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drops ISSN 2175-6716

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português
Renata Reinhoefer França sobre suas percepções a partir da exposição de Waltercio Caldas, que esteve em cartaz na Galeria Artur Fidalgo no Rio de Janeiro de 19 de setembro a 20 de outubro de 2007

english
Renata Reinhoefer France about their perceptions from the exposure of Waltercio Caldas, who was presented at Galeria Artur Fidalgo in Rio de Janeiro from September 19 to October 20, 2007

español
Renata Reinhoefer França sobre sus percepciones a partir de la exposición de Waltercio Caldas, que estuvo en cartel en la Galería Artur Fidalgo en Río de Janeiro del 19 de septiembre al 20 de octubre de 2007

how to quote

FALZONI, Renata. Desenhos como arquiteturas. Drops, São Paulo, ano 08, n. 023.04, Vitruvius, jun. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/08.023/1758>.


Exposição
Foto Paulo Jabur


"Somente é um caos aquela confusão da qual pode surgir um mundo".
(Friedrich Schlegel)

Haveria um antes? Ou tudo começa ali? Quando se passa do caos à ordem? O maestro entra para reger sua orquestra. Antes disso não há nada. Comanda à parede que se solte e um bloco vem, gêmeo de outra coluna que nunca saiu dali. A linha no papel, o traço inicial, desperta. Desenhos. Linhas saem a bailar corpóreas, prontas a tornarem-se outras coisas.

Sopro o instante para trás. De tudo solto, encaixilho os planos detendo-os em estado de planos-parede, planos-papel, linhas, pontos. Prendo a respiração e vejo o mundo sem espessura, em repouso. Os desenhos vão para um estado ‘de antes’. Mas só em falsificado alcance os apreendo, demarcados por imaginário compartimento, como o existir da gente, pessoa sozinha numa página (2). Quanto tempo é possível ficar assim, imóvel? A vida, como não a temos.

Relaxo e tudo volta a mover-se. O ar reacomoda-se ao ritmo da obra e da enganosa solidez das paredes brancas descola-se um cubo cênico. Ou será que sou eu a entrar nas moléculas parietais? Agora as vejo e vejo o ar entre elas como coisas de desenho. Os traços, o ar, alguma cor, outrora incorpóreos, rasgam-se em objetos, pedra e túneis vazios por onde meu corpo pode passear. Seria de fato sólida como supunha?

Achato tudo de novo, seqüestrando sua extensão. Quero ver esse instante quando o papel e a linha concordaram que não havia apenas ambos, que era preciso dar a ver o ar que trocavam. Quero ver quando desafiaram pela primeira vez minha solidez corpórea, como conseguiram contar que vivíamos assim, simplesmente.

Respirando ‘o ar’.

Não é ar, é ‘o ar’, um ar nomeado, corpóreo, quase visível. Paradoxalmente desenhado e regido à distância, determinado e indeterminado, tocado e intocado. Ao respirá-lo, aspiro sua condição de ‘o ar’, abandonando e enfatizando a minha própria, outrora supostamente sólida e só. Sua musicalidade regida torna-o arquitetura que, em sua trama com as coisas, costura partes de um todo incomponível. Vejo a rede: uma porção de buracos, amarrados com barbante.

As coisas, conforme caminha a regência, passam de ‘seres’ a ‘estados de ser’. Tudo se move, mas é difícil - seu movimento é pesado, lento, curtido. O que as prende umas às outras se dá a ver: o cubo cênico, as vitrines, as molduras, a parede, o lugar de exposição. Tudo se move lentamente, retardado por amarras inevitáveis, que também as definem como coisas em estado de transição. Como nós, talvez as coisas temam perder-se no abismo do devir, no abismo entre ser isso ou aquilo – só a prisão o salve do demasiado.

Logo que ‘o ar’ que as une se for, serão apartadas. Sabem que não podem sobreviver como partes. Hão de ser outras coisas, separadas e ainda unidades, e devem portar-se como tal. Devem carregar sua cifra rítmica em si mesmas, devem ser elementos após sua divisão. Esse quase-todo é temporário, na iminência de desfazer-se. Paradoxalmente, precisarão ser outras coisas e não meras repetições do mesmo.

Cientes do dissolver-se iminente e datado pelo fim da exposição, aprontam-se para essa vida para-além. Aparelham-se de seus limites: o cubo cênico, a moldura e o vidro. Despedem-se com certa certeza do destino de coisa privada até nunca mais ver. Vestem seus próprios contornos, antecipando interferências. Correm a levar o máximo, a portar o élan do momento em que nasceram, em que lhes foi dada a vida.

Pergunto-me se serão capazes de voltar a definir a arquitetura do ar daqueles que as adquiriram ou se tornar-se-ão simples memória de uma vida anterior. Pergunto-me o quanto podem prescindir da recriação poética de cada olhar porvir e o que podem fora do limitado controle de seu criador sobre seu devir. Com vaga clareza noto que, de alguma maneira, isso tudo já está ali. Assusta, a intransparência equívoca das pessoas, enviadas. Elas não são. A alma, os olhos - o amor da gente - apenas começam.

Despeço-me, no último minuto do último dia, de seu estado de galeria. Mas não nos posso condenar de, juntos, não podermos mais vir a acontecer – é como se todavia alhures estivéssemos acontecendo, sempre. Nós dois.

notas

1
Exposição de Waltercio Caldas – Rio de Janeiro, Galeria Artur Fidalgo, de 19 de setembro a 20 de outubro de 2007.

2
Todos os itálicos – mas não apenas – referem-se a ‘Quadrinho de estória’ ou ‘Aletria e Hermenêutica’, de João Guimarães Rosa (In ROSA, João Guimarães. Tutaméia. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1967).

sobre o autor

Renata Reinhoefer França é Mestre em Artes pela UERJ, na linha de pesquisa ‘História e Crítica de Arte’. Em 2002 fez a ‘Especialização em História da Arte e Arquitetura no Brasil’ pela PUC-Rio e, em 1999, cursou a ‘Especialização em Teoria da Arte Fundamentos e Práticas Artísticas’ pela UERJ.

Renata Reinhoefer França, Rio de Janeiro RJ Brasil

Exposição
Foto Paulo Jabur

Waltércio Caldas. “Desenho”, 2007. [nanquim, tinta acrílica e pedra s/ cartão] 40 x 100cm
Sem crédito fotográfico

Waltércio Caldas. ”Bronze”, escultura, 2007. Aço inox, poliéster e fios de algodão, 70 x 60 x 40cm
Foto Vicente de Mello

Waltércio Caldas. ”Desenho”, 2007. Nanquim, pastel, plástico e fios de algodão s/ cartão, 80 x 120cm
Foto Vicente de Mello

 

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