Por que temos tão pouco registro, informação e discussão sobre design público? A pergunta, feita por uma aluna em último dia de aula, só replicou minhas próprias inquietações.
A resposta simplista – da prevalência do privado sobre o público – não satisfaz. Mesmo porque não necessariamente o que se apresenta de design público reitera práticas não privatistas ou individualistas etc.
Por exemplo, mapas são instrumentos de turismo, uma das formas de consumo mais predatórias dos dias atuais. Experimente ‘pedir’ ao Google mapas de cidades brasileiras. É um vexame a carência, a péssima qualidade do que foi produzido etc.
Se fazemos uma pesquisa nas revistas internacionais de design também surpreende a pouca presença de discussão de design público.
Entre nós sequer temos registro empírico decente de muitas iniciativas – que vão de mobiliário de creches, por exemplo, a aparelhos desenvolvidos em centros de pesquisa médica.
(Lembro que no governo de Luiza Erundina à frente da prefeitura de São Paulo no começo dos anos 1990 foi difícil encomendar bonecas negras para as creches. Isso seria considerado design público? Claro, é material didático para equipamentos escolares.)
Eu adoraria participar de um inventário do que nos falta, um inventário de nosso ‘despossuimento’,de como continuamos a resolver nossas questões cotidianas com instrumentos arcaicos, mesmo que fantasiados de ‘modernos’ (não temos transporte público eficaz, contratamos motoboys que infernizam o trânsito, arriscam a vida, mas fazem a cidade funcionar).
Por esses e muitos outros motivos, torço para que o curso de pós-graduação em design público, pensado por Joaquim Redig e Cristine Nogueira da PUC-Rio, saia do papel e se transforme num centro de pensamento e prática dessa área.
Esse consegue ser um bom desejo para 2019! Porque ler o noticiário atual e tentar prever os próximos tempos está muito difícil.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.