Não há dúvida de que mais vale a "sujeira" da democracia que a "assepsia" da ditadura. Esta frase é atribuída ao Tristão de Athayde (Alceu de Amoroso Lima) e eu concordo plenamente com ela.
Nesta campanha deste ano até que a democracia não está produzindo tanta sujeira urbana para emporcalhar nossas cidades e isto é louvável. Mas em uma simples caminhada pela Zona Sul do Rio em uma manhã ensolarada não pude deixar de me sensibilizar com estas figuras tristes e cabisbaixas que seguram cartazes de candidatos sempre sorridentes e felizes.
Num país que não dá oportunidades de trabalho e de estudos para a maior parte de seu povo e dos seus cidadãos dá pra perceber que as campanhas políticas não fazem a festa apenas de candidatos ávidos por votos e por recolherem fundos para as suas campanhas. Sabemos também que mesmo muitos candidatos que não serão eleitos poderão depois aproveitar as sobras de campanha provenientes de "Caixa 2" o que gera o bonito nome de "dinheiro não contabilizado", como já definiu outrora o "nosso companheiro" Delúbio Soares – para usar a expressão do Nosso Guia que, ao que tudo indica, será reeleito.
Mas dá pra ver que essa gente simples que fica de sol a sol segurando as fotos de sorridentes e felizes candidatos também aproveita o momento pra descolar um trocado para desempenhar uma atividade tão banal que não precisa de nenhuma qualificação para fazê-la, infelizmente.
Seria interessante pensar o que os candidatos, se eleitos, poderão fazer de concreto (e sem retórica ou demagogia) por esta gente simples e triste que segurando suas fotos gigantescas ajudou a elegê-los.
notas
[publicação: janeiro 2007]
Antônio Agenor Barbosa, Rio de Janeiro RJ Brasil