiro Machado
– Memorial
Na cidade de Pinheiro Machado serão instaladas as atividades do Memorial relacionadas com a pesquisa, acervo, cursos e a administração geral.
O prédio escolhido e que reúne as melhores condições para sediar estas atividades é o antigo Hotel da Luz, atualmente de propriedade da prefeitura municipal. Ressalta-se que o prédio deverá ser de uso exclusivo. Será objeto de projeto específico para a instalação do memorial.
Como prédios de apoio serão utilizados o Clube do Comércio e do Teatro onde poderão ser realizados cursos, oficinas, seminários e apresentações artísticas.
A cidade possui vários prédios de valor histórico-arquitetônico que poderão sediar outras atividades relacionadas ao memorial ou equipamentos de apoio turístico como hotéis, pousadas e restaurantes.
Dentre as atividades do Memorial será a de promover ações de educação patrimonial visando principalmente ao público escolar.
– Turismo
Será instalado um Posto de Informações Turísticas no trevo de acesso na Avenida Amintas Luís Dutra com a BR-293. Inicialmente será colocado um totem de identificação da cidade e uma placa interpretativa com mapa da cidade e região. Posteriormente será instalado um serviço com atendentes.
Será realizado um inventário dos atrativos turísticos e equipamentos de apoio, formatado um city-tour com produção de folhetos e treinamento de guias de turismo.
Propõe-se a recuperação de hotéis, restaurantes e comércio em geral, qualificação profissional da mão-de-obra através de parcerias com organizações governamentais ou não e o incentivo à criação de agência de turismo receptivo com veículos para transporte ao Cerro de Porongos e demais atrativos.
Propõem-se um Plano de Requalificação da Paisagem Urbana que atenda aos aspectos de arborização, sinalização, mobiliário urbano, pavimentação, etc...
Local
Bacia Visual do Cerro de Porongos
A paisagem da Bacia Visual do Cerro de Porongos deverá ser protegida em seus aspectos naturais e culturais. A referência histórica utilizada é a da preservação da paisagem a mais próxima possível daquela que se apresentava na época da Revolução Farroupilha. Portanto, sem negar a importância dos aspectos ecológicos ou econômicos o foco desta proposta é a da preservação da paisagem histórica. Na bacia visual não deverá ser permitida a construção de grandes estruturas e/ou o cultivo de espécies vegetais de monocultura em grandes áreas e de impacto na paisagem como o eucalipto. Condicionantes semelhantes devem ser implantados em outros locais de interesse histórico ou natural da região como o local da Batalha de Seival, do Tratado do Ponche Verde, Cerro da Guarda, etc...
Plano Diretor da Bacia Visual do Cerro de Porongos
As estratégias para a elaboração do Plano Diretor da Bacia Visual do Cerro de Porongos foram embasadas no Estatuto da Cidade, tendo as seguintes premissas norteadoras das normativas de ocupação da área:
– Estimular o crescimento sustentável do município;
– Ordenar o espaço físico a fim de que o desenvolvimento econômico esteja associado à preservação e valorização da memória cultural;
– Assegurar que o crescimento da economia não venha a prejudicar o meio ambiente natural e cultural ao mesmo tempo em que a preservação do meio ambiente natural e cultural não venha inviabilizar o desenvolvimento socioeconômico do município;
– Qualificar os padrões de mobilidade;
– Estimular a participação da sociedade nas decisões sobre o planejamento da cidade.
A Bacia Visual do Cerro de Porongos foi segmentada em 7 zonas de uso de acordo com as estratégias gerais do Plano Diretor. São elas: Zona Urbana; Zona Rural; Área Especial de Interesse Institucional; Área Especial de Interesse Cultural; Corredor Urbano; Corredor Lanceiros Negros I e Corredor Lanceiros Negros II.
Mobilidade
O acesso ao Cerro de Porongos se dá a partir da rodovia federal BR 293 (rodovia que faz a importante ligação de Pinheiro Machado com Pelotas e Bagé) e posteriormente por uma via de chão batido. A configuração desta via e do trecho da BR 293 deverá sofrer algumas modificações com intuito de reforçar o papel estratégico do Cerro para o desenvolvimento local. Levando em consideração as normativas (DAER-RS) para projetos geométricos de rodovias e ciclovias (que varia conforme classificação da via), propomos modificações e qualificações para estas duas vias.
Ciclovia e Equovia
As ciclovias bidirecionais devem ter, segundo as normas de projeto geométrico de ciclovias do DAER-RS, dimensão mínima de 2,80m devendo estar afastada 1,50m da pista. A Equovia ocorrerá do lado oposto à ciclovia, evitando assim conflito animais x acesso propriedades x bicicletas.
Rodovia Federal BR 293
Por ser uma rodovia configurada (atende as normas estabelecidas pelo DNIT Departamento Nacional de Infra-Estruturas de Transporte), a intervenção se limita a acrescentar a ciclovia e a equovia e faixas de vegetação no trecho entre a sede municipal de Pinheiro Machado e a estrada vicinal que leva até o Sítio de Porongos.
Rodovia vicinal Municipal
Segundo o DAER-RS as rodovias de acesso a pontos turísticos podem enquadrar-se em qualquer classe de rodovia vicinal. Tendo em vista que a possibilidade desta via ter grande fluxo a ponto de se transformar numa rodovia estadual seja remota, classifica-se esta via como Via Vicinal Classe B (trechos terminais em localidades ou ligação). Para esta classificação deve possuir as seguintes características: 1. Faixa de rolamento de 3,00m 2. VDM (volume diário médio) menor de 200 veículos 3. Faixa de domínio de 30,00m 4. VO (Velocidade Operacional) de 60Km/h 5. Acostamento mínimo de 1,00m.
Sinalização
Serão confeccionadas placas de sinalização de 3 tipos: Interpretativas, Indicativas de distância e direção e Sinalização interna no Sítio Histórico de Porongos, além dos totens de identificação.
Memorial
Seguindo as premissas de mínima intervenção e de local de reflexão procurou-se intervir no Sítio Histórico de Porongos de modo sutil reconhecendo o caráter de monumento do próprio sítio.
As edificações foram dispostas na área de propriedade da prefeitura, enquanto que no restante do sítio ficaram pequenas intervenções. A área tombada foi tratada como um todo. Sugere-se a aquisição pela prefeitura de toda a área dando melhores condições de gestão.
A área será limitada com cerca tradicional da região – moirões de eucalipto e arame liso. O marco do MTG será incorporado ao sítio. Os eucaliptos existentes na área deverão ser retirados e seus troncos utilizados no próprio sítio.
Marco simbólico
O marco simbólico proposto é a possibilidade de realizar um percurso em que serão estimuladas as sensações, instigando o visitante à reflexão e à introspecção. Portanto o marco simbólico é mais uma ação pessoal do que um monumento no sentido clássico.
Dividiu-se conceitualmente o sítio em duas partes. A primeira que corresponde à área destinada aos eventos que trata dos aspectos cognitivos e cerimoniais e a segunda ao percurso que trata de aspectos emocionais e sensitivos. No salão de eventos será locado um painel interpretativo com informações históricas básicas. A partir deste ponto o visitante é instigado a concentrar-se nas sensações percebidas ao longo do percurso e através delas meditar e refletir sobre os acontecimentos ali ocorridos e suas implicações posteriores até os dias atuais.
Um túnel está incluído neste percurso para marcar o acesso e que o visitante experimente a sensação de adentrar em um local escuro e posteriormente ver a luz com as múltiplas implicações que este processo proporciona. O túnel é estruturado em concreto e possui em seus acessos placas de aço corten que criam a transição entre os espaços e através de recortes nos mesmos permitem o enquadramento da paisagem.
Junto à saída do túnel serão dispostos no solo elementos metálicos que sob a ação do vento produzirão um som característico, evidenciando um dos elementos mais característicos da pampa – o vento.
O caminho é sugerido através de dormentes de eucalipto dispostos a intervalos regulares. Ao longo do caminho são dispostos bancos de madeira e pedra. No topo do cerro há um estar contemplativo onde serão colocadas esculturas de granito que permitam a sua utilização para sentar, recostar e/ou deitar possibilitando o descanso, a meditação e a reflexão. A apreciação tanto poderá ser diurna, sentindo o sol, a luz e as nuvens como noturna apreciando o belo e límpido céu austral. No local existem marcos geodésicos que dão a localização espacial. O objetivo proposto é que através da reflexão o visitante se localize no tempo e na história.
Dispostas pelo caminho serão instaladas luminárias baixas balizadoras com células fotovoltaicas que a noite assinalarão o caminho com um rastro de luz evocando as lendas do Negrinho do Pastoreio ou Mboitatá.
Salão de Eventos
O Salão de Eventos com área de 292,00 m2 foi localizado a meia encosta, semi-enterrado evitando a interferência no perfil do topo do cerro e com uma presença mais discreta no sítio. Possui salão de eventos divisível em dois e integrado à cozinha com fogão campeiro e churrasqueira; Depósito e sanitários.
Em frente ao Salão foi criado um espaço de transição com estrutura móvel de metal e brises de madeira. De movimento lateral propicia o controle da iluminação e permite a realização de eventos e comemorações ao ar livre. Para tanto, foi concebida uma esplanada com pavimentação em granito onde será relocada a pedra com a poesia de Birago Diop.
Acampamento
A área destinada a acampamentos foi locada na encosta leste junto ao arroio e mata ciliar. O apoio com sanitários e depósito para churrasqueiras portáteis fica na área da prefeitura a 30 m do arroio. Este prédio fica também semi-enterrado. A cobertura do mesmo poderá servir para palco de apresentações artísticas com o público disposto na encosta. Na Área de Preservação Permanente serão plantadas novas espécies de árvores nativas ampliando a área de mata e acampamento. Esta estrutura dá suporte à chegada das cavalgadas.
Portaria
A portaria localiza-se junto à estrada na linha do vale que dá acesso à área do acampamento. Nela estão instaladas a administração, controle do acesso e sanitários. Junto à mesma fica o totem de identificação em concreto armado com logomarca e letreiro em aço corten. A parede de granito da fachada contrapõe-se à leve cobertura.
Estacionamento
Foi disposto dentro da faixa de domínio da estrada no lado oposto da área tombada para não interferir na visualização do sítio. Tem capacidade para 4 ônibus e 20 automóveis.
Infra-estrutura
O abastecimento de água se fará por poço artesiano e o reservatório subterrâneo em cota acima do abastecimento. Em cima do Salão de Eventos haverá uma cisterna que capturará a água das chuvas e alimentará os vasos sanitários. O fogão campeiro e a churrasqueira contarão com serpentinas ligadas a um reservatório de água quente.
O esgoto será tratado por um sistema de fossa séptica, filtro anaeróbico e valas de infiltração.
A energia elétrica provirá da rede pública que deverá ser reforçada para o abastecimento de acordo com a demanda.
A climatização do salão de eventos será natural com captação de ar do subsolo e exaustão através das zenitais da cozinha e do salão.
O lixo orgânico será disposto em composteiras e o lixo reciclável será encaminhado à cidade de Pinheiro Machado.
Estes sistemas servirão de modelo aos empreendimentos locais.
Programação visual
A logomarca representa em sua composição elementos que evocam o Cerro de Porongos, a lança, a supressão das armas na noite do massacre e a dualidade das interpretações referentes ao fato.
Será utilizada na identificação do sítio, do memorial, nas placas de sinalização e em todo o material de divulgação referente ao memorial.
Monumento
A construção do monumento histórico aos lanceiros negros na capital do estado servirá para interpelar e mobilizar a memória coletiva do povo gaúcho e brasileiro, constituindo-se como local de eventos e ritos para reafirmar a identidade da comunidade negra. Relaciona-se diretamente com o monumento que é o sítio histórico de Porongos - palco do massacre de 14 de novembro de 1844.
Este lugar de memória será construído para forçar à lembrança da luta contínua dos negros e de todo a humanidade pelos seus sonhos de liberdade, justiça e paz. A evocação do passado que o monumento trará ao presente deve ser feita sem rancor e remeter a um futuro de fraternidade universal.
Monumento
O monumento foi concebido respeitando as restrições relativas ao seu porte e material. Constitui-se de um bloco maciço de granito de 0,40 m x 3,75 m de base (1,50 m2) e com 2,50 m de altura. Este bloco de granito que possui uma coloração rósea deverá ser extraído de jazidas existentes na região de Porongos.
Sofre um corte inclinado em toda a sua altura, criando um espaço vazio da base ao topo. Na parte superior um novo corte em sentido contrário. Esse corte representa a traição e a quebra de confiança ocorrida quando do massacre de Porongos. O corte em sentido contrário mostra que mesmo que as duas partes sejam novamente unidas, uma parte se perdeu para sempre e a marca e sua lembrança permanecerão. O acabamento dado à pedra é o polimento, exceto nas faces internas do corte que serão apicoadas, ficando em um estado mais bruto. Na extremidade oposta ao corte fica reservada uma face para a colocação de placa de bronze com inscrições alusivas ao monumento.
Base
A base do monumento constitui-se de uma elipse de revestida com pedra portuguesa branca de uso característico e tradicional e circundada por uma faixa de granito polido da mesma cor rósea do monumento. O monumento será colocado longitudinalmente sobre o eixo menor da elipse e avançará além da mesma na extremidade onde será colocada a placa de bronze. “O eixo maior será orientado em direção a Porongos com um azimute de 239º38’16”. Sobre este eixo ficará a fenda resultante do corte do bloco de granito. No sentido de Porongos será o cruzamento de duas faixas de granito preto que serão colocadas na direção Norte-Sul e Leste-Oeste e será suporte para a marcação das coordenadas de Porongos – 31º23´10”S e 53º32´15”W. Sobre a faixa externa serão inscritos, no próprio granito, os dizeres “Em Memória ao Massacre de Porongos – 14 Novembro 1844”. Esta inscrição terá início junto à placa de bronze e terminará no eixo das coordenadas de Porongos. Pretende-se com isso provocar o movimento em torno do monumento estático fazendo com que o visitante após ler a placa dirija-se e posicione-se no eixo que passa por Porongos e pela fenda do monumento.
No eixo longitudinal serão instalados jatos de água que reforçarão o eixo Porto Alegre-Porongos. A água será recolhida por um ralo metálico semi-esférico no cruzamento das faixas das coordenadas. Estes jatos evocam as lanças utilizadas pelos lanceiros negros, porém com um material diverso – a água que cura, purifica e escoa em direção a Porongos estabelecendo uma ligação entre estes locais. A iluminação será feita através de luminárias de vapor metálico embutidas no piso. Uma para cada jato d´água e uma junto à placa de bronze.
Implantação
A área em torno do monumento e sua base receberá pavimentação em pedra portuguesa rosa, também em forma elipsoidal na dimensão. Dentro desta área na continuação do eixo longitudinal será criado um canteiro inicialmente onde será plantado um baobá africano (Adansonia digitata) incluindo no conjunto um elemento vivo. O baobá foi a espécie escolhida por sua forte ligação com a cultura negra. É de origem africana, árvore nacional de Madagascar, emblema nacional do Senegal e árvore de culto de religiões africanas. Da mesma família da paineira, armazena em seu tronco grandes quantidades de água. Simbolicamente a água das lanças-jatos de água utilizadas agora na luta pela justiça e liberdade
ficha técnica
Autores
Arq.Vlademir Roman, arq. Betina Endter ,arq. Michel Heberle ,arq. Leandro Castilhos, arq. Rodrigo Poltosi Gomes de Jesus