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architexts ISSN 1809-6298


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O artigo foca três exemplos paradigmáticos de desenvolvimento de pólos de inovação tecnológica no meio urbano: Silicon Valley (Califórnia), Silicon Alley (Nova York) e Cidade Multimídia (Montreal)


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DUARTE, Fábio. Cidades na sociedade de informação: clusters urbanos. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 059.13, Vitruvius, abr. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.059/482>.

Este artigo parte da seguinte questão: qual o papel das cidades na sociedade informacional, construída através de redes flexíveis de fluxos de materiais, pessoas e, sobretudo, informação?

Essa questão ganha relevância se for retomado que um dos trunfos da transformação das matrizes espaciais urbanas a partir dos anos 1960 foi precisamente uma revalorização das características próprias a cada lugar, em oposição ao espaço moderno hegemônico e homogêneo. Manuel Castells (2) afirma que “o espaço de fluxos substitui o espaço de lugares”; e ainda que esses continuem importantes para a concretização das transformações econômicas globais, perdem seus significados culturais, geográficos e históricos quando integrados às redes informacionais.

A partir de uma discussão sobre a cidade no espaço de fluxos, focaremos no desenvolvimento de pólos de inovação tecnológica no meio urbano a partir de três exemplos onde os arranjos urbanísticos são ao mesmo tempo paradigmáticos e diferenciados: o Silicon Valley (Califórnia), o Silicon Alley (Nova York) e a Cidade Multimídia (Montreal).

Cidade no espaço de fluxos

Uma breve análise da história urbana pode clarear que o incremento dos fluxos não é antagônico à permanência posicional própria às cidades. Seu papel como centros de intercâmbios comerciais revitalizou-se no século XI, em meio a uma sociedade medieval agrícola, cujo poder econômico e político era ligado à terra, partilhado pelo clero e a nobreza.

A formação dos burgos reestruturou as interdependências produtivas e o equilíbrio de poderes. Henri Pirenne (3) lembra que a formação da burguesia, habitante das cidades, passou do século XII ao século XIV de um elemento ausente das decisões sociais ao fator de principal importância – mesmo se ainda último em dignidade perante os nobres e os religiosos. Se antes a riqueza era atrelada à posse da terra, a burguesia demonstrou que podia viver, enriquecer e adquirir poderes políticos sem sequer ser proprietária do terreno onde estava instalada, e sim pelas ações de compra e venda. As cidades dependiam e alimentavam uma circulação crescente em número e importância dos elementos que transformaram a economia, a política e a cultura de toda a sociedade. Cidades que eram fruto do poder do capital líquido circulante.

Podemos, assim, considerar uma constante na história urbana, que é entender as cidades sendo ao mesmo tempo pólos centrípetos, atraindo bens, pessoas e signos de diversas fontes, e pólos centrífugos, por emanar esses mesmos elementos pelo espaço – elementos que tenderão a se aglutinar e encontrar homólogos em outros pólos, e assim sucessivamente.

Cidades e transformações tecnológicas

O final do século XX viu a origem de uma mudança tecnológica que vem alterando drasticamente as relações econômicas, sociais, políticas e culturais, que substituem o paradigma industrial pelo informacional, o que foi debatido com vigor antecipatório por Marshall McLuhan nos anos 1960.

Esse envolvimento informacional global levou Alvin e Heidi Toffler (4) a proporem em diversos trechos de sua obra uma independência absoluta das qualidades inerentes a lugares específicos para a dinâmica social, colocando o casal entre os que falam do fim das cidades, com as pessoas voltando ao campo, mantendo-se conectadas às redes informacionais. Ora, na verdade, o que vem ocorrendo é uma convergência entre os dois processos de questionamento da matriz espacial moderna: a formação de uma sociedade informacional global em rede e uma revalorização de propriedades específicas dos lugares, exploradas para criar o meio ambiente propício ao nascimento e desenvolvimento de fontes informacionais da sociedade em rede.

As cidades guardam seu papel fundamental, pois formadas e formadoras da diversidade, atratoras e dispersoras de valores que nelas se transformam. As cidades, como notou Peter Hall (5), adquirem ou conservam sua importância na topologia urbana em escala regional ou global quando sua influência centrípeta é maior que a centrífuga. Esses pólos urbanos não são resultado imediato de um determinado desenvolvimento econômico ou tecnológico, mas se formam pela sedimentação de valores nos lugares, sedimentação que, se integrada do processo tecnológico, não leva a uma estagnação, e sim a um poder de readaptação às mudanças. Hall (6) observa que Londres, Paris, Barcelona, Milão ou Roma já eram importantes há 2.000 anos, tendo sido determinantes e fortalecidas durante a expansão do sistema ferroviário, e continuarão a ser catalisadoras do sistema europeu que se desenha desde o final do século XX. Os fatores políticos, culturais, econômicos e tecnológicos implicados na construção da União Européia dão maior liberdade aos fluxos da sociedade global, ao mesmo tempo em redesenham o mapa regional, determinando o que Peter Hall (7) trata como o Sistema Urbano Europeu, onde a malha ferroviária mantém força, implicando na conservação do papel de cidades mestres. Esse sistema seria formado basicamente por faixas de desenvolvimento (8), algumas políticas, outras financeiras, outras tecnológicas. Se a faixa do poder político e econômico está no norte europeu, interligando Bruxelas, Frankfurt e Berlim, outras faixas se desenvolviam, como a que liga Barcelona, Marselha, Nice e Milão. Ao longo dessas faixas, entre as cidades mais importantes, há o desenvolvimento de pólos de pesquisa e produção tecnológica. Em grande parte, essas localidades estão em contato com seus pares globais sem passar pela estrutura piramidal, pela raiz do poder nacional. Na sociedade global, o local não significa alienação e isolamento, mas uma maior flexibilidade, coerente com a estrutura das redes informacionais.

A concentração de fatores positivos para o desenvolvimento tecnológico está menos ligada a uma abundância de recursos fixos e mais, como escreve Peter Hall (9), a um conjunto de fatores políticos, intelectuais, financeiros, comunicacionais, e a estruturas sociais e culturais favoráveis a avanços conceituais, fazendo com que sejam consideradas regiões “informacionalmente ricas”. Essas regiões foram tratadas como ambientes de inovação, catalisando e dinamizando os fluxos globais de signos, produtos ou pessoas.

As inovações tecnológicas, que colocam em destaque certas cidades, e propiciam a rearticulação de outras, foram criadas em determinados lugares, necessitando um meio cultural, financeiro e social diverso do das cidades industriais. O conceito de ambiente de inovação foi desenvolvido sobretudo para explicar o porquê das inovações tecnológicas terem origem em determinada região e não alhures, e a isso dedicaram-se com especial atenção Manuel Castells e Peter Hall, estudando casos na América do Norte e Europa. Todo estudo similar deve se deter no Silicon Valley, Estados Unidos, principal região responsável pelo desenvolvimento da informática, fundamento da transformação tecnológica contemporânea. Assim, é a partir da teoria dos ambientes de inovação que se discutirá o papel das cidades no espaço de fluxos, tomando três casos que acompanham o desenvolvimento tecnológico da sociedade informacional e sua relação com determinados lugares. O primeiro será o Silicon Valley, que continua sendo a região mais importante pelas inovações tecnológicas na trama global, principalmente ligada ao desenvolvimento de equipamentos e programas; em seguida, será visto o Silicon Alley, instalado espontaneamente numa região de Nova York, não mais trabalhando com equipamentos, mas exclusivamente com a matéria circulante nas redes globais, a informação; e, como terceiro caso, a Cidade multimídia, programa tecnológico e urbanístico desenvolvido pelo governo do Quebec, Canadá, que, através de incentivos ao desenvolvimento de empresas dedicadas à multimídia, interferem na revitalização de bairros centrais que entraram em decadência no período em que as empresas industriais se estabeleceram na periferia urbana.

Silicon Valley, Silicon Alley e cidade multimídia

Nos anos 1950, o reitor da Universidade de Stanford, Frederick Terman, criou um Parque Industrial na região, que na época era praticamente toda rural. Ele conseguiu captar recursos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para pesquisa industrial, interessado em investir em eletrônica e informática, atraindo pesquisadores do todo o país. Durante os anos 1970, o Silicon Valley já havia adquirido autonomia científica e financeira que ultrapassava os recursos militares, e atraía milhares de profissionais brilhantes do meio tecnológico do mundo todo. Esse enclave tecnológico foi responsável pelo desenvolvimento urbano de toda a região de Santa Clara, que até então era composta de pequenas cidades, sendo Palo Alto, a maior delas, com 20.000 habitantes – na maioria, estudantes da Universidade de Stanford. Em 1950, a população dessa região já era de 290.50 pessoas; em 1960, de 642.315, dos quais 77% eram imigrantes. Em 1970, a população passou o número de um milhão; e em 1980, chegou a 1.250.000 habitantes, já com a consolidação urbana da região. Nos anos 1970, cinco das sete maiores empresas de semicondutores dos Estados Unidos estavam aí instaladas.

A constituição de um meio propício, com recursos financeiros e intelectuais, gera a formação de micro-redes de interesses comuns e de serviços periféricos que servem ao desenvolvimento de centros de inovações tecnológicas. Características que, como estudou Ann Markusen e Peter Hall (10), estão presentes em regiões inovadoras em diferentes países, de onde se pode dizer da existência de uma estrutura topológica global integrando os pólos tecnológicos num espaço informacional.

Esse modelo de desenvolvimento foi incentivado pela OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) a partir de 1982, através da instalação de uma estrutura espacial de incubação de atividades em vários países (11). Reproduzindo a história do Silicon Valley, diversos governos incentivaram a construção de pólos ou a reconfiguração de regiões, baseados nas propriedades dos ambientes de inovação. Há exemplos em Israel, Coréia do Sul ou Malásia, formando centros de inovação interligados globalmente, o que Douglas Migray (12) chamou do “arquipélago do silício”. A aposta era na instalação de uma grande indústria como motor de propulsão de toda a região, motivando a emergência de outras indústrias menores, periféricas e, freqüentemente, prestadoras de serviços à principal (13). Pressupunha um alto investimento do Estado em infra-estrutura, como rodovias, água, energia elétrica e telefonia; além de investimentos sociais para, mais que uma concentração de empregos, consolidá-los no mapa sócio-econômico do país.

Os trens necessitavam dos trilhos, mas esses não foram o fator de mudança social, apenas o suporte para vetores políticos, econômicos e sociais inteiramente novos que transformaram o mundo ocidental no século XIX. A sociedade informacional, é certo, tem nos equipamentos a base necessária para sua constituição, mas a sua força não está na máquina em si, e sim em processos de informação. Após o desenvolvimento dos equipamentos, a indústria informacional entrou em sua fase fluida, dedicando-se à criação de programas para a manipulação de seu substrato essencial, a informação. Dos centros de inovação dependentes de altos investimentos, em grande medida provenientes do Estado (destacando-se os interesses militares durante a Guerra Fria), passa-se aos pequenos escritórios dedicados à criação de programas personalizados para empresas, especializados em tratamento de dados, e, a partir dos anos 1980, na sua entrada maciça nas operações globais e em tempo real através da rede digital de computadores. A mudança de um sistema econômico internacional para outro “global”, menos dependente dos Estados nacionais, coloca em destaque certas regiões que podem ser vistas, como escreveu Georges Benko (14), como “motores da prosperidade mundial”. O espaço informacional global estava se construindo, e o papel dos lugares poderia ser visto de outro modo.

Os mapas de utilização da Internet mostram seu predomínio na América do Norte e Europa ocidental. Tem-se também que a concentração de indústrias tecnológicas mantém-se no Silicon Valley. Entretanto, a localização das empresas que trabalham com a manipulação de tecnologias leves, e principalmente das pequenas empresas que exploram um mercado em rede, tem uma distribuição mais dispersa, com destaque para a costa nordeste norte-americana, principalmente na região de Nova York.

Maya Kandel constatou que a maioria das empresas de Nova York que trabalham nas redes digitais, principalmente na criação de sites na Web, está instalada ao sul da rua 41 e ao norte do distrito financeiro de Wall Street (15). Essa região concentra artistas, escritores, galerias de arte, músicos, jovens profissionais financistas, e todos os periféricos que os acompanham. Eles são responsáveis, com os yuppies (Young Urban Professionals), pela revalorização dessa área nos anos 1980. As tecnologias informáticas tornaram-se mais populares, com a simplificação no uso de suas ferramentas, visando a um público não especializado. Abriu-se, com isso, um campo de trabalho mais intelectual e artístico que científico e técnico. Quando essas empresas iniciaram suas atividades, essa região de Manhattan já possuía uma boa infra-estrutura informacional e firmas interessadas, responsáveis pelos investimentos – parte delas já ligada ao mercado global via Wall Street. Todos esses fatores fizeram dessa região o mais rentável centro de trabalho e de inovações na indústria da Internet.

Referindo-se a Silicon Valley, essa área ficou conhecida como Silicon Alley. A maioria dessa empresas, pela própria miniaturização tecnológica da informática, operam em pequenos escritórios, às vezes montados na cozinha de apartamentos. Eles são mais de 2.000, e esse número continua aumentando (dobrou entre 1996 e 1997), mesmo se uma das características é a volatilidade de sua existência. Seu lucro ultrapassa três bilhões de dólares por ano, dos quais 83% provêm de firmas com lucros inferiores a um milhão. São as indústrias intelectuais – como seus profissionais as chamam, em contraste com a indústria científica original de Silicon Valley.

O Silicon Alley necessita ainda de produtos provenientes dos Silicon Valley. Entretanto, intelectualmente vê-se que os novos ambientes de inovação tornam-se realmente fluidos, dispersos e em movimento no espaço de fluxos. Mas o exemplo do Silicon Alley descarta a idéia defendida por alguns pesquisadores das novas formas de trabalho ligadas às tecnologias informacionais, com empresas dispersas no campo como um sintoma de um possível fim das cidades. Estas ainda têm o dinamismo social, econômico e intelectual atraente ao desenvolvimento tecnológico. Enquanto as ações governamentais no modelo dos ambientes de inovação como Silicon Valley são onerosas, e nem sempre geram o desenvolvimento regional esperado, as novas empresas informacionais desenvolvem-se nos interstícios espaciais, de onde a possibilidade de uma gestão espacial maleável, que conjugue os fluxos informacionais com o aproveitamento ou incentivo das qualidades existentes nas cidades. É o caso dos Centros de Desenvolvimento de Tecnologia de Informação – CDTI (Information Technology Development Centres), criados na província de Quebec, no Canadá. Os fluxos de intelectuais, de capitais e tecnologias em escala global podem ser acompanhados de atuações precisas em lugares, que servem como catalisadores de sua dinâmica. Assim, a política territorial pode assumir esses valores para direcionar localmente tais forças que agem globalmente, potencializando seus trunfos para alcançar benefícios em áreas urbanas específicas.

Quebec e Ontário são as duas províncias canadenses responsáveis pela concentração do desenvolvimento de tecnologia e emprego de multimídia no país. Em Quebec, são mais de 3.000 empresas que desenvolvem mais de 5.000 programas para setores de saúde, comércio, construção civil. Essas empresas cresceram às margens dos distritos industriais que floresceram também no Canadá nos anos 1980, pois várias delas não encontravam aí os benefícios fiscais (já que não produziam máquinas), nem sequer atrativos intelectuais. Apesar da dispersão física, como seria natural em empresas trabalhando com tecnologias de informação criaram-se redes comerciais e de conhecimento.

Uma das medidas mais eficazes para a dinamização dessa indústria informacional é a política dos Centros de Desenvolvimento de Tecnologia de Informação, baseada em medidas legais e financeiras. A primeira mudança está no próprio conceito de indústria que aparece subliminarmente no projeto, podendo-se resgatá-lo dos trabalhos de Georges Benko e Alain Lipietz (16), que entendem o setor industrial, numa sociedade informacional, cobrindo os processos de produção de fixos e fluxos, de manufatura e de serviços.

Lançados no primeiro semestre de 1998, no início de novembro já havia mais de 200 empresas interessadas nos CDTIs. A organização das empresas é feita pelo CDTI local, que busca agrupá-las em edifícios desocupados das regiões centrais das cidades, que serão adaptados para as empresas. Dois fatores urbanos são preponderantes nessa fase. De um lado, por serem zonas urbanas consolidadas, elas possuem infra-estrutura, como energia elétrica e água, além de serem servidas por transporte urbano, e terem uma rede de serviços e comodidades periféricas, de cafés a universidades. Do outro lado, como se vê internacionalmente, o centro das cidades conheceu um esvaziamento entre as décadas de 1970 a 1990, passando por um processo de decadência econômica e social. Recursos públicos continuam a ser investidos numa infra-estrutura freqüentemente sub-utilizada. A locação de um CDTI nessas regiões pode servir no processo de sua revitalização.

A cidade multimídia de Montreal foi lançada em junho de 1998. Localizado na área central da cidade próxima à região portuária, o Faubourg des Récollets passou por décadas de degradação, com a mudança do perfil industrial da cidade e conseqüente desativação de antigos moinhos e galpões do porto, com as novas indústrias instalando-se na periferia da cidade. Há alguns anos iniciou-se um programa para sua revalorização. Já no início de 1998, 150 empresas haviam se instalado aí, principalmente ligadas a moda, arquitetura, design e publicidade, algumas trabalhando diretamente com multimídia. A escolha da região para o desenvolvimento deste CDTI parte do perfil profissional já presente, que serviria de atrativo para as empresas interessadas em desenvolvimento de tecnologias informacionais, criando redes de serviços e tecnologias complementares, como estúdios de montagem, som, imagem, grupos artísticos, produtores de cinema e vídeo. O bairro também é servido de metrô e ônibus, além de fazer parte de uma zona histórica, com estrutura de serviços e comodidades, como bares, restaurantes, teatros e museus. Com a ocupação de profissionais com bons salários, jovens, ligados a áreas culturais, iniciou-se independente e paralelamente a construção de conjuntos habitacionais de apartamentos para essa população, assim como a abertura de pequenos escritórios em áreas afins que não podem ser beneficiados pelas leis fiscais do CDTI, mas se aproveitaram dos frutos do desenvolvimento de projetos da Cidade Multimídia.

Acompanhando o desenvolvimento tecnológico da informática e seu impacto na estruturação espacial urbana, nos casos de Silicon Valley, Silicon Alley e Cidade Multimídia, pudemos seguir que a fluidez tecnológica possibilita a instrumentalização de políticas urbanas compatíveis à dinâmica econômica própria a cada tecnologia. Nos dois casos de criação de CDTIs vê-se a conjunção de benefícios do desenvolvimento tecnológico e econômico da cidade aliado a uma política de valorização urbana. A fluidez das tecnologias informacionais não necessita de grandes planos territoriais a serem impostos em extensas áreas e por longos anos. Uma política também fluida pode trazer benefícios para regiões urbanas já consolidadas. Em contrapartida, a política de atração de novas empresas se faz em escala mundial, o que pode ser sentido pelo crescimento de um marketing urbano nos últimos anos, tema de pesquisas recentes (17) sobre a abertura de representações de cidades em grandes centros globais, sem passarem pelo aparato diplomático do governo sob o qual se localizam. As redes informacionais são criadas onde os fluxos podem trafegar, não pedindo novos espaços, mas se infiltrando nos já existentes, cabendo às políticas urbanas usá-las estrategicamente, valorizando seus fixos.

notas

1
Este artigo é um extrato de um capítulo do livro DUARTE, Fábio. Crise das matrizes espaciais: arquitetura, cidade, geopolítica, tecnocultura. São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2002. Foi apresentado apresentado no workshop Clusters Urbanos, organizado pelo curso de pós-graduação em urbanismo na Universidade Mackenzie, 2 e 3 de agosto de 2004, em São Paulo. Os artigos desta série são os seguintes:

2
CASTELLS, Manuel. The information age: economy, society and culture (vol. 2 - The rise of network society). Malden: Blackwell, 1996, p. 375.

3
PIRENNE, Henri. “Cities and European civilization” in LEGATES, Richard & STOUT, Frederic (org.). The city reader. London/New York, 1996; pp. 41-45.

4
TOFFLER, Alvin & TOFFLER, Heidi. Créer une nouvelle civilization. Paris: Fayard, 1995.

5
HALL, Peter. The European city system in the 21st century. (working paper 552). Berkeley: Institute of Urban and Regional Development, University of California at Berkeley, 1991, p. 10.

6
HALL, Peter. International urban systems. (working paper 514). Berkeley: Institute of Urban and Regional Development, University of California at Berkeley, 1990, p. 2-3.

7
HALL, Peter. The European city system in the 21st century (Op. cit.), p. 13-14.

8
HALL, Peter. The European city system in the 21st century (Op. cit.).

9
HALL, Peter. Reinventing the city. (research paper 179 in “The city in the 1990s series). Toronto: Centre for Urban and Community Studies, University of Toronto, 1990, p. 11.

10
HALL, Peter and MARKUSEN, Ann (eds.). Silicon Landscapes. Winchester: Allen & Unwin, 1985.

11
PROULX, Marc-Urbain. Réseaux d´information et dynamique locale. Chicoutimi: Université de Québec à Chicoutimi, 1995.

12
MIGRAY, Douglas. “The silicon archipelago”. Daedalus. New York: American Academy of Arts and Sciences, vol. 128, n. 2, Spring 1999; p. 147-176.

13
BENKO, Georges et LIPIETZ, Alain (orgs). Les régions qui gagnent. Paris: Presses Universitaires de France, 1992.

14
BENKO, Georges. “La mondialisation de l´économie n´est pas synonyme d´abolition des territoroires” in Cordelier, Serge (org.) Le nouvel état du monde: les 80 idées-forces pour entrer le 21e siècle. Paris: La Découverte, 1999.

15
KANDEL, Maya. “ Slicon Alley à la conquête des nouveaux médias “. Libération, 1998.

16
BENKO, Georges et LIPIETZ, Alain (Op. cit.).

17
BENKO, Georges. “Stratégies de communication et marketing urbain”. Pouvoirs Locaux, n. 42, septembre 1999, p. 128-130.

sobre o autor

Fábio Duarte é professor do mestrado em Gestão Urbana da PUCPR. Arquiteto e urbanista pela Universidade de São Paulo, mestre em Multimeios pela Unicamp, doutor em Comunicações e Artes pela Universidade de São Paulo. Autor de Global e local no mundo contemporâneo (Moderna, 1998), Arquitetura e tecnologias de informação: da revolução industrial à revolução digital (Annablume / Fapesp / Unicamp, 1999) e Crise das matrizes espaciais: arquitetura, cidades, geopolítica e tecnocultura. (Perspectiva, 2002) e Do átomo ao bit: cultura em transformação (Annablume, 2003)

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