Os prédios ditos antigos – argamassados e caiados; ou pintados com tintas à base de cimento, etc – foram os últimos a respirar: umedeciam, por todos os poros externos e, também por eles, evaporavam de maneira uniforme e com velocidade suficiente para evitar exsudações rumo aos recintos internos.
Óbvio que exigiam lavaduras e repinturas mais freqüentes, incômodo este que vem servindo, há décadas, como "gancho" para justificar os mantos asfixiantes que estamos impondo às edificações urbanas, notadamente com o trio de acabamentos formado por pastilhas de grés (invariavelmente assentes sem juntas de trabalho), granilhas e películas acrílicas, sejam estas texturadas (grafiattos e afins) ou lisas.
De fato, tais produtos, sendo predominante estanques, não permitem que águas infiltradas por inevitáveis microfissuras (geradas pela plasticidade estrutural, por arrastos em trechos elevados de fachadas e/ou em deformações lentas de primeiros pavimentos-tipo, por fissuras em encunhamentos superiores de paredes, retração de emboços, falta de contra-vergas, etc) sofram adequada e tempestiva evaporação para o exterior; ora, como as faces internas das paredes de fachada não oferecem grande resistência à evaporação, não surpreende que estas sejam as mais costumeiras vítimas de danos (que envolvem emboços, rebocos, pinturas, carpetes, papéis de parede, armários, roupas, etc).
Assim, o trânsito por mais de 200 laudos técnicos, com inúmeras observações em prédios atingidos por infiltrações pluviais, permite afirmar que os adquirentes de imóveis "modernos" estão gastando, com remédios para rinites, asma e bronquites – resultantes de umedecimentos internos e fartas proliferações de fungos – bem mais do que gastariam com as repinturas praticadas pelos nossos saudosos e sensatos avozinhos.
Além do flagrante equívoco histórico, trata-se, portanto, de um péssimo negócio...
Já é tempo de promover um sensato e salubre resgate dos acabamentos externos; mesmo porque o mercado já dispõe, hoje, de tintas à base de acrilatos puros, que evitariam as recorrentes – e sempre inglórias – tentativas de converter prédios em "maçãs carameladas". O tema permite amplo debate e é muito oportuna sua inserção em todos os fóruns de debates sobre arquitetura e construção civil.
Sylvio Nogueira, Curitiba PR Brasil