Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Neste artigo de Humberto González Ortiz relata sua experiência em um dia de visita pelo Museu Guggenheim em Bilbao, do arquiteto Frank Gehry

english
In this article Humberto González Ortiz tells about his experience on a day visit at the Guggenheim Museum in Bilbao, by architect Frank Gehry

español
En este artículo Humberto González Ortiz relata su experiencia en un día de visita por el Museu Guggenheim en Bilbao, del arquitecto Frank Gehry

how to quote

GONZÁLEZ ORTIZ, Humberto. Museu Guggenheim em Bilbao. Drops, São Paulo, ano 07, n. 019.07, Vitruvius, out. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/07.019/1725>.


Antes de viajar a Bilbao nós também tínhamos nossas sérias dúvidas sobre o trabalho de Frank Ghery e seu grande museu de fim de século, questões políticas e, sobretudo econômicas (e de difícil solução construtiva) davam voltas e voltas por nossas consciências do que "deveria ser "... sobre o "que é".

Com este mar de dúvidas e esperanças de encontrar algo grande saímos de Barcelona rumo a Bilbao e ao encontro inevitável de fim de século: o Museu Guggenheim.

Vale dizer que todas as possíveis dúvidas se dissiparam, um espaço cheio de sensações, de ternuras gestuais que causariam inveja a muitos grandes arquitetos, um encontro fantástico com uma paisagem inóspita, um grande arquiteto que lhe fez mais que uma piscadela, uma sedução a esse sempre amante urbanismo, que nos acompanha e nos pisca o olho.

Uma Ria seca, quase morta, renascida numa grande nau de titânio em pequenas camadas, como fatias da mais excelente imaginação possível, uma estrutura a base de aço por todos os lados, algumas vezes se mostra desnuda, outras, oculta sua silhueta angelical atrás de painéis secos de placas de pedra, a ria se infiltra até o centro do edifício e nos fala através de sua tranqüilidade de açude silencioso, saímos e entramos do exterior ao interior, Andy Warhol se mostra soez com sua arte simples e contundente.

Voltamos a sair e a grande cobertura se erige como dona da varanda, supostamente para nos cobrir de uma chuva que nos encharca e permite ao frio penetrar até os ossos, deixamos de admirar essas estranhas escamas de peixe de titânio, cruzamos o umbral daquelas vidraças fantásticas e chegamos outra vez ao vestíbulo, que se elevava mágico em sua altura de quase quatro andares, lá, acima o céu cinza se infiltra até nós e um ligeiro chiar de dentes nos invade a mente, pelo frio. As motos em sua exposição histórica nos mostram orgulhosas de sua evolução humana, pelo audioguide Ghery nos explica porquê este material e não outro, nos diz que nos acerquemos até a parede e a toquemos, vemos nossas impressões que ficam ali, junto às impressões dos outros que também deixaram atrás esta constante estupidez humana de não tocar o proibido, o titânio se mostra como finas folhas de papel, algumas mal dobradas, alguns acabamentos no detalhe horríveis, Juan Manuel Dávila se aproxima e nos sussurra "o bom arquiteto está nos detalhes", nós rimos em silêncio, as pessoas nos olham e se olham, para ver se rimos de sua braguilha que está aberta, a mais discreta tapa seus seios que se extravasam do vestido azul metálico, nós seguimos caminhando, o Dávila se vai, também rindo.

Levamos já várias horas andando, chegamos ao restaurante depois de pensar “caralho, ter que sair para voltar a entrar!”. Pedimos uma mesa ante aquele tumulto de gente faminta, não tem lugar, devíamos ter ligado de Barcelona para reservar um par de cadeiras e um cardápio, “vá à merda!”. Nos aproximamos do balcão de novo e o garçom nos acerca (não sem delonga) uma porção de croquetes, outra de queijo e uma de lombo ibérico, pagamos de má vontade as quase 3,500 pesetas daquela comida entre apertões, outra gafe do arquiteto californiano, “se vê que nunca fica para comer em seus museus!”.

Saímos aos terraços novamente, as filas para entrar são enormes, o sol quase se foi, os reflexos laranjas e violetas se fundem com o titânio do revestimento e produz um efeito digno de se fotografar, nos cansa o dedo de tantos disparos de câmera.

Ghery cumpriu sua tarefa, esta cidade cinza de outrora conta hoje com um colorido enorme, montões de pessoas que vêm espiar, e espiam, que vêm opinar e opinam, que vêm bisbilhotar, e o fazem do lindo, o importante é que as pessoas vêm, espiam, opinam, bisbilhotam. A arquitetura sai de seus livros de elite, sai da revista de alto standing, onde ofende ver-se entre usuários, sem se dar conta saiu de sua vidraça e se instalou na cidade, e Bilbao hoje se orgulha de tão apreciada presença da soberba, Ghery nos olha de lado por entre seus óculos e ri também, jogando ao lado do sofá seu smoking, tira sua roupa de domingo, seu boné dos Dodgers e se junta a nós, atônito à que sua pluma alguma vez lhe indicou que por aí estava a idéia, a forma cruza o céu sinuosa, os tetos se confundem com as paredes, que por sua vez se confundem com este céu cinza de inverno, a ria se reflete e nos avisa que esta aí, a nossos pés, espreitando os alicerces daquele bloco metálico, nos apercebemos que o rio sai e entra, entra e sai sem sequer tocar a terra, então vemos àquele enorme peixe metálico saltar entre suas águas, feliz de regressar a suas raízes e Ghery sorri, lembra-se de si mesmo brincando com os peixes que pescava seu avô e sua avó deixava saltando na banheira até cozinhá-los, uma anedota sem importância para os usuários que nos acompanham, mas Ghery esta convencido de que aquela lembrança se converteu em formas e espaços, as exposições vão e vêm, a crise de uma nova onda terrorista no País Basco parece menos importante estando ali.

Chegamos à saída, devolvemos os audioguides e saímos, demos a volta e encontramos de novo aquelas letras que se lêem: Museu Guggenheim Bilbao... nós vamos embora, a noite nos invadiu e aquela enorme nau de titânio retrocede a seu protagonismo do dia, a noite se apodera de Bilbao, as luzes dos carros, as ruas e seus faróis, as fachadas iluminadas, as pessoa andam e falam e tremem de frio, a nau Museu tira sua âncora e fica inóspita de novo na escuridão da noite, como quando o mar se esconde, deixando somente sua força em forma de ondas e sais que voam pelos ares, aquela imagem do negro profundo envolve à ria de Bilbao, o Museu segue ali, as pessoas fazem fila para entrar ainda, mas a noite guarda seus segredos dizem, e o Guggenheim se esconde, guarda seus véus metálicos e frios e simplesmente nos acompanha, olhando, nossa retirada.

notas

[tradução ivana barossi garcia]

sobre o autor

Humberto González Ortiz é Doutor em Arquitetura pela Universidad Politécnica de Cataluña e arquiteto pela Universidad Nacional Autónoma de México.

Humberto González Ortiz, Barcelona Espanha

Museu Guggenheim, Bilbao
Foto Humberto González Ortiz

Vistas do Museu Guggenheim, Bilbao
Foto Humberto González Ortiz

 

comments

019.07
abstracts
how to quote

languages

original: português

outros: español

share

019

019.01

Vazios críticos

Fredy Massad

019.02

Enchentes urbanas não são fenômenos inevitáveis

Como acabar com as enchentes com três ações

Álvaro Rodrigues dos Santos

019.03

Graças e desgraças de nossas cidades

Marcelo Carvalho Ferraz

019.04

Devi's Deal em São Paulo

Argumento exposto no Seminário Novas Governanças Metropolitanas, Banco Mundial-IETS, maio de 2006

André I. Leirner

019.05

Ruas e quadras

Benjamin Barney Caldas

019.06

Rogelio Salmona (1929 - 2007)

O melhor de todos

Ramón Gutiérrez

019.08

Berlim

O renascimento de uma cidade

Luiz Philippe Torelly

019.09

A palavra diseño

José Alfonso Ramírez Ponce

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided