“A arquitetura é o meio mais simples de articular tempo e espaço, de modular a realidade, de fazer sonhar. Não se trata apenas de articulação e de modulações plásticas, expressão fugaz da beleza. Mas de modulação influencial, que se inscreve na eterna curva dos desejos humanos e do progresso na realização desses desejos” (1).
Gilles Ivain
1. Homo tegumen
Caro leitor, seja bem-vindo ao primeiro registro oficial sobre o Homo tegumen (2). Meu nome é Anon, mas pode simplesmente me chamar de A. Sou também um Homo tegumen vivendo na cidade de Metus (3). Não fui um dos primeiros e espero não ser um dos últimos. Ninguém nunca antes na história, além de cientistas e pesquisadores que estudam esse tema, havia feito qualquer tipo de documentação desde o surgimento da nossa espécie. Sendo assim, senti uma enorme necessidade em expor algumas reflexões e pesquisas que realizei durante minha formação como Arquiteto e Urbanista da Universidade de Metus – UM. São poucos de nós que procuram tal especialização e você entenderá em breve o porquê. Através deste documento, que se mostra quase como um manifesto, exponho essa necessidade que partiu de perceber que nossa espécie está inserida em um conflito urbano.
Antes de mais nada, se faz necessário explicar algumas coisas mais básicas sobre nós, sobre quem somos, como vivemos e como é a nossa relação com nossos próprios corpos. Surgimos no contexto urbano atual por necessidade, mais do que por um mero acaso. Mas necessidade de que? O que faria com que uma mutação genética ocorresse, passasse pelo processo de seleção natural e obtivesse sucessão entre os seres humanos? Uma resposta biológica a alguma condição ameaçadora? Os espaços que habitamos? A própria cidade em que vivemos? Inicialmente, lanço aqui estes questionamentos, pois são essenciais e procurarei diluí-los ao longo deste documento. Ademais, sugiro começarmos com uma breve contextualização.
Uma nota geral sobre a biologia do H.t. (4). Sabe-se que o organismo humano é composto por uma trama de tecidos que formam os órgãos e sistemas do corpo. Este possui uma camada protetora externa denominada tegumento, constituída basicamente de pele e alguns anexos como unhas, pelos, cabelos, glândulas sebáceas, sudoríparas e mamárias. A pele é um órgão formado por dois tecidos distintos: tecido epitelial, mais externo, e tecido conjuntivo, mais interno. Os tecidos epiteliais têm como uma das suas principais funções o revestimento de todas as superfícies externas e internas. Já os tecidos conjuntivos têm um papel mecânico que conecta e liga as células e órgãos, sendo responsáveis pelo estabelecimento e manutenção da forma do corpo.
No Homo sapiens, a principal função da pele é a de proteger o organismo contra a entrada de corpos estranhos. Já no H.t., além de proteger o corpo, a pele tem a função de abrigá-lo. Imagino que esteja surpreso com essa constatação, mas não se espante, explicarei mais à frente o que quero dizer com isso. Por enquanto, entenda que três camadas compõem a nossa pele: a derme (mais interna), a epiderme (meio-externa) e a extraderme (mais externa). Esta é a característica determinante dos indivíduos da nossa espécie e que exerce a função de abrigar o corpo.
Cientistas ainda estudam exaustivamente o funcionamento do corpo do H.t. O que se sabe até então é que a extraderme possui uma constituição peculiar de um tipo de células expansivas, as quais dilatam e descolam facilmente da epiderme, formando um invólucro de pele ao redor do corpo com espessura de 0,8 mm a 1,4 mm. Nesse processo de descolamento, existe um tipo de líquido que o corpo expele através da pele, intimamente relacionado aos seus estados de afeto, que auxilia na dissolução do estrato disperso. Este é uma superfície muito fina (cerca de 0,1 mm) que mantêm unidas a extraderme e a epiderme. Assim, a pele se solta, iniciando seu processo de expansão. Essa superfície de pele consegue permanecer assim, expandida, por alguns dias, e tem seu tecido regenerado no corpo em algumas horas. Como qualquer troca de pele, a antiga se deteriora e dá lugar à outra, nova e mais resistente.
O envoltório de pele expandido pode ser moldado facilmente para se adaptar às necessidades do indivíduo e ao espaço que irá ocupar, endurecendo até certa medida, sem perder suas capacidades elásticas e flexibilidade. Pode ainda resistir a agentes externos, como chuva ou raios solares. É opaca, auxiliando no controle da permeabilidade visual e entrada de luz. Além disso, as terminações nervosas do corpo não alcançam a extraderme e, mesmo que isso não diminua a sensibilidade do corpo em nenhum grau, evita o contato direto da epiderme com o ambiente externo. Algumas pesquisas realizadas recentemente por cientistas pesquisadores da UM comprovaram que a extraderme é muito mais resistente que a epiderme.
Fisicamente, essa é a grande diferença entre nós e o Homo sapiens. O restante da constituição dos corpos permanece idêntica. Aparentemente, o H.t. não apresenta diferenças tão absurdas em relação ao seu parente genético direto, mas diria que não é tão simples quanto parece. Para que você entenda, procurarei então explorar um pouco mais a fundo algumas questões relacionadas ao corpo, à pele, ao desejo e à cidade em que vivemos.
2. Pele, Corpo (((e))) Desejo
Bom, agora você já pode se considerar um especialista em H.t. Sabe como funciona nosso corpo e nossa pele, mas eu gostaria de ir um pouco mais a fundo e partir para outras interpretações da nossa maneira de viver e habitar a cidade. Partindo do que vimos anteriormente, é possível elaborar um imaginário mais amplo de relações entre a pele e o corpo, não se limitando a uma camada externa que reveste e encerra toda sua superfície. Eu diria que nossa pele pode ser muito mais do que isso.
Acredito que no universo de cada ser humano existem cinco peles envolvendo seu corpo: a epiderme, a roupa, a casa, a sociedade, e a natureza (5). Esses cinco estratos variam de acordo com sua dimensão e abrangência das relações do indivíduo com o mundo externo. Essa teoria explora as várias possibilidades de escala e simbologia dos espaços que abrigam o corpo, relacionando-os com a pele. Pode-se, a partir disso, ampliar a ideia do que é arquitetura, partindo para conexões bem maiores do que simplesmente a arquitetura como escala do privado ou o urbanismo do ordenamento da cidade. Dessa forma, podemos enxergar a arquitetura de uma forma menos estratificada, mas em outros âmbitos que apresentam grande relação entre si, na pele, na roupa, na casa, no meio social e no planeta Terra (6).
A extraderme atua então como nossa própria pele biológica, mas ainda como nossa roupa e nossa casa. Três peles em uma. Condensa-se três possibilidades em uma única arquitetura: a partir do corpo e para o corpo. Pele enquanto órgão externo do próprio organismo, grudada ao corpo antes de expandir. Roupa por cobrir o corpo e proteger do meio externo as suas camadas mais internas. Casa por expandir e fixar-se em um determinado território, mesmo que por um tempo determinado. Graças a essa relação tão íntima que tenho com o meu corpo-arquitetura através da minha pele, consigo enxergar mais facilmente que a arquitetura ultrapassa a simples noção da arte de ordenar o espaço. Esta definição, por sua vez, parece limitante por si só e alimenta uma noção de vida hiperestratificada e, por consequência, alienante.
Da mesma forma, se quisermos ilustrar um comparativo, a pele do Homo sapiens protege seus órgãos internos. Sua roupa o veste e se molda à sua forma corporal. Antes de adquirir uma peça de vestuário, por exemplo, é muito comum experimentar tal peça e analisar a maneira como ela se encaixa e se adéqua ao corpo (7). O espaço construído é moldado para se fixar em um território e criar abrigos sedentários. No caso do H.t., nossas comunidades se fazem e desfazem à medida que necessitamos nos mover e migrar para outros lugares. No caso do Homo sapiens, que preza pela construção de estruturas fixas e imóveis, um nível de efemeridade mascarado por uma maneira menos ativa de levar a vida.
A extraderme expandida se conforma como abrigo. Então, qual seria a função das roupas e das edificações para nossa espécie? De muito pouco valor, considerando a forma como são: estáveis, fixas, duras, imóveis. Claro que dependemos de uma infraestrutura básica, ainda possuímos as mesmas necessidades fisiológicas dos Homo sapiens, mas a moda e o espaço edificado atuais já não nos são tão úteis, pois diferente do que buscamos, estes estão em constante normatização através do que se chamam gostos ou tendências e de regulações e padronizações. Inclusive, muitos de nós, quando éramos habitantes de espaços fechados, passamos a viver em locais abertos e sem a dependência de vestimentas. Foi a forma mais coerente de se adequar à nossa condição.
Observo ainda que nossa espécie simboliza uma maneira mais primitiva de viver. Traça um paralelo às primeiras formas de arquitetura que surgiram antes do início do processo de sedentarização, que se configuravam em espaços abertos, com o erguimento de menires, dolmens e cromlech, intervenções na paisagem realizadas pelo ser humano em suas trajetórias nômades (8) (9). Não vivemos fixados em nenhum lugar e nossa pele deixa rastros por onde passamos, criando assim pequenos marcos efêmeros na paisagem, arquiteturas que um dia estiveram ali presentes, mas tiveram que ser descartadas para dar continuidade à outras possibilidades. Por isso, hoje em dia pode-se observar na cidade de Metus um contraste mais explícito entre os homens que fabricam um mundo artificial e os homens que constroem um sistema efêmero de relação com a natureza e a vida (10).
De fato, a condição de existência do H.t. impõe algum desconforto e algumas responsabilidades à nossa população. Aparentemente, temos um pouco mais de consciência e controle dos espaços que produzimos, e por consequência dos espaços que habitamos. Se pudéssemos visualizar uma cidade completamente ocupada por nossa espécie, eu diria que não se pareceria tanto com uma cidade, pois manteríamos um estilo de vida mais livre, menos normatizado e utilitário, o qual a cidade de Metus parece abominar. Nossas aglomerações de indivíduos (prefiro nomeá-las assim) se baseiam em jogos criativos e efêmeros, em “situações” que se constroem ao acaso e nunca são as mesmas, sempre uma surpresa indefinida e imprevisível, assim como a vida (11).
Podemos ainda embarcar em uma leitura no que concerne a arte de nossos movimentos e produção dos espaços. Fabricamos nossos abrigos através da pele do próprio corpo e de uma arquitetura que se constrói através de uma performance espontânea. Acredito que nunca estivemos tão próximos de religar a vida com a arte, pois vejo na pele o potencial de um objeto artístico. Conduzimos nossas vidas através do movimento e de experimentações, mas também de trocas constantes com o mundo exterior através de nosso próprio corpo. Essa produção de espacialidades e ambiências, antes confinado à experiência de artistas, arquitetos e designers, passou a “um plano que mobiliza afetos através do contato com o mundo exterior, com o outro, construindo e reconstruindo subjetividades em uma troca constante”, ou seja, a pele nos ajuda a olhar para dentro de nós mesmos, como um objeto de arte “que nos contamina com a curiosidade de descobrir a vida que nos agita internamente” (12). Desta forma, já não há a figura do espectador e do objeto, tornando objeto de arte e espectador em um só: a própria obra. Sendo assim, nos enxergamos inseparados da arte. É a criação de si como obra de arte, pois representamos a desterritorialização da figura do usuário e da obra de arte isolada. Agora somos a própria arte urbana, alcançando um modo de vida experimental, o qual alimenta um urbanismo que emprega um “conjunto de artes e técnicas que concorrem para a construção integral de um ambiente em ligação dinâmica com experiências de comportamento” (13).
Nós não carecemos necessariamente da arquitetura como ela é produzida atualmente. Vivemos de forma independente e alheia ao planejamento e à ordenação espacial. Nossa própria pele consegue nos fornecer o habitat necessário para vivermos tranquilamente nos âmbitos individual e coletivo. Contudo, apesar de possuirmos a possibilidade de criação desses abrigos, ainda vivemos na cidade, criando-se em uma sobreposição de sítios e contra sítios (14).
Vivemos de acordo com nossas movimentações internas, como se o próprio corpo respondesse aos afetos que oscilam em nós. E, de fato, é o que ocorre com o Homo sapiens, mas nós não temos tanto controle das reações corpóreas, especialmente da nossa extraderme. Sendo assim, me parece que não oprimimos as forças que nos atravessam, exprimindo-as através de um devir-arquitetura inerente à nossa espécie. Embarcamos de forma automática em linhas de fuga e respondemos positivamente a essas forças de âmbito coletivo, tornando nossa forma de viver bem mais caótica e aberta a outras possibilidades de criação.
Nossa arquitetura então é feita através de uma nova maneira de existir, um outro modo de pensar. Não desejamos a arquitetura. Como poderíamos, uma vez que a nós ela não faria falta? Penso que “desejo não comporta qualquer falta” (15). Nenhum objeto externo vai atender a carência de um sujeito identitário, individual, que é o que parece nortear boa parte da criação do que compõe o cenário da vida dos seres humanos. Hoje, esses “objetos são tratados como apaixonantes”, e “quando a publicidade se ocupa de uma paixão real, trata-se apenas da publicidade de um espetáculo” (16). Acredito que a pele dos H.t. nasceu de um desejo de escapar ao modo de ser coletivo vigente, construído pela indústria cultural. Desejo é fugir dos padrões: o corpo se modificou e o surgimento da extraderme é uma espécie de fuga à captura do desejo na cidade contemporânea.
3. Pele (((e))) Pedra Pt. I: ou Os Três Demiurgos (17)
Ao observamos a cidade de Metus, olharemos para uma caótica paisagem constituída por uma sobreposição de pele e pedra. De espaços fluídos e espaços ordenados. De efemeridade e fixação. De informalidade e formalidade. De nomadismo e controle. Este é o cenário que hoje traduz territorialmente o espaço urbano no qual a nossa espécie surgiu há alguns séculos e do qual aparentemente fazemos oposição. A cidade pode ser melhor entendida se analisarmos a atividade dos seus principais planejadores urbanos e arquitetos. Através dos trabalhos desses profissionais, poderemos perceber a lógica de produção do espaço urbano que atua na cidade, a qual nós estamos em constante conflito.
Existem três arquitetos atuando em Metus, cada uma à sua maneira e utilizando uma metodologia própria: Procrusto (18), Luto (19) e Modulor (20). Vale ressaltar que nem toda arquitetura foi ou é atualmente produzida por eles, apesar de grande parte do território ter passado por suas meticulosas análises e propostas projetuais. Nós, por exemplo, não procuramos seus serviços há um bom tempo. Alguns de nossa espécie ainda tiveram algum esforço por habitar espaços planejados por eles, mas se fez extremamente difícil, principalmente pela fixação e controle das construções.
Durante minha formação como estudante de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Metus – UM tive a oportunidade de conhecer suas obras e, principalmente, seus métodos de trabalho, os quais procurarei dar ênfase neste documento.
Procrusto
P. é o arquiteto serial. O verdadeiro serial killer da arquitetura. Um arquiteto sádico que procura otimizar ao máximo seu processo de criação através de uma certa padronização de seus projetos. Na verdade, já não há criação alguma, pois sua equipe já sabe executar tudo nos mínimos detalhes. Após ter definido sua marca, o que levou anos de experimentações, P. apenas aplica de forma magistral seu consolidado método de projetar. Independente do perfil dos usuários, P. planeja os espaços à sua maneira e vontade, mas sempre seguindo as suas próprias normas do que é uma boa arquitetura e um projeto de bom gosto.
O segredo para seu sucesso se dá através de uma solução bem simples e moderna, que consegue atender a todo tipo de cliente: caso a pessoa seja grande demais, ele a corta os membros, tornando possível sua entrada e uso do espaço pretendido; caso a pessoa seja menor, ele amarra suas extremidades e a estica até que possa caber da forma ideal no espaço planejado. P. oferece todos esses serviços com o projeto de arquitetura, o kit completo. Para os H.t., existe um pacote especial que envolve a remoção da pele e aplicação de inibidores de crescimento. É muito comum, e assustador, observar pelas ruas de Metus indivíduos utilizando cadeiras de rodas, muletas, sendo carregados ou até tropeçando pela dificuldade de locomoção, porque contrataram os serviços de P. Contudo, o que é mais curioso e cômico, muitos saem do seu escritório com um baita sorriso de satisfação no rosto.
Luto
L. é o arquiteto da massificação. Se P. é tão intolerante a ponto de se achar o grande dono do processo de concepção dos projetos de arquitetura, me parece que L. complementa sua ideia em escala exponencial. Consegue pensar em milhares de soluções em um só projeto, sempre aliando o mínimo de conforto com o máximo de eficiência. Graças aos projetos de L., milhares de famílias conseguiram um abrigo em vez de um lar. Para L., a ideia de lar é altamente ultrapassada, pois as pessoas precisam é de uma casa que atenda suas necessidades básicas de sobrevivência.
A meta de L. é construir centenas de condomínios na cidade de Metus, atendendo grande parte da população. Seus condomínios são de dois tipos, e apresentam dois nomes: os ctrl+c ctrl+v e os enclaves. Ambos são padronizados, mas para públicos diferentes. Morando em algum dos condomínios, as pessoas geralmente têm duas opções: passar grande parte do dia fora de casa, preferencialmente nas empresas em que trabalham, retornando apenas para dormirem por algumas horas; ou se trancarem por bastante tempo nos seus apartamentos, até esquecerem de si mesmos. Não é à toa que seus apartamentos compõem um edifício de caixões empilhados, túmulos do desejo. Rebaixam o desejo, pela falta de encontro, e nasce a carência, pela necessidade de sentir alguma intensidade. Coincidentemente, todos os apartamentos contêm um aparelho de TV-sedativo, fazendo-as se privarem do mundo lá fora e do contato com outros seres vivos. Perdemos muito contato com pessoas da espécie Homo sapiens por conta desses condomínios, que me parecem mais como prisões.
Modulor
M. é o arquiteto da grandeza e do genérico. Sua grandeza suscita uma idealização hollywoodiana e o genérico constitui-se de espaços estéreis e sem expressividade arquitetônica. Seu discurso é baseado principalmente nos princípios da tabula rasa, portanto, a cidade de Metus já não tem identidade alguma: é uma mistura genérica, podendo ser apagada e consertada para facilitar outros fluxos. Destrói edifícios na mesma velocidade em que cria outros. Assim, a cidade pode ser (re)construída numa velocidade incrível (21).
Seu trabalho é composto por projetos tão complexos, apesar de neutros e frios, mais ligados à infraestrutura do que qualquer outra coisa, que o arquiteto já não trabalha tão sozinho, mas depende de uma vasta gama de outros profissionais: engenheiros, empreiteiros, fabricantes, políticos. Rendeu-se principalmente à tecnologia, que auxilia na elaboração de estruturas altamente complexas que humano nenhum poderia ter imaginado algum dia. Uma verdadeira fantasia urbana (22).
Graças aos projetos de M., a rua, assim como boa parte do domínio público, “tornou-se um resíduo”, um mero “segmento organizativo do plano metropolitano” (23), que cria ligações extremamente óbvias e sem graça. Quanto mais eficiente, melhor. Nossa espécie, que geralmente habita esses espaços, tende a achar tudo muito entediante e sem surpresa [...] mas não haveria de ser diferente, pois a própria cidade nos criou (24). De qualquer forma, Metus vem se consolidando cada vez mais em uma lógica utilitária, capturando mais eficazmente os corpos e desejos dos cidadãos.
4. Pele (((e))) Pedra Pt. II: ou A Recaptura
Desde o aparecimento dos H.t. na cidade, e consequentemente com um considerável aumento da nossa população, os três grandes arquitetos de Metus ficaram extremamente incomodados com a situação da cidade. Não só acharam abominável a forma como vivemos, mas sentiram que sua profissão se encontrava em uma grande crise. Sofriam com o risco de perderem seus postos de trabalho tão duramente conquistados. Tanto ego e noites em claro não poderiam ser jogados fora dessa forma. Como bons arquitetos e urbanistas, após muitas pesquisas e testes científicos, reuniram-se para revolucionar mais uma vez o mundo da construção civil.
Após os três planejadores entenderem melhor a dinâmica da vida de um H.t. e como funciona nossa pele, conseguiram realizar uma proposta que parece combinar as antigas formas de viver do Homo sapiens com o caráter mutável da nossa espécie. Esta combinação foi uma tentativa de adaptar a arquitetura e a cidade à nossa própria condição e dinâmica espacial. Sendo assim, ofereceram aos sentidos o que mais lhes atrai: conforto e estabilidade.
P. L. e M. projetaram um sistema a ser implantado no interior dos edifícios, apartamentos, casas, lhes atribuindo um caráter espacial de flexibilidade. Este sistema, entretanto, é simples e composto por pistões e estruturas emborrachadas que se movimentam e se adéquam a partir do uso do espaço pelo usuário. As primeiras adaptações foram simples e, após algum tempo, elaboraram estruturas um pouco mais sofisticadas. Apresento-lhe então um registro que possuo do primeiro protótipo dessa nova arquitetura.
A cidade de Metus se encontra em um conflito contínuo. Uma bela e caótica sobreposição de pele e pedra. Espero que os arquitetos possam enxergar que a arquitetura que produzem atualmente e o espaço urbano vigente não são o suficiente para nós. Não sei como será nossa vida futuramente. Não sei dizer o que será dos H.t. ou da cidade que vivemos. Construímos uma ideia de cidade bem diferente. Espero que, futuramente, o espaço urbano possa alimentar menos um estado de policiamento dos nossos atos e movimentos, de controle e ordenamento, e mais de situações e encontros nos quais possamos agir através de nossos desejos. Acredito na arquitetura menos como um objeto físico, meticulosamente planejado e fechado em si, e mais como um campo de ação e movimento. Seria processo, sem determinação ou idealização. Seria parte de nós mesmos, mas sem apego ou fixação, assim como nossa pele. Mais importante do que construir edifícios, seria proporcionar a continuidade de encontros únicos, valorizando a criação de realidades potentes. Até lá, enquanto existirmos, continuaremos a espalhar as nossas peles por aí.
Post-Scriptum sobre o Homo tegumen
Talvez por conta do imenso cansaço que abate a sociedade, do inconformismo sedentário, que corrobora o viver na cidade, o homem “evoluiu” para o Homo tegumen. Logo, o H.t. não se trata de um corpo utilitarista e imunológico, que combate a sede capitalística da humanidade, mas se trata de uma criação imanente à cidade, uma Zona Autônoma Imanente. O H.t. é uma fuga de uma cidade que o corpo não almeja mais. Logo, é difícil não comparar com o Urbanismo Unitário – UU, que foi uma crítica da Internacional Situacionista – IS à passividade da vida moderna, do homem sedentário e seus vícios cotidianos. O UU mostrou uma cidade refém da produtividade, do marketing e do espetáculo, ele parece ser um argumento importante para formação conceitual da Internacional Situacionista, contextualizando o conceito numa escala urbana. Para a IS:
“O Urbanismo Unitário se distingue dos problemas do Habitat, mas deverá englobá-los; e se distingue ainda mais das atuais trocas comerciais. Neste momento ele busca um terreno de experiência para o espaço social das cidades futuras. Não é uma reação contra o funcionalismo, mas a sua superação; trata-se de atingir além do aspecto utilitário imediato, um ambiente funcional apaixonante” (25).
Para a IS, a cidade era um espaço de repressão e o urbanismo estava a serviço dela. O urbanismo não cumpriria o seu papel que era de conectar as pessoas às suas paixões e seus desejos, vê-se claramente uma separação do homem e seus desejos, do homem e suas paixões e de uma cidade funcional e maquínica. Não deixando dúvidas a quem a cidade serve, ao modelo funcional e fabril. A IS estava certa que deveriam reverter o processo em curso que era propor uma ideia alternativa de felicidade, ou seja, um sentido de espaço-tempo diferente inspirado em novas formas de socialidade, em atividades criativas e antiutilitárias, que o domínio real da economia suprimia, e que elimina por completo outras formas de se viver para reinar de forma incontestável. O capital decidiu que as únicas funções da vida da organização urbanística que deveriam ser eficientes era produzir, repousar, consumir, habitar e circular de forma rápida (as quatro categorias das Carta de Atenas, formulada por Le Corbusier e outros em 1933) (26).
Para além do funcionalismo da Carta de Atenas, em uma perspectiva mais contemporânea e pós-industrial. Nossas experiências atualmente são devastadas pela imensa desterritorialização de nossos corpos-subjetividade. Uma deriva midiática no qual às experiências corpo a corpo se tornaram um luxo, passivas de serem comparadas a safaris urbanos. Não por conta da funcionalidade construída com pensamento industrial e moderno, mas por conta de um novo tipo coerção, mais eficiente no sentido de produção e desempenho. Experiências com a cidade bruta, repleta de ruídos, cheia de fuligem, cheia de corpo a corpo, são experiências que ser tornam cada vez mais esporádicas condicionadas à criação de eventos em mídias sociais.
Imersa no auge da Sociedade do Espetáculo é muito difícil enxergar a continuidade do UU, pois o contexto sócio midiático daquele momento estava voltado para o marketing que possuía o “monopólio”, pelo menos no mercado: da aparência, dos meios de comunicação e da construção subjetiva de possíveis modos de vida. A crítica da separação mencionada por Guy Debord no filme A Sociedade do Espetáculo, deixa clara a separação do homem dos seus desejos. Da separação do Homem e do marketing construído pelas mídias da época. Nesse momento o inimigo é muito claro, e sua crítica é direta:
“A separação dos homens de suas condições de vida foi estendida agora ao mundo todo e completada, não restando ao capital outra saída senão intensificar esta separação, privando do homem dos seus aspectos mais elementares – seus desejos, afetos, seus sonhos. Isolados, separados num mundo onde não tem mais nenhum papel ativo, sucumbe o homem a uma total dominação, invisível e implacável. Seria o racionalismo pleno de um mundo onde até o sonho é previsível e controlado” (27).
Essa separação, ao qual a produção mercantil do operário se separa da imagem; o trabalho do homem se separa dos mecanismos de construção de desejos; foi o pensamento dominante daquele momento. A crítica imunológica se faz expondo todos os mecanismos de separação do indivíduo, e o espetáculo seria a solução para todos os problemas. Nesse momento o inimigo é muito claro: é o capitalismo e seus dispositivos industriais, comerciais e mercadológicos. Frente a isso, em um novo momento, na cidade de Metus, essa separação se mostra não mais tão clara. Não porque ela se extinguiu, mas porque ela se transformou em algo indiscernível, em que não faz mais sentido questionar as velhas máquinas de produção de desejo, pois o corpo já está esgotado. E frente aos três arquitetos demiurgos instaurando um estado de vida maçante, a fuga foi a recriação do próprio corpo.
Logo, o H.t. reage às novas violências cotidianas, a dos espetáculos consolidados e molecularizados em cada um. O espetáculo não está mais separado, mas junto, conosco, nas novas mídias e redes sociais. Esse novo ataque está no nosso cotidiano, trata-se de uma mudança de paradigma. A mudança de paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade de controle (ou desempenho) se mostrou como uma forma de aumentar a produção. Não de forma tirânica, mas da construção de um inconsciente social capaz de fazer elevar a produtividade sem precisar da vigilância por confinamento.
“O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está submisso apenas a si mesmo. É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não leva a liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coerção coincidam” (28).
Portanto, o corpo já não aguenta mais essa liberdade coercitiva, essa autoexploração e estado de policiamento. Construindo um estado autônomo que não cria mais o embate com a cidade, pois ela foi abandonada. Não se vê mais sentido em habitar Metus, a não ser pela forma do H.t. consolidando uma Zona Autônoma Imanente.
notas
NA – Agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo pelo apoio à pesquisa (processo n. 5612138, edital Fapes/Capes Nº 29/2018 – Procap 2019 – Mestrado) e ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo e ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo.
1
IVAIN, Gilles (1958). Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.) Apologia da deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2003, p. 68.
2
Do Latim, homo = humano; tegumen = cobertor, escudo, esconder, proteger. Homo tegumen é o nome que se dá à espécie protagonista da narrativa inserida neste trabalho.
3
Do Latim, metus = medo, ansiedade, temor, objeto de admiração. Metus é a cidade que compõe o cenário imagético da narrativa deste trabalho. O nome serve para ilustrar uma ideia geral dos autores sobre a estruturação física e social das cidades, e um modo de viver que parece se perpetuar entre elas, trazendo a noção de medo.
4
Utilizaremos a abreviação H.t. para o Homo tegumen.
5
Referência à teoria das cinco peles do artista austríaco Friedrich Hundertwasser. RESTANY, Pierre. Hundertwasser: The Painter-King With The Five Skins. Colônia, Taschen, 2001.
6
Segundo Lutero Pröscholdt Almeida, “tem-se a moda como arquitetura do corpo, o design como arquitetura das coisas, a arquitetura como arquitetura dos abrigos e o urbanismo como arquitetura de uma cidade. Tais arquiteturas agem no espaço interagindo com nossos corpos e se moldando aos nossos desejos”. ALMEIDA, Lutero Pröscholdt. A partilha da cidade: a arquitetura e urbanismo entre desejos e simulacros. Tese de doutorado. Salvador, FAU UFBA, 2016, p. 39.
7
A roupa é uma estrutura a qual habitamos com nossos corpos, um molda o outro de forma mútua e singular. Seguindo essa ideia, Gabriel Araújo (2014) nos diz que o “design de vestuário e arquitetura vivem do espaço que funciona como o negativo do volume, são os espaços gerados por ambos que serão preenchidos pelo corpo humano, ou mesmo, incorporados por ele. O corpo faz parte, então, da estrutura da roupa na medida em que ocupa e habita o interior das vestimentas, sendo assim o seu suporte. Se estabelecermos que o corpo possa habitar o espaço compreendido pelo tecido, este espaço criado pelas roupas extrapola seus limites, transformando-se num território”. ARAÚJO, João Gabriel F. B. de; MIRANDA, Clara Luiza. O espaço da moda: primeira casa ou segunda pele? Revista Ciclos, v. 1, n. 2, Florianópolis, fev. 2014, p. 159.
8
O caminhar de um Homo tegumen pela cidade, bem como sua relação de ocupação com o espaço físico desta, também se mostra como um uma “uma forma estética disponível para a arquitetura e a paisagem”. CARERI, Francesco. Walkscapes: walking as an aesthetic practice. Barcelona, Gustavo Gili, 2009, p. 25.
9
Segundo Michel de Certeau, a “trajetória evoca um movimento, mas resulta ainda de uma projeção sobre um plano, de uma redução. Trata-se de uma transcrição. Um gráfico (que o olho pode dominar) é substituído por uma operação; uma linha reversível (que se pode ler nos dois sentidos) dá lugar a uma série temporalmente irreversível; um traço, a atos”. CERTEAU, Michel De. A Invenção do Cotidiano. 3a edição. Petrópolis, Editora Vozes, 1998, p. 46.
10
Referência aos conceitos de Homo faber e Homo ludens, onde o primeiro representa a arquitetura como construção física do espaço e da forma, e o segundo como oposição, enxergando a arquitetura como percepção e construção simbólica do espaço. Há aqui uma diferença crucial entre as noções do espaço/cidade nômade e do espaço/cidade sedentário, ou os dois modos de lidar com o espaço apresentados neste trabalho: a oposição “cidade” do Homo sapiens vs. “cidade” do Homo tegumen. CARERI, Francesco. Op. cit.
11
Internacional Situacionista, IS n. 1, jul. 1958. Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Op. cit., p. 60.
12
ROLNIK, Suely. O corpo vibrátil de Lygia Clark. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 abr. 2000 <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs3004200006.htm>.
13
Internacional Situacionista, IS n. 1, jul. 1958. Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Op. cit., p. 65.
14
FOUCAULT, Michel. De outros espaços. Estudos Avançados, v. 27, n. 79, São Paulo, 2013, p. 113-122 <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300008&lng=en&nrm=iso>.
15
DELEUZE, Gilles. Desejo e prazer. In PELBART, Peter; ROLNIK, Suely (Org.). Cadernos de Subjetividade. São Paulo, PUC SP, v. 1, n. 1, 1993. p. 22.
16
Internacional Situacionista, IS n. 5, dez. 1960. Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Op. cit., p. 130.
17
Segundo Lutero Pröscholdt Almeida, o “arquiteto urbanista, em seu devir demiurgo, perpassa valores cujo princípio é um poder legitimado, ele não transpassa informações para que ela seja averiguada ou recombinada, mas ele repassa laudos inquestionáveis, pois ele é o especialista responsável por tais práticas de arquitetar”. ALMEIDA, Lutero Pröscholdt. Op. cit. p. 171.
18
Procrusto é um dos vilões inseridos na história do herói Teseu, personagem da mitologia grega. Procrusto “usava de uma ‘técnica’ singular com suas vítimas: deitava-as em um dos dois leitos de ferro que possuía, cortando os pés dos que ultrapassavam a cama pequena ou distendia violentamente as pernas dos que não preenchiam o comprimento do leito maior”. BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. 3. 6aedição. Petrópolis, Vozes, 1995, p. 156.
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Personagem referenciado e adaptado do filme A Montanha Sagrada do diretor Alejandro Jodorowsky (1973). Luto trabalha com a arquitetura e produz moradias populares que são verdadeiros caixões. Consegue ainda vender a ideia de que essas residências trarão maior liberdade para os habitantes, os quais as utilizarão apenas para dormir, passando a maior parte do seu dia produzindo em uma fábrica.
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Sistema de proporções elaborado pelo arquiteto Le Corbusier, criado a partir de medidas modulares baseadas nas proporções de um ser imaginário, este sendo a média de indivíduos de diferentes lugares da Terra. Aqui, torna-se um personagem da narrativa.
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Segundo Koolhaas, todas "as Cidades Genéricas surgem da tabula rasa; se não havia nada, agora elas estão lá; se existia algo, elas substituíram-no. Teria que ser assim, de outro modo seriam históricas”. Isso se dá, pois a Cidade Genérica é "libertada da clausura do centro, do espartilho da identidade". Além disso, Koolhaas diz que a Grandeza é a única forma de arquitetura que pode sobreviver na Cidade Genérica, pois "ela não retira a sua inspiração do existente, tantas vezes espremido para se obter uma última gota de significado; gravita oportunisticamente para localizações de máxima promessa infra-estrutural; é, definitivamente, a sua própria raison d’être". KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. Portugal, Gustavo Gili, 2010, p. 44; 35; 27.
22
A Grandeza para Koolhaas “é onde a arquitetura se torna tanto mais como menos arquitetônica: mais devido à enormidade do objeto; menos por causa da perda de autonomia – ela torna-se um instrumento de outras forças, ela depende”. Quanto à complexidade desse objeto arquitetônico, diz que para “além da assinatura, a Grandeza significa a rendição às tecnologias; aos engenheiros, empreiteiros, fabricantes; aos políticos, aos outros. Promete uma espécie de estatuto pós-heróico da arquitetura – um realinhamento com a neutralidade”. KOOLHAAS, Rem. Op. cit., p. 24;25.
23
Idem, ibidem, p. 26
24
A oposição (cidade de Metus vs. Homo tegumen) se faz presente e necessária, pois o Homo tegumen é um despertar para as condições existentes, assim como os Situacionistas idealizavam que “a única conduta experimental válida fundamenta-se na crítica exata das condições existentes, e em sua superação deliberada. Cabe deixar claro que não se pode considerar criação aquilo que é mera expressão pessoal no âmbito de meios criados por outrem. Criar não é arrumar objetos e formas, mas é inventar novas leis a respeito desse arranjo”. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Op. cit., p. 54.
25
Internacional Situacionista, IS, 1959. Apud JACQUES, Paola Berenstein (Org.). Op. cit., p. 100.
26
LIPOLLIS, Leonardo. Viagem aos confins da cidade: a metrópole e as artes no outono Pós-Moderno (1972-2001). Lisboa, Antígona, 2016, p. 14.
27
sociedade do espetáculo. Direção Guy Debord. França, Simar Filmes, 1974.
28
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. 2a edição. Petrópolis, Vozes, 2017, p. 29.
sobre os autores
Mário Victor Marques Margotto é arquiteto urbanista graduado pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo (UFES/Temple University, Filadélfia) e mestrando (PPGAU UFES). Sua pesquisa se dedica a investigar a ficção como uma ferramenta de auxílio ao exercício teórico e prático da crítica em Arquitetura e Urbanismo.
Lutero Pröscholdt Almeida é arquiteto urbanista e professor (UFES) e doutor pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia / Ecole Nationale Supérieure d'Architecture, La Villette. Pesquisa o espaço urbano como um campo partilhado.