Escala 01: regional
A intervenção proposta no quadrilátero imaginário conformado pelas cidades de Jaguarão, Rio Grande, Caçapava do Sul e Bagé prevê uma ação dentro de uma idéia central, que se desmembrará em outras ações correlatas a esta, beneficiando-se uma das outras e atendendo os diferentes públicos e demandas.
A Cavalgada de Porongos é a idéia central da nossa intervenção da Escala Regional, onde acreditamos que possa atender, numa ação conjunta, todas as diretrizes requeridas.
A Cavalgada partirá das quatro cidades vértices do quadrilátero imaginário (Jaguarão, Rio Grande, Caçapava do Sul e Bagé) em direção ao Sítio Histórico de Porongos. Para tanto, serão criados 04 roteiros de visitação, que priorizarão estradas secundárias que propiciem visuais e descobertas inusitadas da vida campeira. Estes roteiros serão estruturados através de um levantamento de infra-estruturas locais, pousadas e sítios particulares que tenham interesse em dispor de espaço para acomodação dos cavaleiros (e outros turistas), bem como de restaurantes e demais acomodações necessárias, numa seleção que priorize a convivência com o patrimônio material e imaterial gaúcho, bem como do patrimônio ambiental. Será uma possibilidade de renda e reconhecimento de áreas longe das artérias viárias, porem ricas em hospitalidade e valores rio-grandenses.
A Cavalgada de Porongos será o acontecimento anual que lembrará a importante participação dos Negros na Revolução Farroupilha e na Luta pela Liberdade, e servirá também, com uma ação conjunta, para divulgar estas mesmas rotas trilhadas, para que durante o ano todo os mesmos caminhos poderão ser percorridos por diferentes pessoas. Define-se assim um turismo ambiental, cultural e rural eficiente e auto-sustentável. Não há necessidade de criar estruturas novas, edificações e serviços novos (aliás, queremos justamente fugir disso, pois buscamos o passado, e não o moderno), e com a participação da comunidade essa idéia central poderá frutificar em infinitos desmembramentos.
Escala 02: local
A preservação da visual despovoada, natural e rural da área é o centro conceitual da intervenção. A sensação de estarmos no “centro do mundo”, numa das coxilhas mais altas com vista livre em 360º, delimitou as restrições para o Plano Diretor da Bacia Visual de Porongos, bem como lançou as diretrizes de mínima intervenção mínima visibilidade das funções necessárias ao local, guiando todo o projeto.
A preservação da sensação de isolamento e grandiosidade guiou toda a proposta. Para tanto, resolvemos agrupar as funções do programa em 03 grupos, simplificando e minimizando a intervenção no local:
1. Memorial: museu, salão de eventos, cozinha campeira, sanitários p/ visitantes, sala administrativa;2. Acampamento: área barracas, quiosques churrasco, vest./sanit, futuro comércio, estacionamento do acampamento;3. Estacionamento: ônibus e carros.
Estes três grupos estão próximos uns dos outros, por abrigarem funções que se complementam, e para minimizar interferências no restante da área. Porém, suficientemente afastados para não criarem uma relação visual muito forte. Foram dispostos no terreno de maneira que fiquem imperceptíveis ao observador durante todo o percurso de exploração da área a ser tombada.
Escala 03: Memorial
O partido surgiu juntamente com a escolha do local de implantação: uma depressão do terreno entre dois morros. A idéia compositiva nasceu como uma metáfora ao massacre: uma lança perfurando um peito, o que resultou em uma geometria perfurando a paisagem.
Dissociando os visitantes de Porongos dos visitantes de Pinheiro Machado, pensamos o local com um Museu Representativo do Massacre de Porongos, para que as pessoas tomem conhecimento dos fatos históricos ali ocorridos. Sem repetir elementos do museu que acontecerá na cidade, propomos que seu acervo sejam objetos que requeiram poucos cuidados, talvez alguns elementos encontrados nas escavações arqueológicas. Textos e imagens deverão fazer parte deste museu, que conformará o início do percurso de visitação ao Sítio Histórico.
A barra que abriga o museu é uma rampa que perfura a topografia e brota do terreno pelo outro lado da coxilha, criando primeiramente uma sensação de confinamento no percurso, para depois oferecer uma visual magnífica do sítio. Essa função especial que é o elemento projetual central e gerador do projeto é também nosso Marco Simbólico.
As demais funções do programa de necessidades são abrigadas por uma segunda barra disposta perpendicularmente ao museu.
A composição é bastante simples e clara, buscando uma limpeza total de planta e volumetria. Antecedendo o espaço principal (salão de eventos) temos um alpendre coberto e aberto, que organiza e conecta os ambientes.
Seguindo as diretrizes de controle das edificações, os materiais empregados são comuns à paisagem. Na fachada oeste a proteção solar em brise de madeira confere leveza, unidade e abstração à forma. O espaço multiuso terá pé-direito duplo, e os espaços de serviço terão pé-direito simples, criando assim um segundo nível interno imperceptível a quem olha a volumetria externa.
Monumento
A idéia principal do monumento é instigar os transeuntes a entender o que significa esta grande “caixa preta”, provocando e despertando curiosidade até a descoberta do inusitado. Ao se aproximar das placas e olhar em seu interior, descobrirá frases que remetam aos Lanceiros Negros e que as façam refletir sobre o acontecimento. Estas frases serão fragmentos da história talhadas (eternamente) no granito e provocarão estímulos diferentes sobre as pessoas. As placas eretas do granito negro, fortes e imponentes, estão protegendo essa história... Podemos traçar aqui relações da arquitetura do Memorial com o Monumento: enterrado e escondido x introspectivo e inusitado.
À noite o Monumento se espalhará pelo espaço através da luz. A luz representando a liberdade. A luz representando a luta dos Lanceiros que ainda querem romper seu cárcere, conformado – numa situação inversa ao dia – pelas placas em granito que a confinam. Os preconceitos ainda não estão todos vencidos, a luz ainda não está completamente livre, mas ela já consegue escapar em fendas, e estará refletida na folha das árvores, num efeito cênico e dinâmico.
Nosso Monumento não tem lado, não tem frente nem fundos. Não está voltado ao Norte nem ao Sul. Não é uma pedra esculpida e não tem uma linguagem de gosto particular. Nosso Monumento são os fatos, é a história. É a luz, o confinamento, a luta e o rompimento.
Nosso Monumento é uma Homenagem à Luta pela Liberdade.
ficha técnica
Autores
IDÉIA1 Arquitetura e Planejamento Ltda
Arq. Cristina Martins
Arq. Gabriel Grandó
Acad. Arq. Marcos Laurino
Consultores
Arq. Paulo Reyes e Arq. Ronaldo Stroher