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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O artigo teve como objetivo a aplicação da avaliação do ciclo de vida energético (ACVE) em uma habitação, considerando as etapas do berço ao túmulo. Foram avaliados ainda diferentes cenários do consumo de energia operacional.

english
The study aimed to evaluate the implementation of the life cycle energy assessment (LCEA) of a house, in cradle to grave perspective. It was also evaluated different scenarios of operational energy consumption.

español
Este artículo tiene como objetivo aplicar la evaluación de ciclo de vida de energía (ECVE) en una vivienda, teniendo en cuenta los pasos desde la cuna hasta la tumba. Se evaluaron diferentes escenarios de consumo de energía.


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CALDAS, Lucas; PEDROSO, Gilson; SPOSTO, Rosa Maria. Avaliação do ciclo de vida energético (ACVE) de uma habitação. Estudo para diferentes cenários considerando as etapas do berço ao túmulo. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 191.06, Vitruvius, abr. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.191/6012>.

1. Introdução

A construção civil é apontada como um dos setores mais impactantes do ponto de vista ambiental, sendo um dos motivos o elevado consumo de energia de alguns dos materiais empregados e a energia elétrica consumida nas edificações. Devido ao déficit habitacional existente no país, nos últimos anos ocorreu um aumento significativo na produção de habitações, ocasionando maior consumo de matéria prima e energia e consequentemente maior impacto ambiental.

A procura por formas de aumentar eficiência energética nas edificações tem sido assunto frequente na discussão nacional e internacional. Segundo dados do Balanço Energético Nacional - BEN (3), foi observado que as edificações habitacionais brasileiras são responsáveis por um consumo de 24,2% de toda energia elétrica brasileira e que o setor residencial apresentou um crescimento de 6,2% no ultimo ano. Portanto, há a necessidade de pesquisar formas de mensurar o consumo de energia ao longo do ciclo de vida das habitações e propor medidas para a redução deste consumo.

Uma forma de mensurar a energia consumida nas habitações é a avaliação do ciclo de vida energético (ACVE). De acordo com Tavares (4) a ACVE é uma abordagem em que todos os consumos energéticos de um produto ou processo são contabilizados; observa-se a importância do termo energia incorporada dos materiais, resultante dos insumos energéticos necessários para as etapas referentes ao processo de fabricação, transporte e outros insumos indiretos, além da fase de uso, manutenção e disposição final de resíduos, onde também a energia incorporada deve ser mensurada.

Diante disso, este trabalho teve como objetivo a realização da ACVE de uma habitação unifamiliar localizada em Brasília – DF, considerando as etapas de pré-uso, uso e pós – uso (chamado também de berço ao túmulo), por meio do levantamento da energia incorporada total ao longo do seu ciclo de vida.

2. Avaliação do Ciclo de Vida Energético no Setor da Construção Civil

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) pode ser definida como a compilação e a avaliação das entradas e saídas e dos potenciais impactos ambientais de um produto ao longo do seu ciclo de vida, como consumo de energia, potencial de aquecimento global, geração de resíduos, acidificação das águas e etc. (5). A ACV tem sido utilizada para a avaliação do desempenho ambiental de diversos processos e produtos, inclusive aqueles ligados ao setor da construção civil.

Devido à complexidade do estudo de uma ACV e a diversidade de impactos a serem mensurados, muitos estudos tem tido como principal foco a mensuração do consumo de energia ao longo do ciclo de vida das edificações, originando a ACVE (4).

Segundo Sartori e Hestnes (7) as habitações demandam energia em seus ciclos de vida, tanto diretamente como indiretamente. Diretamente na construção, na energia de operação, reabilitação/manutenção e demolição; indiretamente por meio da extração e fabricação de todos os materiais utilizados. Estes autores avaliaram sessenta casos, e concluiram que a energia operacional representa a maior parte da demanda energética em uma habitação durante seu ciclo de vida. A energia consumida na fase operacional está relacionada a iluminação, condicionamento ambiental (ventilação, aquecimento elétrico, utilização de ar condicionado) e aquecimento de água.

Em um estudo de ACVE é importante definir qual será o escopo abrangido, que pode ser do berço ao portão, portão ao portão, berço ao túmulo ou berço ao berço. O termo “berço ao berço” é um estudo que considera desde a extração das matérias-primas até a destinação dos resíduos, quando estes últimos são incorporados à fase inicial de outros processos produtivos, por meio da reciclagem ou reutilização; "berço ao túmulo": quando a ACV é usada para analisar os potenciais impactos ambientais de produtos em todos os estágios do seu ciclo de vida (extração da matéria prima à destinação final); "berço ao portão": se considera o impacto da extração das matérias primas e a manufatura do material, até o momento em que o produto seja finalizado pela indústria; e "portão ao portão": é analisada apenas a etapa que ocorre no interior da indústria ou operação da edificação (8).

São vários os estudos nacionais nesta temática, entre eles: (9), (4), (10), (11), (12), (13), (14) e (15). No entanto, há ainda uma carência de estudos do tipo berço ao túmulo.

Internacionalmente o número de estudos que utilizaram a ACVE aplicada às edificações também aumentou nos últimos anos. Podem ser citados os trabalhos (16), (17), (7), (18), (19), (20), (6), (21), (22), (23) e (24). Na tabela 2.1 são apresentados alguns estudos realizados no Brasil e em outros países com seus respectivos escopos.

Tabela 2.1 Alguns estudos (nacionais e internacionais) realizados na temática de ACVE e edificações [Elaborada pelos autores]

A partir da Tabela 2.1 observa-se que a maior parte dos estudos nacionais engloba principalmente as etapas que vão do berço ao portão e do portão ao portão. Enquanto que para os internacionais o estudo é realizado no escopo do berço ao túmulo principalmente. Tal resultado chama a atenção para o desenvolvimento de estudos mais elaborados, cujo escopo seja mais completo, indo desde a etapa de extração das matérias primas até a destinação final dos resíduos, para desta forma subsidiar a tomada de decisão da forma mais correta, diminuindo a chance de erros a partir da ausência ou emissão de alguma etapa.

3. Metodologia

O método utilizado foi o estudo de caso. O objeto de estudo é uma habitação unifamiliar, localizada em Brasília – DF, com um espaço interno de 45,64 m2, habitada por quatro pessoas. A habitação possui dois quartos, uma sala, uma cozinha, um banheiro e uma pequena área de serviço na parte exterior. O sistema construtivo utilizado é do tipo convencional em concreto armado e alvenaria de vedação de blocos cerâmicos. A fundação é do tipo sapata e com vigas baldrames. Para o inventário do ciclo de vida da habitação foram consideradas as etapas do berço ao túmulo, incluindo as etapas de pré-uso, uso e pós-uso. Foi adotada vida útil da habitação de 50 anos e unidade funcional em metro quadrado da área construída (m²). Na figura 3.1 é mostrada a planta da edificação estudada.

Figura 3.1 Projeto da habitaçãoe studada [Acervo dos autores]

3.1 Etapa de Pré-uso

A etapa de pré-uso, adotada neste trabalho, consistiu na energia gasta na extração e processamento dos materiais e o transporte dos materiais da fábrica até o canteiro. Primeiramente foram levantadas as quantidades dos principais materiais constituintes da habitação, em massa, para a posterior quantificação da energia incorporada. Os fatores de energia (FE) adotados foram retirados da literatura nacional (4), (10), (25), (26).

As perdas, referentes à massa produzida desperdiçada de cada material foram consideradas, em termos de acréscimo de massa e também foram retirados da literatura nacional (27).

As distâncias utilizadas no transporte foram calculadas via Google Maps, considerando o transporte das fábricas até o canteiro de obras, este último localizado em um ponto hipotético da cidade de Brasília – DF. Foi adotada a menor distância encontrada entre as fábricas dos materiais e o canteiro de obras. Foram avaliadas somente fábricas classificadas nos Programas Setoriais da Qualidade (PSQs) ou associações de materiais, como forma de comparar materiais de qualidade semelhante. Foi utilizado o fator de consumo de energia no transporte, apresentado por Nabut Neto (10), de 1,07 MJ/km.ton.

Por fim, não foi considerada a etapa de execução da habitação visto que é uma habitação que demanda pequeno consumo de mão de obra e poucos equipamentos eletrônicos. Os dados utilizados estão apresentados na tabela 3.1.

Tabela 3.1 Levantamento dos materiais, fatores de energia, perdas e distâncias de transporte [Elaborada pelos autores]

3.2 Etapa de Uso

A etapa de uso está relacionada as etapas operacional e de manutenção. O consumo de energia na etapa operacional é resultado da utilização da energia elétrica para o funcionamento dos aparelhos eletrônicos e cocção de alimentos. Neste estudo foi levantado o fator de consumo de energia operacional (FEO) baseado na seleção de aparelhos eletrodomésticos mais comuns em uma habitação de médio padrão, a partir de dados do Procel (28). Os aparelhos escolhidos estão apresentados na tabela 3.2. Foi calculado o consumo de energia mensal, em kWh, que foi transformado no consumo anual, em MJ, e ao final o consumo total, para a vida útil de 50 anos.

Tabela 3.2 Estimativa do consumo de equipamentos elétricos. [Elaborada pelos autores]

Na etapa operacional foram adotados 4 cenários, conforme descritos a seguir:

  • Cenário 1 (cenário de referência - maior consumo): Existência de ar condicionado na edificação e ausência de sistema de aquecimento solar para o aquecimento da água do chuveiro;
  • Cenário 2 (consumo intermediário): Existência de ar condicionado na edificação e presença de sistema de aquecimento solar para o aquecimento da água do chuveiro;
  • Cenário 3 (consumo intermediário): Ausência de ar condicionado na edificação e ausência de sistema de aquecimento solar para o aquecimento da água do chuveiro;
  • Cenário 4 (consumo mínimo): Ausência de ar condicionado na edificação e presença de sistema de aquecimento solar para o aquecimento da água do chuveiro.

A intenção de se estudar cenários para a etapa operacional foi o fato desta já ter sido constatada em outros estudos, como a que mais contribui ao longo do ciclo de vida das habitações (7). Foram selecionados o ar condicionado e chuveiro elétrico pelo fato destes dois equipamentos serem os principais consumidores de energia dentro de uma habitação, quando comparado aos outros equipamentos e por existirem alternativas para a diminuição ou até exclusão deste consumo. Nos cenários 2 e 4 onde foram considerados o sistema de aquecimento solar, foi acrescentado na fase de pré-uso e manutenção a energia incorporada deste sistema, enquanto que nos cenários 1 e 3 este sistema não foi considerado.  A partir da escolha dos equipamentos eletrônicos e com os cenários definidos foram consideradas as seguintes energias operacionais: cenário 1: 418,20 kwh/mês; cenário 2: 346,20 kwh/mês; cenário 3: 289,40 kwh/mês e cenário 4: 217,40 kwh/mês.

Em relação à etapa de manutenção, esta foi obtida pelo cálculo da substituição dos materiais, que dependem do plano de manutenção, onde são estimados intervalos para o procedimento de manutenção. Os intervalos foram adotados com base na NBR 15575:2013 (29) que define uma vida útil de projeto (VUP) mínima para os sistemas da edificação. Os valores adotados e o fator de reposição para 50 anos está apresentado na tabela 3.3. O Fator de reposição foi calculado pela divisão da vida útil adotada e o tempo de substituição. A vida útil do aquecedor solar foi adotada de 20 anos, baseada nas informações coletadas do fabricante. Foi adotada que a estrutura e fundação não receberão manutenção durante a vida útil da habitação.

Tabela 3.3 Determinação do tempo de manutenção e fator de reposição [Elaborada pelos autores]

3.3 Etapa de Pós-uso

Na fase pós-uso foi assumido que toda a habitação (todos os materiais utilizados na fase inicial e de reposição juntamente com as perdas, excluindo o sistema de fundações) é demolida e transportada para o aterro sanitário mais próximo. Na demolição foi considerado o fator de energia de demolição de 0,0284 MJ/kg (4).

Foi adotado o mesmo fator de transporte adotado no transporte dos materiais da fábrica até o canteiro, de 1,07 MJ/km.ton (10). Este fator foi multiplicado pela massa total e pela distância percorrida até o aterro sanitário, que foi de aproximadamente 18 Km. Portanto, a energia incorporada da etapa de pós-uso foi resultante da somatória do consumo de energia da demolição e do transporte dos resíduos até o aterro sanitário.

4. Resultados

4.1 Fase de Pré-Uso

Foi encontrado um valor de 4,85 GJ/m² (cenários sem sistema de aquecimento solar) e 4,91 GJ/m² (cenários com sistema de aquecimento solar) para a etapa de pré-uso. Observa-se uma diferença de apenas 1,23% para o acréscimo do sistema de aquecimento solar.

Outra análise realizada foi a comparação entre participação da massa e da energia incorporada de cada sistema da edificação. Os resultados encontrados estão apresentados na figura 4.1.

Figura 4.1 Comparação da participação da massa e energia incorporada na etapa de extração e processamento dos materiais da edificação estudada [Elaborada pelos autores]

A partir da figura 4.1 nota-se que dependendo do sistema a massa ou a energia incorporada dos materiais exerce maior influência. Os sistemas de fundações, estrutura e vedação vertical apresentam a maior participação em massa da edificação, e por isto apresentaram altos valores de energia incorporada. Já no caso das esquadrias, principalmente as de alumínio, a massa é bastante inferior aos outros sistemas, no entanto a energia incorporada final dos sistemas é elevada, e isto ocorre devido à elevada energia incorporada do alumínio. Portanto, do ponto de vista do consumo de energia os sistemas de estrutura, vedações e esquadrias são os mais críticos.

Foi também analisada a etapa de transporte dos materiais da fábrica até o canteiro de obras e os resultados estão apresentados na figura 4.2.

Figura 4.2 Comparação da participação da massa e energia incorporada na etapa de transporte dos materiais da edificação estudada [Elaborada pelos autores]

A energia gasta no transporte não está relacionada com a energia incorporada dos materiais e sim a massa e a distancia percorrida pelos materiais. Quanto maior forem estas duas variáveis maior será o consumo de combustível e consequentemente maior o gasto de energia relacionada ao transporte. A vedação apresentou o maior consumo de energia relacionado ao transporte devido a maior massa deste sistema, e pelo fato dos blocos cerâmicos, o material de maior massa deste sistema, apresentar uma grande distancia de transporte (917 Km).

O sistema de pisos apresentou maior massa que o de cobertura, no entanto, a distancia média dos materiais do sistema de cobertura foi superior aos materiais do sistema de pisos, de modo que resultou em uma maior energia de transporte para o sistema de cobertura. As esquadrias apresentaram comportamento semelhante ao sistema de cobertura.

4.2 Etapa de Uso

Com base nos cenários especificados foi levantado o consumo de energia na fase operacional, apresentado na figura 4.3.

Figura 4.3 Comparação da energia operacional durante a vida útil de 50 anos para os cenários adotados [Elaborada pelos autores]

Observa-se que o cenário 1 (referência) é o que apresenta maior consumo de energia e, portanto, deve ser evitado. Comparando o cenário 2 e 3, nota-se que o impacto do ar condicionado é maior que o chuveiro elétrico. Já o cenário 4 é o de menor consumo, resultando em uma redução de aproximadamente 35% em relação ao cenário 1.

Em relação à etapa de manutenção foi encontrado um valor de 9,55 GJ/m² (cenários sem sistema de aquecimento solar) e 9,70 GJ/m² (cenários com sistema de aquecimento solar), o que também não apresentou uma diferença considerável, o que justifica a adoção do sistema de aquecimento solar neste tipo de habitação. Na figura 4.4 é apresentada a participação de cada sistema da edificação na energia incorporada referente à etapa de manutenção e a comparação com a energia incorporada referente à etapa de extração e processamento dos materiais.

Figura 4.4 Comparação da energia incorporada entre as etapas de manutenção e pré-uso [Elaborada pelos autores]

É possível observar que o sistema que apresentou maior energia incorporada relacionada à manutenção foi o de pintura. Isto ocorreu devido a menor vida útil adotada, de cinco anos, e ao longo dos 50 anos da vida útil, haverá 10 vezes a repintura da edificação. Somado a isto, a energia incorporada das tintas possui um valor relativamente elevado (61 MJ/kg), o que contribuiu para o resultado apresentado.

A partir dos resultados observados, nota-se a importância de especificar materiais com maior durabilidade e vida útil, a fim de diminuir a necessidade de reposição. Portanto, é necessário atentar para a manutenibilidade (facilidade de manutenção) e a elaboração dos planos de manutenção para ser entregue aos futuros proprietários, diminuindo desta forma a necessidade de reposição dos materiais, sendo que ambas as medidas estão previstas na norma de desempenho (ABNT NBR 15575:2013).

4.3 Ciclo de vida completo

A partir do levantamento do consumo de energia das três etapas (pré-uso, uso e pós-uso), foi calculada a energia incorporada total para os quatro cenários estudados, conforme é apresentado na figura 4.5.

Figura 4.5 Energia incorporada total para os cenários estudados [Elaborada pelos autores]

A energia incorporada total variou de 42,7 GJ/m² (cenário 1) até 33,4 GJ/m² (cenário 4), superior aos valores de 18,6 GJ/m² (4) e 24,7 (21). Portanto, o cenário 4 foi o que apresentou o menor consumo de energia incorporada total, e portanto, o mais indicado do ponto de vista da eficiência energética. Foi verificado que o consumo de energia elétrica do chuveiro é expressivo e, portanto, deve ser incentivado a instalação de sistemas de aquecimento solar. Observou-se que o aumento da energia incorporada nas etapas de pré-uso, manuntenção e pós-uso ocasionado pelo acrescimo do sistema de aquecimento solar foi quase desprezível, quando comparado com a redução da energia da etapa operacional e resultou na redução da energia total.

Em relação a instalação de sistemas de condicionamento ambiental, este pode ser evitado pela melhoria do desempenho térmico da envoltória da edificação, o que não foi abordado neste trabalho. Existem diversas formas de melhorar o desempenho térmico de uma edificação, por exemplo: adição de isolantes térmicos, especificação de materiais de melhor desempenho térmico, sombreamento e outras técnicas da arquitetura bioclimática. No entanto, deve ser avaliado o consumo energético referente as modificações relacionadas a melhoria do desempenho térmico, como foi realizado com o sistema de aquecedor solar, verificando os ganhos ao longo do ciclo de vida da habitação.

A participação da etapa operacional foi a maior, enquanto a etapa de pós-uso foi a menor. Portanto, o foco de políticas de eficiência energética aplicadas ao setor de edificações habitacionais deve ser a etapa operacional. O consumo de energia desta etapa pode ser diminuído pela adoção de equipamentos eletrônicos mais eficientes, como aqueles contendo selo A, do Procel, além dos princípios da arquitetura bioclimática, já discutidos anteriormente.

A etapa de manutenção apresentou uma energia incorporada considerável e em muitos casos não recebe a devida atenção dos projetistas e usuários da habitação, necessitando das medidas descritas anteriormente.

A etapa de extração e processamento dos materiais também foi considerável (15%), portanto, deve ser evitado, nas especificações de projetos, materiais com alta energia incorporada, como por exemplo, o alumínio.

As etapas de transporte e pós-uso foram as que apresentaram menor valor de energia incorporada. Em relação ao transporte deve-se priorizar materiais locais para diminuir as distancias percorridas. Referente a etapa de pós-uso, também deve-se priorizar locais para destinação final mais próximas do canteiro, além de incentivar práticas de reciclagem e reaproveitamento dos resíduos gerados.

5. Conclusões

Foi realizada a quantificação da energia incorporada total ao longo do ciclo de vida de uma habitação localizada em Brasília - DF, considerando as etapas de pré-uso, uso e pós-uso, também chamada de berço ao túmulo.

Conclui-se que a etapa de extração e processamento dos materiais e manutenção são significativas, no entanto, a etapa operacional é a mais impactante em relação ao consumo de energia na habitação estudada. A etapa de transporte e pós-uso se mostram inferiores em relação às outras, no entanto, também merecem atenção para poder minimizar a quantidade de energia incorporada total.

A principal contribuição deste trabalho foi trazer uma análise do consumo de energia ao longo de todo o ciclo de vida de uma habitação, um tipo de estudo que ainda há carência no país. Outra contribuição importante foi analisar o consumo de energia da etapa operacional para quatro cenários, analisando o impacto do consumo de energia do sistema de condicionamento ambiental e chuveiro elétrico. Foi verificado que o cenário 4 (sem ar condicionado e com presença de sistema de aquecedor solar) é o que apresenta menor valor de energia incorporada total (33,4 GJ/m²).

Relacionados aos sistemas da edificação habitacional, o sistema de estrutura e vedação foi o que apresentou maior participação em massa (aproximadamente 55%) enquanto as instalações e sistema de aquecimento solar as menores (aproximadamente 0,1%). O sistema de estrutura e vedações, juntamente com o de esquadrias foi o que apresentou maior energia incorporada para a etapa de extração e processamento dos materiais. Para a etapa de transporte o sistema de estrutura e vedação também apresentou o maior valor. Em relação à energia incorporada da etapa de manutenção, o sistema de pintura foi o que apresentou maior valor.

Os resultados obtidos podem subsidiar dados  para o inventário nacional de ACV, além de poder subsidiar políticas de mitigação do consumo de energia no setor da construção civil, com foco nas habitações unifamiliares.

Por fim, recomenda-se o estudo de outros indicadores relacionados às habitações, como emissões atmosféricas, geração de resíduos, consumo de água e análise do desempenho dos sistemas da habitação, como por exemplo, o térmico e acústico.

notas

1
BRAGA, Darja K. Arquitetura residencial das superquadras do Plano Piloto de Brasília: aspectos de conforto térmico. Dissertação de mestrado. Brasília, FAU UNB, 2006.

2
PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (PROCEL). Avaliação do Mercado de Eficiência Energética no Brasil: Pesquisa na Classe Residencial, 2007.

3
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4
TAVARES, Sérgio F. Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras. Tese de doutorado. Florianópolis, PPGEC UFSC, 2006.

5
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6
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7
SARTORI, I.; HESTNES, A. G, Energy use in the life cycle of conventional and low – energy buildings: A review article. Energy and Buildings. v. 39, p. 249-257.

8
SILVA, Bruna V. Construção de ferramenta para a avaliação do ciclo de vida de edificações. Dissertação de mestrado. São Paulo, Programa de Pós Graduação em Energia USP, 2013.

9
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10
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11
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12
MACIEL, Ana C. Energia incorporada de fachadas ventiladas. Estudo de caso para habitação em Brasília. Dissertação de mestrado. Brasília, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil UNB, 2013.

13
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14
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15
OLIVEIRA, Luciana B. A influência do sistema de fachada viva em manta no ciclo de vida energético de uma residência unifamiliar em clima tropical. Dissertação de mestrado. Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 2015.

16
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17
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18
THORMARK, C. The effect of material choice on the total energy need and recycling potential of a building. Building and Environment, v.41, 2006, p. 1019-1026.

19
HUBERMAN, N.; PEARLMUTTER, D. A life-cycle energy analysis of building materials in the Negev desert. Energy and Buildings, v.40, 2008, p. 837-848.

20
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21
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22
PAUSEN, Jacob S.; SPOSTO, Rosa M. Op. cit., p. 95-102.

23
BASTOS, Joana; et. al. Life cycle energy and greenhouse gas analysis of three buildings types. A residential area in Lisbon, v. 69, 2014, p. 344-353.

24
DEVI L. Pinky.; PALANIAPPAN, Silvakumar. A case study on life cycle energy use of a residential building in Southern India. Energy and Buildings, v. 40, 2008, p. 837-848.

25
WEN, Tong Jia; et. al. Assessment of embodied energy and global warming potential of building construction using life cycle analysis approach: Case studies of residential buildings in Iskandar Malaysia. Energy and Buildings, v. 93, 2015, p. 295-302.

26
CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL (CBCS). Projeto Avaliação de Ciclo de Vida Modular de Blocos e Pisos de Concreto. 2014.

27
ARANTES, Larissa O. Avaliação comparativa do ciclo de vida entre sistemas de aquecimento solar de água utilizados em habitações de interesse social. Dissertação de mestrado. Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, 2008.

28
AGOPYAN, U.E.L; SOUZA, J.C.; PALIARI, A.C. Pesquisa de alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obras. Relatório final–volume 4 – Resultados e análises: aço, concreto usinado e. blocos/tijolos. EPUSP/FINEP/ITQC, 1998.

29
PROGRAMA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (PROCEL). Disponível em: <www.procelinfo.com.br/main.asp?View=%7BE6BC2A5F-E787-48AF-B485-439862B17000%7D>.

30
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais — Desempenho Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013, p. 60.

sobre os autores

Lucas Rosse Caldas é engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e engenheiro ambiental e sanitarista pela Universidade Federal de Goiás. Mestrando em Estruturas e Construção Civil pelo Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília.

Rosa Maria Sposto é engenheira civil pela Escola de Engenharia de São Carlos, mestre e doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo. Professora permanente do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília. Atua em pesquisas na área de sustentabilidade no processo de produção de edificações e de avaliação de ciclo de vida.

Gilson Marafiga Pedroso é engenheiro civil pela Universidade Federal de Santa Maria. Professor do Instituto Federal do Tocantins. Doutor em Estruturas e Construção Civil pelo Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília.

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