Le Son d'Hanoi, este é o nome da composição que Pierre Mariétan apresentou esta semana no LATER – Laboratório de arquiteturas territoriais do departamento de arquitetura da universidade de Lausanne.
Durante 1h:40min e na penumbra, fomos levados a conhecer e passear pela capital vietnamita através da escuta. Ler uma cidade através do ouvido, descobrir sua geografia, sua configuração, seus volumes em cheio e em vazio, os materiais com que está construida, suas atividades e suas falas, através da escuta de uma montagem sequencial de sons captados in situ.
Nesta "experiência clinica", como a define o autor, rapidamente somos emergidos em um mundo mágico, onde podemos intuir odores, cores, dimensões e, após algum tempo de escuta, até mesmo reconhecer os personagens, os lugares, o horario, enfim, a completa cenografia deste verdadeiro filme sonoro.
Para quem tenha disponibilidade e interesse, Pierre Marietán organiza em agosto próximo o 5° encontro AME - arquitetura musica ecologia na cidade de Sion, Suíça.
Além disto, ele tem planos de vir ao Brasil ainda este ano, primeiramente em Londrina e depois, quem sabe, em outras cidades do pais…
Valorização dos sons e ruidos cotidianos
A referência ao conceito de ambiente sonoro é recente.
Até o aparecimento de uma motorização omnipresente e contínua o meio de vida autorizava, com rara excessões, a escuta de todos os sons da natureza e das atividades humanas que se situavam no campo auditivo de um indivíduo. O sinal sonoro guardava intacta sua capacidade funcional de localização espacial e de revelador social.
A máscara provocada pela motorização (aquela dos veículos como aquela das máquinas fixas e qual seja a sua amplitude acústica) apaga, para o ouvido, uma grande parte da riqueza sonora do meio e do cotidiano.
A primeira reação foi a de se proteger, de eliminar o "demasiado barulho" ambiental, depois de preservar aquilo que poderia ser considerado como bons espaços acústicos. As duas tentativas, baseadas sobre a riqueza exclusiva do silêncio, chegaram a uma revelação exacerbada da origem do som, sem trazer uma resposta positiva.
O "demasiado silêncio" não é mais aceitável que o "demasiado barulho". Uma esperança parece emergir com a busca do equilíbrio em um universo onde paradoxalmente"necessidade de silêncio" se manifesta por uma "necessidade de som".
Pierre Mariétan
notas
[publicação: maio 2002]
sobre o autor
Pierre Mariétan é compositor, fundador e diretor do LAMU - laboratório de acústica e música urbana da Escola de Arquitetura de Paris-La-Villette, onde atualmente ensina. Nasceu na Suiça, estudou nos conservatórios de Genebra, Veneza, Colônia e na Academia de Música da Basiléia com Pierre Boulez et Karlheinz Stockhausen.
Simultaneamente à composição, ele desenvolve um trabalho inusitado que toma em conta a estética do som no ambiente. Sua obra extrapola o espaço-tempo do concerto, enquanto instalações permanentes ou temporárias no âmbito da arquitetura monumental ou do habitat público e privado.
Fundador em 1966 do GERM (Grupo de Estudos de Realisações Musicais), que organiza quase 150 concertos diretor do conservatório de Garges. Desde 1969 ele é o produtor do Atelier de Création Radiophonique de France Culture.
Suas composições foram apresentadas na maioria dos festivais europeus de "musicas novas" e em diversas cidades européias, americanas e asiáticas.
Ele é autor de Ecrits de Musique III : la musique du lieu, Berne, 1997, obra que reune textos teóricos ("o som da arquitetura, a arquitetura do som", "musicalização de um espaço arquitetural", "Para uma concepção paisagistica da musica", etc), e diversos projetos (criação do parque de La Villette e la cité de La Musique, Expo de Sevilha 92, entre outros) e realizações musicais aplicadas, resultado do seu trabalho de pesquisa de qualificação do espaço sonoro urbano cotidiano.
Olívia de Oliveira, Lausanne Suíça