Nos deixou Rogelio Salmona, sem dúvida uma das figuras notáveis da arquitetura universal e o melhor dentre aqueles que ultrapassaram o século da modernidade e sua decadência pós-moderna em nosso continente.
Falar de arquitetura latino-americana tem sido há décadas falar de Rogelio Salmona, cuja visão continental alentou das mais diversas maneiras. Foi o dinâmico motor dos Seminários de Arquitetura Latino-americana (SAL) impondo esse caráter movimentista que, através de qualquer organização formal, nos ajudava a encontrar sempre pontos de apoio que nos permitissem reunir-nos para refletir, discutir e aprender.
Falar da arquitetura de Salmona é penetrar na procura de uma linguagem própria, assentada nas potencialidades expressivas dos materiais tradicionais que manejava com sofisticação artesanal. Preocupado com os temas ambientais, com as demandas sociais e com os equipamentos urbanos, Rogelio dedicou sua vida profissional à causa de propor caminhos alternativos para nossa arquitetura.
Formado no Atelier de Le Corbusier e nos cursos de Pierre Francastel, Rogelio assumiu as contradições que a visão eurocêntrica lhe proporcionava e procurou superá-la num conhecimento diligente de sua realidade colombiana e continental. Ajudou aos mais jovens. Difundiu idéias e deu testemunho de sua paixão profissional e de seu amor pela arquitetura trabalhando infatigavelmente até o último respiro, com as dificuldades que sua dura doença lhe foi suscitando.
Mas sobre tudo nos deixou o amigo solidário, o sábio que sabia pela experiência e pela reflexão, o companheiro entusiasta e temperamental, o mentor de muitas de nossas iniciativas coletivas. Rogelio foi muito mais que um notável arquiteto, foi um ser humano excepcional que valorizamos e estimamos na concordância e na divergência. Essa mesma divergência que me leva hoje a rezar uma oração ao meu Deus (no qual Rogelio não acreditava) porque sai que olhará todo o bem que Rogelio ofereceu a tantas pessoas deste continente que desfrutam de sua arquitetura e a imensa quantidade de inesquecíveis momentos que nos foi proporcionando àqueles que tivemos a sorte de conhecê-lo. Insisto, era o Melhor de Todos. Sentiremos infinitamente sua falta.
notas
[imagens enviadas por Hugo Segawa]
[tradução ivana barossi garcia]
sobre o autor
Ramón Gutiérrez é arquiteto argentino. Professor de História da Arquitectura. Consultor da UNESCO para temas de Patrimônio na América Latina. Pesquisador do Conselho de Pesquisas Científicas da Argentina. Autor de numerosos livros sobre arquitetura iberoamericana. Diretor do Centro de Documentação de Arquitetura Latinoamericana (CEDODAL) em Buenos Aires.
Ramón Gutiérrez, Buenos Aires Argentina