A partir dos anos 70, o mercado de imóveis (leia-se também a especulação imobiliária) começou a se apropriar de uma série de idéias e conceitos do urbanismo moderno. Em novembro de 1933, no 4º Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), os arquitetos e urbanistas redigiram um documento chamado de Carta de Atenas, que pregava a divisão da cidade em áreas com atividades e funções específicas e que não poderiam se misturar (o chamado zonning funcional). Estas idéias foram absorvidas com muita fé pelo mundo afora e até na Índia foi construída uma cidade (Chandigard) desenhada por Le Corbusier. Aqui no Brasil, o melhor exemplo de cidade planejada utilizando estes conceitos é Brasília, inaugurada em 1961, não por acaso idealizada por Lúcio Costa – mesmo urbanista que desenvolveu o plano-piloto de ocupação da Barra da Tijuca, aproximadamente dez anos após ter vencido o concurso da nova capital do Brasil.
Devemos, em memória deste importante arquiteto, lembrar que, ao perceber que sua idéia original (fruto da crença de que este era o melhor modelo de cidade) estava sendo de certa maneira pervertida, Lúcio Costa tomou a iniciativa de negar sua ajuda e chegou a escrever um texto em que repudiava os ajustes que estavam sendo feitos em favor da especulação imobiliária, como a mudança de gabaritos e a alteração da essência do Plano, que, na sua concepção, era de um espaço democrático e propício à integração e ao convívio das pessoas, declarando-se, então, "afastado dos destinos da ocupação da Barra da Tijuca".
Os condomínios, que mais tarde ganhariam a denominação de fechados, não foram assim idealizados a priori, e, de fato, surgiram no Rio a partir de meados da década de 70. Apesar de existirem até em bairros periféricos, como na Vila da Penha, este modelo é mesmo emblemático da Barra e seus primeiros exemplares foram o Nova Ipanema e o Novo Leblon.
Desde os primórdios de sua ocupação, a Barra foi anunciada como a ''novíssima Zona Sul'' do Rio de Janeiro. Os nomes destes primeiros condomínios fazem referências aos bairros então consagrados como residenciais. Não à toa não foi construída uma Nova Copacabana, pois este bairro, já naquela época, era considerado decadente.
Os anúncios publicitários destes lançamentos imobiliários tinham chamadas do tipo ''Venha morar onde você gostaria de passar as férias'' e, obviamente, também faziam referência à segurança encontrada nestes espaços que se pretendiam auto-suficientes. Eles estariam equipados para atender a todas as necessidades dos moradores, com áreas de lazer e esporte, espaços comunitários, pequeno comércio, escolas, clubes e até mesmo espaços de culto. Carlos Nelson Ferreira dos Santos, um importante urbanista brasileiro, costumava referir-se aos condomínios como ''cidades feitas sob encomenda''.
notas
[Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, 19 set. 2004.]
Antônio Agenor de Melo Barbosa, Rio de Janeiro RJ Brasil