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architexts ISSN 1809-6298


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Os autores fazem um balanço das publicações periódicas brasileiras dedicadas à arquitetura, tentando compreender o momento atual de ausência de uma visão especializada e consistente, e um embaralhamento dos conteúdos editorial e comercial


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SEGAWA, Hugo; CREMA, Adriana; GAVA, Maristela. Revistas de arquitetura, urbanismo, paisagismo e design: a divergência de perspectivas. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 057.10, Vitruvius, fev. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.057/506>.

Ao percorrer a seção de revistas de uma boa biblioteca especializada em arquitetura, urbanismo, paisagismo e design (AUPD), ao mesmo tempo que um interessado encontrará uma coleção impressionante de publicações tratando de inúmeros aspectos em uma variedade de formatos, cores e acabamentos, um consulente com um olhar mais acadêmico terá dificuldade para identificar títulos que possam ser caracterizados como “periódicos científicos e técnicos”, nos padrões consagrados em outras áreas de conhecimento. Todavia, entre um boletim noticioso corporativo, volumes com o porte de livros, revistas fashion, sisudas publicações ou magazines de arranjos interiores, há um conjunto com um rico repertório de informações e documentação de uma época. Sem arriscarmos variegar em infindáveis discussões epistemológicas e semânticas, vamos apenas constatar e reconhecer empiricamente a natureza específica da difusão da informação e da cultura em AUPD através de um periodismo que se ocupa tanto de um jornalismo de serviço como oferece densas e impenetráveis monografias. É uma história de pelo menos três séculos de duração na França, país em que pesquisadores sistematizaram um trabalho sobre o periodismo francês de arquitetura do século XVIII ao XX, e contabilizaram, entre 1800 e 1970, 606 revistas (2). Ou de um universo próximo e distante ao mesmo tempo, como o conjunto de 68 títulos em publicação na América Latina em 1993 (3) e dos quais talvez tenhamos contato com não mais de uma dúzia deles. Ao se consultar o Ulrich’s International Periodicals Directory mediante a seleção de descritores buscando caracterizar o conteúdo da revista, elaboramos a tabela 1, apenas de perfil quantitativo.

Periodismo multifacetado que se consolidou ao longo do século XX em uma cultura literária e visual que foi também responsável pela veiculação de idéias e imagens que ajudaram a transformar o ideário e a prática profissional, circunscrito naquilo que se convencionou chamar de arte, arquitetura e urbanismo modernos.

Embora de forma lacônica, estas palavras iniciais apenas cogitam chamar a atenção da natureza distinta do periodismo em arquitetura e urbanismo diante das áreas de conhecimento que melhor normatizaram seus veículos impressos de difusão de conhecimento e memória com um rigor científico nem sempre compartilhado pelo universo criativo da arte, da arquitetura, do urbanismo, do paisagismo e do design – em que pesem os esforços para nosso enquadramento na “grande área” das ciências sociais aplicadas, conforme classificação do sistema Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A diversidade corrente

Para auxiliar nessa distinção de natureza epistemológica que contempla a área de AUPD, uma comparação de sistemas talvez nos auxilie na compreensão das dinâmicas específicas das áreas.

Setor de ponta da pesquisa científica brasileira, a área de medicina se vangloria de sua produtividade, respondendo por 14% das citações brasileiras no exterior em 1998 e contribuindo com 0,5% da produção científica global. Sua base de dados é o mais avançado sistema de registro e intercâmbio de informação técnico-científica latino-americano com a estruturação desenvolvida pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). “Com o aprimoramento da avaliação dos programas de pós-graduação no país, tendo-se como critério essencial a relevância da produção intelectual, aferida pela qualidade dos veículos científicos, espera-se, em breve, um crescimento ainda maior”, rejubilam-se os especialistas da área (4). A área de medicina no país conta com 165 programas de mestrado e 141 de doutorado, segundo a Capes (dados de setembro de 2003) (5), números incomparáveis com a modéstia de nossa área: dezessete programas de mestrado e nove de doutorado (incluindo os de design) (6).

Em muitas áreas, indicadores como o Science Citation Abstracts do ISI (Institute for Scientific Information) são referências fundamentais para a aferição de produtividade e, por suposto, de qualidade. Mas tais indicadores não são capazes de cobrir as variáveis que incidem na produção em AUPD. Entre uma experiência laboratorial ensaiando o comportamento físico de um material de interesse para o conforto ambiental à análise de impactos sócio-ambientais de intervenções urbanas, passando por uma reflexão sobre a autoria do risco de um chafariz do século XVIII em Ouro Preto, não há parâmetros comuns que possam aferir tão distintos interesses e produtos científicos. A variedade de enfoques, procedimentos, aproximações e interpretações dos objetos tratados em AUPD dificultam caracterizar um sistema uniforme e monolítico do ponto de vista qualitativo e estatístico suficiente para estabelecer um sistema coerente e mensurável, como se identifica, por exemplo, na área de medicina.

Tabela 1

Quantificação de títulos localizados no Ulrich”s International Directory, conforme busca por descritores:

Descritor Número de títulos localizados
Architecture 1.794
Urbanism 14
Urban Planning 1.529
Landscape 178
Design* 3.097
Industrial Design 32
Housing** 1.833

* O descritor Design tem um alcance que extrapola o interesse da área e, sozinho, não é um parâmetro suficiente.

** O descritor Housing alcança publicações de muitas outras áreas.

A necessidade de qualificação

A inerente dificuldade de avaliação de periódicos em AUPD não exime a área de estabelecer critérios qualitativos para publicações, dentro das premissas da geração, preservação, organização e difusão de conhecimento. É possível e desejável que a qualidade da informação seja objeto de preocupação de autores, publishers, editores, bibliotecários, arquivistas e, naturalmente, pesquisadores e usuários das informações e leitores em geral, e que esse conjunto de interessados estabeleça um sistema confiável de referência comum, por maior que seja o risco de se avalizar uma camisa-de-força.

Esforços nesse sentido têm sido desenvolvidos e uma indicação indispensável nesse âmbito é o trabalho “Avaliação de periódicos científicos e técnicos brasileiros” de Rosaly Favero Krzyzanowski e Maria Cecília Gonzaga Ferreira (7), que “trata da metodologia desenvolvida para avaliação conjunta de mérito (conteúdo) e desempenho (forma) dos periódicos científicos e técnicos correntes brasileiros”. O modelo elaborado por essas bibliotecárias foi adotado em uma proposta de avaliação para a Capes na subárea de psicologia (8).

O trabalho de Krzyzanowski & Ferreira é significativo por tentar estabelecer parâmetros gerais a partir de uma amostragem que conformou a base das proposições dos modelos para análise de periódicos científicos, com hipóteses de aplicação nas “grandes áreas” de engenharias, exatas, biológicas e humanas. Mas, para a nossa área, a inerente heterogeneidade de perspectivas obriga a assimilar conteúdos e metodologias dessas áreas. Nenhum dos modelos isoladamente contemplaria satisfatoriamente o arco de conhecimentos pretendidos em AUPD. Os modelos propostos organizam uma primeira referência para a elaboração de um roteiro para o exame das revistas, mas devem ser revistos em face das peculiaridades da área.

O contexto das publicações

Apesar dos evidentes contrastes entre o sistema de publicações em AUPD no exterior e no Brasil, nos principais centros se identifica um problema preocupante, conforme anota o editorial de William S. Saunders, da revista GSD News, publicada pela Harvard University Graduate School of Design, em edição especial sobre design publishing em 1996:

"Nosso tópico em destaque – publicação em design, particularmente revistas – tem sofrido grandes mudanças nos últimos anos, pode-se dizer para pior. Modestas publicações intelectuais (incluindo as estudantis) lutaram ou não lograram sobreviver. Entre os 21 editores ou ex-editores que comentam sobre publicações de design nesta edição, cinco deixaram seus postos há pouco tempo, aparentemente porque seus publishers desejavam revistas mais lucrativas e menos críticas".

Um freqüente comentário nas páginas que se seguem é que as publicações de design têm se voltado cada vez menos para a crítica rigorosa e honesta de projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo contemporâneos, e cada vez mais o que se publica é promocional ou simples documentação. A ausência de crítica vigorosa produz um ambiente no qual designers são menos autocríticos, menos cientes da natureza de suas próprias atividades projetuais e, portanto, menos propensos para produzir trabalhos de alta qualidade? (9)

O depoimento, na mesma edição, de Vittorio Gregotti –editor de Casabella por 14 anos – também é eloqüente:

“Nos últimos 30 anos, testemunhamos o declínio das tradições do jornalismo arquitetônico que data da virada do século. Por muitas décadas e até recentemente, as revistas de arquitetura eram os foros de discussões passionais e partidárias; quase sempre elas mantiveram uma forte e precisa posição sobre a disciplina arquitetônica.
No entanto, nas recentes três décadas, revistas de arquitetura o contentamento de se tornarem meros espelhos da profissão: elas preferiram simplesmente registrar, geralmente de uma maneira plural e neutra, o que estava acontecendo. O dúbio resultado dessa transformação tem sido, de um lado, o aumento da quantidade de material publicado e, de outro, o embaçamento do critério pelo qual este material é selecionado. Esta tendência vem acompanhada também do incremento da “profissionalização” da imprensa de arquitetura, evidenciado no crescimento da complexidade estrutural da equipe editorial e a elevação dos custos de publicação.” (10)

Gregotti está aludindo (entre outros pontos) à chamada “revista de tendência”, na qual o conteúdo editorial reflete orientações arquitetônicas definidas, como as que caracterizaram as querelas entre modernos e acadêmicos e a consolidação da arquitetura moderna (L”Architecture D”Aujourd”Hui) no segundo quartel do século XX, a crise da modernidade no imediato pós-Segunda Guerra (Casabella–Continuità, Architectural Review), ou a questão pós-moderna nos anos 1970/80 (Architectural Design).

No Brasil, revistas como Habitat e Módulo dos anos 1950 e Acrópole dos anos 1960 (com menos rigor) aproximaram-se das linhas editoriais de tendência, como Arquitetura refletiu as posições da corporação nessa mesma década, até o fenecimento da imprensa de arquitetura no início dos anos 1970. O ressurgimento das publicações regulares nos anos 1980, com a Projeto (a partir de 1979) e AU (desde 1985), não marcou a retomada de “revistas de tendência”, mas refletiu as incertezas de um país no limiar da redemocratização, o atordoamento pós-moderno e a concordata da modernidade brasileira.

A referência à “profissionalização” por Gregotti também assola o exíguo campo editorial brasileiro. A legislação estabelece para periódicos a obrigatoriedade de um jornalista como responsável. Nossas revistas de maior circulação são editadas e redigidas por jornalistas ainda inexperientes de conhecimentos em arquitetura. Essas publicações se ressentem de um conselho editorial consistente ou atuante. As matérias sobre projetos arquitetônicos se limitam a descrições de técnicas construtivas ou declarações textuais reproduzindo acriticamente os discursos dos autores das realizações. São econômicas em análises ou opiniões, raramente trazendo comentários críticos ou enveredando por relações conceituais – salvo quando há freelancers especialistas, geralmente com escritos reduzidos a um boxe. Os poucos jornalistas experientes, que cultivaram algum domínio na área, não mais atuam regularmente nesses veículos. Edições recentes (primeiro semestre de 2002) trazem conteúdos em que a parte editorial não se diferencia claramente da comercial. No outro extremo, as rarefeitas revistas acadêmicas pecam pelo amadorismo na dinâmica de redação, da produção e circulação dos periódicos.

Categorias de publicações

À medida que se reconhece a variedade como um atributo inerente ao periodismo em AUPD, parece-nos sensato estabelecer uma categorização de revistas para que se possa articular um procedimento de aferição compatível com as diferentes características editoriais, flexibilizando a rigidez que codifica um típico “periódico científico e técnico”.

Não temos conhecimento de classificação sistemática de revistas em AUPD que busque demarcar perfis no sentido de aferir sua qualidade. Ramón Gutiérrez & Marcelo Martín, na já citada bibliografia latino-americana de revistas (11), estabelecem uma ordem de agrupamento que, embora não explicitando sua razão, insinua um critério editorial. As revistas são classificadas com as seguintes rubricas:

  • revistas de edição universitária (sob responsabilidade de escolas de arquitetura ou programas de pós-graduação);
  • revistas comerciais (publicações de editoras privadas);
  • revistas de centros de pesquisa, organizações não-governamentais, instituições não-acadêmicas e outras;
  • revistas de agremiações profissionais;
  • cadernos de arquitetura em jornais diários (não existem no Brasil).

Considerando aspectos de mérito (conteúdo) e desempenho (forma) que comentaremos adiante, propomos uma primeira aproximação quanto à natureza dos periódicos a merecer avaliação, levando em conta a necessidade de abrigar a heterogeneidade da área e a realidade editorial brasileira como variáveis que modelam tanto o conteúdo quanto a forma:

1. periódicos voltados predominantemente à publicação de trabalhos originais derivados de investigações desenvolvidas em centros ou grupos de pesquisa, programas de pós-graduação, instituições independentes e a produção intelectual, artística, arquitetônica, urbanística, paisagística e de design de profissionais de reconhecida credibilidade entre os pares;

2. anais de encontros científicos ou profissionais contendo a publicação completa de conferências, comunicações, mesas-redondas e painéis, promovidos por instituições de reconhecida credibilidade e consolidação no meio acadêmico ou profissional, ou eventos pontuais organizados com todos os requisitos técnicos e científicos que atribuam equivalência qualitativa a eventos periódicos;

3. revistas especializadas que, mesmo não cumprindo aspectos formais de qualificação acadêmica, são reconhecidas no meio como veículos de práticas, idéias, proposições, inovações e reflexão continuadas, caracterizando-se como fontes de consulta ou atualização do estado-da-arte da produção recente;

4. revistas, jornais, cadernos culturais e técnicos de diários e publicações não-especializados e de circulação ampla ou reconhecimento qualitativo nacional ou internacional, voltados à publicação de artigos, ensaios, análises, comentários e resenhas significativos para a difusão e o debate de aspectos correlatos à área e que ampliem a audiência dos temas para um público amplo e leigo;

5. revistas de arquitetura, arte, construção e decoração dirigidas a público leigo, que possam constituir repertório informacional da produção recente na área;

6. portais e páginas de Internet especializados na área.

Apesar de o Currículo Lattes aceitar produção científica e técnica difundida pela rede virtual, não vamos tratar, por enquanto, do último tópico – as revistas virtuais –, pela complexidade que envolve a consistência de conteúdos pela Internet.

Critérios de avaliação

Como procedimento geral, vamos tomar a metodologia apresentada por Krzyzanowkski & Ferreira como referência que paira sobre as diversas áreas como um possível modelo. Adotando-se a sistemática de avaliação conjunta de mérito (conteúdo) e desempenho (forma), vamos tentar mediar uma metodologia de perfil genérico com a realidade corrente do periodismo em AUPD e estabelecer um refinamento crítico quanto à aplicabilidade de critérios possivelmente válidos em várias áreas, mas não necessariamente eficazes em nossa área. À medida que se estabeleça um juízo qualitativo sobre esses critérios, será possível discernir as propriedades de um esquema de pontuação como propõem as bibliotecárias.

A itemização adiante não obedece estritamente à ordenação proposta por Krzyzanowkski & Ferreira. Nossa análise também procurou comparar e compreender procedimentos de admissão de periódicos em bases de dados, e consultamos indexações de outras áreas: Medline (periódicos da área de Saúde), Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da saúde) e o SciELO (Scientific Electronic Library Online). A ordenação apresentada reflete tópicos que assimilam questões observadas nas bases de dados.

Avaliação de mérito

1) Perfil da Publicação

Uma análise da estrutura geral de um periódico deveria contemplar os seguintes aspectos:

  • ter predomínio de artigos originais (deverá ser feita uma avaliação por pares);
  • publicar artigos predominantemente no núcleo da área;
  • publicar trabalhos de autores de várias instituições, com abrangência estadual, nacional e internacional, em colaboração ou não;
  • conter seções editoriais definidas; incluir editoriais, resenhas, documentos, relatos, cartas, entrevistas, depoimentos, bibliografias;
  • não evidenciar interesses econômicos e/ou conteúdo publicitário ou patrocínio comercial nos trabalhos publicados;
  • não levantar dúvidas quanto à objetividade do material publicado.

2) Qualidade do conteúdo

Os trabalhos devem ser examinados sob os seguintes aspectos:

  • atualidade;
  • originalidade;
  • validade científica;
  • importância, repercussão;
  • identificação com a orientação temática da revista;
  • contribuição analítica e interpretativa;
  • abordagem de aspectos filosóficos, éticos ou sociais relacionados à área.

3) Comissão ou corpo editorial, conselho editorial

A existência de uma comissão ou corpo editorial constitui uma referência para o gerenciamento científico do periódico, bem como o conselho editorial é um atestado de credibilidade e confiabilidade da política editorial da revista. Como tal:

  • a composição do conselho editorial deve ser pública e estável;
  • devem ser especialistas reconhecidos, de origem nacional e internacional, e identificados quanto à origem institucional e nacionalidade. Deve-se evitar o predomínio de membros de uma instituição ou região geográfica;
  • quando necessário, dever-se-á verificar a produção científica dos membros do conselho editorial em bases de dados especializadas.

4) Seleção dos trabalhos publicados

A revista deve especificar formalmente qual o procedimento para a aprovação de artigos. A arbitragem pode ser processada exclusivamente pelo conselho editorial, por consultores externos ou por ambos. A qualificação da revista é proporcional ao procedimento adotado.

5) Bases de dados, indexação

A indexação dos títulos em bases de dados internacionais é um critério corrente para a qualificação das publicações. Todavia, pesa o obstáculo da língua, porquanto o português não merece muita consideração nessas bases de dados. No âmbito da AUPD, há enorme dispersão da inserção de periódicos nos diferentes bancos que acolhem as especialidades.

Temas como estudos urbanos, planejamento territorial e urbano e habitação são registrados em indexações na área de ciências sociais – Social Sciences Citation Index, Sociological Abstracts, Public Affairs Information Service, Applied Social Science Index and Abstracts, International Bibliography of Sociology, Sage Urban Studies Abstracts, Current Contents/Social & Behavioral Sciences; os temas pertinentes à ciência e tecnologia são indexados no Science Citation Index; os de arte e de história no segmento específico – Arts and Humanities Citation Index, Bibliography of the History of Art, Current Contents/Arts and Humanities, Art Index; a arquitetura e urbanismo em poucas bases, que se saibam – Architectural Periodicals Index (API), Avery Index to Architectural Periodicals e o já mencionado Art Index. Nesse conjunto de bases de dados (que não esgota as bases internacionais), salvo exame mais minucioso, a solitária publicação brasileira representada é a revista Projeto no Architectural Periodicals Index, por um motivo fortuito.

Quando participantes da equipe editorial da revista, na segunda metade dos anos 1980, Hugo Segawa e Ruth Verde Zein iniciaram uma rede de contatos internacionais que estabeleceu intercâmbio com a biblioteca do RIBA em Londres, responsável pela elaboração do API. O Ulrich”s International Periodicals Directory registra que a Projeto é indexada na Avery Index to Architectural Periodicals, e não no API. E o API registra apenas a publicação de projetos arquitetônicos e desprezou os textos, como a extinta seção “Ensaio & Pesquisa”, que era a editoria científica na Projeto.

A única base de dados de arquitetura no Brasil é o Índice de Arquitetura Brasileira, elaborado pela Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Considerando um conjunto variável de publicação ao longo de meio século (revistas de 1950 até o presente), seu repertório de periódicos indexados é um sensível indicador do dinâmico quadro editorial brasileiro da segunda metade do século XX. O desenvolvimento e o aperfeiçoamento do Índice de Arquitetura Brasileira é uma resolução fundamental para o futuro da pesquisa em AUPD no Brasil.

6) Indicadores de impacto

Não há sistemas abrangentes de avaliação de impacto como o Journal Citation Reports do ISI, medição com base em citações no conjunto de títulos da área. Esquemas alternativos, nem todos devidamente sistematizados, podem servir como referência neste quesito:

  • número de bases de dados e indexadores nacionais e internacionais em que figurar a revista; inclusão em bibliografias, abstracts, sumários correntes impressos ou em CD-ROM;
  • indicador de uso do periódico medido pela estatística de retiradas do periódico do acervo ou consulta da publicação no recinto da biblioteca (medição existente em algumas das bibliotecas do SIBi/USP). Este indicador é fator relativo na avaliação de mérito;
  • existência de coleção nas bibliotecas-base do sistema Comut. Este indicador também é relativo na avaliação de mérito.

Avaliação de forma

1) Normalização

Os periódicos científicos são orientados por normas nacionais ou internacionais (ABNT, ISO) cujas padronizações nem sempre podem ser ou são respeitadas por publicações da área de AUPD que não ostentam caráter propriamente acadêmico, mas encerram conteúdos significativos que devem ser considerados não pela forma, mas pelo mérito em uma avaliação de periódicos. Quesitos básicos geralmente são contemplados nos periódicos não-acadêmicos, mas a normalização científica não é parte usual da imprensa de arquitetura mundial. Na especificidade das publicações de caráter eminentemente científico, as referências são:

  • especificar instruções para os autores quanto à normalização, formatação de textos e apresentação de originais;
  • explicitar a normalização das referências bibliográficas;
  • identificar a filiação do(s) autor(es) e das fontes de financiamento;
  • ter registro no ISSN (International Standard Serial Number) – item obrigatório;
  • sumário na língua original ou bilíngüe;
  • conter resumos e descritores dos trabalhos no idioma do texto original ou bilíngüe;
  • anunciar explicitamente a periodicidade;
  • indicar as principais datas do processo de arbitragem, inclusive as datas de recepção, revisões e aprovação.

2) Periodicidade, pontualidade, duração

A periodicidade e pontualidade na edição são pontos críticos nas publicações brasileiras em AUPD. Afora revistas com amparo comercial de mercado (patrocínios publicitários, às vezes institucionais), a maioria das revistas da área padece de problemas crônicos de financiamento que comprometem a regularidade da circulação e até mesmo a sua subsistência. Raros são os periódicos não-comerciais que não sofreram atrasos, interrupções ou alteraram a periodicidade. É um critério problemático para a área. Os programas de apoio a publicações científicas (CNPq, Fapesp) são rigorosos neste quesito para a concessão de recursos, caracterizando um círculo vicioso.

3) Difusão

As formas de distribuição constituem fator problemático entre os periódicos especializados e científicos e espelham com mais ênfase a precariedade da circulação e consumo de revistas em geral no mercado editorial brasileiro. A especificidade dos conteúdos reduz em muito a audiência das nossas publicações para venda avulsa. Mesmo algumas revistas de maior tiragem, com patrocínio comercial, não são distribuídas em bancas. A circulação dirigida, por assinatura, não tem vigência entre as publicações acadêmicas, sobretudo pelo fantasma da falta de regularidade e duração, tampouco uma circulação internacional, pela barreira do idioma. Restam a permuta e doação, formas consideradas de menor valor na avaliação dos periódicos, mas que constituem a regra no âmbito das nossas publicações de perfil científico. Há de se relativizar este critério diante da realidade brasileira.

O Portal de Periódicos Capes (www.periodicos.capes. gov.br) é limitado pelo número de publicações disponíveis on-line. A área de arquitetura e urbanismo abriga 24 revistas, a de planejamento urbano e regional, 36 revistas, e a de desenho industrial, oito revistas, totalizando 68 indicações, que na realidade somam 61 títulos, porque há revistas compartilhadas entre as áreas. Nenhuma das revistas é editada no Brasil (12).

4) Alcance

A qualificação de uma revista deve ser medida em função do público atingido, proporcional quanto à circulação e acolhimento institucional, estadual, nacional e internacional.

Providências

Nenhuma coleção de critérios terá sentido, caso não se estabeleça uma norma sistemática e consensual de confronto entre avaliação e avaliado e, principalmente, de avaliador e avaliado. Para tanto, parece-nos fundamental a constituição de um comitê técnico responsável pela elaboração de uma conduta normalizada em busca da qualificação dos periódicos em AUPD. Isto poderia ser organizado pela área de arquitetura e urbanismo e, em uma hipótese mais avançada, por uma associação nacional de pós-graduação ou pesquisa em arquitetura e urbanismo.

Parece-nos importante também reforçar iniciativas já organizadas de indexação científica, como o desenvolvimento e aperfeiçoamento do Índice de Arquitetura Brasileira, em elaboração desde a década de 1960 pela Biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e que ora se propõe a iniciar um esforço de digitalização do índice para consulta on-line.

Embora fora do escopo deste trabalho, acreditamos que o investimento em revistas virtuais possa constituir uma saída razoável diante das dificuldades imediatas de consolidação de um mercado editorial de publicações em AUPD no Brasil, desde que considerados critérios de qualificação de conteúdo. Bibliotecas virtuais como a BVS, sob o cuidado da Bireme, são hipóteses a se considerar com atenção. A implantação do Portal de Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (www.prossiga.br/uff.ndc/arquitetura), lançado em abril de 2003, no âmbito do Programa Prossiga, é um sinal auspicioso nesse sentido.

A reconhecida experiência do portal Vitruvius (www.vitruvius.com.br) é uma demonstração plausível de circulação de informações de grande aceitação no meio acadêmico, apesar de não seguir inúmeros critérios de avaliação de mérito, como anteriormente comentado.

Acima de qualquer prescrição classificatória, o reconhecimento das iniciativas de aferição supõe um difícil consenso entre os pares sobre os muitos aspectos controversos que uma avaliação de periódicos científicos e técnicos pode evocar. E não se trata de uma dificuldade restrita à subárea de arquitetura e urbanismo.

notas

1
Publicado originalmente na na revista Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 3, p. 120-127, 2003. Disponível também em http://www.ibict.br/cienciadainformacao. Agradecemos os comentários e subsídios de Abílio Guerra (editor do portal Vitruvius), Diva Carraro de Andrade (Biblioteca da FFLCH/USP), Eliana de Azevedo Marques (Biblioteca da FAU/USP), Paulo J. V. Bruna (ex-coordenador da área, Capes), Ruth Verde Zein (ex-editora adjunta da revista Projeto), Teresinha Coletta (Biblioteca da EESC/USP), Vicente Wissenbach (ex-editor das revistas Projeto e Finestra/Brasil). As bibliotecárias Elena Luzia Palloni Gonçalves e Rosana Alvarez Paschoalino, da EESC/USP, buscaram informações importantes para o conteúdo deste trabalho.

2
LENIAUD, Jean-Michel, BOUVIER, Béatrice. (Org.). Les périodiques d”architecture, XVIIIe-XXe siècle: recherche d”une méthode critique d”analyse. Paris : École des Chartes, 2001. Cit. in L'Architecture D'Aujourd'Hui , n. 337, p. 12, nov./dec. 2001.

3
GUTIÉRREZ, Ramón, MARTIN, Marcelo. Bibliografía iberoamericana de revistas de arquitectura y urbanismo. Madrid : Instituto Español de Arquitectura, Universidades de Alcalá y Valladolid, 1993.

4
MARI, Jair de Jesus; ZAGO, Marco Antonio. “O Brasil no cenário científico”. Folha de S. Paulo, 31 maio 2002, p. A3.

5
COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DO NÍVEL SUPERIOR (Brasília, DF). Mestrados/doutorados reconhecidos. Disponível em: <www.capes.gov.br>. Acesso em: 08 set. 2003.

6
Idem, ibidem.

7
KRZYZANOWSKI, Rosaly Fávero, FERREIRA, Maria Cecília Gonzaga. Avaliação de periódicos científicos e técnicos brasileiros. Ciência da Informação , v. 27, n. 2, p. 165-175, maio/ago. 1998.

8
SABADINI, Angélica Z. Paulovic; SAMPAIO, Maria Imaculada Cardoso. A avaliação das revistas científicas em psicologia. [Brasília], CAPES, [1999?].

9
SAUNDERS, William S. From the editor. GSD News, Summer 1996, p. 2.

10
GREGOTTI, Vittorio. Rebuilding the rules. GSD News, Summer 1996, p. 30.

11
GUTIÉRREZ, Ramón; MARTIN, Marcelo. Bibliografía iberoamericana de revistas de arquitectura y urbanismo. [S. l. : s. n. 1999?]. cit., passim.

12
Disponível em: <www.periodicos.capes.gov.br>. Acesso em: 08 set. 2003.

sobre os autores

Hugo Segawa é arquiteto, professor livre-docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

Adriana Crema é arquiteta, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

Maristela Gava é arquiteta, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo

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