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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Alfonso Ramírez Ponce discute a utilização da palavra castelhana diseño entre os arquitetos, quando começa a ser utilizada, seu sentido etimológico e sua relação com as palavras composição, projeto e design

english
Alfonso Ramírez Ponce discusses the use of the word Castilian diseño among the architects, when it starts being used, its etymological meaning and its relation to the words composition, project and design

español
Alfonso Ramírez Ponce discute la utilización de la palabra castellana diseño entre los arquitectos, cuándo comienza a ser utilizada, su sentido etimológico y su relación con las palabras composición, proyecto y diseño

how to quote

RAMÍREZ PONCE, José Alfonso. A palavra diseño. Drops, São Paulo, ano 07, n. 019.09, Vitruvius, nov. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/07.019/1727>.


“Participei no atelier de Composição, não de diseño como alguns lhe chamam agora; a arquitetura não se diseña, se compõe.” (Ignacio Díaz Morales) (2)

Entre os arquitetos e estudantes de arquitetura, até os anos sessenta, a palavra diseño era praticamente desconhecida. Os cursos onde se aprendia a projetar e compor, chamavam-se no século XIX e princípios do XX, Composição de Elementos, Composição de Arquitetura ou apenas Composição. É a partir do Plano de Estudo de 1935 e dos sucessivos, onde aparecem os nomes de Ateliê de Arquitetura, Ateliê de Projeto e Ateliê de Composição. O primeiro registro oficial em um Plano de estudo, onde aparece a palavra Diseño em vez de Projeto, é no Plano de 1976 do Auto-governo da Escola de Arquitetura da UNAM, onde a área de conhecimento relativa ao Projeto levava tal nome. Anos atrás tinha aparecido como título de matérias soltas como Teoria do Diseño, Diseño básico, entre outros.

Em 1974 se inaugura a Universidade Autônoma Metropolitana e entre suas Divisões acadêmicas se encontra a de “Ciências e Artes para o Diseño“(sic), qualquer coisa que esta frase signifique. Uma interpretação seria: “Física e Química, Música e Pintura para o Diseño”, ou as combinações que vocês imaginem, para dar só um exemplo.

O primeiro que encontramos, que cita a palavra por escrito é o arquiteto italiano Leon Battista Alberti (1404-1472) no século XV. Terminou o manuscrito de sua obra em latim em 1452 e o chamou De Re Edificatória. Seu irmão Bernardo a publicou pela primeira vez, treze anos depois de sua morte. Em 1512 Geoffroy Tory, famoso tipógrafo, a publicou em Paris, pela primeira vez dividida em capítulos. A primeira versão em italiano data de 1546 e a primeira ao inglês, -de Giacomo Leoni- aparece em 1726. De sua terceira edição traduzimos os textos. O título do Livro I Capítulo I da obra de Alberti (3) é “Of designs; their values and rules”. Neste capítulo o autor se refere a seu conceito de diseño e a palavra aparece em várias ocasiões:

“Toda a força e ordem do diseño consiste na correta e exata adaptação e união de linhas e ângulos, que compõem e formam a cara –fachada- de um edifício” (4).

E de forma mais explícita, linhas adiante diz:

“chamaremos diseño ao firme e gracioso pré-ordenamento de linhas e ângulos concebidos na mente e ideados por um engenhoso artista” (5).

Ambas citações nos parecem complementares. Nas duas aparecem as palavras linhas e ângulos e se mencionam sua correta adaptação e união e seu pré-ordenamento. Linhas e ângulos da fachada dos edifícios. Que Alberti não fale nem de superfícies nem de volumes é muito significativo e não me parece uma omissão, nem se necessita ser um especialista para interpretá-lo. Se o Projeto e a Composição se caracterizam por manejar espaços que constam, -muito além de linhas e ângulos-, de longitudes, superfícies e sobre tudo, volumes, então Alberti não empregou o significado de “diseño” como seu sinônimo. Alberti falou de uma ordem inicial e parcial e do emprego correto de linhas e ângulos, em outras palavras, falou do traçar, esboçar, desenhar algumas projeções, não as plantas ou cortes verticais, mas expressamente “as caras dos edifícios”.

Por outro lado, vejamos o que acontece com a palavra no sentido etimológico. Vem do latim signa, plural de signum, que quer dizer, “sinal, marca, insígnia” e aparece a palavra diseñar em nosso idioma em 1535, do italiano disegnare “desenhar” e do latim designare, “marcar, designar”. A palavra diseño aparece alguns anos depois em 1580 (6). Curiosamente a raiz de ensinar e ensino é insignare que significa o mesmo que designare, a raiz de diseño. Poderíamos deduzir, ao menos no sentido figurado que, ao diseñar colocamos marcas, sinais, desenhos sobre o papel e ao ensinar o fazemos sobre a mente dos alunos.

Pelo que foi visto até aqui e reiterando, podemos afirmar que Leon Battista Alberti no século XV escreveu de forma clara e explícita sobre o diseño, como o traçar e desenhar mediante linhas e ângulos as fachadas dos edifícios e também, complementarmente, se referiu ao diseño como o pré-ordenamento, isto é, o que agora chamamos a prefiguração, mesmo que parcial, do que se tem que desenhar. Etimológicamente, também vimos que o diseño significa somente desenhar e designar, que são os dois sentidos principais do “disegno” em italiano e do “design” em inglês.

Por tanto, nem na origem da palavra nem no sentido albertiano, o diseño tem a extensão e a conotação da palavra projeto, que como vimos, implica a prefiguração, a composição e a representação, como suas três partes básicas.

Em conclusão, a palavra diseño no nosso idioma tem uma significação limitada. Se refere ao desenho ou representação gráfica dos projetos e no sentido amplo, pode significar a prefiguração, sua ideação parcial e nada mais. O diseño em ambas interpretações, é um momento do processo projetual completo e não é uma de suas partes mais importantes. A complexidade do projetar – do lançar para adiante – e em especial, da composição dos espaços, do “pôr com” são conteúdos que ultrapassam muito seus alcances.

Se isto é assim, por quê se substituíram, – sobre tudo nas escolas –, as palavras adequadas em nosso idioma, que empregamos desde sempre, por outra palavra imprecisa e de outro idioma? A resposta é complexa, só observemos que num país como o nosso, no qual a dependência cultural não só persiste, mas segue se reproduzindo, é mais fácil repetir as idéias que nos vêm do mundo “desenvolvido”, que produzir e defender as nossas. Se nos países anglo-saxões, sua prática acadêmica e profissional faz com que o “design”, seja tomado como a totalidade, ao substantivá-lo; – “urban design”; “architectonic design”; “landscape design”; “industrial design”; etc. –, então, por quê não fazê-lo nós? Se copiamos sua arquitetura “internacional”, sua high tech, e em alguns casos, até sua forma de vida; Por quê não fazê-lo com seus termos? Claro, que por elemental congruência, sugeriríamos, aos que assim pensam e falam, que tratassem de mudar o nome de nossas escolas. De Escolas ou Faculdades de Arquitetura a Escolas ou Faculdades de Diseño e assim, enterramos de uma boa vez aos milenares arquitetos e ficamos com os “modernos” diseñadores ou “licenciados em diseño”.

Em torno ao tema, outra resposta, desde outra disciplina, é a do sempre lembrado escritor e jornalista Nikito Nipongo:

“o espanhol possui a palavra diseñodibujo– que é diferente mesmo que se pareça na forma, da palavra desígnio, propósito. Assim dibujar é desenhar e designar é formar propósito. O inglês só tem uma palavra para referir-se a ambos conceitos, “design” é desenho e propósito, diseño e desígnio. Conseqüentemente “to design” equivale em inglês a desenhar e designar.
Pois bem, em vez de manter a riqueza de nosso idioma, por malinchismo (7), o empobrecemos ao introduzir ao verbo espanhol diseñar, além de seu próprio significado, a espanglesa de designar, projetar, intentar. Colocada em andamento semelhante corrupção, o mencionado diseñar já em spanglish, se torna um coringa e acaba em sinônimo de pensar, de conceber e mesmo de cortar: “diseñó um tratado de matemáticas”; “vai diseñar uma nova política”; “está diseñando um novo vestido” (8).

Que lhes parece? Por não defender a riqueza de nosso idioma e por malinchismo, agrega Nikito Nipongo, aceitamos palavras de outros idiomas –em especial do inglês- que não têm a precisão nem a extensão das nossas.

Esta pretensão de falar em nosso idioma e com as palavras precisas, só quer dizer, que se não o falamos corretamente, ninguém o fará por nós. Por outro lado, é uma posição aberta e inclusiva, porque se não existem as palavras em espanhol, aceita utilizar as de outros idiomas. O que não aceita, na necessária defesa do idioma e num sentido amplo, de nossa cultura, é empregar palavras imprecisas e inexatas para substituir às nossas. Esta reiterada idéia da precisão e exatidão das palavras a ilustra um de nossos principais poetas, morto aos 33 anos:

“nada há de melhor que cortar a seda da palavra sobre o talhe vivente da deidade que nos anima.”

Palavras justas para o que se quer expressar, palavras à medida, palavras que os poetas combinam de forma emocionante e insuperável:

“Quiçá a mais grave conseqüência da linguagem postiça e pródiga consista no abandono da alma. Sob o esbanjamento das palavras a alma se contrista, como uma menina que quer nos dizer sua emoção e não pode...” (9)

Continuamos agora, como apontamos – depois das análises das palavras Arquitetura e diseño –, com o estudo dos requisitos ou condições que são próprios das obras arquitetônicas, em nosso país, extensivo à região latino-americana, e em nosso tempo.

notas

1
NT: Optei por não traduzir a palavra diseño, pois em português seria traduzida para “desenho”, assim como a palavra dibujo, que foi traduzida, ou para "design", e o texto perderia sentido. Segundo o autor, a palavra diseño em espanhol significa, em primeiro lugar, desenho (dibujo). Num segundo sentido, na versão italiana disegno, significa, segundo Alberti, "união e pré-ordenamento de linhas e ângulos...".

2
DÍAZ MORALES, Ignacio. Del espacio expresivo en la arquitectura. México, Editorial UAM-X, 1994, p. 30.

3
ALBERTI, Leon Battista. The ten books of architecture. (1775). Dover Publications, 1986.

4
“The whole force and rule of the design, consists in a right and exact adapting and joining together the lines and angles which compose and form the face of the building”. Tradução de Alfonso Ramírez Ponce.

5
”…we shall call the design, a firm and graceful preordering of the Lines and Angles, conceived in the Mind and contrived by and ingenious artist”. Tradução de Alfonso Ramírez Ponce.

6
COROMINAS, Joan. Breve diccionario etimológico de la lengua castellana. Espanha, Gredos, 3ª edição, 3ª reimpressão, 1983, p. 531.

7
NT: Vocábulo mexicano, derivado de Malinche, apodo de Marina, amante de Hernán Cortés, designa atitude de quem mostra apego ao estrangeiro com menosprezo ao nacional. Fonte: Dicionário da Real Academia Espanhola <http://buscon.rae.es/draeI/>.

8
”Perlas Japonesas”. Jornal Excelsior, México, 10 out. 1978.
9
LÓPEZ VELARDE, Ramón. Ensayos siglos XIX y XX. La derrota de la palabra. Ed. Promexa.

[tradução ivana barossi garcia]

sobre el autor

Alfonso Ramírez Ponce é arquiteto mexicano, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), escritor, conferencista, projetista e construtor de obras de baixo custo, com matérias primas como o tijolo. Assessor da FPAA (1992-2000) e da Fundação Rigoberta Menchú. Ganhador do Prêmio Armando Mestre da República de Cuba. Primeiro prêmio do Concurso de Transferência Tecnológica para a Habitação Popular, organizado pelo CYTED.

Alfonso Ramírez Ponce, Cidade do México México

Composição com Amarelo, Azul e Vermelho. Mondrian, 1937-42 [www.artchive.com]

Capa da obra De Re Edificatória, de Leon Battista Alberti [www.unav.es]

 

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