A implantação escolhida cura uma chaga. Aqui se havia desflorestado e feito extração de saibro, que resultou numa ferida aberta na topografia. O declive constante tornou-se numa depressão que se procurou conter lançando um muro ao longo da mesma. Segundo esta diretriz, a casa alinhou-se, criando um plano estabilizado à cota superior, que é também a da entrada para o conjunto. Nesta, localizam-se as zonas comuns que se ordenam de modo a produzir uma sucessão de espaços mais privados: um primeiro volume que remete para a casa rural da região, que nascia segundo um paralelepípedo de duas águas similar, a partir do qual se geravam os restantes volumes utilitários. Este serve de limite entre o público e o privado, pois nas suas costas surge o espaço exterior ajardinado, em direta relação com as salas, aberto sobre a copa das árvores. Sob este, os quartos, que corrigem a topografia ao apanhar a cota inferior original do terreno, e se abrem para a vegetação rasteira do bosque.
Por dentro, reproduz-se a forma exterior dos volumes, com as coberturas inclinadas aparentes no interior, que se abre por inteiro nos espaços comuns através de portadas, que encerradas “versatilizam” a casa: refeições formais e informais, estar em família ou com convivas, cozinhar em segredo ou espalhando aromas… os quartos prevêem usos futuros, com um espaço anexo que hoje é de brincar, amanhã de trabalho.
Brinca-se com os volumes em busca de referências passadas, sempre tendo em vista o usufruto futuro.
sobre o autor
Pedro Fonseca Jorge (Benedita, 1977), arquiteto, mestre em Intervenção no patrimônio e doutorando em ‘Célula Mínima’ pela FAUP. Colaborador de Francisco Barata, arquitecto/crítico autônomo desde 2003.
ficha técnica
nome do projeto
Casa no Figueiral
localização
Benedita, Alcobaça
data do projeto
2005
conclusão da obra
2006
autor
Pedro Fonseca Jorge, arquiteto
especialidades
Cristiano Vicente Isabel e Júlio da Silva
construtor
Manuel Mendes, construtor