Escala 1 – Regional
A proposta para esta escala abrange todo o município, mas extrapola os limites locais, podendo estender-se para toda região. Foram utilizadas estratégias de fortalecimento da identidade do povo gaúcho no que se refere aos eventos de Porongos, bem como da infra-estrutura e das bases econômicas locais.
Duas vias de identidade são propostas: o Eixo Pinheiro Machado e o Eixo Porongos. São eixos de integração física e simbólica que trarão uma nova dinâmica urbana para o município.
O Eixo Porongos liga a cidade de Pinheiro Machado ao Sítio de Porongos. Tem função de ligação, animação e preparação ao Memorial dos Lanceiros Negros. Com extensão aproximada de 30km, possui caráter multifuncional e é animado por “satélites”, pontos de interesse turístico e cultural, que abrigarão as atividades mais variadas, desde aquelas ligadas ao fomento da economia municipal e regional, como o Caminho Gastronômico e do Vinho e o Campo de Aerogeradores, até aquelas que servirão de apoio ao Memorial de Porongos, como restaurantes, postos de logística e informações e memoriais, como o Memorial da Guarda-Velha.
A pavimentação da estrada de acesso ao sítio, atualmente em terra, será substituída por blocos de pedra regulares, duráveis, abundantes na região e de custo de implementação baixo. Eles mantém para o percurso o aspecto rústico desejado. A paisagem será animada pelo plantio de parreiras e eucaliptos, já incentivado na região, além da mata nativa, em um programa de preservação e recuperação dos recursos naturais.
O primeiro satélite será instalado entre a cidade e o Memorial da Guarda-Velha, um campo de aerogeradores para captação de energia eólica. Este projeto está de acordo com as recentes preocupações internacionais de sustentabilidade energética e uso de fontes de energia limpa, e com estudos prévios já realizados pelo Instituto de Geociências da UFRGS, que viu nesse local as condições ideais de implantação desse sistema. O campo contará também com um centro turístico para visitas guiadas. Tais visitas educativas serão mais um atrativo para os turistas e a população e consolidarão este novo símbolo de identidade visual para a região.
O segundo satélite estará junto do Memorial da Guarda-Velha, memorial dos mortos na luta pela demarcação das fronteiras. Junto a ele está prevista a implantação de um posto de caráter educativo e de conscientização sobre o patrimônio ambiental e a biodiversidade local.
Por meio de incentivos governamentais, sugere-se o incentivo por meio de benefícios aos proprietários locais que desenvolverem empreendimentos ligados ao turismo gastronômico e viticultor ao longo do Eixo, como contraponto às pesquisas científicas na área que serão realizadas no Centro Tecnológico da cidade. A viticultura ganha grande destaque, devido à característica do clima da Serra do Sudeste, que favorece à elaboração de vinhos finos de alta qualidade. Essas iniciativas de criação de um pólo produtor de conhecimento e de alternativas para a economia vão de encontro aos anseios da comunidade de Pinheiro Machado que querem diversificar a produção do município.
Propõe-se uma programação visual diferenciada para o Eixo Porongos, com valorização desses postos e sinalização de trânsito mais adequada. As placas terão as cores marrom e branco, padrão internacional para turismo, e a lança será elemento de identidade visual. Os dois acessos à cidade serão revitalizados, com programação visual própria, mantendo unidade com as propostas para o Eixo Porongos. Está prevista a recuperação do letreiro em cimento armado no primeiro acesso e sua repetição no segundo, além da criação de dois grandes conjuntos de pórticos em toras de eucalipto autoclavado, que darão as boas-vindas aos visitantes e serão símbolo da receptividade do povo de Pinheiro Machado.
Perímetro Urbano
Para a cidade de Pinheiro Machado o planejamento procura promover o desenvolvimento sustentável da região e ratificar sua importância econômica, histórica e cultural, e de indispensável apoio para o Memorial dos Lanceiros Negros. Isso se conseguirá através de um projeto pedagógico e programas de educação patrimonial e ambiental, além da modernização coerente de suas estruturas.
Para o conjunto das edificações históricas de valor arquitetônico, artístico ou simbólico do Município, propõe-se uma série de programas de revitalização/restauro, que contariam com a verba conjunta de parcerias público-privadas. Antes de construir novos edifícios na cidade, sugere-se o aproveitamento de edifícios históricos e de valor arquitetônico reconhecido para abrigar as novas atividades solicitadas para apoio ao Memorial. Estes formariam um circuito turístico sinalizado e com transporte turístico disponível, ligando-o ao Sítio de Porongos e à visitação de propriedades e vinícolas – turismo rural. Também farão parte desse circuito os principais edifícios e espaços da cidade, como a Igreja Matriz, o Teatro Municipal, a sede da Prefeitura e da Câmara de Vereadores, a Fábrica de Cimentos, o Clube Comercial, a Praça Angelino Goulart, o Largo da Liberdade, o CCTG Lila Alves e o Parque Charrua. O prédio da Câmara de Vereadores será restaurado e abrigará, junto ao Poder Legislativo, o Museu Porongos, memorial destinado à pesquisa histórica e museológica e de depósito do acervo existente. O Teatro Municipal terá sua instalações modernizadas e o Parque Charrua, além das festas da Feovelha e Comparsa da Canção e da Festa do Terneiro, passará a contar com a Festa do Vinho entre junho e agosto.
Essa intenção é reforçada com a transformação de parte da rua Humaitá no Eixo Pinheiro Machado. Complemento do Eixo Porongos e perpendicular a ele, se incentivará nesse setor, através dos mesmos parâmetros de recuperação de edifícios existentes, serviços como: confecção de publicações de caráter educativo, acadêmico e de divulgação, centros de formação de recursos humanos com cursos e eventos educativos nas áreas patrimonial, ambiental e pesquisa histórica, artesanato e comércio local, gastronomia, turismo cultural, educação formal, cursos de especialização e oficinas. A rua foi escolhida pela sua posição estratégica e aglutinadora e conta com possibilidade de ampliação futura. Essas iniciativas visam a geração de emprego e a recuperação da cidadania.
Esse eixo e pontos específicos da cidade em frente às principais edificações contam com soluções urbanísticas e paisagísticas diferenciadas, como novos estudos de perfis das vias – pavimentação própria, alargamento das calçadas, restrição do acesso de veículos com uso de mão única e arborização intensa; e novo programa de comunicação visual, com propostas de sinalização, equipamentos e mobiliário urbano. Em frente a esses edifícios principais placas de granito polido rosa contam sua história e sua importância para o município. O eixo liga dois extremos da cidade.
Ao sul, a parte da cidade com maiores perspectivas de crescimento, pelas condições geográficas, com áreas de expansão destinadas a programas de habitação, já reivindicados em pesquisas de opinião pela população. Ao Norte, área densamente arborizada, está prevista a instalação de um Centro Tecnológico de pesquisa científica relacionada às principais atividades produtivas do município, como Ciências Agrárias – agricultura, pecuária e reflorestamento, Geologia – extração de pedras e produção de cimento, e principalmente Ciências do Vinho, como a viticultura, enologia e enografia, tornando Pinheiro Machado pólo regional na produção do conhecimento nesta área, com foco voltado para o apoio à comunidade local na produção de vinhos finos de alta qualidade. Considera-se altamente desejável, nas proximidades desta área, a implantação de pousadas e/ou hotéis, em virtude da nova vocação turística que a região virá a assumir e da posição estratégica tanto em relação à cidade quanto ao Sítio de Porongos.
Escala 2 – Local
O Plano Diretor para a área de 35ha de apoio ao Memorial dos Lanceiros Negros e contígua a este pensa a distribuição das diversas atividades propostas conforme estratégias que reforcem o simbolismo do sítio, sua localização em relação ao memorial e ao entorno, o interesse em expor ou omitir os edifícios na paisagem, topografia, visuais e valorização dos percursos pedestriais. É proposto zoneamento de uso e ocupação do solo que vise extrair as máximas qualidades do sítio.
Espaços Abertos
Eixos ordenadores do espaço definirão a orientação e a inserção dos futuros edifícios na paisagem. As principais atividades se desenvolverão nas áreas próximas a colina, com o fluxo de pedestres sendo nivelado pelo umbral principal N– S, com manutenção referencial do marco geodésico. Este será centro de uma praça aglutinadora das atividades propostas, facilitando a circulação entre as diversas dependências do complexo. A praça, generoso espaço público e verde que minimiza o impacto ambiental, abre-se ao norte para o Memorial dos Lanceiros Negros, valorizando-o. Para reforçar sua importância e garantir sua amplitude,ela é inserida em uma área de preservação de 60m de diâmetro, além de uma faixa não edificável.
As áreas para os quiosques e estares serão bolsões densamente arborizados em meio às trilhas interpretativas. Conforme a topografia, podem ser edificações abertas ou elementos semi-incrustrados no terreno, como as edificações vernaculares dos antigos povos americanos, garantindo assim a mínima interferência física e visual. Conceito similar pode ser usado para as áreas destinadas à pequenas feiras temáticas, que reforçam o caráter de turismo cultural.
Como foco paisagístico principal, sugere-se a recuperação e densificação das áreas verdes, com plantio de flora nativa em pontos específicos, como pitangueira, canela-branca, canela-preta, pinheiro brasileiro, aroeira, e mesmo eucaliptos, direcionando trilhas, fornecendo sombra e abrigo e agindo como elemento simbólico de valorização e celebração da vida.
Circulação
Trilhas interpretativas cortam o sítio em vários sentidos, oferecendo as mais variadas experiências espaciais e silenciosa interação com a história dos eventos passados. Propõe-se que tais trilhas, em alguns pontos, configurem-se como passarelas suspensas. Estas ampliam as visuais, facilitam a circulação e acessibilidade em relação à topografia acidentada e reforçam o respeito frente ao caráter quase 'sagrado' do solo, tornando os movimentos de terra mínimos. Nas demais áreas, as trilhas seriam caminhos ao nível do chão, que permitam a permeabilidade do solo.
Devido à imprecisão dos dados referentes ao entorno, optou-se por inserir os estacionamentos dentro da área tombada, considerando-se que, pela adequada implantação proposta, próxima à estrada, eles não se configuram em elementos agressivos na composição. Estratégias simples como a criação de barreiras visuais por arborização local e taludes minimizam bastante os eventuais impactos causados.
Edificações
Propõe-se que os edifícios sejam blocos pavilhonares distintos acomodados às encostas e suspensos na paisagem, tocando o solo pontualmente, em delicada implantação. O regime de volumetria prevê edifícios de um e no máximo dois pavimentos, conforme o uso.
Sugere-se que as pousadas, pela sua escala, sejam implantadas segundo os mesmos critérios de permeabilidade visual e espacial, dispersa em vários “braços” que se acomodam ao terreno na direção leste. Elas são preservadas das vistas da estrada e das áreas sociais e abrem-se para a sanga, as áreas de lazer e o Memorial.
Pela estrada de acesso, vindo de Pinheiro Machado, poderá ser visualizado um elemento vertical – capela ecumênica – que dará as boas vindas aos visitantes e criará um contraponto à Praça dos Lanceiros Negros ao norte, definindo assim um eixo longitudinal regulador de toda composição.
Fontes energéticas e infra-estrutura
Painéis fotovoltaicos instalados sobre as coberturas dos blocos contribuem na produção de energia elétrica.
Para as águas, são propostos sistemas de coleta, filtragem, tratamento, armazenamento de águas pluviais e de sistemas de ar condicionado e a implantação de um poço artesiano, devido aos baixíssimos índices de abastecimento de água pela rede pública. O armazenamento será feito em reservatórios localizados nos edifícios principais da área tombada e da prefeitura, sobre as áreas de infra-estrutura – banheiros, cozinhas e depósitos. Prevê-se a captação nas coberturas das águas pluviais para uso como água cinza.
Para o esgoto sugere-se o uso do sistema de fossa séptica e poço absorvente, já difundido no interior do município.
Nos menores detalhes construtivos são pensados elementos criativos, econômicos e funcionais que colaboram no caráter sustentável do complexo.
Escala 3 – Memorial
A premissa projetual adotada foi a preservação da paisagem natural de Porongos da forma mais íntegra e autêntica possível e da criação, mais do que edifícios, de símbolos que testemunhassem a história e homenageassem os heróis lanceiros, mártires da Revolução Farroupilha.
Inserção e partido arquitetônico
A proposta para o Memorial dos Lanceiros Negros teve como reguladora a própria topografia local, com o umbral central ao lado da mata dos eucaliptos abrigando o ponto focal do partido, uma pequena esplanada, ponto de chegada configurado por um piano nobile, que faz a conexão com o grande Pórtico, vestíbulo coberto, elemento horizontal e tranqüilizador e principal acesso entre os diferentes espaços do complexo. Desse ponto têm-se uma belíssima visão panorâmica de todo conjunto. A estratégia de escolher a parte elevada – cerro do sítio – para o vestíbulo remonta à arquitetura vernacular estancial gaúcha. Optou-se por preservar a pequena mata local de eucaliptos e integrá-la à composição pela criação da Praça dos Eucaliptos, cujas proporções são retomadas em alguns pontos da proposta.
O Memorial é dividido em quatro espaços articulados entre si a partir desse platô. Esta solução traz como conseqüência diversos percursos arquitetônicos, que exploram múltiplas perspectivas internas e externas e integram todo o conjunto. São pensados poucos elementos, porém fortes, com vista a uma melhor legibilidade.
Dois eixos perpendiculares configuram todo o complexo, segundo esquema de implantação baseado no cruzamento do cardo e decumano definidos pelos pontos cardeais. O eixo transversal (L–O) conecta o portal de acesso em granito rosa à esplanada, através de uma escadaria que vence o acentuado aclive e configura-se como elemento monumental mas não agressivo, teatro de arena sob o céu local, espaço de acolhida, palestras e instruções.
Do vestíbulo chega-se ao Grande Salão, espaço de atendimento às demandas programáticas. Seu acesso é feito por uma escadaria subterrânea. O volume se projeta em balanço sobre a sanga à leste. O interior do edifício permite grande flexibilidade pela adoção de planta livre, com as atividades de apoio e serviços dispostas de modo periférico nas paredes laterais, nos vãos da estrutura Vierendeel – como multimídia, depósitos, administração e cozinha campeira. Painéis deslizantes opacos regulam os níveis de iluminação e ventilação desejados conforme as atividades desenvolvidas. Sua cobertura é tratada como um grande mirante, continuação da esplanada, praça seca e espaço de lazer, contemplação da paisagem e meditação sobre os fatos passados e presentes.
O projeto pensa o solo como local sagrado e o elemento horizontal ganha força como fator de mínimo impacto visual. O simbolismo das lanças é evocado pela colunata, distribuição arrítmica de esbeltos pilares circulares e angulosos, que suspendem o grande salão do solo e o conformam em um grande olho a admirar a paisagem.
O segundo eixo (N–S), longitudinal ao terreno, liga os extremos do complexo e este à área tombada. Ao norte do vestíbulo têm-se acesso à Galeria-Ponte, um prisma negro de 45m de comprimento que vence a topografia, conduz e serve de preparação ao marco simbólico. Sobre o cerro, o extenso e introspectivo prisma, local de exposições, memória e mistério, desemboca na Praça dos Lanceiros Negros. Para melhor identidade visual do conjunto, optou-se que o marco fosse um elemento inserido dentro de um espaço definido, de configuração física e não apenas simbólica. Devido à imprecisão sobre o palco exato dos acontecimentos passados, adota-se este ponto como centro simbólico da composição.
Esse espaço bucólico e carregado de forte significado é uma plataforma suspensa, implantada em área periférica do sítio, de onde surgem aleatoriamente lanças de aço, memorial dos mártires lanceiros e elemento verticalizador da composição, visível ao longe na paisagem e referência no entorno. Induz à surpresa pela escala que se alinha à copa dos eucaliptos da mata próxima e convida, não só à memória das coisas do passado, mas à meditação e à celebração silenciosa da liberdade, da esperança e da vida e à reflexão sobre as ações futuras. Os mártires são lembrados pelo plantio simbólico de 400 árvores de canela-preta, típicas da região, formando o Bosque dos Lanceiros, que segue o conceito latino de lócus, bosque sagrado. Elas ainda cumprem a função de isolar a Praça dos ruídos e vistas da estrada próxima.
Trilhas interpretativas são associadas à passarelas suspensas, que evitam tocar o solo para melhor preservá-lo e ampliam as visuais e as interpretações dos visitantes. Elas conduzem à equipamentos e mobiliários esparsos pelo sítio e que atendem à visitação. Em pontos específicos das encostas acampamentos e estares-quiosques, espaços de lazer contemplativo, adaptam-se mimeticamente ao relevo local visando criar os mínimos impactos visuais e ambientais. A área para acampamentos também está localizada à leste e têm função de turismo cultural e patrimonial. É previsto cercamento para toda área com estrutura de toras de eucalipto e fechamento em tela metálica.
Circulação
As circulações públicas são pensadas como ligações horizontais e verticais entre os blocos independentes e o entorno. A questão da acessibilidade em relação à topografia acentuada é tratada com o uso de escadarias e plataformas para deficientes físicos. Ruas internas atendem os sistemas de infra-estrutura e serviços do conjunto. Estas ruas e as trilhas interpretativas permitem a permeabilidade do solo.
Estrutura
Para cada edifício é proposta uma solução estrutural específica, de acordo com seu uso. Para o Salão, as paredes laterais formam um sistema de vigas Vierendeel que auxiliam a vencer o grande balanço proposto e “plugam” o edifício na encosta. Lajes alveolares e perfis metálicos “I” e a floresta de pilares angulosos auxiliam a propiciar o grande vão interno necessário para a flexibilidade do salão. Para o Pórtico e a Galeria-Ponte também se sugere estrutura metálica para vencer os vãos propostos. Elementos pré-fabricados garantem rapidez de transporte e execução, além da limpeza que preservará o sítio de agressões maiores.
Eco-eficiência e conforto ambiental
Procura-se aproveitar a bela luz local, tanto para fins energéticos, quanto para estratégias de composição. A questão do conforto ambiental está presente no Grande Salão, provido de abundante iluminação e ventilação naturais, que pode ser regulada pelo uso de painéis móveis. Peles herméticas de vidro seletivo impedem a excessiva entrada de calor. A orientação à leste que pode contribuir com desejáveis ganhos de calor matinal e proteger o interior do edifício do vento frio proveniente do sul e sudoeste – pampeiro e minuano. As generosas aberturas propiciam surpreendente vista panorâmica do entorno. O deck da cobertura, a encosta oeste e a espessura das paredes laterais contribuem para a inércia térmica.
A Galeria-Ponte é pensada com aberturas em rasgos ao nível do piso para reforçar o caráter introspectivo de preparação para a Praça dos Lanceiros e para proteger as obras que poderão ali ser eventualmente expostas. A laje sombreada orientada no eixo N–S abriga painéis fotovoltaicos que podem contribuir na produção de energia elétrica.
Materialidade
A materialidade para o complexo é pensada de maneira sóbria e austera, rústica e despojada, com convém e como era o caráter dos lanceiros negros.
São especificados materiais que, além de adequados aos usos propostos e a uma postura sustentável de aproveitamento da tecnologia local, trazem em si uma forte carga simbólica. São a madeira de reflorestamento – eucalipto, o granito rosa, abundante na região e durável, o concreto, pela vocação regional na produção do cimento, ora negro pelo caráter simbólico, ora branco para expor os puros volumes à bela e poética luz das baixas latitudes. Os dois se tocam na junção do Pórtico com a Galeria-Ponte e simbolizam a convivência pacífica entre as raças e a celebração das diferenças. Remetem a um grande braço cuja mão é a Praça dos Lanceiros a empunhar as lanças.
O resultado é uma arquitetura que se pretende contemporânea e atemporal, capaz de conviver e dialogar harmoniosamente com o vernáculo e com a tradição local, e que evidencie que o verdadeiro monumento é o Sítio de Porongos.
Escala 4 – Monumento no Parque Farroupilha
O Marco de Porto Alegre procura trazer os mesmos conceitos utilizados no Memorial de Porongos, guardadas as proporções e diferenças naturais e antrópicas dos dois sítios, e as diretrizes do Parque Farroupilha.
Partido
Um elemento vertical amorfo inserido em um prisma de 1x1x4m é um monumento à vida, mas evoca pela invulgar conformação, a reflexão sobre uma realidade de luta pela liberdade, desconstrução dos sonhos, enigma. Insere-se na paisagem local como se estivesse flutuando levemente sobre o piso, graças à soltura do chão e ao recuo da estrutura. Estruturas multifacetadas de granito bruto e preponderantemente polido são assimetricamente interrompidos por rasgos que deixam transparecer a estrutura interna, vergalhões – lanças – de aço cortén. Esse detalhe procura refletir a transparência de ideais dos lanceiros, a ousadia de sua empreitada e as cicatrizes das conseqüências extremas de seus bravos atos.
Inserção
A implantação do monumento baseia-se no eixo longitudinal definido pelo encontro das Avenidas João Pessoa e Engenheiro Luiz Englert.
A solução adotada e a arborização de porte existente no local evitam o protagonismo do monumento. O espaço circundante é liberado ao máximo de obstáculos indesejáveis, para livre circulação periférica. A planta quadrada reforça o caráter de multifrontalidade desejado, símbolo de um mesmo ideal dos guerreiros.
Para ambientação do entorno imediato, um novo desenho dos canteiros laterais é proposto. O piso no trecho longitudinal delimitado por eles recebe novo desenho em petit pavet branco e rosado e granito preto.
A placa alusiva em bronze é integrada ao monumento, evitando assim atos de vandalismo.
Estrutura
A estrutura é solucionada com uma base em sapata de concreto armado de onde surgem vergalhões expostos em aço cortén, símbolo das armas dos lanceiros. Um esqueleto estrutural e perfis complementares em aço galvanizado dão estabilidade para o conjunto e garantem a fixação das chapas de granito na disposição desejada.
Luminotécnica
À noite o monumento adquire ainda mais leveza. A soltura do chão configura-se em uma base de luz, graças a refletores embutidos no monumento. Leds internos produzem feixes de luz que se projetam dos rasgos em várias direções, iluminando o entorno imediato, destacando a silhueta e valorizando o monumento. A luz que escapa das cicatrizes é símbolo da esperança que não pode ser contida pela violência.
Lâmpadas periféricas nos canteiros iluminam e demarcam toda extensão do percurso, criando um agradável espaço de passeio noturno.
ficha técnica
Autores
Arquitetos Edgar Bueno Wandscheer, Fabio Rodrigues Doi, Juliano André Weronka, Newton Julião Arcie e Paulo Cezar Natal