O setor da construção civil é um dos que causam maior impacto no meio ambiente. A produção do cimento, material base para a indústria da construção civil, é responsável por aproximadamente 8% das emissões globais de CO2(1). É papel dos agentes envolvidos no setor apresentarem novas ideias, de modo a conciliar o desenvolvimento das atividades da construção à preservação do meio ambiente (2).
Questões relacionadas a tornar uma edificação mais sustentável começam a ganhar espaço de discussão a partir da década de 1990, com a ECO 92. A partir daí, não só novas técnicas construtivas são estudadas, mas também as técnicas vernaculares, reconhecendo que possuem qualidades e desempenhos técnicos semelhantes e/ou iguais às novas tecnologias.
A técnica vernacular ou tradicional prioriza materiais naturais recolhidos no próprio sítio ou nas proximidades. O uso da terra, como material base nas edificações, desde as autoconstruções até a atualidade, com incrementos e novas tecnologias, vem se tornando assunto frequente nas discussões dentro da academia (3).
A taipa de pilão possui qualidades preponderantes, se executada corretamente, no sentido de se caracterizar como uma escolha para uma arquitetura mais sustentável. São elas: boa inércia térmica e permite trocas de umidade com o meio, contribuindo de modo considerável, na redução do consumo em energia para climatização do ambiente (4).
A transição do processo de construção artesanal para a produção industrializada deve ser justificada de acordo com a necessidade da sociedade, com bases técnicas e científicas existentes (5). A industrialização do processo construtivo em terra melhora tanto as características naturais do material, graças a adição de estabilizantes, quanto na redução do tempo de execução, garantindo as qualidades ideais para uso e aplicação no mercado atual da construção civil (6).
O objetivo deste artigo é apresentar a atualização da técnica de taipa de pilão, partindo da reflexão do conceito de tecnologia apropriada, com breve panorama mundial de produções contemporâneas em taipa mecanizada, com enfoque na produção no Brasil, através de seis edificações nacionais, que apresentam uma nova forma de se construir com taipa, balizada no desenvolvimento tecnológico no Brasil.
Taipa de pilão: da técnica tradicional à mecanização
Partindo da reflexão acerca da Tecnologia Apropriada, é importante que se compreenda primeiramente a importância das técnicas e processos construtivos dos antepassados (o saber histórico) e sua evolução tecnológica histórica, para então traçar os caminhos para a inovação (7).
Técnica tradicional
As técnicas de construção com barro datam de até nove mil anos (8). A construção mais antiga que se tem datada é no Cazaquistão (8.000 a.C.). No Brasil, entrou em desuso no início do século 19, com o advento do cimento Portland. A execução da técnica consiste, em linhas gerais, em apiloar camadas de terra crua entre formas de madeira, construindo paredes de painéis monolíticas, autoportantes e de material isotérmico.
Inicia-se com a extração da terra nas proximidades ou no local da obra. A seleção e transporte da terra é feita, na técnica vernacular, pelo próprio taipeiro, com utilização de carrinho de mão ou baldes (9).
Por conseguinte, determinada quantidade de solo é peneirada, posta para secagem e misturada, em casos pontuais, com o aglomerante. Em seguida, acrescenta-se água à mistura até se atingir o ponto óptimo de umidade, colocando a massa resultante dentro de um taipal (forma reforçada de madeira), também com ferramentas manuais. Inicia-se então a compressão da terra com golpes feitos com pilão manual (10).
Na sequência, o trecho compactado é desenformado, remontando a forma acima do trecho construído, reiniciando o processo até atingir a altura desejada da parede.
A mecanização
Um dos primeiros países a empregar tecnologia em novos edifícios de taipa foi o Egito, principalmente pela atuação do arquiteto Hassan Fathy, da Universidade do Cairo (11). A taipa mecanizada ou contemporânea incorpora um novo modo executivo, agregando novos equipamentos, métodos, ferramentas e design (12).
Nesse sentido, a tecnologia apropriada admite que diferentes culturas e regiões terão diferentes tecnologias apropriadas por suas características, sendo essenciais para a formação de sua identidade cultural. Aplicada à construção civil, os processos que utilizam tecnologia apropriada não importam do estrangeiro seus sistemas construtivos, nem tampouco buscam o retorno de técnicas arcaicas e ultrapassadas (13).
A taipa mecanizada apresenta, em relação à tradicional, formas projetadas, associação de outros materiais ou subsistemas, melhor esbeltez, modulação das paredes e diferente resultado estético (14). Há ainda melhorias na resistência e durabilidade dos painéis, com o uso de compactadores mecânicos e betoneiras para a mistura da massa (15).
Panorama mundial da taipa contemporânea
Estados Unidos e Austrália são os países que mais possuem escritórios e construtoras especializadas em terra crua. Dentre os países que possuem normas técnicas, destacam-se os Estados Unidos, Peru e El Salvador (16). Na Alemanha é importante mencionar o engenheiro Gernot Minke, que desde 1970 desenvolve construções com terra na Europa, Índia, Américas do Sul e Central.
Na Áustria, Martin Rauch abre um novo capítulo na quase extinta taipa de pilão no continente europeu, aonde Rauch possui a maioria de suas obras executadas, com importantes inovações desenvolvidas.
Com foco nas novas tecnologias desenvolvidas dentro de um contexto específico de demanda, o quadro “Panorama mundial de novas tecnologias em taipa de pilão” traz o panorama de edificações que trazem inovação em se construir taipa de pilão, no contexto mundial. Apresenta-se primeiramente as obras executado por Martin Rauch, reconhecendo seu importante papel na inovação tecnológica da técnica construtiva. Na sequência, apresenta-se as demais edificações com inovações, de forma correlativa às já apresentadas.
No que tange ao desenvolvimento tecnológico da taipa de pilão, a figura de Martin Rauch aparece aliada aos avanços nos métodos de fabricação, com extensa experiência em inovações de engenharia estrutural. Em sua lista de projetos executadas, a Capela da Conciliação, a Ricola Krauterzentrum e a Gráfica Glugler apresentam-se como obras com importantes inovações (17).
Na Capela da Reconciliação, construída em 2000 por Martin Rauch e projetado por Peter Sassenroth e Rudolf Reitermann, as novas paredes foram construídas sobre os alicerces da velha igreja. A capela é o primeiro grande projeto público de nova construção usando taipa de pilão contemporânea na Alemanha (18).
Além do desafio do layout oval, Rauch desenvolveu vários detalhes e, com sua equipe, criou métodos para otimizar a fabricação, com a utilização de formas circulares e a compactação do material com cilindros vibratórios.
No mesmo ano, na Áustria, o edifício da Gráfica Gugler, de estruturas desenvolvidas em madeira e paredes de taipa autoportantes pré-fabricadas, a inovação se dá principalmente por possui aclimação por dutos subterrâneos embutidos nas paredes (19).
Já no Galpão da Ricola Krauterzentrum, obra mais recente executada por Rauch, a inovação tecnológica se dá tanto pela sua construção com elementos de terra pré-moldados, como principalmente pela utilização da argamassa trass (mistura de tufo vulcânico com cal), compactada a cada oito camadas de terra diretamente na forma, para conter a erosão provocada pelas intempéries. Tais elementos pré-moldados são produzidos em uma fábrica próxima, com a terra e matérias-primas extraídos de minas locais.
O Museu de Arte Moderna Tarrawarra na Austrália, inaugurado em 2002, também executado em painéis pré-fabricados em terra compacta, apresenta a inovação nos manuseios telescópicos em paredes curvas (20).
Já no Centro NK’MIP no Canadá, a inovação se dá pela utilização do sistema patenteado pela Terra Firma Builders Sirewall — sistema sanduíche com barras de aço corrugado que fixam o isolamento de poliestireno extrudido, aumentando a capacidade térmica.
No Chile, o Centro de Ecologia Aplicada traz tecnologias antissísmicas aliadas às paredes externas em taipa de pilão. Nos Estados Unidos, a Casa Back 40 traz a experiência das paredes pós-tensionadas como estratégia antissísmica, patenteada pelo Departamento de Obras Civis da Universidade de Wyoming, desde 2006 (21).
No que tange às pesquisas, no Reino Unido, há o Centro de Pesquisas Phymouth. Na França, a Associação CRATerre-EAG desenvolve pesquisas sobre inovações em taipa de pilão desde 1970. Dentre estas, o sistema de presilhas e compensados reutilizáveis para a taipa de pilão, que também são utilizadas no Brasil pela Associação Brasileira dos Construtores com Terra — ABCTerra.
Panorama brasileiro da taipa contemporânea
Conforme observa-se na experiência mundial, há uma grande tendência em se construir em painéis pré-fabricados de taipa contemporânea. Voltando o olhar às experiências brasileiras, destaca-se a implantação dos programas do CRATerre, a partir de 1997, pela ABCTerra — Associação Brasileira de Construtores com Terra.
Mencionando o CRATerre, no mesmo período de seu surgimento na França, em uma realidade brasileira de indefinições políticas do setor habitacional e grande déficit habitacional, surge um grupo de arquitetos baianos com o objetivo de produzir habitações em grande escala e baixo custo — o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento — Ceped (22).
Em 1980 esse projeto construiu 42 casas em taipa de pilão estabilizada com cimento, em Narandiba SP. Contanto, a realização do grupo enfrentou forte preconceito contra os sistemas construtivos de terra crua, promovido pelo governo brasileiro (23), através de uma campanha nacional, que iniciou na década de 1960, associando a técnica à doença de Chagas.
Tal campanha tinha como objetivo de servir à indústria do cimento (24), já que se iniciava no Brasil a política habitacional para construção em massa de casas populares financiadas pelo Banco Nacional de Habitação — BNH. Dessa maneira, popularizou-se a associação da proliferação do inseto barbeiro com as casas construídas com terra, apesar de se saber que o inseto vive em pequenas cavidades de qualquer tipo de material, não necessariamente em terra crua.
Conforme revisão bibliográfica feita de março de 2019 a abril de 2020, verificou-se que os autores Pinheiro, Rangel, Guimarães e Silva (25) conduziram um estudo que intenta apresentar o panorama de produção contemporânea em terra crua no Brasil, nos últimos sessenta anos. Fazendo um recorte apenas para edificações em taipa de pilão, chega-se em 38 obras, das quais possuem o seguinte perfil, segundo o estudo: tipologia habitacional, de produções privadas e com maior número de construções no Estado de São Paulo.
Na sequência, com foco para as produções no Brasil que trazem novas tecnologias em construção com taipa, foram selecionadas edificações em taipa mecanizada contidas em documentos científicos — artigos, teses ou dissertações, que apresentassem alguma evolução tecnológica na construção em taipa contemporânea. Há ainda a Casa Terra, catalogada após entrevista realizada com Daniel Mantovani, proprietário da empresa Terra Compacta, em maio de 2020. São relatadas ainda as soluções tecnológicas adotadas, ou no âmbito de mecanização e atualização do processo construtivo, ou mesmo soluções projetuais adotadas em observância aos preceitos da tecnologia apropriada, ou seja, adaptadas e/ou desenvolvidas para o contexto brasileiro.
No quadro “Panorama brasileiro de novas tecnologias em taipa de pilão”, as seis edificações estão organizadas em ordem cronológica, de acordo com a localidade (cidade e estado), ano de conclusão, principal contribuição tecnológica e autoria.
Kraft Food — experiência da empresa Terra Compacta
Na cidade de Piracicaba SP, a Biblioteca da Kraft Food, contida no artigo de Tavares e Almada (26), projeto do arquiteto Mauricio Venâncio e execução de Terra Compacta, foram construídas catorze paredes em vinte dias, por três pessoas.
Nesse sistema foram adicionadas barras de aço corrugado para reforçar a estrutura da taipa. A prática de adicionar armaduras às paredes de taipa de pilão é bastante comum, em execuções feitas pela empresa Terra Compacta. As paredes possuem dimensões de 40cm de espessura por 1m de largura e 2,45m de altura, e foram compactadas manualmente com socador entre formas de madeira (27).
Sede do canteiro experimental UFMS — Campo Grande
Já na sede do Canteiro Experimental da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul — UFMS, em Campo Grande MS, contida na dissertação de Ana Carolina Veraldo (28), o propósito da execução de tal edificação foi evidenciar a viabilidade do uso da terra como material construtivo para casas rurais.
Visando a produção em escala, o projeto arquitetônico foi modulado em função das formas. O processo construtivo, por sua vez, foi otimizado pela mecanização da mistura e da compactação, com o estudo da interface da taipa com outros sistemas.
A edificação fora executada através de um canteiro experimental no campus Campo Grande da UFMS, idealizado pelo grupo de pesquisa Canteiro Experimental. Trata-se de um laboratório que busca recuperar o fazer como uma das formas de aprendizagem (29).
Observou-se uma melhora significativa tanto no comportamento físico-mecânico das paredes, graças a utilização da microfibra de propileno como estabilizante, quanto na produtividade, em função da mecanização. A autora destaca ainda que a introdução de máquinas e equipamentos não foi plenamente aceita pela mão de obra, observando ainda grande dificuldade dos mesmos na montagem das formas.
Casa Colinas — experiência empresa Taipal
Na mesma cidade da Biblioteca da Kraft Food, a Casa Colinas, contida na dissertação de Leonardo Ribeiro Maia (30), projeto de Fato Arquitetura, foi executada em 2014 pela empresa Taipal Construções em Terra. A empresa possui sistema próprio de produção de estruturas em taipa, com o uso de formas metálicas com sistema de presilhas, compensados reutilizáveis e a mecanização de todo o processo de produção. Os solos usados na construção dos painéis foram extraídos de jazida próxima à obra.
Os três blocos paralelos da implantação respeitam a declividade do terreno e balizam a definição estrutural em duas premissas: o uso da terra como matéria-prima e a praticidade na construção. As estruturas de taipa são amarradas por uma cinta de concreto, que apoia a estrutura metálica da cobertura.
Casa Suindara — São Carlos SP
Na comunidade Nova São Carlos, a 8km da cidade de São Carlos SP, a Casa Suindara foi um projeto coletivo, executado com o Canteiro-Escola, ou seja, local que propicia a formação de estudantes e profissionais mediante a concepção e a construção de uma casa unifamiliar rural com a utilização de materiais naturais (31).
Em sua construção, a casa fora executada contemplando múltiplos sistemas construtivos mais sustentáveis. Dentre eles, a taipa de pilão fora executada tanto em suas vigas baldrames, quanto nas meias paredes bases externas. A terra selecionada fora do próprio sítio, estabilizada com 10% de cimento.
Para tanto, as vigas baldrames possuem 50cm de largura por 30cm de profundidade, ao longo das paredes da casa, e com 80cm de largura por 30cm de profundidade, em torno dos pilares de eucaliptos. O nivelamento de contato com o chão foi feito com uma camada de concreto, com impermeabilização. As bases das paredes são menos largas do que as fundações, possuindo 30cm de largura (32).
Casa Terra — experiência empresa Terra Compacta
Conforme observado na experiência executiva da empresa Terra Compacta, na edificação da Biblioteca da Kraft Food, a pesar dos resultados satisfatórios com adição de armação nas paredes, foram nas experiências posteriores em execuções, como a Casa Terra, de autoria da arquiteta Ana Terra Capobianco, que foram aplicadas novas estratégias tecnológicas na execução, inserindo mecanização, sobretudo nas formas metálicas, com fechamento em compensados plásticos, para um melhor resultado estético e nos compactadores pneumáticos.
Daniel Mantovani, proprietário da empresa, comenta ainda a respeito da mecanização nos processos da taipa, atribuindo à mecanização um resultado final mais satisfatório, destacando a importância de projetar as formas, desde os travamentos até a modulação. Sobre a mão de obra, comumente treina e utiliza mão de obra local, relatando facilidade dos operários tanto na assimilação, quanto na utilização de maquinários nos processos.
Além disso, a empresa possui um processo executivo que inclui tubulações hidráulicas e elétricas embutidas na parede de terra. Para tanto, é importante a compatibilização dos projetos da forma, com as saídas das tomadas e pontos hidráulicos, bem como manter o cuidado nas áreas dos corrugados, na compactação.
Casa Criativa — Raposa
Indo para o Maranhão, em uma experiência mais recentemente executada (2018), a Casa Criativa surgiu de um projeto do Instituto Maranhão Sustentável — IMS, que tinha como premissa desenvolver uma casa para pesquisadores visitantes, no município de Raposa, cidade satélite de São Luiz (33).
O projeto desenvolveu-se em dois grandes eixos: elaborado segundo princípios bioclimáticos e regionais, promovendo assim uma arquitetura bioclimática; e com baixo impacto ambiental, imputando novos olhares para materiais e técnicas milenares (34).
Desta maneira, analisou-se tanto os regimes de ventos, temperatura, precipitações, umidade do ar, como as trocas de umidade dos materiais construtivos com o meio, já que em São Luiz há maior percepção do clima alternando entre a estação seca e a chuvosa, com amplitude térmica muito baixa durante todo o ano, apresentando altas temperaturas (35).
Elencou-se assim a técnica da taipa de pilão como sistema construtivo para a edificação, pois além de possuir boa inércia térmica, permite trocas de umidade com o meio (36).
A terra foi adquirida em loja de material de construção, cuja jazida era próxima à edificação. A terra caracterizada como arenosa, fora submetida a testes de campo e laboratório, sendo feita, na sequência, correção granulométrica com areia (37).
A fundação foi executada com pedras assentadas com argamassa de terra, seguida da viga baldrame com altura de 30cm, evitando a presença da água por capilaridade na parede. As faces externas da parede receberam revestimento com placa cerâmica com altura de 50cm para proteger a parede dos respingos da água de chuva.
As formas projetadas possuíam duas pranchas fixas por montantes, com separadores e abraçadeiras, a fim de evitar a movimentação na compactação.
A casa possui uma varanda frontal, dois quartos, banheiro seco, cozinha e área de serviço. Todas as paredes foram executadas em taipa de pilão, com cobertura de telha de fibrocimento pintada, piso em cimento queimado vermelho nas áreas molhadas e piso de garrafas de cerveja cortadas nos quartos (38).
Considerações finais
É possível observar, nas produções contemporâneas brasileiras, sobretudo duas escolas de produção: a primeira, com produções balizadas na estabilização da taipa de pilão com cimento — o solo cimento, iniciadas no contexto brasileiro pelas experiências do grupo Ceped; e a segunda, com produções balizadas nas premissas executivas e experiência do CRATerre-EAG, ou seja, na atualização da técnica através da adição de tecnologia no processo construtivo, priorizando a correção granulométrica em detrimento às estabilizações químicas.
Vale ressaltar ainda, no contexto brasileiro contemporâneo, a atuação da Rede Terra Brasil, organização nacional, composta por profissionais, estudantes, instituições e entidades de classe, que fomenta os temas ligados a arquitetura e construção com terra. A organização possui projetos como o “Fotografando a Terra “e uma parceria com o Mapa da Terra, que tem como intuito criar um inventário contemporâneo de edificações em terra no Brasil, bem como as restaurações de edificações históricas.
Há ainda o Congresso Terra Brasil, que estará em sua 8ª edição em 2022, sendo realizados de forma presencial, itinerante e contínua bianual desde 2006, onde os inscritos, membros ou não, têm a oportunidade de confraternizar e vivenciar intensamente as práticas profissionais e conhecimento em Arquitetura e Construção com Terra (39).
Conclusões
No panorama mundial, fica evidente a capacidade de evolução tecnológica, de acordo com a demanda específica de cada localidade e a tendência de se construir com painéis pré-fabricados de taipa mecanizada. Tais estudos são norteadores como experiência construtiva, uma vez que possuímos enquanto sociedade nossas próprias particularidades, inclusive historicamente possuímos lastros desde as casas bandeiristas. Porém, observa-se que países que possuem histórica experiência com a técnica vernacular, como Espanha, Portugal e Brasil produzem de forma tímida inovações tecnológicas do sistema construtivo.
Com relação a produção contemporânea no Brasil, frente a dificuldade falta de normas técnicas de construção, podemos constatar que as produções e pesquisas acontecem ainda de forma pouco expressivas, mas crescente, conforme observado no estudo de Pinheiro et.al. (40).
Entendendo nosso potencial (crescente aceitação), demanda (déficit habitacional) e tendo como instrumento de desenvolvimento tecnológico o conceito de tecnologia apropriada, destacamos também a importância de se ter norma técnica no Brasil, lastreando a atuação de construtores a parâmetros técnicos conhecidos. Atualmente a Comissão CE-002 123-009 — Comissão de Estudo de Construções em Terra, da Associação Brasileira de Normas Técnicas — ABNT, está redigindo a nova norma técnica de taipa de pilão.
notas
NA — Os autores agradecem a cordialidade e disposição de Daniel Mantovani, proprietário da empresa Terra Compacta, pelas entrevistas, bem como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Brasil — Capes, que apoiou o presente trabalho, através do Código de Financiamento 001.
1
LEHNE, Johanna; PRESTON, Felix. Making Concrete Change: Innovation in Low-carbon Cementand Concrete. Chatham HouseReport, Cambridge, jun. 2018, p. 5.
2
NEVES, Célia Maria Martins, FARIA, Obede Borges. Técnicas de construção com terra. 1ª edição. Bauru, Rede Ibero-americana Proterra, 2011, p. 9-11.
3
MAIA, Leonardo Ribeiro, ANDRADE, Antônio Gil da Silva, FARIA, Obede Borges. Tecnologia apropriada na construção com terra — taipa e blocos de terra comprimida. Anais do 16º Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, São Paulo/Porto Alegre, 2016 <https://bit.ly/3JWTu72>.
4
NEVES, Célia Maria Martins, FARIA, Obede Borges. Op. cit., p. 9-11.
5
UNITED NATIONS CENTRE FOR HUMAN SETTLEMENTS. Earth constructiontechnology. Nairobi, Unhabitat, 1992, p. 4.
6
MAIA, Leonardo Ribeiro, ANDRADE, Antônio Gil da Silva, FARIA, Obede Borges. Op. cit.
7
Idem, ibidem.
8
MINKE, Gernot. Building with Earth — Design andtechnologyof a sustainatablearchitecture. 1st edition. Berlin, Birkhauser Basel, 2006, p. 13.
9
PISANI, Maria Augusta Justi. Taipas: a arquitetura de terra. Sinergia, São Paulo, v. 5, n. 1, 2004, p. 9-15.
10
Idem, ibidem.
11
PINHEIRO, Levi; RANGEL, Bárbara; GUIMARÃES, Ana; SILVA, Adeíldo. Panorama da produção de obras em terra crua com design contemporâneo nos últimos sessenta anos no Brasil. Anais do 2º Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira, Porto, FAUP, 2016.
12
GATTI, Fábio. Arquitectura y construccion en tierra: estudo comparativo das técnicas contemporâneas em tierra. Dissertação de mestrado. Barcelona, UPC, 2012, p. 45.
13
ABIKO, Alex Kenia. Tecnologias apropriadas tijolos e paredes monolíticas de solo-cimento. Dissertação de mestrado. São Paulo, Poli USP, 1980, p.16.
14
VERALDO, Ana Carolina. Análise do processo construtivo de taipa mecanizada: estudo de caso da sede do canteiro experimental da UFMS. Dissertação de mestrado. Campo Grande, UFMS, 2015, p. 9.
15
DELGADO, M. Carmen Jimenez; GUERRERO, Ignacio Cañas. Earth building in Spain. Constructionand Building Materials, Madrid, n. 20, abr. 2005 <https://bit.ly/3rCmgUj>.
16
SIREWALL. Structural Insulated Rammed Earth <https://bit.ly/3uVXZux>.
17
VOEHNUNGSKAPELLE. EvangelischeVersohnungsgemeinde <https://bit.ly/3Mju9Wq>.
18
Idem, ibidem.
19
GATTI, Fábio. Op. cit., p. 46-47.
20
HALL, Matthew R.; LINDSAY, Rick; KRAYERNHOFF, Meror. Modern Earth buildings: materials, engineering, constructionandapplications. 1st edition. Cambridge, WoodheadPublishing, 2012, p. 642-646.
21
GATTI, Fábio. Op. cit., p. 45.
22
TAVEIRA, Eduardo Salmar Nogueira. Tradição, culturas construtivas e modernidade nas arquiteturas de terra. Dissertação de mestrado. Campinas, IAR Unicamp, 2002.
23
Idem, ibidem.
24
Idem, ibidem.
25
PINHEIRO, Levi; RANGEL, Bárbara; GUIMARÃES, Ana; SILVA, Adeíldo. Op. cit.
26
TAVARES, Sérgio Fernando; ALMADA, Thaís. O uso da taipa em construções sustentáveis contemporâneas. Anais do 3º Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis, Coimbra/Braga, CTAC, 2018.
27
Idem, ibidem.
28
VERALDO, Ana Carolina, p. 9.
29
Canteiro Experimental. Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia — Faeng UFMS <https://bit.ly/3L5eWsc>.
30
MAIA, Leonardo Ribeiro. Contribuições às construções em terra comprimida e compactada e influências no conforto. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2016, p. 44.
31
PERRIN, Anaïs Guéguen; FERREIRA, Thiago L. Casa Suindara — Sobre seus materiais e sistemas construtivos. Anais do Terra Brasil 2014 — 5º Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil, Viçosa, Rede Terra Brasil, 2014.
32
Idem, ibidem.
33
SOUZA, Sanadja de Medeiros; MENDONÇA, Amanda Nunes Rodrigues; MORAIS, Kellen Pâmella Nunes. Velhas tecnologias, novos fazeres: o caso da residência criativa no Maranhão. Anais do Terra Brasil 2018 — 7º Congresso de Arquitetura e Construção com Terra no Brasil, Rio de Janeiro, Rede Terra Brasil, 2018.
34
Idem, ibidem.
35
Idem, ibidem.
36
NEVES, Célia Maria Martins, FARIA, Obede Borges. Op. cit., p. 9-11.
37
SOUZA, Sanadja de Medeiros; MENDONÇA, Amanda Nunes Rodrigues; MORAIS, Kellen Pâmella Nunes. Op. cit.
38
Idem, ibidem.
39
Rede Terra Brasil <https://bit.ly/3Le1137>.
40
PINHEIRO, Levi; RANGEL, Bárbara; GUIMARÃES, Ana; SILVA, Adeíldo. Op. cit.
sobre os autores
Gisele Elisa Steenbock é arquiteta e urbanista (Universidade Positivo, 2014), mestranda em Engenharia Civil (PPGEC UDPR), e pós-graduada em Construções Sustentáveis (UTFPR, 2016). Integrante do grupo Informação e Sustentabilidade na Construção Civil, bolsista Capes, membro da Rede Terra Brasil e integrante do comitê ABNT de construções com terra. Atua no desenvolvimento de projetos de arquitetura, em escritório próprio.
Sérgio Fernando Tavares é arquiteto e urbanista, doutor em Engenharia Civil (UFSC, 2005), pós doutor (Universidad do Minho, 2016) e professor titular (DAU UFPR e PPGEC UFPR). Trabalhou no desenvolvimento de projetos de grande porte e publicou, com outros autores, “Towards circular and more sustainable buildings: A systematic literature review on the circular economy in the built environment” (Journal of Cleaner Production, 2020).