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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Giovanna Rosso Del Brenna apresenta sua percepção sobre a 10ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza

english
Giovanna Rosso Del Brenna talks about the 10th Venice Biennale of Architecture

español
Giovanna Rosso Del Brenna presenta su percepción sobre la 10º Muestra Internacional de Arquitectura de la Bienal de Venecia

how to quote

ROSSO DEL BRENNA, Giovanna. Biennale di Venezia 2006. Sobre 10ª Mostra Internazionale di Architettura. Drops, São Paulo, ano 07, n. 017.06, Vitruvius, dez. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/07.017/1706>.


Corderie


O novo milênio nos havia brindado com uma idéia forte: a discutida, contraditória, incomoda e portanto inesquecível Less Aesthetics, more Etics do arquiteto Massimiliano Fucksas; logo apagada, em 2002, pelo descompromisso acrítico de Next, do então diretor da revista Domus Dejian Sudjic, e em 2004 pelo pragmatismo de Metamorph do professor Kurt Forster.

A decima Bienal Città. Architettura e società do arquiteto e urbanista Richard Burdett – que fechou em novembro de 2006 em Veneza – confirmou mais uma vez a opção “britânica” dos organizadores, em prol de uma suposta imparcialidade ou pretendida objetividade.

As protagonistas da edição 2006 eram 16 megacidades e grandes cidades dos quatro continentes (Shanghai, Mumbai e Tokyo na Ásia; Caracas, Cidade do México, Bogotá, São Paulo, Los Angeles e New York nas Américas; Johannesburg, Cairo e Istambul na África e Mediterrâneo; Londres, Barcelona, Berlin e Milão-Torino na Europa) apresentadas – no espaço admirável das Corderie do Arsenal – por meio de impecáveis (mas monótonas) seqüências de imagens de autor, filmagens escorrendo nas telas e pelo chão sobre seu território e seu “cotidiano”, projetos de arquitetura e urbanismo em andamento.

Alertado na entrada por dados fornecidos em multivision a 360°, o visitante/espectador ficou então sabendo que “no sul do mundo as cidades crescem com maior rapidez”; que “o crescimento maior será na Ásia e na África”; que as cidades estão consumindo “a metade da energia total” do planeta e “produzem o 75% das emissões de CO2”; que Tókio é, junto com Shanghai e Mumbai, a maior conurbação do mundo”; que em 2040 a maior será Mumbai, com 40 milhões de habitantes; que México é a cidade com menor densidade; que São Paulo tem uma população regional equivalente à de Los Angeles e Shanghai, etc. etc.

São Paulo, Bogotá e Caracas foram escolhidas – explicou Burdett – “para ilustrar tensões e oportunidades da cidade latino-americana”. Com destaque para São Paulo – definida a new-world dinamo – que abriu e fechou a seqüência fornecendo o estímulo, ou o pretexto, para as considerações finais do curador, marcadas por um otimismo (e um paternalismo) quase constrangedores:

“Os edifícios bem projetados e um urbanismo provido de forte sensibilidade podem favorecer a coesão social. Um exemplo desta potencialidade social é o projeto lançado em São Paulo para a construção de 100 escolas publicas que ficam abertas à comunidade à noite, oferecendo aos jovens uma alternativa à violencia da rua. Projetados por alguns entre os melhores arquitetos emergentes da cidade, apresentam uma qualidade que fortalece o conceito do direito de todos a lugares que possam promover o orgulho de uma cidadania ativa. Nos arredores, o crime diminuiu. E o mesmo aconteceu em Bogotá, Caracas, México City, aonde bibliotecas, centros desportivos e artísticos – e em Mumbai estruturas sanitárias – têm transformado a vida dos cidadãos e sua relação para com a cidade”.

Nos pavilhões nacionais o tema foi tratado – como de costume – de acordo com diversos enfoques, e objetivos:

  • da reflexão histórica (Ver è conhecer: a perspectiva holandesa), à analise da estruturação do território e do espaço urbano (tema entre outros do ótimo pavilhão brasileiro, dedicado à São Paulo).
  • da informação sobre novas realidades e seus cenários (no Padiglione Itália nos Giardini eram reunidos projetos sobre a cidade futura de 13 institutos internacionais de arquitetura; Co-evolution, colaboração Dinamarquesa & Chinesa sobre desenvolvimento urbano sustentável na China, apresentava quatro projetos realizados por jovens arquitetos da Dinamarca junto com docentes e alunos de quatro universidades chinesas; a Argentina uma projeção “até 2050” relativa às duas maiores cidades da bacia do Rio de la Plata, Buenos Aires e Rosário) à apresentação de casos limites, como os apresentados pelos Países Nórdicos (Artic cities: Kiruna, Oulu, Tromsø) ou pelo Egito (Cities wihin the city, sobre as cidades informais do Cairo): geradores de otimismo e energia – “quem vive nos arredores do círculo polar ártico leva uma vida satisfatória – ou de senso de impotência e medo do futuro: “qual será então o futuro do Cairo?”.
  • do lúdico (Sweather Lodge, Canada; Singapore Shopping, Singapura) ao politically correct mais ou menos rasteiro (no pavilhão da Espanha – Nosotras,las ciudades – só havia video-monólogos de mulheres, protagonistas/ espectadoras da cidade contemporânea; os Estados Unidos apresentaram projetos para a reconstrução de New Orleans após as devastações do Katrina) até à promoção mais ou menos descarada das iniciativas dos patrocinadores. Logo na entrada do Arsenale o local das antigas Fonderie era de fato reservado à sociedade imobiliária Risanamento S.p.A (main partner da manifestação), que apresentava num amplo espaço celebrativo dividido em três módulos iguais - ao centro o presidente e administrador delegado Luigi Zunino, a direita e a esquerda os arquitetos - seus dois “projetos de excelência” para a Milão do futuro próximo: o de Renzo Piano para a área das siderúrgicas Falck de Sesto San Giovanni e o de Norman Foster para Milano Santa Giulia, “ dois projetos estraordinarios, entre as maiores realizações imobiliárias do panorama internacional – na opinião de Zunino – não só pelo tamanho das áreas de intervenção, mas porque representam um verdadeiro modelo de recuperação e transformação de áreas ex industriais” (Le città nella città. Costruire oggi la Milano del futuro).

Entre os eventos colaterais, a Ikona Photo Gallery apresentava fotografias de Giulia Foscari, que vive numa villa de Palladio e trabalha sobre a favela brasileira.

Quasi nessuna contestazione: ma vedi Venezuela.

Fartos de tamanha abundancia de dados e informações; irritados por ter sido chamados, na maioria das vezes, a constatar e admirar muito mais que a pensar e a imaginar , os que resolveram se entregar ao press escape encontraram poucas, mas notáveis, oportunidades: entrar no “panorama” realizado por Franco Purini (em anexo a Invito a Vema , proposta de uma nova cidade, utópica ma non troppo ) e assistir a sua intrigante, irônica, performance visiva sobre a arquitetura italiana do século XX contada através dos rostos de seus protagonistas; sentar calmamente no pavilhão da Bélgica para ver e ouvir escorrer, no escuro, as águas de um canal (La beauté de l’ordinaire, de Label Architecture); e subir enfim, ao por do sol, no Tiles garden do arquiteto Wang Shu, China, construído no lugar mais escondido do Arsenal – o Giardino delle Vergini – com mais de 60.000 antigas telhas recuperadas em demolições, “para mostrar ao mundo não o que é a arquitetura contemporânea made in China, mas como a arquitetura chinesa encara o mundo contemporâneo”.

E quem quiser entender, entenda.

notas

[publicação: março 2007]

Giovanna Rosso Del Brenna, Milão Itália

Corderie

Corderie

R.Piano, progetto ex Falck

R.Piano, progetto ex Falck

Tiles garden

Tiles garden

Tiles garden

 

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