Desde o começo dos anos 90 a maior atração do Salone del mobile de Milão são os eventos paralelos que acontecem fora dos pavilhões da Feira e se espalham pela cidade ocupando galerias, lojas, livrarias, praças, espaços industriais abandonados e reutilizados . Armados do pequeno guia vermelho do “fuori salone” realizado cada ano pela revista Interni, de olho nas bolinhas vermelhas coladas na calçada e nas bandeiras que ajudam a localizar os lugares “ocupados” pelos designers e pelos artistas, o pessoal da área do design, vindo do mundo inteiro, e turmas de cidadãos de todas as idades deslocam-se durante cinco dias pela cidade, explorando centro e subúrbios de acordo com o roteiro pessoal de cada um e participam da festa. E a festa – com direito a surpresas – aconteceu também neste ano, de 9 a 15 de abril, apesar da chuva, da frieza da maioria dos interiores projetados (“acolhedores como consultório de dentista”, na opinião da revista de rua Urban) e da suspeita permanente de cumplicidade com mais um ritual do vazio.
Se a ocupação de lugares industriais está virando rotina – com destaque para a Alessi, que apresentou sua nova linha de sanitários no ex laboratório de provas de turbinas hidráulicas da Riva Calzoni, com peixinhos nadando no tanque de carga – o mesmo não aconteceu de fato com outras formas de “ocupação”: como a do Albergo Commercio pelo grupo holandês Droog Design, ativo em Amsterdã desde 1993. Discutindo a regra do new and beautiful a qualquer custo, o grupo convidou o público (que fazia a fila na porta para receber o mapa e um “passaporte”) a visitar o interior de um motel “uma estrela” no bairro de Brera: “apresentado” tal e qual, com suas velhas colchas de chenille anos 60, seus quadros e seus abajours de mau gosto, suas cortinas sujas, suas toalhas duvidosas, seu cheirinho de hotel barato. Em cada quarto só havia um pequeno acréscimo, às vezes quase invisível: a obra de um artista – um cabide fluorescente de Hector Serrano, um autocolante na janela de Emmy Blok, um tapete para o banheiro de Paulo Ulian, uma lâmpada adesiva de Chris Kabel etc. – e um carimbo: para cada visitante carimbar cuidadosamente seu passaporte ao chegar e/ou ao sair.
notas
[publicação: junho 2002]
Giovanna Rosso Del Brenna, Milão Itália