De abril a Junho deste ano foi realizada, em uma ilha da baia de Amsterdam (Java Eiland) Amsterdã, a exposição FabCity. Trata-se de um evento ligado ao Europe by People, o programa de arte e design organizado para comemorar da presidência holandesa do conselho da União Europeia. Além da FabCity, o Europe by People inclui festivais e performances em espaços públicos, além de um mural de 450 metros de comprimento produzido colaborativamente por diversos artistas, som o tema do potencial da diversidade social atual da Europa.
O conceito de FabCity surgiu em 2011, no Fab7, sétimo congresso mundial de FabLabs associados à rede do MIT. Trata-se de um protocolo segundo o qual uma determinada cidade passa a incentivar a produção local, para, entre outras coisas, a criação de fablabs e espaços makers, hortas comunitárias, estações de reciclagem e casas autossustentáveis em termos de produção de energia e reuso da água.
Amsterdam foi uma das oito cidades a aderir a esse protocolo. Nos espaços makers seus cidadãos passam a atuar de maneira ativa na produção de bens de consumo e no desenvolvimento de novos produtos que podem ser replicados em outras localidades. Desse modo, a cidade passa a importar e a exportar apenas dados transmitidos digitalmente e diminui, tanto quanto possível, o transporte de materiais para dentro e para fora dela.
Ao contrário do conceito de Smart City, muito debatido na década passada e visto como um mercado milionário pelas gigantes de tecnologia, como a Cisco e a Siemens, a FabCity é um movimento bottom up, que conta mais com a iniciativa da população do que com grandes investimentos. O movimento está ligado à educação para a inovação e à formação de uma nova geração de indivíduos ecologicamente conscientes, menos consumistas, criativos e empreendedores, que preferem montar seu próprio negócio a se submeter às regras brutais das grandes corporações.
A exposição FabCity teve como objetivo apresentar a cidade sustentável e autossuficiente do futuro. A maioria de seus cinquenta expositores é composta por startups que propõem o uso de novas tecnologias para lidar com o espaço construído, seja por meio da produção de energia, dos novos meios de transporte, das novas técnicas e materiais de construção ou pela mudança das relações de consumo.
Vejamos alguns exemplos:
A Makerversity (1) é uma startup inglesa que se dedica a capacitar as pessoas para a 3a revolução industrial, ajudando a formar uma comunidade de "makers". Em 2014, a empresa criou seu primeiro espaço em Londres, que é uma mistura de co-working com fablab e makerspace. Em 2016, mais um espaço foi criado em Amsterdam.
A MX3D (2) é uma jovem empresa holandesa que utiliza um robô industrial de 6 eixos para produzir estruturas metálicas fundidas no local, sem a necessidade de uso de estruturas de suporte. A empresa ficou famosa após produzir uma ponte para pedestres sobre um canal de Amsterdam com dois robôs, cada um saindo de uma margem, até se encontrarem no meio do vão.
A Wikkelhouse (3) é uma empresa que produz casas modulares com uma estrutura de papelão ondulado recoberta de madeira. Os módulos podem ser montados de maneira a formar casas de diferentes comprimentos. A empresa também fornece módulos com banheiro e cozinha, e garante que a casa pode durar até 50 anos.
Entre as outras tecnologias utilizadas para a construção de casas na exposição estavam também a impressora 3D de concreto de Enrico Dini (4) e até mesmo uma casa construída com paineis de fibra de canabis (5). Afinal de contas, a exposição era em Amsterdam. Outras tecnologias expostas podem ser vistas na página do evento (6).
Outro exemplo de nova tecnologia que está sendo desenvolvida para a construção de casas, que não estava presente na exposição mas que ainda pode ser visitada na região Norte de Amsterdam, é a 3D Print Canal House (7). Trata-se de uma impressora FDM (fusion deposition modelling) de grande formato que produz paredes, pisos, escadas etc. com um bio-plástico fabricado na Alemanha. O segredo dessas estruturas está em sua geometria, que resulta no enrijecimento do conjunto, como em um waffle. No local da exposição podem ser vistos os inúmeros testes desenvolvidos pela empresa.
notas
1
Makerversity, Londres/Amsterdã <http://makerversity.org>.
2
MX3D, Amsterdã <http://mx3d.com>.
3
Wikkelhouse and Fiction FactoryWikkelhouse and Fiction Factory <www.wikkelhouse.com>.
4
D-shape, Londres <http://d-shape.com>.
5
Hemp Collective, Amsterdã <http://hempcollective.nl/hemp-district/>.
6
Europe by People, Amsterdã <http://europebypeople.nl/on-campus/smart-living-working/>
7
3D Print Canal House, Amsterdã <http://3dprintcanalhouse.com>.
sobre a autora
Gabriela Celani é professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp e fundadora do Laboratório de Automação e Prototipagem para Arquitetura e Construção – Lapac.