Senta que lá vem história!
De preferência, sente-se em uma bela cadeira.
John Profumo era o Secretário de Estado para assuntos de guerra na Inglaterra, poucos anos depois do término da Segunda Guerra Mundial e membro do Partido Conservador. Lá por 1961 se envolveu com uma aspirante e modelo, Christine Keeler que, como devia ser do balacobaco, também era muito amiga, ou algo mais, de um tal Yevgeng (ou Eugene) Ivanov, um soviet attaché, ou seja, um militar em função diplomática em Londres que, para a história ficar ainda melhor, parece que era também espião.
Quanto tudo veio à tona o escândalo foi bravo e custou o cargo do político conservador. Ele negou, claro, mas não adiantou nada.
A moça (que nunca negou nada) saiu, literalmente, bem na foto. Como houve a ideia de se fazer um filme a respeito (o que acabou só acontecendo décadas depois), o fotógrafo Lewis Morley fez em 1963 algumas fotos com ela para promover o futuro filme.
Nas fotos vemos a bonitona em uma cadeira Model 3107, ou Ant Chair, desenho do finlandês Arne Jacobsen.
A cadeira, certamente inspirada pelos lindos trabalhos em madeira vergada do casal Ray e Charles Eames, era um sucesso e com a divulgação da foto dizem que "arrebentou".
Li em algum lugar que o designer ficou meio aborrecido com a propaganda involuntária, especialmente porque, dizem, a cadeira fotografada era uma "cópia".
Alguns críticos apontam que a cadeira tem uma certa forma do corpo feminino ideal daqueles anos, com sua “cintura fina” e que por isso casou tão bem com a impertinente foto de Ms. Keeler.
Como tudo terminou? A guerra fria prosseguiu, a carreira de modelo da moça nunca decolou e as fotos de Morley pertencem hoje ao acerto do prestigiado Victoria and Albert Museu de Londres.
Por que, com tanta coisa pra fazer, lembrei dessa história? Por dois motivos. Porque a relação entre corpos femininos e móveis modernos é um dos subtemas do trabalho que eu deveria estar escrevendo agora em vez de fazer textão pro Facebook.
Mas o motivo mesmo é por conta de uma empresa de móveis chamada Alezzia que está numa baita treta com as feministas. Não vou repetir a querela pra não dar propaganda e porque isso foi muito noticiado.
Agora... os móveis da Alezzia não são nenhum design finlandês (ok, me julguem). A moça é bem sem graça (me julguem de novo). Não estamos mais no começo dos anos 1960, então qual o sentido de se botar uma mulher de biquini pra vender uma mesa qualquer? Mulher pelada não derruba mais nenhum membro de nenhum governo.
Alezzia, minha cara, peça desculpas pelo deslize, larga mão de se promover em cima de ataques ao politicamente correto e melhore, porque esse caso que vc está criando é tão pífio que não rende nem uma boa história. E as fotos dificilmente serão acervo nem do boteco da esquina.
sobre a autora
Silvana Rubino é cientista social, cada dia mais feminista e dá aula no curso de AU da Unicamp. No momento termina uma tese de Livre-Docência sobre mulheres arquitetas e espaço doméstico.