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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
O arquiteto colombiano discute os interesses institucionais e a atitude "politicamente correta" que contaminam as premiações de arquitetura

english
The Colombian architect discusses the institutional interests and the "politically correct" attitude that contaminate the architecture awards

español
El arquitecto colombiano discute los intereses institucionales y la actitud "políticamente correcta" que contaminan los premios de arquitectura

how to quote

BARNEY CALDAS, Benjamin. A Bienal Colombiana de Arquitetura. E o grande pecado dos arquitetos. Drops, São Paulo, ano 05, n. 009.07, Vitruvius, out. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/05.009/1635>.


Os prêmios não escapam da política. No último Festival de Cannes a Palma de Ouro foi outorgada ao documentário de Michael Moore, cujo caráter oportunista e panfletário é evidente. Seu propósito, de acordo com o mesmo Moore, é impedir a reeleição de Bush. Quentin Tarantino, Presidente do Jurado, teve o cinismo (o mesmo de suas estupendas películas) de afirmar que o prêmio não tinha relação com a política e que a película de Moore era a melhor, afirmação que certamente não é compartilhada por muitos, como é o caso do crítico de cinema de Le Figaro, Jean Luc Godard, que o qualifica de um cineasta ruim, que não consegue distinguir entre o discurso e a imagem (Liliane de Levy, El Pais 04/06/2004).

Não há dúvida de que o último Prêmio Pritzker, dado a Zaha Hadid, tem também motivos políticos. Como é observado por Felipe Hernández, professor da Universidade de Liverpool, o prêmio é patrocinado pela Fundação norte-americana Hyatt, o que implica em interesses corporativos e algum tipo de atitude "politicamente correta". Não se havia premiado nenhuma mulher (e muito menos nascida em Bagdá) e todos os anteriores haviam sido brancos do primeiro mundo, o que não será de se estranhar se o próximo premiado for um africano negro, afinal já foram premiados três latino-americanos. Em outras palavras, conclui, o enorme êxito do Pritzker o tem comprometido politicamente (como se passa com todos os prêmios, incluindo o Nobel, com o qual é comparado), e se pode perguntar, com razão, se a Bienal Colombiana de Arquitetura, não sofrerá do mesmo processo.

Desta vez o Prêmio para Projeto Arquitetônico “Fernando Martínez Sanabria” foi dado para a Casa do Povo e para a Biblioteca Pública em Guanacas, Cauca, de Simón Hosie Samper, mas em contrapartida não se deu sequer uma menção para a casa Macana em Caucacia, de Juan Manuel Peláez, que aponta com mais felicidade na mesma direção; nem para o edifício de Marco Rincón ou para o escritório de Felipe Cadavid, ambos em Cali e bons exemplos de respeito ao entorno urbano, nem para a capela de Daniel Bonilla em Bogotá que também a merecia. Como já ocorre nos últimos dois anos, a escolha foi política ou, pior, demagógica. Foram deixadas de lado obras significativas para a arquitetura e para as cidades colombianas e de longe melhor desenhadas e construídas. E há quatro anos atrás, o que importava era não dar pela sexta vez o Prêmio a Rogelio Salmona. Desta vez nem apareceu no catálogo sua biblioteca Virgilo Barco, em Bogotá, o melhor e mais revelador edifício dos últimos anos no país, pois não foi inscrito, mesmo considerando que se pretende com as bienais, supostamente, difundir o melhor da arquitetura nacional.

Cada vez temos mais edifícios importantes na Colômbia que não são convidados para as bienais. A maior parte dos jurados recentes não possuem um trabalho crítico ou teórico conhecido, mas são zelosos de seus colegas próximos e já não visitam as obras que premiam. E há uma sórdida luta geracional. Como disse o historiador da arte Ernst Gombrich: "O impulso de diferenciar-se pode não ser o maior e mais profundo elemento dentre os dotes de um artista, mas raramente isso lhe falta". Pulsão muito preocupante na arquitetura, pois os edifícios sempre passam a formar parte de entornos urbanos ou rurais que são anteriores a eles e, na condição de monumentos à futilidade, não fazem outra coisa do que prejudicá-los. É o grande pecado dos arquitetos. E das bienais.

notas[Artigo publicado originalmente na coluna “La Ciudad”, El Pais, Cali, 19/08/2004.]

Benjamin Barney Caldas, Cali, Colômbia

Biblioteca pública, Guanacas, de Simón Hosie Samper; Casa Macana em Caucacia, de Juan Manuel Peláez; Capela em Bogotá, de Daniel Bonilla; Biblioteca Virgilio Barco, Bogotá, Rogelio Salmona

 

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