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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Fredy Massad sobre a Trienal de Arquitetura de Lisboa, que correu entre maio e julho, sob o tema ‘Vazios Urbanos’, e visou estabeler um fórum internacional onde analisar e debater sobre o estado atual da arquitetura

english
Fredy Massad on the Architecture Triennale of Lisbon, which ran between May and July, under the theme "Urban Voids", and establish guidelines aimed at an international forum to analyze and discuss the current state of architecture

español
Fredy Massad sobre la Trienal de Arquitectura de Lisboa, que se llevó a cabo entre mayo y julio, sobre el tema "Vacíos Urbanos", y se propuso establecer un foro internacional donde analizar y debatir sobre el estado actual de la arquitectura

how to quote

MASSAD, Fredy. Vazios críticos. Drops, São Paulo, ano 07, n. 019.01, Vitruvius, set. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/07.019/1719>.


m+t


Sob o título ‘Vazios Urbanos’ ocorreu entre 31 de maio e 31 de julho a Trienal de Arquitetura de Lisboa: um evento que foi pensado com a intenção de que a cidade e, por extensão, o país –um dos referenciais atuais mais consolidados de desenvolvimento arquitetônico e de design - estabeleçam um fórum internacional onde analisar e debater sobre o estado atual da arquitetura através de uma série de exposições e conferências. Sua realização coincide com a presidência da União Européia, que Portugal assume durante o segundo semestre deste ano; coincidência com um momento de protagonismo político, que dá pretexto para considerar que possivelmente se trate com isso de lhe atribuir um significado específico e enfatizar sua vocação de repercussão transcendente.

O tema principal do encontro, ‘Vazios Urbanos’, resulta tão interessante como ambíguo. Assim fica de fato exposto no documento de apresentação oficial do evento, onde os ‘espaços vazios’ são definidos como “lugares expectantes, freqüentemente abandonados, mais ou menos delimitados no coração da cidade tradicional, e mais ou menos imprecisos nos limites difusos da periferia. São pontos de ‘não cidade’, lugares ausentes, ignorados ou que já não se usam, extraterrestres ou sobreviventes de algum plano urbano estrutural”. Mesmo admitindo as reflexões no sentido das metáforas que podem ser inspiradas por esta concepção, a pergunta sobre o que fazer com as periferias num mundo em que a migração descontrolada para as cidades produz lugares caóticos, complexos e muitas vezes inabitáveis, merece um debate amplo, abordado sem maniqueísmos nem artifícios, para traçar soluções reais a problemas autênticos e urgentes.

Desafortunadamente, como está acontecendo na maioria destes encontros, predominou o lado ambíguo, oferecendo-se em síntese uma aproximação simplista e imprecisa ao conceito; e, então, se voltou o olhar para outras questões, para evitar assumir a urgência do tema, evitando assim dialogar sobre questões que requerem uma densidade e um compromisso que normalmente envolve mais atores que aqueles meramente envolvidos no feito arquitetônico.

Pese as evidentes boas intenções de seus responsáveis, esta Trienal se transforma num observatório onde constatar a crise de idéias e visões críticas na arquitetura atual. A debilidade de seus conteúdos é expoente do estado geral em que esta se encontra.

Constata-se que os arquitetos tendem a se sentir mais seduzidos pelas grandes empresas, que lhes proporcionam um rendimento mediático, que por se comprometer rigorosamente com a pesquisa e a reflexão. Através de olhares lançados pelo distanciamento da posição acadêmica ou de status de celebridade – afastadas, por tanto do mundo real - se apresentaram pontos de vista superficiais e artificiais sobre as questões urbanas, incorrendo –deliberadamente, às vezes, - em posturas cínicas e inúteis. A título de exemplos: a intervenção de Mark Wigley, produzida nos laboratórios acadêmicos da universidade de Columbia foi a encenação de um experto exercício de retórica, que deixou claro esse abismal distanciamento existente entre alguns críticos e as condições reais do mundo que habitamos. Por seu lado, a conferência do crítico português Pedro Gadanho, se iniciou com uma colocação da crise da crítica arquitetônica atual, para continuar posteriormente com um percurso exaltador de sua própria produção, expondo-a desde sua dimensão visual e material (a publicação como objeto que por si só deve se considerar assegurador de prestigio), mas sem aprofundar nas estruturas de sua postura intelectual.

O programa inaugural de conferências deixou vislumbrar outra situação paradigmática do contexto arquitetônico atual: a poluição do pensamento que originou a figura de Rem Koolhaas. Isso se fez patente nas respectivas apresentações dos dois expositores mais jovens: Fernando Romero, do estúdio mexicano LAR e o dinamarquês Bjarke Ingels (BIG Architects). Arquitetos que, ainda que procedentes de duas realidades geográficas totalmente opostas, se encontram mentalmente vinculados por compartir uma mesma concepção homogeneizadora – num sentido negativo - do mundo globalizado. Compreendem o fato global desde um ponto de vista elitista e desde uma posição de prepotência, sem compreender que não podem se transformar em observadores privilegiados, a não ser que fazer arquitetura requer de um compromisso com o social. O arquiteto não pode posicionar-se distante e cego em relação à realidade imediata circundante, mas deve comprometer-se em entendê-la, em diálogo com sua vocação de manter uma postura universalista. Com uma produção feísta, onde se confunde a criação de formas tecno-orgânicas -que somente perseguem a espetacularização visual - com a necessidade de analisar e desenvolver conceitos arquitetônicos para um mundo em cuja redefinição joga um papel crucial o uso da tecnologia digital. Assim, convertem em modelos academicistas um trabalho supostamente vanguardista realizado com tecnologia digital; disfarçando através de imagem suas carências de conhecimento e anulando qualquer possibilidade de reflexão. Criam uma suposta nova visão completamente ahistoricista e areferencial, que não surge por uma determinação ideológica, mas por desconhecimento e a mera imitação de tendências em voga, propondo idéias inconsistentes: inconsistência na qual perigosa e cegamente acreditam.

Propondo outra forma destas atitudes de espetacularização, a Trienal conta com diferentes espaços performáticos, que tentam seduzir através de montagens e instalações pseudo-avançadas –tal como a apresentada por Zaha Hadid Architects, desprovido de qualquer interesse e sem o menor ponto de conexão com o evento geral, conseguindo que o reclame de seu nome tenha feito com que outras propostas de maior intensidade e interesse passem desapercebidas.

À falta de renovação dos arquitetos de gerações mais experientes e a arrogância dos jovens, somente se podem contrapor à figura de arquitetos transcendentais, que trabalham a arquitetura desde a essência, como Eduardo Souto de Moura e Luís Mansilla e Emilio Tuñón. Das periferias da hiper-modernidade e distante das falsas sofisticações, estes arquitetos deixaram evidente com sua participação nesta Trienal que seguem trabalhando as poéticas arquitetônicas de uma forma totalmente contemporânea, fincando suas raízes nos fundamentos de sua ocupação para produzir arquitetura de imaginação e sensibilidade, imbuída de presença.

O catálogo da Trienal (Calidoscopio) é a peça chave para desentranhar os autênticos objetivos com que se concebeu este evento. Sua clara diagramação, a seleção de textos informativos e críticos assim como os bons critérios de ilustração dos projetos e atividades integrantes da Trienal são os fatores que o transformam numa boa publicação de referência sobre o momento atual da arquitetura, no que se faz evidente a necessidade de reconhecer sua transcendência, mais além de fazê-la pretexto para celebrações mediáticas. Reconhecer a pertinência deste catálogo, refletindo a indispensabilidade do livro como suporte organizador e esclarecedor ante um cenário onde predominaram formatos obsoletos de apresentações e debates nos que não se detecta uma capacidade ou intenção de apelar a um aprofundamento ou inovação, incapazes de devir novos modos de ativação do pensamento. O substrato das idéias e dos conteúdos permanece estático e sua atualização deve se levar a cabo reafirmando o pensamento e experimentando com ele, mas sem agir em detrimento da profundidade das idéias.

notas

1
Artigo publicado originalmente em ABCD las artes y las letras, jun. 2007.

[tradução ivana barossi garcia]

sobre o autor

Fredy Massad é arquiteto e titular do escritório ¿btbW, junto com Alicia Guerrero Yeste, com quem também escreveu o livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004.

Fredy Massad, Barcelona Espanha

México

França

Alemanha

Holanda

Diller & Scofidio + Renfro High Line

 

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