O “Conservatório de Artes e Oficios” de Paris apresenta, até o mês de março, uma impressionante exposição sobre o concreto. A exposição Bétons: étonnez-vous! (1), abrigada no mesmo edifício que reúne materiais utilizados nas maiores “invenções” da humanidade como o Pêndulo de Foucault, o barômetro de Pascal, a máquina fotográfica e a fibra ótica, mostra-nos que o concreto, utilizado pioneiramente nas edificações parisienses de finais do século XIX, continua inovador tanto na construção de edifícios como na fabricação de móveis e objetos decorativos.
A exposição introduz o visitante numa retrospectiva da utilização do concreto, começando pelos arcos romanos, passando pelas catedrais góticas, edifícios do movimento moderno, quando são mostradas obras de Le Corbusier, Oscar Niemeyer, Alvar Aalto, até o recente projeto da torre Hypergreen, onde se utilizam dois novos tipos de concreto: o Ductal e o Argilia.
O Ductal é um tipo de concreto que apresenta 2 a 4% de fibras metálicas ou orgânicas na sua composição, e que, como inovação, torna dispensáveis as armaduras metálicas tradicionalmente utilizadas. O Ductal pode ser utilizado como um concreto autoportante, permite a criação de formas mais complexas, maiores e, mesmo assim, mais delgadas. Como resultado, as estruturas se tornam mais leves, tanto em volume quanto em peso, consegue-se uma maior economia de material e processos de fabricação mais simplificados.
O Argilia, por sua vez, é resultado de vários anos de pesquisa sobre o concreto no que se refere à sua composição, os aditivos, sua fabricação e todas as etapas de que necessita a obra. O resultado é um concreto com capacidades de grande uniformidade, ou autonivelante, graças a sua grande fluidez, que lhe permite preencher os cantos e frestras das formas facilmente. Essa fluidez, com aparência líquida, dispensa certas etapas de preparação do concreto como a vibração, tornando sua aplicação mais fácil, mais rápida e de maneira mais regular, com um resultado de qualidade superior.
A exposição apresenta como exemplo de aplicação desses dois tipos de concreto o projeto da torre Hypergreen, resultado da busca por materiais inovadores e eficientes na construção de edifícios ecologicamente sustentáveis, desenvolvida em parceria pelos grupos Jacques Ferrier Arquitetos Associados e Lafarge. Com um programa que incorpora diversas atividades urbanas (como habitar, fazer compras, trabalhar, se divertir), o projeto para torre Hypergreen desenvolve um modelo a ser instalado nas grandes megalópoles mundiais, podendo ser construída e reconstruída completamente, de forma totalmente pré-fabricada (trata-se da primeira torre em concreto totalmente pré-fabricada).
Apesar disso, a torre tem como principio uma maior durabilidade. Com a altura de cerca de 246m, foi necessário um principio estrutural resistente e estável tanto à força dos ventos como aos abalos sísmicos. Foi adotado então o concreto de alto desempenho, o Ductal, cuja alta resistência tanto à torção quanto à compressão permitiu livrar o centro da edificação da utilização de múltiplos pilares. Além disso, a torre apresenta uma proposta de auto-sustentabilidade, com a produção de energia para seu próprio consumo, fazendo uso de energia renovável obtida por diversos processos, como painéis fotovoltaicos, energia eólica, sistema de aquecimento com bomba de calor geotérmico, entre outros. Por fim, um sistema único de distribuição das infra-estruturas, passando de quatro redes a uma única, que reúne a rede elétrica, a telefônica, a de informática e a de gestão técnica, é mais uma inovação técnica-construtiva no projeto.
A exposição apresenta outras composições de concreto com novas propriedades como a leveza e a transparência, e suas variadas aplicações em objetos técnicos e objetos de design. Um tipo de concreto contendo pedaços de alumínio e ar na sua composição é exposto flutuando em água. Essa composição apresenta grande capacidade de isolamento e boa resistência. Já o concreto translúcido apresenta fibras de vidro ou fibras óticas na sua composição. Através dessas fibras a luz percorre o interior da massa de concreto e permite a obtenção de efeitos surpreendentes e inovadores na arquitetura.
Numerosos designers, arquitetos de interiores e decoradores têm explorado as novas qualidades plásticas do concreto, sobretudo aqueles de alto desempenho, mais resistentes, muito mais delgados e fáceis de modelar com precisão. Como exemplo, são apresentados a banheira Beluga e toda uma linha de móveis desenhados por Jerémy Bataillou (2); as mesas de Jean-Michel Ducancelle (3); o mobiliário de decoração de Marie-Christine e Mario Silva (4).
notas
1
Exposição Bétons: étonnez-vous!. De 31 de maio de 2005 a 4 de março de 2007. Museu do Conservatoire National des Arts et Métiers (CNAM). 292 rue Saint-Martin. F-75141 Paris Cédex 03 <www.betons.arts-et-metiers.net>.
2
Ver obra de Jerémy Bataillou em Atelier du Beton <www.atelierbeton.com>.
3
Ver obra de Jean-Michel Ducancelle em La Compagnie Des Arts <www.beton-lcda.com>.
4
Ver obras de Marie-Christine e Mario Silva em Béton-concept <www.beton-concept.fr>.
[publicação: fevereiro 2007]
sobre o autor
Julieta Vasconcelos Leite, arquiteta urbanista, mestre em Desenvolvimento Urbano pela UFPE, doutoranda em Ciências Humanas e Sociais na Sorbonne (Université Renes-Descartes, Paris V).
Julieta Vasconcelos Leite, Paris França