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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Neste artigo propomos um estudo comparativo das narrativas viáticas escritas por dois diferentes autores que partilhavam a mesma tradição literária, Le Corbusier e Jean-Paul Sartre

english
In this paper we propose a comparative study of two narratives of travel written by two different authors who shared the same literary tradition, Le Corbusier and Jean-Paul Sartre


how to quote

LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. Entre “americanomania” e “orientalismo”. Uma abordagem comparativa das narrativas viáticas de Sartre e de Le Corbusier. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 135.06, Vitruvius, jul. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.135/4009>.

1. Introdução

Há toda uma tradição literária que se formou a partir de périplos e de viagens, as denominadas “narrativas viáticas”, ou, mais simplesmente, “narrativas de viagens”. Como o leitor já terá percebido pela sua denominação, neste gênero literário viajantes-escritores narram as suas viagens (2): as paisagens vistas, a arquitetura percebida, os hábitos anotados e as pessoas conhecidas. Podem ser subsumidos a partir deste conceito textos tão antigos como Sobre o oceano, de Piteias, escrito no século IV a.C., e A Descrição da Grécia, do igualmente grego Pausânias, escrito no século II a.C., e textos mais recentes, como Viagem a América, de Chateaubriand e América, obra do romancista francês Georges Duhamel. (3) De toda sorte, sabe-se que nunca se narrou viagens ou qualquer outro fato da mesma maneira, e um abismo — histórico, linguístico, factual — separa as supracitadas narrativas, e os nossos exemplos foram aqui convocados mais para atestar a longevidade e a riqueza deste gênero do que para prestar esclarecimentos em termos de escolas literárias (4).

Recorremos a esta breve introdução com o intuito de traçar o objetivo principal deste artigo, a saber, realizar uma análise paralela entre duas narrativas viáticas escritas por dois diferentes autores no século passado, Viagem do Oriente, de Le Corbusier, escrita em 1911 (5), e Cidades da América (6), de Jean-Paul Sartre, escrita em 1945. Acreditamos que esta abordagem seja pertinente posto que nos permitirá compreender, com um pouco mais de exatidão, dois grandes mitos do século passado: a “América”, o país das distâncias infinitas, do progresso, da mecanização e da ausência de barreiras sociais; (7) e, por outro lado, o “Oriente”, o espaço do mistério, do luxo e das cores vivas, e, para um “ocidental”, a encarnação do mais importante dos topoi viáticos, a alteridade absoluta. Ora, se Sartre nos escreveu sobre a sua viagem aos Estados Unidos da América, realizada em janeiro de 1945, descrevendo as suas cidades sobre um palimpsesto de imagens, Le Corbusier, este suíço que se dizia francês, entregou-se, em 1911, ao exótico já tantas vezes escrito e pintado por seus “conterrâneos”: evoquemos, a este respeito, certas pinturas de Delacroix e a pintura mais conhecida de Ingres, O banho turco (8). Estamos, como escrevemos no título deste artigo, entre a “americanomania” de um autor e o “orientalismo” de um outro. Ora, pode parecer estranho, e mesmo um equívoco, nomear Sartre — que sempre foi conhecido pela sua militância política nas cores mais extremadas da esquerda: stalinismo, maoísmo etc, e que, a este título, era vigiando pela C.I.A. — e Le Corbusier — que, durante muito tempo, foi um pacato cidadão da não menos pacata cidade suíça de Chaux-de-Fonds — desta maneira: um francês dito “americanófilo” e um suíço que se dizia francês designado como “oriental”. (9)

O que explicaria, então, tais desig-nações? Ora, é necessário ter em mente que no processo de escritura não há tabula rasa, e que todo escritor insere o seu texto em uma grille cultural pré-estabelecida. E, neste sentido, “americanomania” e “orientalismo” são tão somente nomes vagos e genéricos que indicaram, em um determinado lapso temporal, certa compreensão do mundo; e, dito de uma maneira mais precisa, uma compreensão do mundo baseada em estereótipos. Mas, para além dos estereótipos, não se pode esquecer que há, na maioria das vezes, um padrão: vê-se o desconhecido sempre a partir daquilo que já se conhece. (10) Porém, é importante afirmar que, para além do estereótipo e do padrão, há o próprio processo de escritura, e que estamos no terreno de um gênero literário preciso com as suas regras próprias. E com Sartre e Le Corbusier não foi, naturalmente, diferente: um aprendeu sobre a “América” com o romance moderno — Dos Passos, Faulkner e Hemingway (11) —, outro se formou um “Oriente” a partir de Theophile Gautier e Pierre Loti. (12) E, neste sentido, muito daquilo que foi escrito pelos nossos autores pode ser compreendido como variações em torno de certas convenções literárias. Nas próximas páginas tentaremos demonstrar como estas convenções foram usadas tanto por Le Corbusier quanto por Sartre nas suas narrativas viáticas, e, naturalmente, o nosso principal foco de atenção serão as paisagens urbanas apreendidas por estes autores.

No entanto, antes de realizar tal tarefa, convém neste capítulo introdutório explicar aos leitores o caráter dos textos que serão o objeto de análise deste artigo. Em janeiro de 1945, Jean-Paul Sartre, na época apenas um escritor e pensador promissor, foi convidado por Camus para realizar uma viagem aos Estados Unidos da América e colaborar como correspondente do Le Combat (13), do qual este último era secretário de redação. Inicialmente, o convite partiu do setor de propaganda do Estado Maior norte-americano (neste caso, o Office of War Information, com sede em Washington), e visava tornar conhecido aos franceses recém liberados o esforço de guerra daquele país. Neste texto o nosso autor inventariou a arquitetura norte-americana, listou e descreveu o que, para aquele europeu em um breve exílio, poderia ser considerado exótico, como as casas desmontáveis, além de descrever as cidades novas que foram fundadas em solo norte-americano. Este ensaio é a fusão e o remanejamento das seguintes reportagens: A Cada dia nasce uma cidade, a cada dia morre um vilarejo, publicada no Le Figaro na edição do dia 06 de abril de 1945; A cidade, para nós, é um passado, para eles é um futuro, publicada no Le Figaro na edição do dia 13 de abril de 1945; e, finalmente, O passado, aqui, não deixa monumentos, mas somente resíduos, publicada no Le Figaro na edição do dia 23 de abril de 1945. (14)

O livro de Le Corbusier, Viagem do Oriente, foi o resultado literário de uma viagem realizada de maio a outubro de 1911, com um amigo, Auguste Klipstein, aos seguintes países: Áustria, Sérvia, Romênia, Bulgária, Turquia, Grécia e Itália. O arquiteto franco-suíço, todavia, apenas decidiu publicar as suas notas de viagem de maneira completa em 1965, ano, como sabemos, da sua morte. Neste texto que, de uma maneira estranha, pode ser considerado póstumo, aprendemos a fascinação de um jovem arquiteto pela arquitetura e pelas cidades ditas orientais, um fascínio, aliás, que perdurou por toda a sua vida.

2. Da alteridade e da dialética “Ocidente versus Oriente”

Poder-se-ia afirmar que certos lugares, antes mesmo de serem conhecidos, têm um grande poder de evocação. A salientar que, neste caso, estamos nos referimos a um mundo no qual as imagens e ilustrações ainda não estavam tão difundidas e, por que não dizê-lo, massificadas, e assim, a palavra escrita — e, portanto, lida — tinha mais peso e importância do que desfruta hodiernamente. É neste sentido que se pode escrever que a decepção com determinada paisagem que Le Corbusier diz ter experimentado no “Oriente” está ligada a certa sonoridade das palavras, e não com uma imagem difundida pelos meios de comunicação de massa: “É uma piada o desfiladeiro de Kasan — um ‘blefe’ de palavras sonoras.” (15) Percebe-se que ele esperava, ao menos, que a beleza do lugar correspondesse à bela sonoridade do seu nome, mas, neste caso específico, isto não aconteceu. O arquiteto franco-suíço deve ter se encantado, em algum momento, com o som da palavra Kasan; no entanto, a expectativa de encontrar e ver um lugar no qual os signos não fossem arbitrários em relação ao ente nomeado, mas que estivessem em “correspondência”, cedeu lugar à decepção. Encontramos, no texto de Sartre, as mesmas expectativa e decepção em relação às cidades norte-americanas visitadas no ano de 1945:

E é uma decepção quando você chega a Wichita, a Saint-Louis, a Alburqueque, ou a Menphis, em constatar que, atrás destes nomes magníficos e promissores, se esconde a mesma cidade Standard, em malha xadrez, com os mesmo semáforos que regulamentam a circulação e o mesmo ar de província. (16)

É o tal “blefe de palavras” aludido por Le Corbusier: os nomes são promissores, como Wichita, Saint-Louis, Alburqueque e Menphis, e se espera encontrar uma paisagem que corresponda à sonoridade das palavras que evocam e significam estes lugares. Mas... É em vão, e no final resta apenas mais uma decepção narrada por um escritor viajante. No entanto — e é lícito que nos perguntemos —, por que as palavras teriam um poder de evocação determinante ao ponto de, por assim dizer, enganar, por meio de um “blefe linguístico”, dois diferentes escritores viajantes? Estamo-nos referindo, certamente, a Le Corbusier diante de um acidente natural e a Sartre que deambulava pelas cidades norte-americanas. Ora, segundo Roland Barthes esta questão já estaria contida na obra de um outro escritor francês do século passado, Marcel Proust. Haveria na Recherche toda uma teoria associativa em que os nomes próprios, longe de serem simplesmente neutros, teriam um forte poder de evocação. É neste sentido que Guermantes não seria apenas o nome de uma família, mas consistiria, mesmo, em uma espécie de rubrica de dicionário. (17) E, na obra de Proust, isto não seria diferente em relação aos nomes de lugares: Balbec, Florence e Parme são, simultaneamente, termos que designam cidades e espaços imaginários nos quais fantasmagorias míticas se misturam a belas imagens. A personagem proustiana antevê Florence e Parme antes da viagem, e se forma toda uma cartografia sentimental de rios, pontes, ruas e construções. Mas, se os lugares acima não foram, para a personagem proustiana, motivo de decepção, o desfiladeiro de Kasan o foi certamente para Le Corbusier assim como certas cidades norte-americanas o foram para Sartre. No entanto, resta elucidar uma questão, por que em três diferentes autores encontramos o mesmo processo, isto é, a associação entre a sonoridade dos nomes próprios e a imagem evocada? Como já afirmamos neste artigo, neste caso como em muitos outros se narra sobre uma grille cultural pré-estabelecida, é o tal palimpsesto de imagens — ou de convenções literárias — a que já aludimos.

Outra questão importante nos textos que ora analisamos é a decepção com os lugares que se conhece em uma viagem, mas não se trata mais de uma decepção a partir dos nomes, mas uma decepção tout court: há sempre uma expectativa do viajante em encontrar o belo e o exótico, mas, no final de algumas semanas de périplos e atribulações, esta expectativa, muitas vezes, se vê irremediavelmente frustrada. Assim escreve o arquiteto franco-suíço sobre a cidade de Belgrado: “Capital irrisória. Pior: cidade desonesta, suja, desorganizada.” (18) Este breve exemplo nos mostra claramente que a esperança transforma-se em desilusão, o exótico não encontrado atesta a existência de um banal attrape-nigaud para turistas desavisados, e a beleza esperada se desvanece diante do viajante como brumas, deixando ver que o feio e a sujeira são o feio e a sujeira de todos os lugares. No fim, parece que se viajou apenas para ter o conhecimento da “ilusão do deslocamento”, e, a este propósito, citamos Georges Perec: “Espanto e decepção das viagens. Ilusão de ter vencido a distância, de ter apagado o tempo. Estar longe.” (19)

Sartre, por vezes, parece escrever sobre tal ilusão, ao comentar o seu desencanto com a paisagem urbana norte-americana:

Quais são a impressões de um europeu quando ele desembarca em uma cidade americana? Inicialmente, ele se diz que lhe pregaram uma peça. Falaram-lhe dos arranha-céus de New York, de Chicago como “cidades em pé” [débout no original]. Ora, o seu primeiro sentimento, ao contrário, é que a altura média de uma cidade dos Estados Unidos é sensivelmente inferior a de uma cidade francesa. (20)

Pode-se, sempre, decepcionar-se com a banalidade e, ao invés de se espantar diante de uma paisagem verdadeiramente insólita, encontrar o irrisório e o já tantas vezes conhecido. Contudo, há que se recordar que denominado “real” não está a serviço do turista, como se fosse um camareiro de algum hotel, mas é uma construção cotidiana, com gestos, hábitos e paisagens — umas tantas vezes vistas e outros tantas vezes repetidos — para os cidadãos de Belgrado ou de Chicago. Deve-se necessariamente aprender, então, que nem Belgrado é Viena e que nem que Menphis pode ser New York...

Contudo, ao comentar a decepção que o turista demonstra experimentar em uma viagem, parece que transcendemos do físico ao metafísico, mas é necessário convir que, diante de paisagens, costumes e hábitos que lhes são estranhos, todo viajante tende, em princípio, a moralizar, como percebemos nestas palavras de Le Corbusier sobre a cidade de Bucareste: “Aqui a arquitetura é fútil como a vida; (...).” (21) O arquiteto franco-suíço referia-se à arquitetura Beaux-Arts, com o seu estilo sóbrio e, ao mesmo tempo, pomposo. Mas se referir a isto não é suficiente, não basta a futilidade da arquitetura, é necessário que a própria vida seja fútil... O viajante no século passado, não nos esqueçamos, viajava, entre outras razões, para fugir ao tédio: “E sou o mais infeliz dos homens, pois, confesso, é o sumo do tédio; (...).” (22)  E este último é um eterno companheiro de viagem, e, a este título, pode ser, muitas vezes, desagradável, porém temos que admitir que, ao menos, é constante e fiel.  E é tão constante que, por vezes, o viajante acaba por enxergar o outro como um reflexo de si-mesmo: “É necessário não esquecer o denso tédio que pesa sobre a América.” (23) Esta, ao menos, foi a conclusão de Sartre, ao escrever sobre um restaurante no qual os comensais faziam a sua refeição em silêncio.

Mas, ainda em relação à desilusão do viajante, sabemos que isto não poderia acabar aqui. Com o advento do turismo de massa (24) terminaram-se os dias das românticas viagens dos séculos XVIII e XIX, quando irrequietos filhos das classes mais abastadas da Europa faziam o seu tour com o intuito de aprimorar a sua educação. A partir do século XX, o turismo de massa — que é, reconhecemo-lo, necessariamente vulgar, posto que é comum, corriqueiro, desprovido de mistério e de charme — vai movimentar um próspero comércio de hospedagens, de guias turísticos, de ruínas e de souvenirs. Ora, não é isto que nos afirmará Le Corbusier? “O bazar, ali se encontram os piores horrores, o suvenir para turista, sob todas as suas detestáveis formas, pois é feito para aparentar muito e não custar nada ao comerciante.” (25) Nesta viagem é o bazar que, em Istambul, representa o “mal do turismo”: louças grosseiras, tapetes ordinários, pires fabricados aos milhares, em um bric-à-brac de “ingenuidades”... Em um livro escrito em 1950, Sartre criou uma personagem que aprovaria as constatações do jovem Le Corbusier, ao deplorar o “comércio do turismo” praticado pelos italianos: “Preso em flagrante delito de turismo: no anfiteatro Flaviano não se devoravam os homens, matava-se a besta”. (26) O turismo, assim descrito, é para esta personagem nada mais que uma simples banalidade, uma impostura e, talvez, um delito. Trata-se da visão pessimista de que nunca, absolutamente nunca, se vence a distância, e que o mundo foi, de alguma maneira, banalizado pela universalização representada pelo modo de produção capitalista. Mas tanto Le Corbusier quanto Sartre tinham o pleno direito de serem pessimistas, pois um escrevia em 1911 à sombra de uma tempestade que se aproximava e que varreria do cenário o mundo tal como estava organizado, enquanto o outro escrevia sobre os escombros e as ruínas de um mundo cuja ordem já havia sido restaurada e cuja re-organização já não inspirava muita confiança. Naquele momento, o mundo que Le Corbusier conheceu com alguma desconfiança seria profundamente alterado por um ataque terrorista contra o herdeiro do trono de um dos “impérios orientais” que ele estava visitando, enquanto a ordem do mundo no qual viveria Sartre foi inaugurada com uma explosão nuclear em agosto de 1945.

De qualquer sorte, é mister afirmar que o viajante será sempre, a partir do século passado, uma criatura impotente: como compreender, em poucos dias, em poucas semanas, uma cidade ou o ethos uma nação? Foi-se o tempo em que o viajante — aristocrata ou um grande burguês — se pagava o extremo luxo de permanecer muitos meses e até anos em um local suscetível de despertar curiosidade. O século XX conhece outro viajante, aquele que se compraz na velocidade de um lento programa turístico executado em poucas semanas. Mas é seguro que nem Le Corbusier nem Sartre eram este tipo de turista, que se torna tão abundante quanto erva daninha apenas depois da Segunda Guerra Mundial; estamos, por enquanto, na esfera de europeus cultos que buscam, por assim dizer, um destino aguardado e mítico. Porém, não se deve esquecer que, neste caso, não se tratava mais do já citado filho de uma família abastada, seja da aristocracia ou da alta burguesia, que deveria passar anos no exterior para aprimorar a sua cultura. E foi por esta razão que invocamos, aqui, o termo “impotência”: “Eu gostaria de dizer algo da alma turca; não conseguirei!” (27)  Ora, é a própria confissão de que a alteridade é quase irredutível... Como poderia um europeu vindo da tradição cristã compreender, em poucas semanas ou meses, o ethos do outro islâmico? Em se tratando de querelas religiosas, poderíamos repetir Sartre dizendo que “O inferno são os outros”.

No caso de Sartre, como vimos, o máximo de compreensão por ele tentada levou-o a identificar na sociedade norte-americana um componente cultural fortemente arraigado na sua própria sociedade: o tédio; ou dito de outra maneira, o ennui ou vague-à-l’âme... (28) As reflexões tecidas acima nos levam, inelutavelmente, a pensar em um outro topos importante da narrativa viática, e que já foi brevemente abordado neste artigo: o estereótipo, seja a “americanomania” de Sartre ou o “orientalismo” de Le Corbusier. O outro, que é necessariamente plural, diverso e, ao mesmo tempo, singular, ganha um simples epíteto e a partir dele é identificado: o “norte-americano”, e, por outro lado, o “oriental”. Ora, sabemos muito bem que o termo “Francês”, longe de designar um conjunto homogêneo de cidadãos, subsume uma multiplicidade nada desprezível de costumes, de línguas e de etnias, e no “hexágono” convivem bretões, picardos, flamengos e outros germânicos; da mesma maneira o termo “Norte-americano” designa um conjunto heteróclito de pessoas que, na sua origem, foram irlandeses, poloneses, italianas e africanas, apenas para nos restringirmos aos exemplos mais conhecidos. E se abordarmos a questão do “orientalismo” muitas vezes aludido por Le Corbusier a questão torna-se ainda mais complicada, posto que com o uso deste termo sequer se faz referência a um país em particular... Assim, o estereótipo, que é uma simplificação como qualquer outra, liga-se profundamente ao destino do viajante.

Percebe-se, muitas vezes, que não somente o estrangeiro é apreendido por meio de estereótipos, mas até o seu espaço. Ora, como bem demonstrou Colomina (29), os desenhos de Le Corbusier presentes no seu livro não foram realizados en plein air, como fariam, por exemplo, os pintores impressionistas, mas foram realizados a partir de fotografias. Este fato tem as suas implicações, posto que toda arte possui as suas regras próprias, e o risco de repetir no desenho a visão de um simples cartão postal seria grande. O estereótipo, neste caso, não seria apenas um conceito, tornar-se-ia, igualmente, visual.

Outra questão importante e que se deve, necessariamente, levar em consideração quando se analisa as narrativas viáticas é o topos da comparação. (30) Sabe-se que, para enfrentar o mistério de uma paisagem desconhecida o viajante está armado apenas com o exercício da analogia e com a possibilidade de criar metáforas. E se esta asserção está correta, qual seria, estão, o “fundo” da comparação? Sabemos que, neste caso como em muitos, compara-se o desconhecido com o conhecido, isto é, comparam-se as cidades a conhecer com as cidades que já se conhece. Le Corbusier, em uma passagem particularmente inspirada, faz este exercício de analogia, criando uma bela metáfora: “O levantino está ao redor de sua formidável torre, em Pêra, em sua cidade empilhada, com aspectos nova-iorquinos e ao mesmo tempo diluvianos, espreitando o turco adormecido num kief [estado de quietude] incansável.” (31) E assim a cidade torna-se conhecida pela ação da metáfora, tendo sido, por assim dizer, “ocidentalizada” a partir da comparação com Nova Iorque. Certamente que, na época, Le Corbusier ainda não havia feito a sua célebre viagem aos Estados Unidos da América, mas é igualmente certo que Nova Iorque já o fascinava e o inspirava, e, desta maneira, ele passou a ver uma determinada cidade turca pelo prisma da grande metrópole norte-americana.

Sartre, por sua vez, naturalizou a paisagem urbana de Nova Iorque: “Esta cidade se assemelha espantosamente com as grandes planícies da Andaluzia: monótona quando percorrida a pé e bela e mutável quando se atravessa de carro.” (32) O filósofo francês, cuja primeira viagem internacional teve como destino, justamente, a Espanha, aproximou, como vimos, o espaço de Nova Iorque às planícies da Andaluzia. Desta maneira, ele fundou, assim como Le Corbusier, uma bela metáfora ao re-fundar e apropriar-se de uma cidade estrangeira. Este recurso retórico, é importante acrescentar, tem o objetivo de tornar mais tangível e mais “doméstico” ao público leitor o espaço desconhecido, seja este “americano” ou “oriental”. 

3. Últimas considerações

Em um conto publicado na coletânea Contos Peregrinos, Gabriel Garcia Marques sentenciou que os amores de alto mar terminam com a visão do porto. Visão pessimista, esta... Talvez seja por esta razão que viajantes dos mais diversos budjets trataram de registrar, antes da inelutável visão do porto, as memórias dos seus “amores de alto mar”. Le Corbusier finalizou o seu texto com as seguintes frases: “Terminado de escrever em Nápoles, em 10 de outubro de 1911, por Charles-Edouard Jeanneret. Relido em 17 de Julho de 1965, na Rua Nungesser et Coli, 24, por Le Corbusier.” (33) Sartre, por sua vez, publicou as reportagens sobre as cidades norte-americanas in situ, e as “releu” no ano de 1949, em Situações III; ora, trata-se, em ambos os casos, de uma escritura cujo processo ocorreu durante a própria viagem.

Mas o pessimismo das viagens, assim como a sua felicidade e a felicidade da visão do porto, são, em boa parte, premeditadas. Tentamos demonstrar neste artigo que a escritura é sempre uma re-escritura, no sentido que se escreve sempre desde uma longa tradição e nos moldes de uma dada língua. Se é fato que, segundo os manuais de História, a escrita surgiu por volta do ano3.000 a. C. com finalidades contábeis, felizes eram os escribas que não tinham nenhuma tradição milenar a respeitar... Sartre e Le Corbusier se espantaram diante do exótico, repetiram ou negaram estereótipos, mas, repetimos, sempre o fizeram a partir da sua tradição de origem, a literatura francesa, e nos termos de um gênero literário específico, a narrativa viática.

Neste sentido, a decepção que tanto o filósofo francês quanto o arquiteto franco-suíço confessaram ter experimentado é, em boa parte, premeditado. Cito, para corroborar esta afirmação, a pesquisadora francesa Genéviève Idt:

Em 1983, quando os ‘escritos íntimos’ de Sartre, suas Lettres e os Cahiers de drôle de guerre, foram publicados, pareceram ressuscitar Sartre ao natural. Ou quase, pois um escritor, segundo Sartre, não tem natureza! Tão jovem e divertido que ele tenha se mostrado, ele ainda representa, evidentemente: “Talvez eu colocasse ali um pouquinho mais de alegria ou de lirismo que se coloca em uma carta escrita a um leitor qualquer quando não se é escritor.” (34)

Ora, nem Sartre e nem Le Corbusier, face a um gênero literário específico, poderiam ter sido, por assim dizer, “naturais”. Além disto, como todo escritor, eles sabiam, certamente, que se dirigiam a um determinado público leitor, o que implica o manejo de uma técnica literária. Foi por esta razão, acreditamos, que Sartre confessou ter sentido um “enjôo” quando chegou em New York: “Eu não sabia que há para o europeu recém desembarcado havia um ‘enjôo de New York’, como há um enjôo de mar, de altura e de montanha.” (35) Sartre referia-se ao contato com os emblemáticos arranha-céus de Manhattam, mas ao confessar sentir um mal-estar, ele apenas se colocou em uma espécie de “encadeamento literário”, a partir do qual se aprende o que ver e, sobretudo, como ver. Afirmamos isto porque em um romance admirado por sua geração (36), Viagem ao fim da noite, do escritor Ferdinand Céline, este sentimento de mal-estar já está perfeitamente descrito e nomeado: “Levantando o nariz em direção a esta muralha, eu experimentei uma espécie de vertigem ao contrário, por causa das janelas realmente muito numerosas e sempre tão iguais que chegava a dar náusea.” (37) Ora, assim como Le Corbusier formou-se um julgamento estético sobre o Oriente a partir da leitura de alguns escritores, como Pierre Loti, Sartre aprendeu com Céline que seria, por assim dizer, de “bom tom” nausear-se com os arranha-céus de New York (embora, com a devida astúcia de todo bom escritor, dissesse não sabê-lo...).

notas

1
A tradução é nossa: “Minha criança, minha irmã/ Pense na doçura/ De irmos lá vivermos juntos/ Lá tudo não é senão ordem e beleza/ luxo, calma e volúpia.”

2
Para aqueles que se interessam pelo destino e vicissitudes das palavras, apresento uma boa informação a respeito do verbo viajar: “A etimologia do verbo ‘viajar’ mostra bem uma evolução singular e concomitante com a história das mentalidades. Ele aparece, segundo os etimologistas, por volta de 1430, e o de viajante por volta de 1470. Estes dois termos são derivados da palavra viagem, cujo sentido primeiro é em latim viaticum, que significa via, estrada, caminho. Viaticum designava “um caminho a percorrer” no latim da Gália. Na Idade Média, tinha a dupla significação de peregrinação, périgrinus, peregrinatio ascetica e de cruzada. [...] Não foi senão por volta do século XV que ele tomará a sua forma moderna, ligado notadamente ao desenvolvimento do capitalismo.” Fernandez, Bernard. L’homme et le voyage, une connaissance éprouvée sous le signe de la encontre. Em: Barbier, R. (Org.). Education et sagesse: la quête du sens. Paris: Albin Michel, 2001, p. 10. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “L'étymologie du verbe "voyager" rend bien compte d'une évolution singulière et concomitante avec l'histoire des mentalités. Il apparaît selon les étymologistes vers 1430 et celui de voyageur vers 1470. Ces deux mots sont dérivés du mot voyage dont le sens premier est en latin viaticum qui signifie voie, route, chemin. Viaticum désignait un "chemin à parcourir"dans le latin de la Gaule. Au Moyen Age, le voyage avait une double signification à la fois celle de pélerinage, périgrinus , peregrinatio ascetica et celle de croisade. (…) Ce n'est que vers la fin du XVe siècle qu'il prendra sa forme moderne, lié notamment à l'essor du capitalisme européen.”

3
A este respeito ver: BELZGAOU, Virginie. Les récits de voyage. Paris: Gallimard, 2008.

4
“O gênero viático parece se tornar o concorrente da literatura de ficção. [...] Na medida em que o romance barroco cai em descrédito, e antes do nascimento do romance realista e psicológico, a narrativa de viagem vem ocupar um lugar vago. Seu caráter instrutivo faz dele uma obra digna de ser lida, e vice-versa, ela confere ao romance de viagem, gênero menor na época em que servia de fonte, como Polexandre de Gomberville, novas letras de nobreza lhe conferindo uma autenticidade de documento e uma forma de seriedade científica que a ficção isolada não pode atingir”. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Le genre viatique semble devenir le concurrent de la littérature de fiction. [...] À mesure que le roman baroque tombe en discrédit, et avant la naissance du roman réaliste et psychologique, le récit de voyage vient occuper une place vacante. Son caractere instructif fait de lui une oeuvre digne d’être lue, et vice versa, il donne au roman de voyage, genre mineur à l’époque qui s’en sert comme source, comme Polexandre de Gomberville, de nouvelles lettres de noblesse en lui conférant une authenticité documentaire et une forme de sérieux scientifique que la fiction seule ne peut pas atteindre.” REQUEMORA, Sylvie. L’espace dans la littérature de voyages. Em: Etudes Littéraires, v. 34, nº. 1-2, 2002, p. 251. URL: http//id.erudit.org/iderudit/0075666ar.

5
A este respeito ver: MARTINS, Carlos Alberto Ferreira. Ciudad y Naturaleza. La génesis de los conceptos en Le Corbusier Ciudad y Naturaleza. La génesis de los conceptos en Le Corbusier. Tese de Doutorado. Universidad Politécnica de Madrid, U.P.MADRID, Espanha, 1992. 

6
Este ensaio é a fusão e o remanejamento das seguintes reportagens publicadas pelo autor por ocasião de seu trabalho como corresponde nos Estados Unidos da América: Chaque jour, naît une cité. Chaque jour, meurt un village, publicada no Le Figaro na edição do dia 06 de abril de 1945; La cité, pour nous c’est un passé, pour eux c’est un avenir, publicada no Le Figaro na edição do dia 13 de abril de 1945; e, finalmente, Le passé, ici, ne laisse pas de monuments mais seulement des résidus, publicada no Le Figaro na edição do dia 23 de abril de 1945. A este respeito ver: CONTAT, Michel; RYBALKA, Michel. Les écrits de Sartre. Paris: Gallimard, 1970.

7
A este respeito ver: COHEN, Jean-Louis. Scènes de la vie futur: l’architecture européenne et la tentation de l’Amérique 1893-1960. Paris: Flammarion/Centre Canadien de l’Architecture,1995.

8
Por que, neste caso, faz-se referência a Turquia e não a um outro país dito oriental? “Literariamente, é, no entanto, a Turquia que simboliza nominalmente todos os países orientais. A moda das ‘turqueries’ é assim mais geralmente oriental que propriamente turca.” REQUEMORA, Sylvie. L’espace dans la littérature de voyages. Em: Etudes Littéraires, v. 34, nº. 1-2, 2002, p. 255. URL: http//id.erudit.org/iderudit/0075666ar. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Littérairement, c’est néanmoinsla Turquie qui symbolise nominalement tous les pays orientaux. La mode des “turqueries” est ainsi plus généralement orientale que proprement turque.”

9
O nosso objetivo, neste artigo, não é analisar, propriamente, o texto, mas realizar uma abordagem paralela entre estes e demonstrar como estes textos, justamente por pertencerem ao mesmo gênero literário e a um ambiente cultural semelhante, partilham certos “mecanismos” literários.

10
“Segundo ensinamento sempre atual, a tomada de consciência de um mundo radicalmente outro permanece um obstáculo maior. Como ver o que nunca se pensou? Ver não é reencontrar, pois o ato de ver é ele mesmo tomado em um esquema de representações mentais e culturais que nos impedem de descobrir o que se apresenta à vista. No índio do Novo Mundo Colombo via o Homem do Éden, o mito do bom selvagem, isto é, o nosso alter ego do Gênese.” FERNANDEZ, Bernard. L’homme et le voyage, une connaissance éprouvée sous le signe de la encontre. Em: BARBIER, R. (Org.). Education et sagesse: la quête du sens. Paris: Albin Michel, 2001, p. 08. Tradução nosso do Francês para o Português. No original lê-se: “Deuxième enseignement toujours d'actualité, la prise de conscience d'un monde radicalement autre demeure un obstacle majeur. Comment voir ce que l'on a jamais pensé? Voir n'est pas rencontrer car l'acte de voir est lui même prit dans un schéma de représentations mentales et culturelles qui nous empêchent de découvrir ce qui se présente à la vue. Dans l'indien du Nouveau Monde, Colomb voit l'Homme d'Eden, le mythe du bon sauvage c'est-à-dire notre alter ego dela Gênese.”

11
“Havia pensado muito na América, porque... em primeiro lugar, quando criança, os Nick Carter e os Buffalo Bill me remetiam a uma determinada América, que depois conheci melhor através dos filmes; li os romances do grande período moderno, isto é, tanto Dos Passos quanto Hemingway”. Entrevista concedida a Simone de Beauvoir em 1974. BEAUVOIR, Simone. A cerimônia do adeus seguido de Entrevistas com Jean-Paul Sartre (Agosto-Setembro 1974). Trad.: Rita Braga. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 323.

12
“Le Corbusier, sem dúvida, encontrou pela primeira vez o ‘Oriente’ através da literatura, das narrativas de viagem e de pinturas. Certos autores populares, entre eles Théophile Gautier e Pierre Loti, aparecem com certa frequência em seus escritos. Além disso, as ilustrações em livros de viagens devem ter criados expectativas em Le Corbusier. O seu fascínio pela literatura de viagens e pelos seus meios de comunicação visual se reflete em seu próprio trabalho, por exemplo, no uso de desenhos de Charles Brouty de Casbah argelinos, além dos cartões postais na Ville radieuse.” Çelik, Zeynep. Le Corbusier, Orientalism, Colonialism. Em: Assemblage, No. 17 (Apr., 1992), p. 60. Tradução nossa do Inglês para o Português. No original lê-se: “Le Corbusier undoubtedly first encountered the "Orient" through literature, travel accounts, and paintings. Certain popular authors, among them Theophile Gautier and Pierre Loti, appear time and again in his writings. Furthermore, the illustrations in travel books must have shaped Le Corbusier's expectations. His fascination with travel literature and its visual media is reflected in his own work, for example, by his use of Charles Brouty's drawings of the Algerian casbah in addition to postcards in La Ville radieuse.” A presença de convenções literárias em Viagem ao Oriente também é objeto de argutas análises no seguinte artigo: Vogt, Adolf Max; Donnell, Radka. Remarks on the "Reversed" Grand Tour of Le Corbusier and Auguste Klipstein. Em: Assemblage, No. 4 (Oct., 1987), pp. 38-51. Ainda aeste respeito, cito o nosso autor: “Os jovens turcos tiveram vergonha da simplicidade de seus pais, e quase todas as mesquitas da Turquia, exceto a de Brousse que Loti salvou, receberam a ofensa de uma ornamentação pintada, ignóbil, repugnante e revoltante.” LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 94. 

13
O filósofo francês escreveu, nos Estados Unidos da América, também para o jornal Le Figaro.

14
CONTAT, Michel; RYBALKA, Michel. Les écrits de Sartre. Paris: Gallimard, 1970, p. 147.

15
LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 49. 

16
SARTRE, Jean-Paul. Villes d’Amérique New York, ville coloniale Venise de ma fenêtre. Paris : Éditions du Patrimoine, 2002, p. 39. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Et c’est une déception, lorsque vous arrivez à Wichita, à Saint-Louis, à Alburquerque, à Menphis, de constater que, derrière ces nons magnifiques et prometteurs, se cache la même cité standard, en damier, avec les mêmes feux rouges et verts qui règlent la circulation et le même air provincial. Mais on apprend peu à peu à les distinguer : Chicago, noble et sinistre, couleur du sang qui ruisselle dans ces abattoirs, avec ses canaux, l’eau grise du lac Michigan et ses rues eécrasées entre des buildings patauds et puissants, ne ressemble aucunement à San-Francisco, ville aérée, marine, salée, construite en anphithéatre.”

17
“O Nome proustiano é por si só e em todos os casos o equivalente de uma rubrica inteira de dicionário: o nome de Guermantes cobre imediatamente aquilo que a lembrança, o uso, a cultura podem colocar nele; não conhece nenhuma restrição seletiva, o sintagma em que está colocado lhe é indiferente; é então, de certo modo, uma monstruosidade semântica, pois, dotado de todas as características do nome comum, pode, no entanto, existir e funcionar fora de toda regra projetiva”. Barthes, Roland. O grau zero da escritura. Trad.: Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 149.

18
LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 48. 

19
PEREC, Georges. Espèces d’espaces. Paris: Galilé, 2007, p. 153. Tradução nossa do Francês para o Português, no original lê-se: “Étonnement et déception des voyages. Illusion d’avoir vaincu la distance, d’avoir effacer le temps”.

20
SARTRE, Jean-paul. Villes d’Amérique New York ville, coloniale Venise, de ma fenêtre. Paris: Editions du patrimoine, 2002, p. 23. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Quelles sont les impressions d’Européen lorqu’il débarque dans une cité américaine? D’abord, il se dit qu’on lui a monte le coup. On ne lui parlait que des gratte-ciel, on lui présentait New York, Chicago comme des ‘villes débout’. Or son premier sentiment, au contraire, est que la hauteur moyenne d’une ville des États-Unis est sensiblement inférieure à celle d’une ville française.”

21
LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 60.

22
LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 17.

23
SARTRE, Jean-paul. Villes d’Amérique New York ville, coloniale Venise, de ma fenêtre. Paris: Editions du patrimoine, 2002, p. 31. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Il ne faut pas oublier l’épais ennui qui pèse sur l’Amérique.”

24
No que se refere a França, há uma data paradigmática que inaugura uma nova possibilidade para as classes populares, como na fórmula de Prelorenzo e Picon: “Para a França, é ‘36’, dois números, uma data que ressoa como um programa, um futuro e uma revanche.” PRÉLORENZO, Claude; PICON. L’aventure du balnéaire. Paris: Parenthèses, 1999, p. 09. Os autores se referem à instituição das férias pagas, que transformou operários e pequenos funcionários em turistas.

25
LE CORBUSIER. Viagem do Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 120.

26
La reine Albermale ou le dernier touriste fragments. Paris: Gallimard, 1991, p. 49. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Pris en flagrant délit de tourisme: dans l’anphithéatre Flavien on ne bouffait pas l’homme, on tuait la bête.”

27
LE CORBUSIER. Viagem do Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 88.

28
É seguro que não há sinônimos que coincidam perfeitamente, e é igualmente seguro que a carga afetiva de cada termo não é facilmente traduzível por um outro termo na língua traduzida, e, neste sentido, o “tédio” pode ser considerado uma espécie de “primo pobre” do ennui, cuja utilização na literatura francesa é vasta e riquíssima. A este respeito indicamos a seguinte leitura: O tédio, o eterno retorno, de Walter Benjamin, em: Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.

29
COLOMINA, Beatriz. Privacy and Publicity: Modern architecture as mass media. Cambridge: MIT Press, 2000, p. 93.

30
“A comparação do desconhecido de além mar com o conhecido europeu é também um procedimento clássico. Frank Lestringant emprega a fórmula “mapa mundo em palimpsesto” para qualificar este fenômeno que consiste em comparar o desconhecido ao conhecido. O procedimento não concerne somente aos lugares e aos objetos, mas, igualmente, aos modos observados; ele é recorrente, e mostra os limites da abertura do viajante à alteridade e seu desejo de referencial. Este topos revela quase um reflexo”. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “La comparaison de l’inconnu outre-mer au connu européen est aussi un procede classique. Frank Lestringant emploie la formule “mappe-monde en palimpseste” pour qualifier ce phénomène qui consiste à comparer l’inconnu au connu. Le procede ne concerne pas seulement les lieux et les objets, mais aussi les moeurs observées, il est très récurrent, il montre les limites de l’ouverture du voyageur à l’altérité et son besoin de référent. Ce topos relève quasiment du réflexe” REQUEMORA, Sylvie. L’espace dans la littérature de voyages. Em: Etudes Littéraires, v. 34, nº. 1-2, 2002, p. 260. URL: http//id.erudit.org/iderudit/0075666ar.

31
LE CORBUSIER. Viagem ao Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 84.

32
SARTRE, Jean-paul. Villes d’Amérique New York ville, coloniale Venise, de ma fenêtre. Paris: Editions du patrimoine, 2002, p. 40. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Cette ville se ressemble étonnamment aux grandes plaines de l’Andalouses: monotone quand on la parcourt à pied, superbe et changeante quand on la traverse en voiture.”

33
LE CORBUSIER. Viagem do Oriente. Trad.: Paulo Neves. São Paulo: Cosacnaif, 2007, p. 208.

34
IDT, Genéviève. Sartre au naturel. Em: Les collections de Magazine Littéraire. Março/Maio 2005, nº 07, p. 18. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “En 1983, les écrits intimes de Sartre, ses Lettres et les Cahiers de drôle de guerre, ont paru ressusciter Sartre au naturel! Ou presque, car un écrivaint, selon Sartre, n’a pas de nature! Si jeune et rigolard qu’on le découvre, il joue um rôle encore, évidemment: ‘J’y mettais peut-être un petit peu plus de gaité ou de lyrisme qu’on en aurait mis dasns une lettre écrite à un lecteir quelconque si l’on était pas écrivain.’” 

35
Trata-se do texto New York ville coloniale, escrito para uma revista norte-americana no ano de 1946, e republicado na coletânea Situations III. Sartre. Jean-Paul. Villes d’Amérique New York ville, coloniale Venise, de ma fenêtre. Paris : Editions du patrimoine, 2002, p. 33. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “Je ne savais pas qu’il y eût pour l’Européen fraîchement débarqué un ‘mal de New York’, tout comme il y a un mal de mer, un mal de l’air, un mal de montagne.”

36
Citamos Simone de Beauvoir: “A atenção que prestávamos ao mundo era assaz rigorosamente dirigida pelos tropismos de que falei; éramos capazes, entretanto, de certo ecletismo, líamos tudo o que aparecia; o livro francês que se nos afigurou mais importante foi Le voyage au bout de la nuit de Céline. Sabíamos de cor uma porção de trechos.” BEAUVOIR, Simone de. A força da Idade. Trad.: Sérgio Millet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 138.

37
CELINE, Ferdinand. Voyage au bout de la nuit. Paris: Gallimard, 1952, p. 198. Tradução nossa do Francês para o Português. No original lê-se: “En levant le nez vers toute cette muraille, j’éprouvait une espéce de vertige à l’enevers, à cause des fenêtres trop nombreuses vraiment et si pareilles partout que c’en était ecoeurant.”

bibliografia complementar

BARTHES, Roland. O grau zero da escritura. Trad.: Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

BELZGAOU, Virginie. Les récits de voyage. Paris: Gallimard, 2008.

BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.

ÇELIK, Zeynep. Le Corbusier, Orientalism, Colonialism. Em: Assemblage, No. 17 (Apr., 1992), pp. 58-77.

Les collections de Magazine Littéraire. Março/Maio 2005, nº 07.

SARTRE, Jean-Paul. La reine Albermale ou le dernier touriste fragments. Paris: Gallimard, 1991.

VOGT, Adolf Max; DONNELL, Radka. Remarks on the "Reversed" Grand Tour of Le Corbusier and Auguste Klipstein. Em: Assemblage, No. 4 (Oct., 1987), pp. 38-51.

sobre o autor

Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima, arquiteto e urbanista, Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo, Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, autor do livro: Arquitessitura; três ensaios transitando entre a filosofia, a literatura e arquitetura. Professor Assistente da Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Arquitetura e Urbanismo.

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