"A arte cresce vivendo fatos dramáticos"
(Alex Fleming) O resultado da premiação da 4ª edição do prêmio Interferências Urbanas foi decepcionante para quem esperava que o evento pudesse se transformar em um belíssimo manifesto da arte contemporânea carioca contra a realidade urbana assassina da cidade do Rio de Janeiro.
Não quero de forma alguma defender uma arte engajada, mas é inevitável hoje, no Rio de Janeiro, não pensar em arte urbana sem a menor ligação com nosso contexto de cidade. O Rio de Janeiro vive uma situação única no Brasil: os cariocas estão abrindo mão de sua cultura em prol da sobrevivência. Não se pode mais sair a noite, conversar com estranhos, flanar pelas ruas, estar à vontade nos espaços públicos a qualquer hora do dia ou da noite, é preciso sim, andar rápido, não se distrair, ficar em casa, etc. Isto é literalmente deixar de ser carioca, e neste caminho, hoje somos vanguarda, pois nenhuma outra cidade do Brasil está abrindo mão, coletivamente, de sua identidade.
E, apesar de toda a onda de violência da cidade, o bairro de Santa Teresa é ainda um dos últimos refúgios dos valores etimológicos da urbanidade: cortesia, civilidade e afabilidade. O bairro (leia-se as pessoas) ainda resiste e batalha pela preservação de sua cultura e morfologia urbana.
O que se esperava da comissão julgadora era, além da sensibilidade artística, o mínimo de sensibilidade urbana. E o que se comprovou com a escolha da maioria dos trabalhos – todos sem nenhum parecer da comissão (???!!!!) – foi a grande indiferença com a cidade do Rio de Janeiro e o bairro de Santa Teresa, quase uma falta de respeito, uma postura quase alienada em prol de uma arte quase boba.
notas
[publicação: julho 2002]
Rodrigo Azevedo, Rio de Janeiro