Em época de eleições a mesma imagem se repete: independente do partido ou do barulho de seu jingle, o que se vê é a cidade imunda com santinhos jogados ao chão, adesivos colados em paredes, postes, árvores, outdoors do tamanho do ego de cada candidato, ou seja, uma imagem nem um pouco agradável de uma cidade que os políticos tanto glorificam em seus programas em nome da “cidadania”. Ser cidadão é fazer parte de uma comunidade, é trabalhar por ela e a favor dela.
É neste momento que a cidade é disputada com unhas e dentes pela retórica política: todos a querem e todos a desejam, pois ela ainda tem muito a oferecer como palco democrático do ideário político. Suas ruas e praças são usadas como palanques de discursos elaborados em prol da qualidade de vida. Mas como defender uma qualidade de vida quando, um simples ato básico de cidadania, o cuidado com o lugar onde se mora não é respeitado? Como defender a cidade e falar em seu nome, quando os ditos “cidadãos” fazem dela a sua lixeira? Ser cidadão não é somente pagar impostos, ter um número de identidade e CPF ou mesmo votar; é ser educado com sua cidade e sua gente para no mínimo não sujá-la. A cidade é o espaço da democracia por natureza. É nela que nascemos, crescemos, constituímos as famílias, votamos e escolhemos nossos candidatos, que irão nos representar perante a cidade e sua sociedade. E estes por obrigação são os primeiros, eleitos ou não, de terem com ela um respeito eterno.
É revoltante vermos nos dias das eleições o emporcalhamento que se tornam as ruas ao ter que passar por cima do tapete de santinhos coloridos dos mais diversos partidos, que disputam o seu espaço naquele mosaico de sujeiras. Cabos eleitorais proliferam nos arredores insistindo no seu voto, espalhando santinhos e adesivos que num piscar de olhos alcançam o chão. Isto sem contar com a poluição visual e sonora que nos faz perguntar se a democracia prevalece tanto assim nas épocas de eleição. A cada virada de cabeça é um novo outdoor, um santinho colado no vidro ou no carro todo, um autofalante motorizado que repete ad nauseum os mesmos jingles com aquele refrão que cola em nossos ouvidos... Somos bombardeados por todos os lados com uma bem elaborada campanha de marketing, com slogans, tiradas, músicas, denúncias de um contra o outro, podridões políticas e pessoais, tudo isso, em nome da “Cidade”. E é esta mesma que sofre todas as mazelas, é quem “paga o pato” e é o “bode-expiatório” no final das contas. Por ela já passaram muitos governantes, uns mais e outros menos competentes, uns mais e outros menos engajados, e todos em sua maioria com problemas conceituais quanto à cidade. A cidade não é o palanque para o seu “showmício”, e sim um lugar onde as pessoas querem ver de seu governante as soluções para os problemas urbanos, das coisas básicas como a coleta de lixo a uma cidade arborizada, bonita, como belos e agradáveis lugares e prédios, algo que lhes faça se sentir verdadeiramente cidadãos e parte de algo maior.
Fabiano Vieira Dias, Vitória ES Brasil