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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
A pesquisa pretende criar um enfoque nos espaços de transição do ambiente construído de edifícios em Curitiba, entendendo o espaço de transição como um dispositivo qualificador da experiência do espaço público e do objeto arquitetônico.

english
The research intends to focus on the transition spaces in the built environment of buildings in Curitiba, understanding the transition space as a qualifying device for the experience of public space and the architectural object.

español
La investigación pretende enfocarse en los espacios de transición en el ambiente construido de edificios en Curitiba, entendiendo el espacio de transición como un dispositivo calificador para la experiencia del espacio público y del objeto arquitectónico.


how to quote

SCHMID, Aloísio Leoni; SCHNEIDER, Gabriel Zem. Experiência do usuário no espaço de transição. Possibilidades de projeto em Curitiba PR. Arquitextos, São Paulo, ano 23, n. 268.06, Vitruvius, set. 2022 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/23.268/8603>.

É comum abordar as qualidades do espaço construído em escolas de arquitetura e urbanismo com um apanhado de leituras de aspectos físicos inerentes à tecnologia das edificações. Através de métricas físicas, permite-se orientar estratégias para se atingir determinada faixa de desempenho para cada ambiente. Estes critérios, atrelados à dimensão humana, compõem o estudo do conforto ambiental.

Essa ideia como modo de aproximar a dimensão humana do processo de projeto busca a solução para um problema derivado da necessidade de uma terceira parte (usuário) e a interação resultante entre esta e o produto é o que se define como experiência.

Por experiência, entende-se, de maneira ampla, a prática ou experimentação de determinado fenômeno. Entretanto, o tema em questão tem se desdobrado no campo de estudos do design, principalmente pela demanda crescente de projetos interativos virtuais, classificando-se experiência como o fenômeno resultante da interação do usuário com o artefato (este, com múltiplas facetas de entendimento, podendo se tratar de um produto físico, um sistema ou serviço).

Entendimentos de experiência são encontrados no design e outras áreas, com modelos e teorias dentro dos campos da filosofia, antropologia, ciências sociais e cognitivas, administração e arquitetura. Sendo estes agrupados em três categorias: centrados no produto, no usuário ou na interação (1).

Concentrando-se nos modelos e teorias de experiência centrados no usuário, estes se baseiam no entendimento das ações e nos aspectos relevantes para a experiência da pessoa, cujos aspectos são gerados na interação com o produto.

Experiências se dividem em quatro níveis que contribuem em ações que criam significado: composicional, sensorial, emocional e espaço-temporal (2), paralelamente ainda se exploram quatro dimensões de interação: operacional, inventiva, estética e social (3). Mais além, a relação usuário-produto pode ser classificada como fluente (hábitos diários, tarefas simples), cognitiva (envolvem manuseio, resultam em conhecimento ou confusão) ou expressiva (ajudam no relacionamento e apego ao produto). Estas interações geram três tipos de entendimento de "experiência":

  • “Experiência”: um fluxo constante de “conversa consigo mesmo” (self-talk) que acontece quando interagimos com um produto;
  • “Uma experiência” ou “a experiência”: pode ser articulada ou nomeada e possui um início e fim. Esta pode influenciar o comportamento e mudança emocional;
  • “Co-experiência” ou “experiência coletiva”: criação de significado e emoções em conjunto de vários usuários com um produto.

Com essa noção, é possível afirmar que a emoção é o cerne de toda experiência humana. Ela preenche a lacuna entre usuário e produto e afeta até mesmo como se planeja interagir com um produto de design, é a expressão do continuum do plano mental e físico.

Em arquitetura, a diferenciação da experiência importada do design é puramente a condição de imersão completa do usuário no espaço projetado, inclusive em condições subjetivas, comumente tateando as ideias fenomenológicas do habitar de Martin Heidegger ou atmosfera de Peter Zumthor. Essa reflexão se faz pertinente num contexto em que a interação entre usuário e ambiente construído é reduzida a critérios de desempenho físico no conforto ambiental ou ainda quando se confunde ainda com a noção popular de bem-estar amplamente explorada comercialmente na arquitetura.

Dentro desse panorama, a tratativa do conforto como a ideia de atmosfera, termo oriundo da fenomenologia, que se demonstra mais preciso para ser utilizado na arquitetura e já explorado por autores conhecidos no meio. Conceito este que abriga a predisposição emocional pelo contínuo concomitante de fatos (internos e externos), arranjos ambientais ou espaciais e o sujeito, ainda que de maneira indefinida, como se tratasse de um meio entre usuário e objeto (4).

Atmosferas (5) comunicam-se com nossa percepção emocional, caracterizando compreensões imediatas que se relacionam com nosso instinto de sobrevivência: perceber uma atmosfera se dá num instante com a ligação emocional e reação imediata. Assim como a experiência em design, as atmosferas na arquitetura ligam-se à relação entre usuário e objeto.

Conforto é uma das atmosferas ou um dos quadrantes que resultam numa representação cartesiana a partir de um eixo de valência e outro de estimulação. Outros quadrantes são aventura, perigo e tédio, através de interações estimulantes-desestimulantes e positivas-negativas. É possível através do estudo do ambiente qualificar a experiência e ainda identificar estratégias projetuais que auxiliem na prática de projeto com maneiras de operar em arquitetura.

Quadrantes das atmosferas
Elaboração Aloísio Leoni Schmid, 2018

As mudanças desses quadrantes se relacionam também com alterações no tempo (dia e noite) e noções ambientais (dentro e fora). Dicotomias que marcam e ajudam a identificar de maneira mais simples as diferenças entre atmosferas.

Em um espaço arquitetônico, a alternância dessas atmosferas depende de dimensões muitas vezes fora do alcance da atividade do projeto, entretanto, é possível, através do estudo do ambiente consolidado, qualificar a experiência do usuário ao lidar com estas dicotomias e ainda identificar estratégias projetuais que auxiliem na prática de projeto com maneiras de operar em arquitetura na cidade.

Espaço de transição enquanto atmosfera

Ainda, o infinito conjunto de pequenas interações e respostas emocionais constrói uma experiência mais forte através do tempo e essa “escalabilidade” (6) demonstra como a experiência de um usuário muda através do tempo na relação com o artefato. Portanto, para definir a qualidade de uma experiência, é necessário mapear outras pequenas interações para entender melhor o relacionamento do usuário com determinado artefato.

Logo, na relação entre as diversas atmosferas que conformam o ambiente urbano, enquanto construção coletiva, a maneira como os edifícios lidam com atmosferas públicas e privadas pode fornecer embasamento de maneiras e estratégias de projeto para atuar entre estas.

Condições do campo (7) (“qualquer matriz formal ou espacial capaz de unificar diversos elementos” ou “tecnologias digitais, redes e sistemas de comunicação e informação, comportamento do usuário”) (8) são capazes de gerar projetos que atendem a vida cotidiana, considerando a arquitetura como fundo e não figura, a forma importa, mas não tanto a forma em si, mas a forma entre as coisas.

Dessa forma encaixa-se o entendimento da arquitetura como um dispositivo de se considerar as condições de campo na prática de projeto. Aproxima-se do entendimento de qual forma a produção do espaço das grandes cidades lida com a tensão dialética entre duas dimensões de existência ou programáticas: público e privado, horizontalidade e verticalidade, externo e interno, dentro e fora, dissolução e alienação etc. (9). Ao enfocar as relações entre edifício e urbanidade, cria-se uma outra dimensão de espaço: o espaço entre limites ou simplesmente transição.

A transição na arquitetura atua como elemento mediador entre duas atmosferas: o lugar de dentro e o lugar de fora. Portanto, para entender a transição, é necessário evocar o conceito de lugar: uma "totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor. Juntas estas coisas determinam uma ‘qualidade ambiental’ que é a essência do lugar. Em geral, um lugar é dado como esse caráter peculiar ou ‘atmosfera’. Portanto, um lugar é um fenômeno qualitativo ‘total’, que não se pode reduzir a nenhuma de suas propriedades, como as relações espaciais, sem que se perca de vista sua natureza concreta” (10).

Voltando às questões de experiência, intriga-nos a maneira pragmática como esta é encarada no design e, paralelamente, em arquitetura, tratamos (ou reduzimos) experiência enquanto uma imersão em um lugar provido de características físicas que promove ou não um desempenho ambiental agradável (conforto) às atividades das quais deve lidar ou “qualidade ambiental”.

Um não-lugar

Como se qualifica um espaço que não é um lugar? Sabendo-se que a transição (ou espaço de transição) é um elemento mediador entre edifício e sua urbanidade, pode esta ser entendida como um lugar por si só? Ao passo que conecta dois lugares, sua definição parece perder significado: Se ao adentrar a um lugar, a experiência é irredutível, como se classifica o espaço-entre lugares? Um não-lugar?

A transição nos espaços das construções é um tema também exposto por Christopher Alexander, ao abordarem padrões “atemporais” de espaços de transição. Para estes, “A experiência de entrar em uma edificação influencia na maneira de se sentir dentro da construção. Se a transição é muito abrupta não há sensação de chegada, o ambiente interno falha em se tornar um santuário íntimo” (11).

Em outro exemplo, Arata Isozaki (12), ao estudar sobre a natureza de uma filosofia da arquitetura japonesa, encontra o conceito da palavra “Ma” — 間 — traduzido como “interstício”, cujo ideograma reside tanto no conceito de espaço (空間 — kukan) quanto de tempo (時間 — jikan). O Ideograma “Ma” é utilizado como segundo caractere em ambos. Ma originalmente significa “o espaço entre as coisas que existem próximas uma à outra; então vem a significar um interstício entre coisas — uma ruptura; depois, uma sala como um espaço definido por colunas e/ou telas de byōbu; num contexto temporal, é o tempo de descanso ou pausa durante uma ocorrência de um fenômeno e outro”.

A ideia de Ma, mais do que uma pausa ou simplesmente a sua tradução literal como “vazio”, não pode ser encarada somente no universo tridimensional ou temporal, mas também nas redomas da subjetividade da experiência, artes ou sociedade e até mesmo da metafísica (13). 間が悪い (ma ga warui), por exemplo, significa “estou desconfortável, envergonhado”, seja a expressão utilizada para se referir ao humor de colocação desnecessária ou ao se denotar uma atmosfera ruim (ambiental ou social), uma correspondente contemporânea desta expressão seria “The vibes are bad” (“as vibrações estão ruins”). Assim, percebe-se a colocação de Ma também para se denotar a atmosfera do lugar e é atribuída até mesmo à noção de ser humano (人間 — ningen — pessoa/lugar).

O “ma” liga-se ao espaço de transição em A Pattern Language (14), de forma que seus conceitos se inter-relacionam ao se referir ao espaço transitório como um articulador ou como objeto de estudo. Entender a transição como um agente entre o espaço público e privado é entender arquitetura e cidade como um espaço ambivalente e não ambíguo, um resultado construído que mescla as tensões entre os agentes deste mesmo espaço.

Pensar em qualidade de experiência da arquitetura na cidade é também pensar na qualidade da transição e em como este se relaciona e dialoga com o ambiente construído, capaz de promover a ideia de cidade.

Entretanto, como qualificar um não-lugar que ao mesmo tempo lida tanto com espaço público quanto privado e muitas vezes carece de uma materialização física em forma de construção que já nos é tradicional sem os mesmos artifícios do conforto ambiental, por exemplo?

Em A Pattern Language, Christopher Alexander desenvolveu uma espécie de “caixa de ferramentas” e um manual de instruções com modos de se utilizar uma linguagem projetual para atuar em projetos de arquitetura, em busca de uma “maneira atemporal de se construir” (15).

Algo similar foi proposto por Kara Djamel (16) com a intenção de se imaginar uma melhor objetividade para o espaço de transição, construindo uma categorização dos invólucros de transição em edificações contemporâneas, baseados em dez tipologias dos espaços de transição, embora a categorização de espaços de transição (17) não resume todas as possibilidades projetuais do espaço de transição e desenvolve outras treze alternativas e variações de espaços de transição dentro das categorias desenvolvidas por Djamel.

Mais além, parece oportuno também citar a pesquisa de Angelo Bucci acerca das maneiras de se operar em arquitetura em São Paulo, através de quatro imagens de dissolução dos edifícios no espaço público sustentadas por imagens poéticas na cidade (Bucci utiliza-se de figuras poéticas e maneiras de encarar o espaço construído como residência para a afetividade e proposição de projetos mais humanos, ou centrados nos usuários, conforme nomenclatura mais comum ao campo do design): transpor, infiltrar, invadir e mirar (18).

Essas abordagens certamente não traduzem a completude de maneiras a se atuar nos espaços de transição em arquitetura, mas nos permitem, de maneira mais objetiva, delimitar um cenário de um não-lugar. Entretanto, importar o conceito de experiência dos pesquisadores de design é oportuno: A resultante da interação entre usuário e produto (19).

Apesar da qualidade e avanços tecnológicos que nos permitem maior visualização no que irá se configurar o espaço construído após o processo de projeto e construção, a verdadeira experiência em arquitetura só se materializa na interação completa com o lugar. Dessa forma, o que temos em mãos para investigar as qualidades da experiência dos espaços de transição é o próprio espaço consolidado e, através de padrões, explorar possibilidades de operar em arquitetura.

Categorização de padrões

Os padrões construídos encaixam-se no que optamos por nomear por padrões de produção. Já outra maneira identificada de categorizar qualitativamente os espaços de transição é por meio de seus padrões de utilização (ou uso): a maneira como esses espaços se comportam para amparar as atividades cotidianas.

Padrões de utilização do espaço de transição possuem relação direta com o usuário, ora, o espaço é também uma construção social, e nesse sentido, Richard Sennett (20) estabelece a relação de como a ideia de cidade se liga ao campo construído de forma quase mútua (cité — cidade imaginada, ville — cidade construída). Então refletir sobre a utilização dos espaços da cidade é pensar tanto na forma construída quanto no imaginário coletivo de cidade. Projetar tendo em mente padrões de utilização pretende, portanto, dar ênfase na forma como imaginamos a transição e como o usuário se apropriará desse espaço. Os padrões para utilização, então, podem ser entendidos como maneiras como o espaço estimula o uso do espaço de transição e conforma sua atmosfera.

Transição conformadora da atmosfera urbana

No contexto urbano os padrões de uso impostos pela metrópole são vencedores na guerra direta contra os padrões de produção estabelecidos pela arquitetura, resta nos adaptarmos a estes. Nesse cenário, os sistemas de utilização são imaginados desvencilhados da análise da forma da construção (pois a mutabilidade da metrópole exige a adaptação) e pensados da maneira com que relacionam o ambiente construído com a cidade ou então, como permitem o diálogo entre ambos.

Tal diálogo é tema recorrente em pesquisas de autores conhecidos do cenário arquitetônico como Jan Gehl ou Jane Jacobs. Gehl afirma que “o tratamento dos espaços de transição [...] tem influência decisiva na vida do espaço urbano” (21) e classifica usos ideais para o ambiente de transição:

• Zona de troca;

• Zona de permanência;

• Zona de experiência ou estímulos;

Através destas possibilidades, Gehl defende a aplicação do conceito de “espaços de transição suave” (22) para descrever térreos e limites que favorecem os usos supracitados através de, por exemplo, fachadas que promovam estímulos e maiores aberturas para os acontecimentos externos.

No mesmo sentido, Richard Sennett classifica e demonstra cinco formas principais de abertura (no sentido tanto social quanto construído) da cidade que iremos abordar aqui como padrões de utilização: "formas sincrônicas, interrompidas, porosas, incompletas e múltiplas não esgotam todas as possibilidades à sua disposição, mas são suficientes para transformar suas experiências em formas construídas" (23).

A transição como lugar/atmosfera

A atmosfera de um lugar é compreendida pelos usuários de acordo com sua predisposição emocional de maneira instantânea. O espaço de transição, como recurso projetivo, permite de certa maneira pré-condicionar a percepção das atmosferas arquitetônicas nos espaços públicos e privados, assim como Christopher Alexander descreve com o “comportamento de rua” deixado para fora da casa ao entrar, configurado pela criação de uma transição.

Ainda assim, a dificuldade em se lidar com as atmosferas de um lugar nos projetos de arquitetura reside no fato de falta de procedimentos, possibilidades ou entendimentos específicos sobre o tema. Melhorar a qualidade de uma atmosfera pode soar intangível, ao passo que o estudo tecnológico do ambiente construído, através de métricas precisas, permite uma aproximação mais direta do que se entende por conforto ambiental, como se fosse um checklist de itens a se considerar para promover a qualidade do espaço de arquitetura.

Entretanto, acreditamos que as qualidades de produção e utilização dos espaços de transição elencadas aqui podem fornecer interesses e possivelmente procedimentos para definirem-se estratégias de projeto para estes espaços e assim qualificar suas próprias atmosferas.

Método

Dessa forma, num recorte do espaço construído em Curitiba, exemplos singulares que nos forneceram estratégias agrupadas de acordo com os padrões que conformam um constructo de análise para a criação de estratégias de projeto para espaços de transição na cidade.

Ao todo, selecionamos quatorze lugares da região central de Curitiba, ao longo do eixo da rua XV de Novembro que, além de possuir uma importante dimensão simbólica na história do espaço construído de Curitiba, permeia diversos contextos dentro do centro da cidade.

Apesar da falta de relevância arquitetônica de alguns casos aqui selecionados, a transição destes edifícios permite encontrar relações inusitadas de programas funcionais e de estratégias de organização de fluxos, como se estes fossem dispositivos para se corrigir uma condição urbana, sejam estas decorrentes de fluxos, desníveis, transporte, segurança e até mesmo função.

Portanto, os casos selecionados bem como a singularidade principal para sua seleção foram os seguintes:

  • Shopping Crystal — galeria desnivelada;
  • Hotel Pestana — torre recuada e praça nivelada;
  • Shopping Omar — galeria desnivelada;
  • Universe Life Square — torre recuada e praças recuadas em pódios isolados;
  • Edifício Evereste (rua do comércio 24h) — embasamento comercial, galeria nivelada e integração entre lotes separados;
  • Praça Rui Barbosa — infraestruturas espalhadas e cobertura conciliadora;
  • Central Park Gallery — torre sobreposta e galeria nivelada;
  • GaleriaTijucas — torre extrudada e galeria nivelada aglutinadora de fluxos;
  • Teatro Universitário de Curitiba — passarela subterrânea híbrida;
  • Shopping Itália — embasamento comercial em pódios sobrepostos;
  • Terminal Metropolitano do Guadalupe — infraestrutura concentrada e cobertura conciliadora;
  • Capital Shopping Centro — embasamento comercial nivelado com estaqueamento de níveis;
  • Mercado Municipal de Curitiba — edifício quadra incrementado com cobertura conciliadora;
  • Reitoria da Universidade Federal do Paraná — arranjo de edifícios isolados com térreo livre.

A partir da seleção, para cada um dos casos produziu-se um diagrama esquemático em planta de sobreposição de atmosferas (público, privado aberto e fechado) e recursos (infraestruturas de transporte, escadarias, elevadores, rampas), bem como diagramas de produção em corte esquemático (concepção formal/construtiva da transição) e diagramas axonométricos dos arranjos espaciais do contexto urbano (concepção de organização de fluxos, inserção urbana e outras relações).

Mapas de sobreposições de atmosferas públicas e privadas nos casos selecionados
Elaboração dos autores, 2020

Cortes esquemáticos dos padrões de produção dos casos selecionados
Elaboração dos autores, 2020

Cortes esquemáticos dos padrões de produção dos casos selecionados. Exemplo ampliado: praça Rui Barbosa
Elaboração dos autores, 2020

Diagramas axonométricos das relações contextuais dos casos selecionados
Elaboração dos autores, 2020

Diagramas axonométricos das relações contextuais dos casos selecionados. Exemplo ampliado: praça Rui Barbosa
Elaboração dos autores, 2020

Este levantamento e exercício de elaboração esquemática das construções recortadas desencadeia em uma análise crítica para cada um dos lugares selecionados visando a discussão projetual como objetivo. Portanto, o diagrama e a representação gráfica de síntese inserem-se como ferramentas essenciais para possibilitar uma análise desprendida dos aspectos estéticos e técnicos do objeto arquitetônico, focada nos arranjos espaciais da transição e possibilidades de projeto para estes espaços.

Mais além, como maneira de se comparar os casos com maior facilidade, classifiquei as características de cada lugar com base nas qualidades de produção e utilização descritos anteriormente, utilizando-se gráficos de radar de acordo com cada um dos padrões (sincronicidade, interrupções, porosidade, incompletude e multiplicidade). Esses gráficos permitem, portanto, avaliar e comparar o desempenho dos espaços de transição em se utilizar dos padrões de utilização, sem necessariamente depender dos valores estéticos das construções envolvidas.

Esta maneira de representação das qualidades para o espaço de transição é essencialmente qualitativa e foi utilizada aqui como estratégia de análise em como tais espaços de transição se comportam com os padrões de utilização, não como uma tentativa de ranquear ou desenvolver uma estratégia absoluta para projetos de arquitetura. Os critérios utilizados para estabelecer as notas para cada um dos padrões estão representados na tabela “Critérios de desempenho das qualidades de utilização dos espaços de transição”; respectivamente, na tabela “Critérios de desempenho de porosidade dos espaços de transição”, apresentam-se os critérios específicos para porosidade. Aqui utilizamos as notas, “1”, “2” e “3”, correspondendo “1” para a ausência ou ausência da qualidade e “3” a máxima de aplicação dos padrões de utilização.

Estas notas foram representadas através do exercício de elaboração de gráficos de desempenho em formato de radar.

Critérios de desempenho das qualidades de utilização dos espaços de transição
Elaboração dos autores, 2020

Critérios de desempenho de porosidade dos espaços de transição
Elaboração dos autores, 2020

Gráficos de desempenho dos casos selecionados. À esquerda os critérios gerais e à direita os critérios de porosidade
Elaboração dos autores, 2020

Exemplo ampliado de gráfico de desempenho
Elaboração dos autores, 2020

Resultados

De maneira ampla, percebem-se estratégias similares ou recorrentes, objetivo deste ensaio, que servem como atitudes possíveis em relação ao contexto de inserção. Essas possibilidades fomentam o vocabulário projetual com estratégias que dialogam e conformam atmosferas públicas e privadas através do ambiente construído do espaço de transição:

Recuar

Permite a criação de espaços abertos em locais que não possuem amplitude visual e carecem de espaços públicos. Na região central esta possibilidade se demonstra interessante para promover maior faixa de respiro entre os edifícios e complexidade entre os lotes que podem se aproveitar de recuos para criar espaços sincrônicos, com interrupções e porosidade.

Atravessar

Uma recorrente na maioria dos casos selecionados. Esta ação permite a criação de novas conexões entre atmosferas e atividades nas quadras, depende da morfologia do terreno e das condições urbanas para configurar um espaço ambivalente.

Nivelar e transpor

Se refere à possibilidade da transição se oferecer como recurso de circulação para suavizar desníveis naturais ou artificiais da cidade, ao passo que tira proveito dessa intenção para criar espaços adjacentes.

Conciliar

Envolve a capacidade da transição de servir como articulador entre diversidade de atmosferas. A cobertura conciliadora de infraestruturas espalhadas, a praça aberta que concilia a relação entre atmosferas privadas, a passagem em desnível que oferece utilização híbrida ou a galeria comercial que organiza acessos e fluxos em um edifício.

Possibilidades de atuação dos espaços selecionados
Elaboração dos autores, 2020

As possibilidades elencadas são atitudes projetuais recorrentes nos casos estudados e permitem estabelecer uma relação entre a forma construída e a construção da atmosfera nos espaços, entretanto, o enfoque da pesquisa foi a identificação destas possibilidades de projeto, os efeitos destas ações projetuais na construção da atmosfera dependem de uma avaliação da experiência do usuário nestes lugares e outros espaços. Para tanto, se faz necessário o aumento significativo da quantidade de artefatos de análise para estabelecer com maior precisão a relação entre os efeitos das ações projetuais com a percepção do usuário.

notas

NE — Este artigo foi originalmente apresentado em SCHMID, Aloísio Leoni; SCHNEIDER, Gabriel Zem. Experiência do usuário no espaço de transição. Possibilidades de projeto em Curitiba PR. 3º Colóquio de Pesquisa e Design. (De)futurando o design: Práticas, políticas e saberes, Fortaleza, UFC, 3–5 nov. 2021.

1
FORLIZZI, Jodi; BARTABEE, Katja. Understanding experience in interactive systems. DIS '04: Proceedings of the 5th conference on Designing interactive systems: processes, practices, methods, and techniques, August 2004, p. 261–267.

2
WRIGHT, Peter; MCCARTHY, John; MEEKISON, Lisa. Making Sense of Experience. In BLYTHE, M. A.; OVERBEEKE, K.; MONK, A. F.; WRIGHT, P. C. Funology. Dordrecht, Kluwer Academic Publishers, 2004, p. 43–54.

3
MARGOLIN, Victor. Getting to know the user. Design Studies, n. 3, vol. 18, jul. 1997, p. 227–236.

4
SCHMID, Aloísio Leoni. Conforto como atmosfera. Uma exploração da literatura sobre base da psicologia ambiental e da fenomenologia. Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 214.00, Vitruvius, mar. 2018 <https://bit.ly/3f8Ph6A>.

5
ZUMTHOR, Peter. Atmosferas. Barcelona, Gustavo Gili, 2009.

6
FORLIZZI, Jodi; BARTABEE, Katja. Op. cit.

7
ALLEN, Stan [1999]. Condições de campo. In SYKES, A. K (org.). O campo ampliado da arquitetura. São Paulo, Cosac Naify, 2013.

8
SYKES, A. K. Op. cit.

9
ALLEN, Stan [1999]. Op. cit.; BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura. Da dissolução aos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo, Romano Guerra, 2010; SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo, Hucitec, 1997.

10
NORBERG-SCHULZ, Christian [1976]. O fenômeno do lugar. In NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica 1965–1995. São Paulo, Cosac Naify, 2008.

11
ALEXANDER, Christopher; SILVERSTEIN, Sara I. M.; JACOBSON, Max; FIKSDAHL-KING, Ingrid; ANGEL, Shlomo. A Pattern Language. Nova York, Oxford University Press, 1977.

12
ISOZAKI, Arata. Japan-ness in Architecture. Cambridge, The MIT Press, 2011.

13
NITSCHKE, Gunter. MA: Place, Space, Void. Kyoto Journal, 16 mai. 2018 <https://bit.ly/3SfQPub>.

14
ALEXANDER, Christopher; SILVERSTEIN, Sara I. M.; JACOBSON, Max; FIKSDAHL-KING, Ingrid; ANGEL, Shlomo. Op. cit.

15
“Timeless way of building”. Idem, ibidem. Tradução dos autores.

16
DJAMEL, Kara. Entre-2: l’espace transitionnel de l’enveloppe architecturale. Séminaire Master 2: Problématique de l’enveloppe architecturale entre plasticité et technicité. CHARCOSSET, Gérard (org.). ENSA Paris Val de Seine, Paris, 2006–2007 <https://bit.ly/3xSJQz9>; apud. BALSINI, André Reis. Espaços de transição: entre arquitetura e a cidade. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU Mackenzie, 2014.

17
BALSINI, André Reis. Op. cit.

18
BUCCI, Angelo. Op. cit., p. 127.

19
FORLIZZI, Jodi; BARTABEE, Katja. Op. cit.

20
SENNETT, Richard. Construir e habitar: ética para uma cidade aberta. Rio de Janeiro, Record, 2018.

21
GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo, Perspectiva, 2013, p. 75

22
Idem, ibidem, p. 79.

23
SENNETT, Richard. Op. cit., p. 233–234.

sobre os autores

Aloísio Leoni Schmid é engenheiro mecânico (UFPR, 1990), mestre (Universidade de Utsunomiya, 1993) e doutor (KIT, 1996). Atua na UFPR nos programas de graduação Arquitetura e Urbanismo e em Luteria e de pós-graduação em Engenharia de Construção Civil e em Design. Autor de A ideia de conforto: reflexões sobre o ambiente construído e tradutor de O Homem e o espaço, de Otto Bollnow.

Gabriel Zem Schneider é arquiteto e urbanista (2014) e mestrando (2020) pela UFPR. Sócio do escritório Solo Arquitetos desde 2016 e professor de Arquitetura e Urbanismo da Unifatec PR desde 2019.

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