“O homem multiversátil, Musa, canta, as muitas errâncias, destruída Troia, polis sacra, as muitas urbes que mirou e mentes de homens que escrutinou, as muitas dores amargadas no mar a fim de preservar o próprio alento e a volta aos sócios (1).”
E assim começa a Odisseia.
Como se sabe, as palavras têm um sentido que ultrapassa o seu uso coloquial e cotidiano (2), além de estarem revestidas pelo que poderíamos nomear, ao menos provisoriamente, de camadas históricas. Neste sentido, algumas palavras se transmutam, ganham novos sentidos e mesmo deixam de ser utilizadas, apesar de estarem sempre presentes em verbetes de dicionários. Apenas para citar um exemplo, o termo francês voyage significava, no século 17, como pode-se ler no primeiro dicionário da língua francesa – este escrito por Antoine Furetière (3) – um deslocamento no espaço, mas, igualmente, “narrativa viática” (4), isto é, uma narrativa realizada por viajantes. Neste sentido, em um período em que o tempo e o espaço tinham outra textura e dimensão, viajar poderia significar se deslocar – como hodiernamente – e, igualmente, ler uma narrativa deste deslocamento realizado por outra pessoa, o viajante-escritor.
Citamos o exemplo acima para expor o objetivo principal desse artigo, a saber, situar em uma esfera conceitual e histórica um termo tão próximo e cotidiano que quase não mais refletimos sobre o seu uso. E qual termo seria este? Iremos nas próximas linhas tratar do termo ”casa”, a qual existiu nas mais diversas civilizações – e nas suas mais variadas formas –, da chamada Pré-História (como “termo” não há como saber, mas existiu, certamente, como “objeto”), passando pelos egípcios, mesopotâmios, gregos e romanos. Isto apenas para nos restringimos às civilizações da Antiguidade e aquelas que são normalmente estudadas no Ocidente. Mas sabemos que a questão da habitação, do abrigo e da casa é bem mais ampla, tanto no sentido geográfico quanto temporal. Assim, seria interessante observar que não faria muito sentido imaginar que os termos equivalentes à “casa” tivessem o mesmo sentido na Mesopotâmia quanto na Grécia. Há, certamente, as questões semântica e linguística, mas há, igualmente, a não menos importante questão do uso do objeto “casa” como referencial. Assim, veremos:
“Não se está lidando com uma questão histórica qualquer, mas, com uma questão de historicidade de um léxico. Neste ponto, é importante perceber como estes dois campos – o da história e o da linguística – se misturam e se imbricam até ao ponto de se confundirem fazendo-se indiscerníveis” (5).
Neste sentido, devemos imaginar, seguindo este pensamento, que haveria tanto uma História da língua quanto uma História dos objetos que por ela são nomeados. Citamos no caput deste artigo que um mesmo termo – no caso citamos voyage – pode ter significados diferentes na mesma cultura e que até mesmo um significado pode cair em desuso e ter o seu sentido recuperado e apropriado por outro termo, neste caso, as “narrativas viáticas”. Neste momento, devemos esclarecer o objetivo deste artigo, que é este de verificar os diversos usos e acepções da palavra “casa” (οἶκος) (6) no mundo grego (7). E para cumprir o nosso objetivo, utilizaremos a epopeia Odisseia (8), atribuída ao mítico poeta Homero. Caberia lembrar, igualmente, que esta epopeia poderia ser compreendida e estudada sob o viés das “narrativas viáticas” (9), apenas observando que só se deve aplicar conceitos contemporâneos a textos antigos com muitos cuidados metodológicos.
A casa no mundo grego clássico
Qual seria os sentido do termo οἶκος no mundo Grego Antigo? Na nossa cultura costumamos compreender o termo casa de uma maneira talvez vaga e genérica, e é interessante observar que qualquer outro termo preciso se torna elitista e nobre – como mansão – ou pejorativo – como barraco, casebre, choupana etc (10). Na poesia de Homero, contudo, usa-se praticamente apenas dois termos: o já citado οἶκος e o Μέγαρον, ou seja, Oikos e Mégaron. O primeiro termo pode ser compreendido – respeitando, é claro, os seus limites temporais – como “casa” em português, sendo portanto, genérico; e o segundo poderia ser traduzido como “palácio”. Mas sabemos que o ato de habitar é necessariamente histórico, como aqui podemos ler:
“O domus romano poderia ainda ser habitado? Em caso positivo, sob quais condições? Ora, as condições da sua habitabilidade, compreendendo esta expressão como um conjunto de práticas econômicas, políticas, funcionais, de usos e costumes, e que tornaram possíveis a construção e habitação deste espaço, há muito deixaram de existir. Como se sabe, não se habita da mesma maneira que se costumava habitar no tempo em que estas residências senhoriais foram construídas” (11).
Certamente que o domus (12) romano não pode ser mais habitado, trata-se de todo um mundo de costumes, hábitos, objetos que não existem mais a não ser no mundo dos museus. Não se pode conceber, por exemplo, que o ato de cozinhar no Mundo Antigo fosse, formalmente, como o nosso, embora gregos e romanos possuíssem despensa e fogão (os gregos, ao contrário dos romanos, possuíam fogão, mas, na maioria das vezes, não havia uma peça de função única a qual poderíamos nos referir como “cozinha”. E como os gregos das classes mais abastadas faziam as suas refeições? Devemos recorrer a Homero, que no Canto I descreve nesses termos um banquete: “Em suas mãos fâmulos derramam água; as servas em canistréis repletos. As mãos avançam nos manjares preparados. Saciada a gana de comer e de beber, um outro anseio lhes remonta ao peito: a dança e o canto, adornos de banquete (13)”.
O banquete aristocrata se passava na casa (14), justamente, de Odisseu, o senhor ausente da sua pátria Ítaca. A observar que no mundo homérico não há, praticamente, nem fome nem pobres, quando nós sabemos que, ao contrário, a terra na Grécia não era fértil e a vida cotidiana era difícil e árdua. E em que peça da casa terá se passado o banquete? “Dentro da sala de alta cumeeira põe [Atenas disfarçada de humano] a arma escorada em um enorme colunário, sólido depósito, onde se podia ver um feixe de inúmeras espadas de Odisseu solerte” (15) Pela descrição homérica podemos inferir que se tratava de um pórtico interno (há a colunata), próximo ao depósito de armas e com acesso a uma sala principal, na qual o banquete ocorreria (16). Os móveis descritos seriam cadeiras, tronos e uma mesa, com um espaço vazio grande o suficiente para a dança, ocupação nobre – e é claro, masculina – no Mundo Grego (17).
Em termos de alimento, em que consistiria o banquete? Ainda segundo narra esta epopeia, em carne sacrificial, pão e vinho (18). O vinho não era bebido puro, mas cortado com água, como pode se ler aqui: “Quando bebiam o vinho dulcimel rubento, para vinte medidas de água, uma só taça de vinho acrescentavam, e o divino aroma da cratera se esvolava” (19). Já nos referimos que o abate do animal tinha um caráter de ritual religioso – isto é sacrificial – por meio do qual o homem demostrava a sua devoção aos deuses. E em relação ao pão, podemos observar que este alimento tinha uma importância quase cívica, como podemos inferir a partir destes versos nos quais se narra os périplos de Odisseu na terra dos ciclopes: “O ser longínquo não convivia com ninguém, sem lei, um ímpio. Dissímile de um homem comedor de pão” (20). Aqui, Odisseu, um grego, separa-se dos gigantes de um único olho porque as suas cidades têm lei, eles habitam casas e... consomem pão. Em outra passagem da Odisseia o pão está diretamente ligado à religião: “Poetas não têm culpa, mas Zeus é responsável: doa ao comedor de pão, ao ser humano, o que lhe apraz doar” (21). Ou, ainda: “Mandei que os companheiros perguntassem quem morava na região, se comedor de pão (22). Ora, assim como as competições esportivas e o teatro, no mundo grego a alimentação nos banquetes não era apenas uma “espécie de encontro social mundano”, mas um ritual de caráter religioso (23).
Contudo, não explicamos ainda onde eram armazenados estes alimentos que, como tentamos demonstrar, faziam parte de um ritual religioso. Voltando ao banquete na casa de Odisseu, mais uma vez citamos a epopeia: “Ferrolhos irrompíveis lacram os portais, batentes duplos, de onde a despenseira noite adentro não arreda os pés por nada, nem à luz do dia, custódia hipervigilante” (24). E que peça seria esta, tão protegida por “ferrolhos irrompíveis” e por uma serva diligente? Ora, como termo “despenseira” já nos indicava, trata-se de uma despensa, e tal como é narrada, quase um cofre para a guarda de produtos que facilmente poderiam ser furtados porque eram objeto de cobiça, como podemos ler nestes versos, nos quais Telêmaco, filho de Odisseu, ordena a uma das suas servas que coloque de lado e esconda certos produtos: “Quero que arrolhe doze [ânforas de vinho] até o bocal, repletas. Depõe farinha em odres hiper-resistentes, triturada na mó. Total: vinte medidas. Calada, esconde tudo numa cova” (25). Neste caso, Telêmaco pretendia partir em uma expedição marítima em busca do pai, mas, de qualquer sorte, a necessidade do sigilo nos mostra a preciosidade destes elementos acessíveis apenas à aristocracia. A importância de uma casa segura pode ser vista, igualmente, em Sócrates (26): “Em resumo, a casa que seja um bom abrigo em todas as estações e um depósito seguro para os pertences do proprietário é, ao mesmo tempo, a mais bela e agradável” (27). Percebe-se que Sócrates, a partir da Kalokagatia, isto é, o belo unido ao bom, destaca que uma casa para além de um abrigo para os seus habitantes, deve ser um “depósito seguro” para os seus bens, assim como era a despensa da casa de Odisseu.
Podemos, agora, imaginar como seriam estas casas em termo de tipo (28). Inicialmente, devemos atentar para o fato de que a polis grega era, normalmente, densa, sendo a sua expansão contida pelas muralhas. Logo, não estaríamos longe da verdade se afirmássemos que padrão “natural” dessas casas seria a de possuir dois pisos. Na falta quase absoluta de evidências arqueológicas poderíamos recorrer, novamente, à epopeia homérica. Então, vejamos: “À noite, virei buscar eu mesmo [os alimentos ocultados pela serva], assim que a minha mãe suba ao segundo andar e, enfim repouse” (29). Estas frases de Telêmaco dirigidas a sua serva nos atestam que a casa de Odisseu tinha dois pisos, e que o superior seria o quarto de Penélope e talvez das outras mulheres, sendo um espaço, digamos, mais discreto, posto que sabemos que a mulheres possuíam um papel bastante secundário neste sociedade: “Retoma os teus lavores no recinto acima, à roca e ao tear; ordena que as ancilas [servas] façam o mesmo, pois toca aos homens, a mim sobremaneira, responsável pelo alcácer [casa], o apalavrar” (30). Esta citação, na qual Telêmaco dá ordens a sua mãe, corrobora o que havíamos afirmado acima: a casa de Odisseu possuía dois pisos e que o segundo era reservado às mulheres. Certamente que não há elementos suficientes para estendermos este tipo edilício a todas às casas de todas as polis gregas, mas, igualmente, não há nenhum motivo para pensarmos que se tratasse de uma mera exceção. De resto, se o fosse, Homero provavelmente teria observado na sua escritura. Contudo, trata-se de uma casa senhorial, e não se pode estender essa condição ao restante dos seus habitantes, como se pode ler:
“Eu não vejo a razão pela qual os especialistas em arquitetura antiga nunca tenham prestado atenção no fato de que a casa grega não tem, normalmente, um porão; está-se interessado somente nos pisos superiores – e, na minha opinião – de uma maneira insuficiente, pois teria valido a pena tentar estimar a frequência do número de pisos, que parece variar de acordo com a região e a época. Se há razões para pensar que muitas casas gregas eram térreas, sem um segundo piso nem porão, mas como esta questão ainda não foi estudada por meio da estatística, talvez seja porque a sua existência não é fácil de demonstrar; e que a ausência habitual de porão tem como corolário a falta de interesse por essa estrutura (31).
Como sugerimos alhures, o universo de Homero era povoado de homens de exceção, aristocratas, muitas vezes tomados pela hybris, e de Deuses, e não se pode inferir a vida do “homem comum” a partir deste universo. Neste momento, resta elucidar a seguinte questão: entre os gregos o termo casa (nas suas mais diversas acepções: οἶκος, Μέγαρον e mesmo δόμος (32), este último mais raramente usado na epopeia) teria como referência apenas o objeto construído ou poderíamos imaginar que se poderia ir além? Estudemos, então, a seguinte passagem: “Quem o [faz-se, aqui, referência a Telêmaco] escoltou? Itácios nobres, mercenários ou gente da sua casa, que ele tem de sobra?” (33). Este verso pode ser suscetível de demonstrar que a casa grega não era apenas o objeto físico, no qual residisse uma família, mas um conjunto relativamente vasto de pessoas, incluído familiares e servos (34). Curiosamente, ainda encontramos este uso hodiernamente, mas apenas em países cujo regime político é o Reinado; diz-se, então, a “Casa Real”, por exemplo, a “Casa de Windsor”, família que reina no Reino Unido. Outro exemplo seria que, face aos inúmeros pretendentes da sua mãe, que aproveitavam da ausência de Odisseu para banquetear-se em sua casa, Telêmaco lamenta: “O vil casório não consegue refugar nem aceitar, e, banqueteando-se, eles põe a perder o solar [οἶκος] e a mim também” (35). Podemos perceber nesses versos que o lamento não é em relação à casa como objeto físico, mas a sua própria dinastia, que estava em risco caso o seu pai não retornasse: “eles põe a perder o solar [οἶκος].”
Últimas considerações
Como tentamos demonstrar, a casa na Epopeia homérica tinha dois principais significados, os quais encontramos em nosso mundo: o objeto físico, seja ele subsumido por οἶκος, Μέγαρον ou δόμος, e a casa como representação de uma dada dinastia, frequentemente ligada a um dado espaço, mas não necessariamente. Contudo, há uma terceira concepção que é radicalmente diferente daquela que podemos encontrar hodiernamente: a casa como um conjunto relativamente vasto (ao menos para uma polis na Grécia Antiga) de pessoas que estariam, de alguma forma, ligadas entre si. Mas não podemos esquecer que no Mundo Grego, a “casa” não era apenas, para retomarmos a expressão de Sócrates, um abrigo seguro para os homens e os seus bens, mas era, igualmente, uma unidade produtiva, o que em parte justificava o elevado número de servos e escravos: “gente da sua casa, que ele tem de sobra?”. Podemos, então, inferir que, a riqueza de uma casa (aqui no sentido simbólico) estava ligada certamente à posse de bens materiais, mas, igualmente, ao número de pessoas que ao senhor estavam submetidos.
Para finalizar, uma observação de caráter metodológico, que é, na realidade os cuidados que se deve ter ao se utilizar um texto de caráter literário (embora para os gregos fosse um livro sagrado e não, exatamente, literatura) como um documento histórico. Se o texto literário for utilizado como a fonte principal da pesquisa, este deve ser sempre cotejado com textos históricos e, no caso da Grécia Antiga, com a produção intelectual realizada pelos estudiosos que se debruçam sobre as ruínas remanescentes desta civilização. Será este conjunto formado pela literatura e pelos textos de caráter científico que nos fará evitar certas conclusões um pouco apressadas, posto que é necessário que saibamos separar o que corresponde ao referente, ao fato, e o que é literatura, ou, de maneira um pouco mais precisa, às convenções da escritura de uma época, ou mesmo às idiossincrasias de um determinado autor. Resumindo, o texto literário é portador de informações históricas, mas unicamente se for tratado em conjunto com texto de outras disciplinas.
notas
1
HOMERO. Odisseia. 3ª edição (bilíngue). Tradução, posfácio e notas de Trajano Vieira; ensaio de ítalo Calvino. São Paulo, Editora 34, 2014.
2
A palavra francesa être, por exemplo, tem um sentido consoante seja dita-escrita no cotidiano ou na filosofia, e mesmo nesta disciplina pode variar de acordo com o filósofo.
3
“Transporte que uma pessoa faz a lugares distantes. Viaja-se por curiosidade ou para ver coisas raras [...]. As viagens são importantes para a juventude aprender a viver no mundo. Imprimiram-se as grandes viagens em seis volumes, assim como as viagens de Cristóvão Colombo, de François Drac, de Thévenot, de Herbert, &c. [...] Tavenier fez seis vezes a viagem das Índias para fazer comércio. Relações de viagens impressas. Nada é mais instrutivo que a leitura das viagens”. FURETIÈRE, Antoine. Dictionnaire Universel <www.gallica.fr>. Tradução dos autores.
4
“Narrativa viática” é um subgênero literário da Prosa no qual um viajante, a partir de certos topoi relatava a viagem que havia realizado, seja em uma região ou cidade desconhecida, ou em país estrangeiro. Antes da emergência do Romance este foi o gênero em prosa mais popular na Europa. “No século 14 o gênero viático era destinado a uma minoria de humanistas e cosmógrafos, no século 17 as fronteiras entre letras eruditas e cultura geral se apagam”. REQUEMORA, Sylvie. L’espace dans la littérature de voyages. Etudes Littéraires, v. 34, n. 1-2, 2002, p. 249 <https://bit.ly/3klFDxQ>.
5
LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. Arquitetura, a historicidade de um conceito. Um breve estudo sobre a mitologia da fundação da arquitetura. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 123.01, Vitruvius, ago. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.123/3514>.
6
Sobre os termos gregos utilizados, a base consultada foi: RAGON, Éloi. Grammaire Grecque. Paris, De Gigord, 2012.
7
Deste termo nós temos algumas derivações, por exemplo, eco-logia, como um estudo ou discurso sobre a casa, e eco-nomia, com as normas da casa (embora, é claro, imaginar que seja simples assim é um reducionismo flagrante e um insulto aos economistas).
8
Utilizamos a edição bilíngue admiravelmente traduzida por Trajano Vieira. Mais informações ver demais notas de rodapé. É importante enfatizar que não se trata, neste artigo, nem de realizar uma glosa nem de fazer um resumo explicativo desta epopeia, estamos mais interessados em utilizá-la para lançar luz sobre alguns aspectos do sentido do habitar no mundo grego.
9
Podemos encontrar nesta epopeia alguns topoi deste subgênero literário, como a tríade ida-percurso-retorno, e o encontro com a alteridade (por exemplo, os ciclopes e as sereias).
10
O uso do “etc” se justifica pelos mais diversos regionalismos presentes na Língua Portuguesa praticada no Brasil. A observar que quando se trata de designar as residências das classes mais abastadas os termos são escassos; no entanto, no se refere às das classes mais desfavorecidas os termos são uma “legião”, e quase todos são pejorativos.
11
LIMA, Adson Cristiano Bozzi Ramatis. Habitare e habitus — um ensaio sobre a dimensão ontológica do ato de habitar. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 091.04, Vitruvius, dez. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.091/183>.
12
A origem deste termo, que significa “casa do senhor” tem origem no termo grego δόμος, termo utilizado, ainda que em poucos momentos, na Odisseia.
13
HOMERO. Op. cit., p. 21.
14
Na Odisseia a casa de Odisseu é tratada ora como οἶκος, ora como Μέγαρον, e mesmo como δόμος.
15
HOMERO. Op. cit., p. 19.
16
Idem, ibidem, p. 19.
17
“Ó harmônicos feácios, os mais renomados, a fim de o hópede, tornado ao lar, contar que ultrapassamos os melhores na arte naval, nos pés, na dança e na canção”. Idem, ibidem, p. 231.
18
Para um análise exaustiva dos hábitos alimentares dos gregos (assim como de outras civilizações) pode-se consultar: FRANDRIN, Jean-Louis; Montanari, Massimo. História da Alimentação. São Paulo, Estação Liberdade, 1998.
19
Esta passagem não é do banquete inicialmente citado, mas de um outro que ocorre em outra ilha, com a presença de Odisseu. De fato, entre gregos e romanos o vinho era sempre misturado à água. HOMERO. Op. cit., p. 263.
20
Idem, ibidem, p. 261. Grifo do autor.
21
Idem, ibidem, p. 33. Grifo do autor.
22
Idem, ibidem, p. 291. Grifo do autor.
23
Assim como boa parte da iconografia cristã foi emprestada da iconografia pagã (basta ver as divindades menores representadas no afresco pompeiano chamado “O nascimento de Vênus”, aos quais os anjos renascentistas e barrocos se assemelham muito), não é uma simples questão de coincidência que o pão e o vinho tenham grande importância na liturgia cristã.
24
HOMERO. Op. cit., p. 59.
25
Idem, ibidem, p. 59.
26
Conhecemos a dificuldade em aproximar esses dois autores, uma vez que a Odisseia pertencia ao Período dito Arcaico e Sócrates ao Período Clássico.
27
A nossa tradução para o português foi realizada a partir da tradução de língua inglesa. O texto em inglês, assim como o original grego, pode ser consultado no site: <www.perseus.tuft.edu/>. Para a tradução em português pode-se consultar: XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. 5ª edição. São Paulo, Nova Cultural, 1991, p. 8-10. Grifo do autor. Esta edição, no entanto, não apresenta o texto na íntegra.
28
Sobre a diversidade das casas gregas nas colônias do Mar Negro, ver: Cryjitski, Sergei D. Les maisons d'habitation du littoral Nord de la mer Noire dans l'Antiquité. Dialogues d`histoire ancienne, n. 8, ano 1982, p. 61-120.
29
HOMERO. Op. cit., p. 59.
30
Idem, ibidem, p. 33.
31
HELLMANN, Marie-Christine. Caves et sous-sols dans l'habitat grec antique. Bulletin de Correspondance Hellénique, ano 1992, p. 261. Tradução do autor.
32
Certamente que a realidade é sempre mais vasta e complexa, a pesquisadora Marie-Christine Hellmann anotou, a partir de dadas fontes escritas, como empréstimos e despejos por falta de pagamento e títulos de propriedade cerca de... 46 termos para designar casa!. Os termos variavam muito, por exemplo “ateliê para homens”, “duas partes” ou “dois níveis”. HELLMANN, Marie-Christine. La maison grecque: les sources épigraphiques. Topoi. Orient-Occident, ano 1994, vol. 4-1, p. 135-141.
33
HOMERO. Op. cit., p. 131.
34
O termo oikeia lança luz sobre os membros da oikos, a casa, uma unidade de habitação da qual faz parte os bens (inclusive os escravos) e as pessoas ligadas por um primeiro nível de parentesco (filiação e aliança): o pai, a mãe, os filhos e talvez outras pessoas de parentesco próximo residindo na casa (uma tia, um tio, um irmão, uma irmã etc.) segundo os termos de Aristóteles”. LÉVY, Edmond. Privé et public dans la Grèce antique. Villes en Parallèle, ano 2001, n. 32-34, p. 19. Tradução do autor.
35
HOMERO. Op. cit., p. 26.
sobre o autor
Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima, arquiteto e urbanista, mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Espírito Santo, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Autor do livro Arquitessitura; três ensaios transitando entre a filosofia, a literatura e arquitetura. Professor da Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Arquitetura e Urbanismo.