Introdução
Como corretamente observado pelos editorialistas da revista Ciudades os estudiosos dos assuntos urbanos da atualidade, pressionados pelas fortíssimas alterações que vêm reconfigurando as cidades contemporâneas, tentam encontrar denominações novas para poderem mais facilmente designar o urbano de hoje. Com isso, os meios urbanos contemporâneos vêm recebendo epítetos os mais diversos, sendo chamados às vezes de métapolis, edge city, postmetrópolis, transurbanism, cidade-eventos e, até mesmo, paisagem de eventos, entre outros. De fato, essas turbulências etimológicas são realmente procedentes tendo em vista que a cidade, como se conhecia, atravessou câmbios tão extraordinários na virada do século 20 para o 21, que certos autores clássicos, como Françoise Choay, falam até do “fim da cidade”, já que a configuração desse ambiente urbanizado somente seria possível reconhecer quando representada sob a forma de fragmentos, dispersos e imersos no vasto reino do que a autora vagamente denomina de o urbano (1). Para outros, já desde o final do século passado notavam-se modificações substantivas no entendimento das cidades, a ponto de provocar do critico Deyan Sudjic a declaração “...the eighties were the decade in which the industrial city finally shook off the last traces of its nineteenth-century self and mutated into a completely new species” (2). Essa nova espécie em mutação exige, então que se providencie um revisitar critico de alguns dos conceitos tradicionais de apoio à teoria urbanística de modo a “...que sigan ofreciendo coherencia a la explicación de nuestros territorios urbanizados” (Convocatoria de artículos a Ciudades 16).
Um desses conceitos – o de centralidade urbana – está felizmente alçado a uma revisitação no presente número de Ciudades. E é sobre um particular entendimento de centralidade como uma rede de lugares urbanos do que iremos nos ocupar no presente artigo. Inicialmente, trataremos de expressar nosso entendimento sobre o conceito de lugar na sociedade contemporânea. Em seguida abordaremos a persistência do conceito de centralidade e as novas correlações espaciais que este conceito passa hoje a conotar, especialmente com a ideia de criação de lugares inventados. E por fim, mergulharemos no fulcro da presente discussão: a centralidade conformada pelos centros em outros lugares.
Centralidade e Lugar
Elegemos do estado-da-arte da Teoria Urbanística duas conceituações que consideramos intrínsecas às discussões aqui contempladas: centralidade e lugar. Ambas enfrentam acentuadas mutações em seus conteúdos, advindas das profundas alterações que experimentam as cidades contemporâneas – consequência diretamente relacionada com as igualmente profundas alterações vivenciadas pela sociedade planetária globalizada de hoje. Interessa, portanto, inicialmente conferir de que maneira vêm se dando essas mutações, além de tentar aprofundar sobre quais são essas mutações, de modo a caracterizar – no campo teórico-conceitual – o que está representando mais expressivamente a urbanização do século 21.
Centralidade
Centralidade talvez seja um dos conceitos mais flexíveis da área de Arquitetura-Urbanismo, já porque é, basicamente, uma noção relativa. Isto porque desde seus entendimentos iniciais destaca-se a característica de que “Centralidade não envolve, necessariamente, uma localização central em termos geográficos, (…)” (3). Reconhece-se no conceito a manifestação de fenômenos espaciais expressos através de diferentes configurações morfológicas, desde a esperada concentração pontual de atividades de centro de cidade marcadas por uma clássica conformação circular, podendo mostrar-se também sob uma disposição axial flanqueando as principais vias de circulação, e acabando por admitir até mesmo uma dispersão territorial fragmentária distribuída em centros fora do centro da cidade – uma composição excêntrica, portanto – de diferentes magnitudes e funcionalidades.
Esta é a visão mais contemporânea de centralidade, ainda que traga, ao mesmo tempo, uma crescente complexidade em termos de alcançar uma materialização mais consolidada quanto à estruturação urbana. É um modelo assim o que marcou muitas das propostas apresentadas na Exposição denominada “Le Grand Pari[s]” (4) apresentada até o início de 2010 em “La Cité de l’Architecture e du Patrimoine”, Palais du Trocadéro, Paris. A Exposição é um convite a reflexões mais substanciais, já que traz ideias de pensadores de base a respeito da realidade parisiense e, o que é ainda mais essencial, a respeito do estado-da-arte da teoria urbanística como um todo. Uma lista extraordinária de arquitetos e urbanistas (5) emite ideias e proposições aplicáveis não só a Paris, como ao que se considera como metrópoles pós-modernas, incluindo todos os conflitos e incertezas inerentes às dispersões e fragmentações ao longo do território urbanizado que costuma caracterizá-las. Na publicação que traz os documentos da exposição, destaca-se um pequeno glossário denominado “Dix mots pour comprendre Le Grand Paris”, organizado pela Comissão Científica de acompanhamento da Consultoria, condensando as terminologias empregadas com mais frequência pelas dez equipes que participaram do evento. Nelas, “centralité”, a centralidade, ficou definida como a capacidade de um espaço de polarizar os espaços próximos, a atrair fluxos e a chamar pessoas, e que se cristaliza configurando-se como um “centro urbano” (ou um “lugar urbano”, acrescentaríamos nós) caracterizado pela maximização da densidade e da diversidade das realidades sociais ali agrupadas, determinando o que se poderia entender como uma intensidade urbana. Coerentemente com as ideias em pauta em nossa pesquisa, até mesmo estações de transbordo, gares e aeroportos “ (…) sont aussi aujourd’hui de possibles lieux centraux, qui rayonnent. Organiser cette centralité multiple et protéiforme est au coeur des projets de la plupart des équipes”(6). Da mesma forma, diversas concepções expostas nos textos dos consultores da exposição são relevantes para emitir nossa conceituação de cidade de centros excêntricos, como o que se quer discutir aqui. Um desses textos deixa isso bastante claro quando fala da intenção de direcionar o planejamento contemporâneo na busca de uma cidade porosa, ou permeável: “une ville poreuse est une ville dense de lieux significatifs” (7). Isso nos remete, então, imperiosamente, a discutir nossa noção sobre lugares, já que os vemos como bem representativos de uma expressão de verdadeira centralidade.
Lugar
Lugar em Arquitetura-Urbanismo pode ser entendido como um conceito que se expressa através da percepção de lugar, que as pessoas sentem nos ambientes aos quais conhecem por suas experiências de vida. Ao fim e ao cabo, lugar é um conceito entendido em seu sentido de denotar uma qualificação que se atribui a um espaço através da percepção de suas potencialidades, objetivas e subjetivas (físicas e psicológicas) para a realização de experiências existenciais. Ou, mais sinteticamente, como gostamos de ensaiar: “As a general rule, one can say that place, in urban-architectural theory, is a created environmental form, imbued with symbolic significance for its users” (8). Convém igualmente incluir entre as significativas modernizações pelas quais passa o conceito de lugar, a ampliação de sua acepção, pois se abre na clássica concepção de lugar como construção social, uma oportuna brecha para explicá-lo também como construção econômica.
Também do estado-da-arte da Teoria Urbanística lembramos que se torna cada vez mais frequente somar-se aos tradicionais lugares formados pelo convívio espontâneo de pessoas, lugares outros, gerados a partir da execução de projetos específicos – projetos idealizados dentro de preceitos que se apresentam sob a denominação de “placemaking” (construção de lugar – fatos ligados à projetação arquitetônico-urbanística), aos quais se juntam ações justapostas conhecidas como “placemarketing” (gerenciamento de lugar – fatos vinculados ao campo da gestão urbanística e da economia urbana) (9).
Outra mudança com importantes implicações no que concerne a lugar na cidade contemporânea tem a ver com a atual conjuntura da urbanização mundial na qual, cada vez mais, as cidades se estendem por seus territórios regionais, estabelecendo, no rastro dessas expansões, fragmentações acentuadas localizadas nos interstícios dessas extensões. Registramos, ainda, a marcante presença da inserção de novas (e, às vezes, extensas) áreas que se estruturam como lugares
“que se apresentam sob as mais diversas configurações: ‘shopping malls’, cenários históricos, restaurantes, locais de entretenimento, complexos esportivos, complexos híbridos, cinemas multiplex, museus, bibliotecas – lugares que copiam qualidades encontradas em outros lugares, ou que criam o que se acredita atribuir qualidade a um espaço urbano” (10).
Aos lugares tradicionais chamamos de “lugares da urbanidade”. Aos lugares inventados chamamos de “lugares da clonagem” (11).
Além do que destacamos da Teoria Urbanística, fomos buscar, do estado-da-arte do Planejamento Urbanístico, duas de suas mais correntes atualizações, ambas claramente conotadas ao papel agora desempenhado pelo conceito de lugar na prática profissional do planejamento.
A primeira, relativa às estratégias de planejamento aponta que estas, hoje, passam a acatar com acentuada ênfase o papel representado pela competitividade entre centros urbanos de modo a torná-los mais atrativos a residentes, empresas e visitantes, passando, para isso, a empregar novos mecanismos de gestão a favorecer parcerias entre atores os mais diversos. Desta forma, conseguem se valer das oportunidades oferecidas pela chamada “economia criativa” (12) através de mecanismos de empresariamento como elemento-chave para reformatar as tradicionais ações de Estado necessárias ao andamento do planejamento urbano.
E a segunda, relativa às táticas de projeto, ressaltando que estas se valem das oportunidades surgidas da crescente interpenetração público-privada hoje encontrada abundantemente na cidade atual, na qual é grande a polissemia entre a significação do que seja espaço público e espaço privado. Cada vez mais, espaços privados se incluem dentro de uma ‘esfera pública’ aonde, independentemente da situação de domínio jurídico, é possível perceber uma intensa apropriação pública. O filósofo francês François Ascher, prematuramente falecido em 2009, já em 1995 demonstrava que se está frente a uma nova maneira de perceber o que é público e o que é privado. Recorda o autor que a percepção de espaço público de um lugar lhe é conferido pelas práticas sociais nele protagonizadas, isto é, o caráter público de um lugar resulta de ali se ter conformado um determinado ambiente comportamental.
Em qualquer caso, seja considerado no âmbito da Teoria Urbanística ou no do Planejamento Urbano,
“Place is a critical component of human welfare for several reasons: (a) It provides a basis for human affiliation; (b) it is the setting for economic development and consumption; (c) it is the locus of political representation; and (d) it is the arena in which public policy acts on people” (13).
Em outras palavras, é nos lugares urbanos que se pode encontrar (e desfrutar) de “urbanidade”, uma qualidade típica e única do ambiente construído pelo ser humano, que merece ser enunciada conceitualmente já no início deste presente trabalho:
“É nosso entendimento que a urbanidade é a qualificação vinculada à dinâmica das experiências existenciais conferidas às pessoas pelo uso que fazem do ambiente urbano público, através da capacidade de intercâmbio e de comunicação de que está imbuído esse ambiente” (14).
Diante disto, não parece necessário recordar a acentuada aproximação entre urbanidade e centralidade.
O centro em outro lugar
O tema do “centro em outro lugar” é amplo e, seguramente, não se esgota em apenas um artigo. Apresenta, além disso, um complicador de extrema complexidade por se constituir em tópico ainda em formação, isto é, sobre o qual ainda não é possível traçar generalizações mais pensadas e, mais ainda, sobre o qual sequer se tenha tentado ousar especulações teóricas capazes de produzir progressos satisfatoriamente elaborados. O que é possível avançar atualmente é de que a menção a centro em outro lugar implicará necessariamente invocar uma série de tópicos afins (e intrincados) envolvendo assuntos bastante diversificados. Por isso, para evitar cair em dispersão, abordaremos apenas dois temas com os quais mantemos razoável familiaridade e que nos são mais instigantes: o da morfologia urbana, ou seja, da forma daquilo que hoje ainda costumamos chamar de cidade (15), mas que agora talvez seja mais prudente denominar apenas o urbano; e o do projeto arquitetônico-urbanístico, isto é, o desenho da cidade, e, nele, obviamente, a questão do desenho da centralidade.
A morfologia do urbano
Uma das representações mais curiosas da forma das cidades foi apresentada pelo arquiteto britânico Cedric Price, que ilustra etapas decisivas a marcar a evolução da urbanização. Ele contrasta as variações morfológicas no desenvolvimento das cidades com as variações nas possibilidades de cozimento do ovo que, para o autor, seriam três: cozido, frito e mexido (16). O ovo cozido é uma metáfora em relação à cidade medieval, onde se encontra uma forte distinção entre o centro e o campo. O ovo frito representa a cidade pós-revolução industrial, após o rompimento dos muros e a continuidade da urbanização acompanhando os fluxos de circulação. O ovo mexido reflete a tendência à dissolução do núcleo central e à crescente permeabilidade em todos os limites, representada por um diagrama composto por fragmentos dispersos sobre uma região urbanizada, pontuada por eventuais concentrações.
Entretanto, a forma urbana contemporânea atingiu uma desconstrução tão fulminante que hoje se fica à frente de uma espécie de tapeçaria metropolitana, onde as três condições estão em todas as partes e ao mesmo tempo, podendo-se destacar a existência de alguns centros urbanos secundários e de algumas esparsas “edge cities” (17). Tal configuração já fez com que a irreverência de alguns autores reconhecesse ainda mais outra modalidade de cozedura do ovo, a frittata (18), onde a forma urbana remeteria a uma espécie de omelete composta por alguns nacos contínuos de solo urbanizado e um conjunto disperso de rupturas, fractais e vazios. Aliás, uma das mais recentes (e bem sucedidas) compilações de pensamentos relativos às formas das cidades está apresentada na publicação denominada “Urban Design since 1945 – A global perspective”, precisamente desse autor, David Grahame Shane. Nela são encontradas reflexões que analisam com boa profundidade os modelos daquilo que Françoise Choay nos brindou com a imprecisão da denominação o urbano. Só que Shane o faz de maneira tão abrangente, que esses disformes ambientes urbanos que tanto têm intrigado um considerável número de autores de nossa área, conseguem ser apresentados em categorias tipológicas que os tornam facilmente reconhecíveis, melhor compreendidos e, relativamente, mais inteligíveis. E, no que concerne ao exame das centralidades urbanas e polaridades territoriais questionadas neste número de Ciudades, representações que tornam mais assimilável a particular morfologia do centro em outro lugar tão característica do urbano atual. Shane destaca certas propriedades que marcam a morfologia das cidades contemporâneas, descrevendo-as através das configurações de metrópole, megalópole, metrópole fragmentada, e megacidade/metacidade.
O modelo da Metrópole descreve genericamente a forma das grandes cidades desde a Antiguidade, revelando um sistema matricial formado por uma privilegiada cidade-mãe central circundada por uma teia de outros núcleos, vilarejos e povoados que penetram pelo hinterland dessas “capitais imperiais”, como ficaram marcadas especialmente as grandes metrópoles europeias. O segundo modelo é o da Megalópole que, segundo Shane, deriva do termo criado pelo geógrafo Jean Gottman quando tentou descrever o imenso salto em escala urbana apresentado pelo incessante crescimento das cidades, semelhante ao que encontrou estendendo-se de Boston a Washington nos Estados Unidos, e que se amoldam como uma enorme constelação de ambientes urbanizados e aglomerados. Emblemático desse modelo seria a aglomeração apresentada pela Tóquio dos anos 1970s, que em breve tempo se tornaria modelar também para as megalópoles asiáticas, entre as quais, Seul e Bangkok. Já a Metrópole Fragmentada (“The fragmented metropolis”) experimenta um desenvolvimento intermitente – praticamente aos saltos – em que a continuidade do crescimento se dá na dependência das oscilações econômicas dos governos metropolitanos, que sofrem com o deslocamento de grandes levas populacionais de contribuintes para locações suburbanas e ex-urbanas. Em decorrência dessas oscilações, junto ao “overspill” (transbordamento) megalopolitano, apresentam-se áreas menores e de controle arquitetônico-urbanístico mais praticável e passível de intervenções que, embora fragmentárias, resultam de maior eficácia. Shane habilmente ressalta a significativa disparidade entre o controle centro-periferia do modelo metropolitano – tipicamente “top-down” (do topo para baixo) – e a confederação de poderes apresentada na megalópole, incluindo organizações não governamentais (ONGs) e controles informais – com tendências de organização “bottom-up” (de baixo para cima) – e a metrópole fragmentada que, finalmente, absorve as modalidades operacionais e as usa simultaneamente. O último modelo salientado por Shane, o da Megacidade/Metacidade (“The megacity/metacity territory”) traz uma virada conceitual bastante drástica por incluir na morfologia dos aglomerados urbanos aquelas áreas “invisíveis” aos planejadores oficiais, passando assim a atribuir forma aos assentamentos informais. A emergência das megacidades decorre do extraordinário crescimento populacional urbano dos anos 1990s, concentrando-se nas novas extensões urbanas tanto formais quanto informais especialmente da América Latina: “Up to 60 per cent of some Latin American megacities of the period were self-built favelas [...] not counted as part of the official city” (19). Também de particular interesse para este artigo, está o registro de que “Such city extensions possessed multiple centres and were built by multiple actors, many of whom built their houses with their own labour” (20). Já no caso das megacidades asiáticas, é importante salientar a inclusão de porções territoriais (21) destinadas a usos agrícolas, reminiscentes das aldeias de onde migraram os moradores. Finalmente, ainda que aparentemente paradoxal, também se incluem no modelo da megacidade de Shane o caso de cidades de países ricos que sofrem diminuições (como Detroit, por exemplo), liberam “brownfields sites” e áreas portuárias. Por seu lado, a expressão metacidade deriva de um constructo estatístico criado para os debates das Nações Unidas a respeito de assuntos de urbanização e globalização.
O desenho da centralidade
No presente item, destinado a abordar considerações relativas a projetos de Arquitetura e Urbanismo, permitimo-nos um rápido atalho para saltarmos diretamente a questões relativas aos projetos da centralidade, tópico mais francamente relacionado à presente discussão.
Hoje já são mais frequentes os estudos que acompanham as manifestações de centralidade em nossa área de conhecimento, mas foram os avanços efetuados na área da Geografia que definiram mais decisivamente o âmbito de debates acadêmicos sobre o tema, especialmente nos agitados anos 1970s e 1980s, auge das operações de planejamento urbano e regional. Dentro das Geografias, surgiram estudos específicos bem particularizados, como os que se desenvolveram no bojo da Geografia do Comércio (22) e da Geografia do Marketing (23). Dentro da Arquitetura-Urbanismo, contudo, os avanços foram consideravelmente mais lentos (e mais comedidos), tendo em vista as substanciais mudanças físicas necessariamente envolvidas no desenho das cidades. Sem muito tardar, as teorias estudadas na geografia começaram a ser transpostas para o urbanismo, sendo uma de suas principais decorrências, as tentativas de aplicação da Teoria dos Lugares Centrais (24) ao planejamento da distribuição dos centros de comércio no interior das cidades. As tentativas iniciais de transposição dos rigorosos postulados daquela teoria ao urbanismo – especialmente aqueles enunciados por Christaller – ocorreram na Inglaterra, onde muitos dos planos para as Cidades Novas já adotavam o desenho de unidades de vizinhança como constituidoras de células estruturais das cidades, contemplando, cada uma delas, a provisão hierarquizada de centros de atividades de serviços comerciais. Nasce nessa época uma era bastante profícua de estudos e pesquisas na geografia, abraçando abrangências específicas com acentuada produção científica, principalmente no Reino Unido, Estados Unidos e França. De atenção especial para o presente documento são os objetivos compartilhados pelas diversas áreas de interesse que passaram a integrar a geografia do comércio, que, via de regra, apontavam para a noção de que o espaço intra-urbano não seria homogêneo e que, assim como na região teórica de Christaller, dentro de uma mesma cidade poderiam ocorrer centros diversos de diferentes naturezas. A esse respeito, assinale-se que tivemos oportunidade de participar de uma aventura científica original ao trabalharmos na avaliação do Plano Diretor de nossa cidade, Porto Alegre, onde detectamos, já em 1977, um conjunto de centros de comércio e serviços fora do centro principal da cidade. Com efeito, são razoavelmente numerosas as pesquisas buscando explicar ou constatar empiricamente o surgimento de centros secundários de comércio nas cidades. As geógrafas Beaujeu-Garnier e Delobez, por exemplo, explicam-no assim:
“Beyond a certain size, the single-nucleus structure of urban commerce is inadequate. So little swarms of commercial activity appear, with several peripheral centers (…) at points of maximum accessibility and traffic movement – at crossroads or where two roads converge; (…) with variations according to the site (…) the density of the peripheral population, the previous presence or absence of villages that already had small shopping centres (…) or the creation of new transport lines” (25).
Destacaremos aqui apenas duas preocupações conceituais de dois teóricos por nos parecerem paradigmáticas para quando o tema “el centro en otro lugar” entra em questão. Uma delas tem a ver com a manifestação implícita do conceito de “placemaking”, que pode ser encontrado nas teorias avançadas por Victor Gruen para os projetos de shopping-centers. A outra contempla a presença também intrínseca de um “placemarketing” perceptível nas ideias de lugar-global de Saskia Sassen. Obviamente, para podermos fazer isso, teremos que preterir a menção a inúmeros outros autores, cruciais para o estudo das centralidades urbanas, muito especialmente daqueles que tratam da distribuição espacial de facilidades e serviços nos meios urbanos. Sendo assim, iremos prescindir até de citar arquitetos como Clarence Stein que, inspirado por projetos de Raymond Unwin, na Inglaterra, introduziu nos Estados Unidos o conceito de unidade de vizinhança, idealizado pelo assistente social Clarence Perry, e que alcançaria enorme repercussão no urbanismo do século XX. Os desígnios de Stein mereceriam destaque por terem contribuído enormemente para fundamentar os estudos de centralidade, já que, para garantir aos moradores um acesso fácil e seguro aos centros dessas unidades de vizinhança, iniciaram-se os primeiros esforços de oficialmente desenhar-se a centralidade. Em seu ideário, as unidades de vizinhança buscavam direcionar as crianças rumo a escolas, embora incluíssem igualmente estratégias projetuais para acentuar a centralidade dos equipamentos e serviços comerciais para atendimento aos moradores das unidades.
Parece-nos muito significativo ressaltar a repercussão que está alcançando atualmente a redescoberta das teorias e projetos de Victor Gruen no milieu arquitetônico internacional. Gruen, por muitos considerado como o criador dos modernos shopping-centers (centros comerciais), teria a particular visão de que os shoppings deveriam extrapolar as funções meramente comerciais, para adquirirem uma conotação de lugar. No entender do arquiteto, os shoppings poderiam “fill the vacuum created by the absence of social, cultural and civic crystallization points in our vast suburb areas” (26), onde fica claramente explicitada a atribuição de centralidade almejada por Gruen a esse novo componente urbano – o shopping-center – cuja criação tem a explícita finalidade de gerar um lugar urbano no contexto da metrópole. Essa intenção – esse desígnio, esse design, esse desenho – estabelece, evidentemente, forte vinculação com os desígnios intrínsecos ao que hoje é conhecido como placemaking.
Gruen tem merecido amplas revisões ultimamente. E não só em relação a sua arquitetura do comércio, mas também na pouco conhecida faceta de sua obra urbanística, na qual é interessante assinalar sua curiosa tentativa de projetar o que denominou de “cellular metropolis”, isto é, “the concept of city growth and development as ‘organic’. . . Gruen’s diagram takes its place among many other planetary city-region diagrams, including, besides Howard’s,(…) Christaller’s Central Place diagrams (1933), and Gaston Bardet’s Cellular build-up of a city (1940)” (27).
Ainda com referência ao desenho da centralidade, a outra observação, também de natureza conceitual, a merecer comentários aqui é a da discutida Saskia Sassen quando, entre suas prestigiadas digressões sobre a cidade global, introduz um aspecto de extrema relevância para qualquer elaboração que se queira fazer a respeito do centro-em-outro-lugar. Fala a autora de que em muitos centros internacionais ainda sobrevive a demarcação de um Distrito Central de Negócios, de certa forma, análogo ao antigo “Central Business District” tão valorizado nas descrições dos geógrafos urbanos dos anos 1970s. Os atuais CBDs, é claro, estariam reconfigurados de acordo com as modernas tendências vigentes nas práticas urbanísticas atuais, isto é, estariam: (a) reconstruídos e revitalizados sobre suas antigas raízes; (b) construídos de maneira inovadora nas recentes expansões suburbanas. Em outras palavras, marcariam indelevelmente a persistência da centralidade nas atuais condições de dispersão e fragmentação urbanas, centralidade esta desenhada e administrada como lugares inventados (28), introduzidos através de estratégias e táticas inerentes a um processo de placemaking complementado por um gerenciamento conduzido por um placemarketing (29).
Conforme Sassen (30), “Today there is no longer a simple straightforward relation between centrality and such geographic entities as the downtown or the central business district” (31). Para a socióloga, que raciocina em termos de uma geografia de lugares dentro da analogia maior de cidades globais, “while centrality can assume multiple spatial correlates, the CBD in major international business centers remains a strategic site”, ao mesmo tempo em que aceita que a centralidade é capaz de se espalhar através da área metropolitana sob a forma de uma rede de nodos concentradores. Em sua visão, ao trazer a metáfora de lugar à análise da globalização econômica, ela é forçosamente levada a reconhecer que “many of the resources necessary for global economic activities are not hypermobile and are, indeed, deeply embedded in place, notably places such as global cities (…)” (32). Por fim, é ainda interessante assinalar que Sassen visualiza até mesmo a cidade global como um lugar – e como um lugar temático – objeto de consumo do turismo urbano: “For the entertainment industry, cities are not only strategic sites for production and coordination but increasingly important sites of consumption. (...)The industry has labeled these places ‘urban entertainment destinations’”(33).
Exemplos bem característicos desses novos centros podem ser fornecidos por cidades maduras, como Nova York e Paris, ou por metrópoles mais recentes, como Brisbane (Austrália). Em Nova York, um dos exemplos mais característicos é o do efetivo renascimento pelo qual passou o distrito central conhecido como Times Square, detentor de uma vasta gama de equipamentos de entretenimento. Em Paris, destaca-se o (agora já) clássico planejamento do distrito de La Défense, no prolongamento do eixo do Champs Elysées, para o qual se encaminharam inúmeras agências do capital financeiro global, conformando um novo CBD. Por seu lado, Brisbane orgulha-se de preservar a denominação CBD para seu coração urbano, criando o nome de “South Bank” para a continuidade daquele CBD, na margem oposta do rio, onde gerou uma urbanização completa e inteiramente nova, um verdadeiro lugar inventado, repleto de atrações financeiras, culturais, cívicas, recreacionais, esportivas e educacionais, que brotam junto a um denso espaço residencial.
Conclusões
Uma das variações mais decisivas em pauta na urbanização contemporânea e que marca bem fortemente a vanguarda urbanística em termos de centralidades urbanas e polaridades territoriais é, justamente, a que se vale da criação de lugares novos, capazes de gerar e manter ativo “el centro en otro lugar”.
A criação desses outros lugares compreende uma gama muito variada de padrões. Como comentado na seção anterior eles podem acontecer: (i) pela recriação de um lugar a partir da reurbanização de um setor derrelito da cidade, como o da Rua 42, no Times Square de Nova York; (ii) pela geração de um lugar novo em eixo de centralidade pré-existente estimulando a formação de um novo nodo no eixo, como o do distrito de La Défense, em Paris; (iii) pela gênese de um novo lugar desenvolvido pela iniciativa de um agente específico, como no caso da “South Bank” em Brisbane, que teve seu Plano Diretor inventado pela “South Bank Corporation”, uma empresa que se apresenta como constituída por “place makers and managers” (“fazedores e gerenciadores de lugares”) (34).
Em nossas atividades de pesquisa, selecionamos um número razoável desses padrões de modo a podermos formular uma hipótese de planejamento e projeto urbanístico adaptável ao enigmático padrão morfológico do que se apresenta como o urbano contemporâneo – ou seja, daquilo que se costumava chamar de cidade. Essa hipótese sugere que se empregue na planificação atual a estratégia de diversificar a centralidade através da oferta de uma rede estruturada de lugares urbanos – recriados ou criados (35), compreendendo tanto lugares de urbanidade tradicionais como lugares clonados nessa urbanidade.
A cidade dos centros excêntricos
Na organização de textos, aulas, conferências e apresentações públicas temos nos orientado por tentar identificar relações entre a prática arquitetônico-urbanística percebida no cotidiano das cidades contemporâneas, e as diversificadas manifestações materiais do conceito de lugar, concretizadas através de ações de placemaking e gerenciadas por meio de táticas de placemarketing. Metodologicamente, isso vem se tornando praticável graças a um processo de investigação científica que procura reconhecer e registrar relações que se estabelecem entre os lugares e as categorias de análise possíveis de distinguir como mais pertinentes às possibilidades de serem gerados novos lugares urbanos. As experimentações metodológicas têm dado margem ao lançamento de uma listagem de categorias analíticas trazendo muitos dos elementos urbanos que se incluem nos repertórios arquitetônico-urbanísticos das cidades contemporâneas. Nessa listagem, alguns elementos se destacam como previsíveis, como aqueles criados para reproduzir as atividades de um CBD tradicional fora do centro histórico (e que buscam instituir uma decidida heterotopia no contexto urbano-metropolitano); da mesma forma, aqueles constituídos pelos grandes centros de compra (36) em localizações fora-do-centro também são bastante prováveis de determinar novos lugares; assim como os que introduzem “marcas” persistentes no tecido urbano, como os monumentais exemplares de arquitetura icônica, normalmente atribuídos aos chamados super-arquitetos estelares (ou “starchitects”); enfim, a elementos urbanos fortemente associados a eventos ligados a fenômenos de História, Simbolismo, Turismo e Cultura de modo geral.
A listagem que já elaboramos não para por aí e está nos levando a proposições teórico-conceituais tentativamente inovadoras, às quais temos reunido sob a denominação de Arquitetura do Lugar, que é como se chama a disciplina que ministramos nos cursos de mestrado e doutorado em Arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; e no Mestrado Integrado Uniritter-Mackenzie; ambos em Porto Alegre. Por Arquitetura do Lugar, obviamente, entendemos o arranjo de elementos espaciais estruturados de forma organizada no ambiente construído, levando à identificação de um lugar pela população que nele desfruta de experiências carregadas de urbanidade.
Na continuação, deixaremos indicados alguns exemplares extraídos de cidades de todo o mundo e que representam, com boa legitimidade, a ideia da estruturação de centros terciários convenientemente distribuídos ao longo da extensão territorial das cidades contemporâneas. Ou seja, da cidade dos centros excêntricos. Claro, embora se trate de uma prefiguração hipotética, as evidências ilustradas já se fazem acompanhar por uma convincente efetivação dessas hipóteses, salientando as relações entre lugar e categorias analíticas selecionadas, tendo já se tornado bastante expressivo o número de evidências a demonstrar, na realidade urbana de hoje, a manifestação de centralidades subsidiárias.
A Arquitetura do Lugar
As relações que se estabelecem entre a gênese de lugares novos nas cidades contemporâneas e as categorias de análise que vimos selecionando em nossos trabalhos de pesquisa apontam para uma “arquitetura de lugar” apresentando inúmeras variações tipológicas. Essas variações podem ocorrer, por exemplo, pela criação de CBDs inteiramente novos situados em expansões territoriais e afastados dos núcleos mais antigos e consolidados da cidade, como em Canary Wharf (Londres) no Projeto Docklands. Ou na reurbanização de um velho CBD de localização tradicionalmente cêntrica, como na PotsdamerPlatz, em Berlim. Assim como pode também ocorrer pela criação de lugares situados em localizações estratégicas da cidade, geralmente marcadas por acessibilidades mais fortes, como em cruzamentos viários ou nas cercanias de estações de transbordo do sistema de transporte público, do quê, Dongdaemun, em Seul (Coréia), de Zaha Hadid, seria um exemplo adequado. Ou podem coincidir com as localizações de shopping centers em todas suas variadas tipologias, desde o popular “retail outlet” ao mais sofisticado e elitista dos shoppings de grife, como o de Westfields, no distrito olímpico de Stratford, em Londres. Podem estar representados por edificações de arquitetura icônica introduzidas em antigas estruturas urbanas consagradas, passando a inserir fragmentos que rapidamente se contextualizam ao tecido urbano consolidado, entremeando-se a ele através da forte simbologia de que estão imbuídos, como é notório o caso do museu Guggenheim em Bilbao, de Frank Gehry. E podem igualmente fazer parte de intervenções icônicas situadas em expansões territoriais, em promoções imobiliárias inteiramente inéditas, normalmente acompanhadas pelos lançamentos de grandes complexos multiusos, como no empreendimento da Rossi, em Porto Alegre (Brasil), uma reurbanização de um antigo “brownfield” industrial; assim como no Xin Tian Di de Xangai; ou de áreas históricas esvaziadas, como no Port Veill de Barcelona, talvez o lugar inventado mais emblemático que se conhece na atualidade. Enfim, são concentrações que parecem enquadrar-se corretamente nas condições assinaladas no que Mario Paris (37) considera ser uma “Urbanistica dei Superluoghi”, composta por lugares de consumo da sociedade pós-moderna.
A nova vida pública contemporânea
A forma urbana contemporânea atingiu uma desconstrução tão assustadora que hoje, ao olhar-se para a cidade, se fica frente a uma espécie de tapeçaria metropolitana marcada por um abstracionismo quase expressionista. Mesmo assim, a probabilidade aqui discutida, da evolução de uma tendência voltada ao planejamento de uma rede estruturada de lugares urbanos, desenhados de acordo com os cânones de uma eventual arquitetura de lugares – que hoje já se insinua como emergente – deixa em aberto uma nova linha de investigação para os estudiosos das cidades. Pois, embora ainda de modo geral já se possa observar que lugares inventados estão sendo chamados a ocupar um papel preeminente no oferecimento de centros excêntricos nas cidades de hoje, essa hipótese permite especular-se que uma boa oportunidade para planejar o espaço megalopolitano de muitas cidades globais pode vir a ser o de adotar o diagrama de uma rede multicêntrica de lugares.
De qualquer forma, como anteriormente observado no texto, ainda não é possível traçar generalizações mais pensadas a respeito de representações sobre a particular morfologia do centro em outro lugar – uma morfologia tão característica do urbano atual – pois estas ainda não estão suficientemente consolidadas. Vimos, igualmente, que contribuições recentes, como a oferecida por David Shane, trazem alguns caminhos que ajudam a formular diretrizes metodológicas para estudar essas manifestações de centros excêntricos, especialmente a partir de propriedades mostradas na morfologia de cidades contemporâneas, como as que se representam pelas configurações de metrópole, megalópole, metrópole fragmentada, e megacidade/metacidade.
Talvez pelo que foi discutido acima se explique a inegável acolhida que neste trabalho concedemos ao modelo da metrópole fragmentada, já que é esse o modelo que melhor contribui para ilustrar como
“Urban design theorists like Colin Rowe and Fred Koetter had anticipated the breakdown of the metropolis and megalopolis in their Collage City (1978), which examined the combinatorial logic of a city of urban fragments – some historic, some modern, some postmodern – themed to accommodate urban actors´ dreams, like Disneyland” (38).
Com efeito, muitos desses sonhos dos atores urbanos podem se tornar reais através das materializações de utopias, fenômeno com bom potencial de ser atendido pela criação de lugares fantasiosos saídos das pranchetas dos “placemakers” (criadores de lugares) e gerenciados por “placemarketers” (administradores de lugares), estimulados pela ideia de clonar condições ambientais ideais.
Por outro lado, presentemente já é mais do que sabido que frente à força das alterações morfológicas do urbano atual, os arquitetos continuarão necessitando alternativas projetuais que os auxiliem a “face the challenge of shaping public space – from piazza to Plaza. Indeed, architects are actively searching for answers to these questions, for new forms in which to house contemporary public life” (39). É bem possível que, nesse sentido, um dos caminhos que se abrem para os arquitetos e urbanistas seja o de buscar configurar as cidades – ou melhor, as regiões urbanizadas, o urbano – dentro de padrões que busquem oferecer, ao longo de todo o território, uma rede estruturada de lugares, ou seja, buscar oferecer centralidade sob a perspectiva da visão contemporânea do conceito de lugar. Confirmar-se-ia, assim, a bem-sucedida ideia de Victor Gruen, confirmando-se também que essas novas centralidades excêntricas poderiam muito bem ser supridas pela introdução de lugares clonados (40) inseridos na estrutura das cidades.
E isso, por fim, viria aparentemente confirmar o que nos aconselhava François Ascher em seus inesquecíveis tratados sobre o que seria o bom urbanismo no século XXI: “les acteurs peuvent de plus em plus choisir leurs lieux, le néo-urbanisme doit séduire. Il s´efforce de proposer une sorte de ville à la carte, qui offre des combinaisons variées de qualités urbaines”(41).
notas
NE – O presente artigo foi publicado em 2013 no volume 16 do periódico espanhol CIUDADes editado pelo Instituto Universitário de Urbanística de la Universidad de Valladolid, número dedicado ao tema: “¿El Centro en Otro Lugar? Centralidades Urbanas, Polaridades Territoriales”. Em 2014 concorreu e venceu o prêmio de “Melhor artigo científico” publicado em periódico nacional e internacional no período entre 01 de maio de 2012 e 30 de abril de 2014. A premiação ocorreu em São Paulo, SP, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, durante a abertura do III Encontro Nacional da ANPARQ, em 20 de outubro de 2014.
1
CHOAY, Françoise. “Le Règne de l’Urbain et la Mort de la Ville” en La Ville. Art et Architecture. Catálogo da exposição. Centre George Pompidou, Paris, 1994, pp. 26-35.
2
SUDJIC, Deyan. The 100 Mile City. San Diego/Nova York: Harvest Original, 1993, p.5.
3
CASTELLO, Iára Regina & CASTELLO, Lineu. Um Estudo de Centralidade Intra-urbana em Porto Alegre para a Reavaliação do Plano Diretor. Porto Alegre: UFRGS/Proplan,1978, p.3.
4
O nome escolhido permite a dupla leitura das palavras pari (isto é: uma aposta, um jogo, um desafio) e Paris (a metrópole parisiense, a Grande-Paris).
5
Entre os nomes da starchitecture (ou, “arquitetos estelares”) mundial, registre-se, por exemplo, Richard Rogers, Christian de Portzamparc, Jean Nouvel, Bernardo Secchi e Paola Vigano, Winy Maas (de MVRDV).
6
“são hoje também possíveis lugares que se irradiam. Organizar essa centralidade múltipla e multiforme está no âmago dos projetos da maior parte das equipes”. amc Le Moniteur Architecture Le Grand Pari[s]. Consultation Internationale sur l’Avenir de la Metropole Parisienne. Paris: Groupe Moniteur, 2009, p.256.
7
“uma cidade permeável é uma cidade densa em lugares significativos”. amc Le Moniteur Architecture, 2009, p.173.
8
“Como regra geral pode-se dizer que lugar, na teoria arquitetônico-urbanística, é uma forma ambiental criada, impregnada de significado simbólico para seus usuários”.
CASTELLO, Lineu. Place, em Roger CAVES (ed.) Encyclopedia of the City. Londres/Nova York: Routledge,2005, p.350.
9
CASTELLO, Lineu. Rethinking the Meaning of Place. Conceiving place in architecture-urbanism. Londres: Ashgate, 2010.
10
CASTELLO, Lineu. A Percepção de Lugar. Repensando o Conceito de lugar em Arquitetura-Urbanismo. Porto Alegre: PROPAR/UFRGS, 2007, p. 1.
11
O uso dessa palavra tão provocativa – clonagem (“cloning”) – é feito para ressaltar que nos meios urbanos contemporâneos, aos lugares da urbanidade, as cidades agora incorporam lugares criados com o intuito de “clonar” a urbanidade manifesta espontaneamente nos lugares tradicionais.
12
FLORIDA, Richard. Who´s Your City? How the creative economy is making where to live the most important decision of your life. Nova York: Basic Books, 2008.
13
“Lugar é um componente crítico do bem-estar humano por diversas razões: (i) Provê uma base para congraçamento humano; (ii) é cenário de desenvolvimento económico e de consumo; (iii) é um lócus de representação política; e (iv) é a arena onde as políticas públicas atuam no povo”. FAINSTEIN, Susan. The City Builders. Property Development in New York and London, 1980-2000. 2ª ed. Lawrence, Kansas: The University Press of Kansas, 2001, p.202.
14
CASTELLO, Lineu. A Percepção de Lugar. 2007, p.29.
15
E nunca é demais recordar que o nome da famosa pesquisa incentivada por Rem Koolhaas foi, originalmente, “The Project for What Used to be the City” (“Projeto do que costumava ser a cidade”) e somente mais tarde é que passou a ser chamada simplesmente de “Project on the City”.
CHUNG, Chuihua; Jeffrey INABA; Rem KOOLHAAS; Sze Tsung LEONG (eds.). Project on the City 2. Harvard Design School Guide to Shopping. Colônia: Taschen, 2001.
16
CASTELLO, Lineu. Rethinking the Meaning of Place. 2010, p.97.
17
GARREAU, Joel. Edge City. Life on the New Frontier. Nova York: Anchor Books/Doubleday, 1992.
18
SHANE, David Grahame. Urban Design since 1945, A global perspective. Chichester: John Wiley & Sons, 2011, p.40.
19
“Perto de 60 por cento de algumas megacidades latino-americanas do período eram favelas autoconstruídas [...] não contabilizadas como parte da cidade oficial”.
SHANE, David. Grahame. 2011, p.256.
20
“Essas extensões da cidade possuíam centros múltiplos e foram erguidas por múltiplos autores, muitos dos quais construíram suas casas com suas próprias mãos”.
SHANE, David. Grahame. 2011, p.256.
21
Algumas vezes chamadas desa-kota (híbrido de cidade e campo), como na Indonésia.
22
Ver, por exemplo: BERRY, Brian J.L. Geography of Market Centers and Retail Distribution. Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1967. SCOTT, Peter. Geography and Retailing. Londres: Hutchinson, 1973.
23
Ver, por exemplo: DAVIES, Ross. Marketing Geography. Londres: Methuen, 1976. DAWSON, John. The Marketing Environment. Londres: Croom Helm, 1979.
24
A Teoria dos Lugares Centrais aplicada às atividades de comércio e serviços foi praticada pelo geógrafo Walter Christaller e pelo economista August Lösch, ambos alemães, nos anos 1930s. Seus estudos se deram na escala regional das cidades.
25
“A partir de certo tamanho, a estrutura do comércio em um único núcleo é inadequada. Assim, uma multidão de pequenas atividades comerciais começa a surgir, gerando vários centros secundários (...) em pontos de máxima acessibilidade e de tráfego intenso – em cruzamentos ou no encontro de duas avenidas; (...) variando de acordo com o sítio (...) a densidade periférica de população, a presença ou ausência prévia de vilarejos que já possuíam pequenos centros de comércio (...) ou a criação de novas linhas de transporte”. BEAUJEU-GARNIER, Jacqueline & DELOBEZ, Annie. Geography of Marketing. Tradução: S.H.Beaver. Longman: Londres e Nova York, 1979, pp.171-2.
26
“preencher o vazio criado pela ausência de pontos de cristalização social, cultural e cívica em nossas vastas extensões suburbanas”.
WALL, Alex. Victor Gruen. From Urban Shop to New City. Barcelona: Actar, 2005, p.56.
27
“metrópole celular, isto é, (...) o conceito de crescimento e desenvolvimento urbano ‘orgânicos’ (...) O diagrama de Gruen acontece em meio a muitos outros diagramas planetários de cidades-regiões, incluindo, além do de Howard, (...) os diagramas de Lugar Central de Christaller (1933), o da construção social Celular de cidade de Gaston Bardet (1940)”.
WALL, Alex, 2005 p.204.
28
CARMONA, Matthew; HEATH, Tim; OC, Taner; TIESDELL, Steve. Public Places - Urban Spaces. Oxford (Reino Unido): Architectural Press, 2003.
29
CASTELLO, Lineu. A Percepção de Lugar, 2007.
30
SASSEN, Saskia. The Global City: Introducing a Concept and its History in KOOLHAAS R. et al. Mutations. Bordeaux, França: ACTAR-Arc en Revê Centre d’Architecture, 2001 p.110.
31
Hoje não há mais uma simples relação direta entre centralidade e essas entidades geográficas como o centro histórico ou o distrito central de negócios.
32
“enquanto centralidade pode assumir variadas correlações espaciais, o CBD nos maiores centros internacionais de negócios permanece como lugar estratégico (...) (...) muitos dos recursos necessários para as atividades econômicas globais não são hiper-móveis e são, na verdade, profundamente ancorados em um lugar, especialmente em lugares como as cidades globais”.
SASSEN, 2001 p.108.
33
“Para a indústria do entretenimento, cidades não são apenas lugares estratégicos para produção e coordenação, mas, crescentemente, importantes lugares de consumo (...). A própria indústria já alcunhou esses lugares como ‘destinos de entretenimento urbano’”.
SASSEN, Saskia & ROOST, Frank. “The City. Strategic site for the global entertainment industry” in Dennis JUDD & Susan FAINSTEIN (eds.), The Tourist City. New Haven e Londres: Yale University Press, 1999, p.147).
34
Ver <http://www.southbankcorporation.com.au/our-heritage-and-milestones>.
35
Evidentemente, a oferta de centralidade através da estruturação dos lugares numa rede de policentralidade implicará na cuidadosa provisão de uma infraestrutura de transportes que ofereça uma permanente mobilidade e interligação, favorecendo o franco fluxo entre os lugares dessa cidade de centros excêntricos. Uma iniciativa nesse sentido já foi apresentada em propostas ligadas à corrente norte-americana chamada “New Urbanism”, que oferece os chamados TOD – Transit Oriented Developments. Ver, por exemplo: CALTHORPE, Peter & FULTON, William. The Regional City. Washington: The Island Press, 2001.
36
Ou, simplesmente “shopping”, como um novo substantivo masculino já integrado ao léxico do idioma Português falado no Brasil e fartamente assimilado na linguagem cotidiana popular.
37
PARIS, Mario. Urbanistica dei Superluoghi. Esternalità territoriali, economiche e sociali dei luoghi del consumo della società post-moderna. Milão: Maggioli, 2009.
38
“Teóricos do desenho urbano, como Colin Rowe e Fred Koetter, já haviam antecipado o desmembramento da metrópole e da megalópole em seu livro Collage City (1978), que examinou a lógica combinatória de uma cidade de fragmentos urbanos – alguns históricos, alguns modernos, alguns pós-modernos – tematizados de modo a acomodar os sonhos de atores urbanos, como numa Disneyland”.
SHANE, 2011, p.28.
39
“enfrentar o desafio de configurarem espaços públicos – desde uma pequena piazza até uma grande Plaza. De fato, os arquitetos estão ativamente buscando respostas para essas questões, buscando novas formas onde alojar a vida pública contemporânea”.
AVERMAETE, Tom; HAVIK, Klaske; TEERDS, Hans (eds.). Architectural Positions. Architecture, Modernity and the Public Sphere. Amsterdam: SUN Publishers, 2009, p.19.
40
CASTELLO, Lineu. Rethinking the Meaning of Place. England/USA, Ashgate e-Book, 2010.
41
“os atores podem cada vez mais escolher seus lugares, o novo-urbanismo deve seduzir – ser sedutor. Deve se esforçar por propor uma espécie de ‘ville à la carte’, que oferece combinações variáveis de qualidades urbanas”.
ASCHER, François. Les Nouveaux Principes de l´Urbanisme. Paris : Éditions de l´Aube, 2001 p.94.
sobre o autor
Lineu Castelo é arquiteto, professor titular e doutor PROPAR, programa de pesquisa e pós-graduação em arquitetura, universidade federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; e mestrado integrado Uniritter/Mackenzie, Porto Alegre/São Paulo, Brasil. Bolsista CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.