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architexts ISSN 1809-6298


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No início de outubro passado realizou-se em Natal o Projetar 2003 – I Seminário Nacional sobre Ensino e Pesquisa do Projeto –, iniciativa do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFRN


how to quote

LARA, Fernando Luiz; MARQUES, Sonia. O projeto do projeto. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 045.00, Vitruvius, fev. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.045/604>.

No início de outubro passado realizou-se em Natal o Projetar 2003 – I Seminário Nacional sobre Ensino e Pesquisa do Projeto –, iniciativa do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFRN. Foi o primeiro evento sobre o assunto, mas deveria ter sido o terceiro se contabilizarmos as iniciativas do outro Rio Grande, o do Sul, na primeira metade dos anos 80; ou quarto ou quinto se contarmos outros encontros similares que sabemos terem ocorrido, como aqueles organizados pela ABEA. Entretanto, faz sentido chamá-lo de primeiro se pensarmos agora em dar continuidade, com um novo fórum, a esta discussão tão necessária sobre o ensino e a pesquisa da porção propositiva (e central) de nossa disciplina e nossa profissão: o projeto.

Tanto o seminário quanto o livro têm como precursores o Encontro sobre o Ensino de Projeto Arquitetônico, realizado na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1985, que procurava, naquela época, “discutir o aprimoramento da formação do arquiteto”, o que envolvia necessariamente “o aprimoramento do ensino do projeto arquitetônico”. Deste encontro, resultou um livro que é, ainda hoje, uma das poucas referências nacionais sobre o tema. De fato, a questão do ensino do projeto tem sido pouco discutida em fóruns específicos, ao menos em âmbito nacional, apesar de inserida em sessões temáticas, em geral como um sub-tema, em encontros mais amplos, como os da Associação Brasileira das Escolas de Arquitetura – ABEA. Percebe-se assim uma carência enorme de publicações sobre o assunto, carência esta que se torna ainda maior quando lembramos que nos últimos 20 anos tivemos na disciplina Arquitetura pelo menos duas grandes transformações: a informatização da prática de projeto e o crescimento da pós-graduação.

Este novo fórum é conseqüência das mudanças ocorridas desde as discussões pioneiras sobre a questão. Assistimos nas últimas duas décadas a três fenômenos – possivelmente entrelaçados – que reforçaram a disciplina ou o campo do conhecimento da arquitetura e do urbanismo no Brasil. O primeiro diz respeito à retomada de publicações, em sua maioria monografias ou coletâneas. O segundo fenômeno envolve a expansão da graduação e a consolidação da pós-graduação em arquitetura e urbanismo, portanto, e em conseqüência, do ensino e da pesquisa. De fato, desde meados dos anos 80, o número de cursos de Arquitetura no Brasil cresceu exponencialmente chegando às atuais 152 escolas. Enquanto a pós-graduação stricto-sensu também cresceu (mas não nesta proporção), contribuindo para o aprimoramento e a sistematização do campo do conhecimento da Arquitetura.

Finalmente, um terceiro, diz respeito à proliferação de eventos de caráter mais ou menos científicos, em todos os níveis, ou até em transição de um caminho para outro. Assim o Congresso Brasileiro de Arquitetos, tradicionalmente de caráter mais político ideológico (ou que tradicionalmente era o local por excelência da expressão política da categoria) acolhe agora comunicações e mesas redondas de caráter mais científicos e resultantes da pesquisa acadêmica. Também os estudantes organizam eventos de debates de questões culturais como mostram iniciativas locais, tais como as do Centro Acadêmico da UFPB ou da FENEA por exemplo.

Nós poderíamos pensar que estamos no patamar de uma nova era, se lembrarmos a semelhança do que ora vivemos com as descrições de Benévolo sobre os primeiros relacionamentos dos produtores da arquitetura moderna com o público, ou seja, a proliferação de concursos, publicações e os congressos (no caso, os famosos CIAMS). Talvez não seja o caso, mas, de uma forma ou de outra, o conjunto destas realizações revela um incremento do exercício da crítica e do discurso sobre a arquitetura e o urbanismo, e um crescimento significativo dos espaços de discussão, sejam estes congressos, defesas de dissertações e teses ou periódicos.

Com certeza o campo do conhecimento da arquitetura e do urbanismo tem se ampliado com a consolidação da pós-graduação e o aumento das publicações, No entanto, eles em geral vão buscar apoio em campos disciplinares exógenos e sejam eles transdiciplinares, multidisciplinares ou interdisciplinares ou outros, os estudos sobre o ato de projetar não parecem ter acompanhado a evolução da área como um todo.

Seria confortante pensar, que pelo menos, a expansão de publicações estivesse a apontar para a superação de uma esfarrapada (embora insistente) tradição da cultura arquitetônica brasileira que sempre foi avessa à questão de teoria e método. Esta aversão à reflexão teórico-metodológica mistura vários pressupostos, preconceitos e confusões. Um deles – o mais atávico e clássico – é o que considera que a teoria não tem nenhuma relevância para prática ou, segundo a velha fórmula desgastada, que quem sabe faz, quem não sabe teoriza (e ensina). As confusões, por outro lado, fazem considerar qualquer produção discursiva textual – desde que não seja a descrição de um projeto ilustrado em anexo – como sendo da área de teoria. Infelizmente, continua-se confundindo crítica, história e teoria da arquitetura, inclusive ao se pensar o currículo da graduação como um currículo de três áreas, na seleção dos docentes para os cursos e nas divisões setoriais institucionais, como na formação dos departamentos.

Uma das confusões mais freqüentes é aquela entre teoria e história e entre teoria do projeto e história dos programas arquitetônicos, como percebemos nos inúmeros trabalhos de graduação do país, onde questões históricas são pinçadas quase que aleatoriamente para justificar decisões de projeto que, por sua vez, também não foram sistematizadas. Desloca-se a história da arquitetura (ou mais precisamente, história das tipologias ou dos programas) para uma função de embasamento das decisões projetuais, função que seria muito melhor desempenhada pela teoria e seus desdobramentos metodológicos.

Por outro lado, no lado de fora da academia, apesar de todas as mudanças operadas nas organizações dos escritórios, nas exigências da clientela e nos instrumentos de representação do projeto, permanece a resistência dos em sistematizar e organizar o que realmente fazem, inclusive quando também ensinam. Conseqüentemente ainda se projeta, se ensina e se discute o projeto da mesma maneira que há 20 anos atrás.

Voltando para a academia, no leque dos esforços de reflexão sobre o assunto, vimos também ultimamente surgir uma certa preocupação com metodologias do projeto, Esforços louváveis, mas ainda insuficientes e, ás vezes perigosos, na medida em que, os métodos, que muitas vezes são apenas técnicas de avaliação, são erguidos ao nível de construções teóricas. Perdura, portanto, uma dificuldade em perceber que as metodologias são derivadas de construções teóricas mais abrangentes.

Diferenciar crítica, história e teoria da arquitetura; e trazer a teoria da arquitetura para mais perto da prática (principalmente) e do ensino de projeto são desafios que permanecem.

Aceitando este desafio e à guisa de provocação, reunimos 11 textos de pesquisadores brasileiros e um estrangeiro e editamos um pequeno livro que, lançado no primeiro dia do seminário, deveria servir de aperitivo para as sessões de apresentação e debates. Nosso objetivo principal foi definir melhor a teoria do projeto e contribuir para um melhor entendimento do ato de projetar.

O livro e a série bienal de seminários sobre o projeto pretendem, além de retomar as discussões interrompidas e/ou pulverizadas em fóruns diversos, incorporar questões mais atuais, como a necessidade de construção de novos paradigmas, da delimitação de um campo de pesquisa para a área, de uma melhor inserção do Projeto de Arquitetura nas Pós-Graduações, além da renovação do ensino de Graduação, diante dos desafios tecnológicos, sócio-culturais e econômicos do século XXI. O principal objetivo é justamente servir de catalisador para uma discussão que precisa ser retomada, e de difusor destas idéias. Lançado o livro e realizado o seminário, não há espaço melhor do que o Universo Paralelo de Arquitetura e Urbanismo Vitruvius para esta disseminação.

Em suma, conhecer melhor as bases teóricas e epistemológicas do ato de projetar; discutir os processos geradores da forma arquitetônica; questionar os valores e formas tradicionais de projetar; gerar novos conhecimentos e pensar as formas mais eficientes de transmissão deste conhecimento são algumas das questões pretendemos, provocativamente, levantar.

E é exatamente no sentido de expandir e aprimorar estas questões que trazemos a Vitruvius uma parte das conversas acontecidas em Natal e das reflexões reunidas no livro, esperando encontrar novamente a todos e aos que mais vierem em Belo Horizonte, no Projetar 2005.

notas

1
Texto adaptado a partir da introdução do livro Projetar: desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto, LARA, Fernando; MARQUES, Sônia (org.). Rio de Janeiro, EVC, 2003, 173 p. ISBN 85-89664-03-1.

[Leia também artigo de Ramon Silva Carvalho, "O professor de projeto de arquitetura também é arquiteto", também sobre o Seminário Projetar 2003]

sobre o autor

Fernando Lara é arquiteto, Ph.D. pela University of Michigan, EUA, e professor da Escola de Arquitetura da UFMG

Sônia Marques é arquiteta, Doutora em Sociologia, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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